Vamos Cuscar 25#


Há quem oiça vozes do além.
Eu oiço, muitas vezes, a voz da Sandra. Não porque ela grite muito lá em casa dela para mim, distam-nos mais de 200km mas porque a Sandra é pessoa para deixar sementes em que se cruza com ela. Mais do que respostas, deixa perguntas e num gesto bonito de humildade e de sabedoria, faz-nos chegar às respostas de cada um. Não há certos ou errados. Há as nossas respostas. E está tudo bem! Uma das frases que trago dentro de mim, passada pela Sandra. 

Numa altura em que estamos todos limitados, mais do que nunca, a encontros digitais, foi precisamente assim que me cruzei com a Sandra: na formação online de Coachgin Parental para profissionais. Passados vinte anos de trabalho e experiência, encontrei aqui uma linguagem que já há muito colocava em prática e que ficou cimentada. É que as teorias só fazem sentido quando as podemos colcoar em prática. Senão são só um conjunto de livros e folhas a ganhar pó nas estantes. 

Temos em comum, o respeito pela sabedoria dos pais, pelas suas competências, muitas vezes escondidas e pouco valorizadas e acreditamos também que quando se apoia uma mãe ou um pai a encontrar o seu melhor, os resultados passam para os mais novos e todos ficam a ganhar. 

Vamos cuscar a Sandra Belo?




Idade: 49

Naturalidade: Lisboa (mas com costela de Castelo Branco – materna e paterna)

Comidas preferidas: todas! Adoro cozinhar e adoro comer. Tenho imenso prazer em inventar receitas. Gosto muito de salgados.

Um livro a não perder: tenho muitos, é difícil escolher. Mas gosto muito “A cor dos sonhos” de Josep Lopez Romero

1.       A vontade de ir para Londres, com três crianças, na altura com 6, 4 e 2 anos, surgiu a partir de que necessidade?
Situação profissional do ex-marido: desde Abril de 2006 que ele tinha começado a estar fora do país. Surgiu a oportunidade de nos mudarmos para Inglaterra, há muito que desejávamos ter a experiência de viver fora.





2.       Quando regressaste de Londres, o que trazias na tua mochila de mãe e de psicóloga/coacher?
Muitas coisas que guardo e recordo até hoje.
Trazia o conceito de “coaching parental” por explorar – descobri esta abordagem num boletim escolar que veio na mochila de um dos meus filhos.
Trazia uma forma de viver mais descontraída, os encontros de mães nas bibliotecas com os filhos que estavam em casa.
Trazia uma forma de aproveitar mais o tempo e o que a vida me vai dando.
Trazia uma experiência de solidariedade e de uma aprendizagem relativamente a confiar em quem acabamos de conhecer.
Guardo muitas memórias de tempo bem passado com os meus filhos.



3.       Passaste também pelo Brasil em trabalho. O que mais te enriqueceu nessa experiência?
A ida ao Brasil foi relampega. Fomos e viemos (eu e a Ângela, minha colega do projecto Family Coaching) em menos de uma semana. Fomos para um fim de semana de formação intenso e rico. Foi espetacular ver a quantidade de pessoas que vinha de sítios muito diferentes para participar na nossa formação para técnicos/profissionais que trabalhavam com famílias.
Esta ida surgiu na sequência de pedidos que vínhamos recebendo para ir até lá e partilhar o trabalho que vínhamos desenvolvendo.
O grupo heterogéneo e com histórias de vida e de trabalho vieram na nossa mochila. Há pessoas com mantemos contacto até hoje.



4.       O que é afinal o coaching parental?
É uma abordagem centrada nos pais, que acredita que eles são os especialistas da sua família e que a eles cabe a responsabilidade de conduzirem a vida familiar. O coaching parental tal como o entendo, acredita que os pais e as mães têm qualidades e competências que lhes permitem gerir a sua vida familiar da forma que lhes fizer mais sentido.
É uma abordagem que respeita os valores e princípios dos pais, que os eleva, que os apoia a descobrirem-se para que possam gerir a sua vida familiar de um modo mais satisfatório.

5.       O teu trabalho é sobretudo com mães, pais e educadores. É aí que tudo começa?
Sem dúvida. E que bom que é quando conseguem os dois lados da moeda estar de mãos dadas.

6.       Ser mãe ou pai agora, é diferente de há 10 anos. O que mudou e o que é igual?
Ui! Pergunta dificil (ou não!) Ser pai hoje também será diferente de ser pai daqui a 10 anos. A vida, o mundo vai mudando e por isso, importa que os pais também eles se vão adaptando. Eu acredito que os pais e as mães crescem com os filhos. Os filhos são uma oportunidade de desenvolvimento pessoal, caso a queiramos aproveitar.



7.       Quando mergulhaste no coaching, há mais de dez anos, ainda não era muito falado por cá. Porquê a escolha dessa abordagem para o trabalho com Pais?
Pela forma positiva como olhava para os pais. O foco é no positivo, no que fazem bem, nas suas potencialidades. Apoiar os pais a procurar soluções mais do que deixá-los presos nos problemas fazia-me (e faz-me!) muito sentido do ponto de vista pessoal, profissional e até da minha maternidade.

8.       Para ti, como mãe de três, o que continua a ser um desafio diário?
Respeitar a individualidade de cada um, acolher o que trazem e são em cada dia e a partir daí parar e pensar, ganhar distância e questionar-me como posso apoiá-los a caminhar mais um pouco em direcção aquilo que ambicionam, ao caminho que querem percorrer.
Aceitar que ele podem querer algo muito diferente do que eu quero (e do que eu possa em algum momento tre sonhado para eles).
É um exercício de humildade e aceitação permanente.


9.       Um dos vossos pontos de trabalho, no Family Coaching é também o trabalho sobre a adolescência e a adolescência, sendo apenas mais uma fase de desenvolvimento, é muitas vezes vista, pelos pais, como uma ideia muito cinzenta. O que precisam os pais com adolescentes de saber?
Que está tudo bem. Que é apenas mais uma etapa de desenvolvimento em que o adolescente tem necessidade de autonomia, do seu grupo e de descobrir qual o seu papel neste mundo.
Penso que é importante dar esperança aos pais (para que também eles possam transmiti-la aos adolescentes). Gosto muito de uma ideia que associo a Maria Montessori – é uma altura em que sintam liberdade com limites, mas também que se sintam muito amados com tudo o que são e como são. No final, quando a adolescência der lugar à vida adulto queremos que eles cheguem lá equilibrados e saudáveis (física e emocionalmente).
Esta etapa pode ser muito exigente para os pais, muitos referem que se sentem frequentemente testados, puxados até aos limites. Como trabalhamos com os pais, é fundamental que cuidem de si para que possam depois estar disponíveis para os adolescentes.

10.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia? Uso alguns sim... Verbalizações como “está tudo bem”; “o que é que eu quero?”; “o que depende de mim” e muitas visualizações, acompanhadas de respiração de ar puro; a corrida de vez em quando também é um excelente penso rápido e a oração.

P.S.:
A Sandra tem este espaço onde partilha as suas reflexões. 

Para quem pretender acompanhar o trabalho do Family Coaching têm aqui, aqui ou aqui.


Não sou (só) Tudo

Não sou (só) mãe.
Não sou (só) empregada doméstica. 
Não sou (só) professora, educadora. 
Não sou (só) profissional.
Não sou (só) amiga.
Não sou (só) filha.
Não sou (só) companheira.
Não sou (só) irmã, sobrinha, prima.

Somos de tudo um pouco. 
E às vezes (muitas vezes) apenas uma parte de cada vez.
Por isso, não queiramos ser Tudo de uma (só) vez.

P.S.:
Dos dias em que tudo se mistura. E está tudo bem.
Dos dias em que pouco deu certo. E faz parte.
Dos dias em que se volta ao início e se percebe que é uma-coisa-de-cada-vez fazendo o possível. E parar mais vezes do que avançar.










Sem receitas

Depois de tanta informação, sugestões, opiniões, dicas... a verdade é que temos tudo cá dentro.
Cada um de nós.
Mães, pais, filhos, das mais variadas idades.
Está tudo cá dentro.

Observamos uma catadupa de maratonas de atividades para fazer em casa: ler, exercícios físicos, aulas online, receitas novas, mails, teletrabalho ou não. E a maior parte de nós, sejamos os adultos ou as crianças e jovens, temos tudo cá dentro. A sobrecarga dos dias fora de casa, parece querer invadir os dias dentro de casa. 

Para que? 
Porquê? 

1. Na maior parte dos casos, ninguém conhece melhor os filhos do que os próprios pais. Ninguém. O que é que eles gostam ou precisam? Eles estão em fase de adaptação, tanta quanto os adultos. O que faz sentido eles fazerem nesta fase de reajustes? O que a vizinha ou o amigo estão a fazer com os filhos, por norma, não funciona com os nossos. E está tudo bem, faz parte. 

2. Se os mini-seres sobreviveram até agora, significa que Mães e Pais têm muitas capacidades válidas para os colocar neste Mundo. Por isso, esta é mais uma fase, apenas mais uma fase, a ser superada, com as competências que cada Mãe e Pai já tem. Gostam de dançar? Dancem. Gostam de ver filmes? Vejam. Tem especial talento para cozinhar? Cozinhem. 

Há uma fórmula secreta para cada dupla de Mãe/Pai-Filhos.
Sem receitas. 
Tão simples quanto isso. 
Dar voz aos super poderes de Mães e Pais. 
Todos têm. 
Todos. 


Amazing Day

Ouvi esta música há pouco tempo, quando o Pedro Ribeiro, a dedicava na Rádio Comercial, ao aniversário da filha. Andei tonta à procura do título dela. Descobri hoje. 
Que assim seja,
apesar de tudo,
para todos nós,
todos os dias.
🎔
P.S.: Está na lista, um dia ver um concerto ao vivo deles. Já enviei a mensagem muitas, muitas, muitas (já disse muitas hoje?) vezes para o universo. Esta semana, o Chris Martin, deu um miniconcerto ao vivo, da sua casa, via Instagram. Quem quiser pode rever aqui. 

Estava entre os muitos portugueses que enviaram a nossa bandeira nacional e pedidos de músicas. Na altura, na sabendo esta, enviei o pedido da Fly On. Tinha a minha Maria ao lado. Aninhou-se a ver-me enviar e a ouvir. Acabo de enviar (pela 10 vez ou seriam mais?) o pedido. Ao que ouço responder: Fly On? Ok, it´s one of my favorite song to play. I will play it, at the end! Não descrevo, por pudor, a minha reacção deste lado mas deve ter sido o mais parecido que uma mãe-quaretona-de-quaretena-com-laivos-de-adolescência-adormecida, teve. 
É acreditar, acreditar, acreditar que coisas bonitas acontecem.
Vai correr bem. 



+ Humor pelo Amor

Fui buscar umas coisas.
Deixar outras. 

Mantivemos uma distância que nunca existiu.
Falou-me de dentro de casa e eu do portão.

Brinquei, disse-lhe que não tomava banho há várias semanas, que o meu cheiro não se aguentava, que se resguardasse. Rimo-nos. A disfarçar. 

Entrei no carro. E a emoção tomou conta. Faz parte. Não está tudo bem mas vai ficar. Quer dizer, apesar de tudo, está tudo bem.
Agarrar a isso. 

Agarrar e segurar o Humor. Pelo Amor.




5 minutos

As vezes que se ouviu essa frase: quando o bebé descansar, descansa também! 

Dentro das possibilidades de cada uma, quase ninguém faz isso. Ou porque é mesmo só pôr mais uma roupa a lavar, estender, passar, ou adiantar as comidas, ou as muitas outras coisas que uma casa-família exige. Com o tempo, com a escuta que vamos fazendo de nós mesmos, percebemos que quando não nos damos esse tempo de paragem, quando eles param um pouco, as coisas não correm tão bem. Quer dizer, tudo está a rolar e a fazer-se mas menos bem por dentro porque faltaram aqueles 5 minutos só nossos, sem culpa do deveria-de-estar-a-salvar-o-mundo. O mundo começa também por dentro. O mundo começa de dentro para fora. 

Nesta tentativa que todos andamos a fazer, de descobrirmos e nos reinventarmos em novas rotinas, hábitos e ritmos dos dias, seja com ou sem trabalho, dentro ou fora de portas, seja com um, dois, três ou mais filhos, a bem de todos, é preciso 5 minutos nossos. Só nossos. 
Sem perguntas.
Sem interrupções.
Sem discussões.
Sem comidas.
Sem roupas. 
Sem arrumações.
Sem limpezas.
5 minutos. Ou mais. Ou menos. O possível. 

Sim. Nem que seja, nesse refúgio maravilhoso da casa de banho. 
Quem nunca. 



Os extremos

Os extremos, os adolescentes e as nossas pessoas sábias, chamados de adultos maduros. É com estes que tem sido mais desafiante passar a mensagem que é preciso abrandar, sossegar, ficar mais quieto. 

A uns porque giram à volta dos amigos, das namoradas, dos namorados porque afinal, o oxigénio que importa é o que eles respiram também e agora há quem venha dizer que Não. Que não podes ir ter ao café, ao centro comercial, que os treinos de futebol, volei, natação estão interrompidos, sabe-se lá até quando. Que até mesmo só aquele passeio de mão dada com a Luísa ou o Manel, está cancelado sem data prevista. 

A outros porque já passaram por muito e é agora mesmo isto que me vai por na cama de um Hospital. Era o que faltava não poder fazer o frango assado ao domingo e pôr todos à volta da mesa, ir ter com os amigos só para mais um jogo de sueca, dar um beijo, só mais um beijo aos meus netos. Sim, é difícil dizer que não a algo que lhes é adquirido, pelos anos, pelas vivências, por merecerem isso tudo. É por eles, por se querer que continuem a fazer isto por muitos, muitos momentos que ainda vão vir, que cada um se recolha à sua toca e se mantém à distância que a proximidade futura nos vai deixar ter, de novo. 

Que haja paciência, com quem tanto gostamos, redobrada, insistente para se persistir, no que é preciso ser feito para o bem de todos. Sigamos juntos, cada um no que é-lhe possível fazer melhor. 









As crianças e este vírus

É como se fosse um espelho.
As crianças e (muitos) jovens, imitam como os adultos agem perante as situações. Seja no trânsito, em situações caricatas ou até nesta situação que se está a viver de muita informação sobre este vírus. 

Felizmente, por cá, ainda tudo muito sereno, com casos efetivamente diagnosticados, mas sente-se no ar um burburinho crescente de informação e desinformação que passa para os mais novos. 

Adultos informados, tranquilos e responsáveis, transmitem segurança a crianças e jovens que só precisam de compreender como agir perante situações que não se controlam. Podemos todos ter mais cuidados com a higiene? Sim. Hoje, amanhã e na verdade desde sempre. Então controlamos o que é possível controlar. 

Esta é mais uma oportunidade de aprendizagem para os deixar falar, fazer perguntas, pô-los a pensar se tudo o que ouvem ou se anda a dizer é verdade ou não. Sermos porto seguro.

Deixo-vos aqui as recomendações, da Organização Mundial de Saúde, com tradução da Ordem dos Psicólogos, para ajudar as crianças a lidar com situações de maior stress, por acaso nesta situação, em relação a um vírus. Poderia ser em relação aos incêndios, que na nossa região, o interior, acontece todos os anos. Resume-se tudo a estarmos nós, adultos, mais atentos, mais serenos, mais conscientes deles e do que nos rodeia. 













Encontrar a respiração

Encontrar formas de respirar, de verdadeiro oxigénio-do-coração, ao longo dos dias, tem sido um desafio quando o relógio insiste em ditar horários. 

Para lá das ações Pais que Respiram, que têm o objetivo de ajudar, apoiar e partilhar com Pais outras formas de respirar na forma de estar com os filhos e sobretudo conosco próprios, continuo à procura da melhor forma de encontrar o passo certo de respiração. No meu caso passa por fazer perguntas e depois encontrar o caminho das respostas que melhor se adequa a minha forma de estar, sentir e querer ser, como mãe, mas sobretudo como pessoa. O papel de mãe está interligado, com tantos outros papeis que temos diariamente, que vejo-o como fazendo parte de um todo. 

Perguntas como:
- Como conciliar o trabalho e o estar com eles?
- De que forma podemos estar mais em contacto com a natureza?
- Como ter tempo de diversão que seja bom para todos? 
- Existe forma de agilizar as inevitáveis tarefas de casa, para mais tempo de qualidade em família?
... e a lista continua!

Acho que à medida que foram crescendo, surge mais espaço para sermos mais nós, sem sermos só Mães ou Pais e isso é bom porque podemos reinventar-nos como pessoas. 

Este ano por aqui, sempre que possível, vão surgir algumas entrevistas de pessoas cujo caminho tenho seguido pela forma como encaram a maternidade, a organização diária, o trabalho, a espiritualidade, a vida em geral. Esta e esta são apenas exemplos. Em breve conto poder falar mais de uma dessas pessoas, de quem já li os livros e que sigo muito frequentemente. Este artigo dela tem muito a ver com aquilo que estou a construir no que considero ser importante, a minha forma de respirar melhor, seja na maternidade, seja como Mulher, seja como cidadã do Mundo. E muito no foco da responsabilidade individual desse caminho, cheio de escolhas diárias, assumidas por cada um de nós. 

Fica a partilha aqui.:)









Nascer mãe

Uma mão cheia de ideias.
Algumas nossas, muitas passadas pelo que vemos e imaginamos que seja.
Cria-se uma ilusão do que será ser mãe.

Depois nasceu Ela
E aquilo que achava ser verdade, foi-se a ver e não era. Para descobrir que nascer mãe é um acontecimento diário porque faz ir para fora da zona que achava que era aquela que seria a nossa.

E estou profundamente grata por esse reinventar de ser filha, que me fez reinventar a ser mais mãe, melhor pessoa e a descobrir recantos em mim, através de ti, que não imaginei sequer que existiam. 

A perguntar mais.
A observar, ver para lá do que aparenta ser.
A ir tão mas tão mais longe, numa viagem nossa.
O teu questionar, fez-me a mim, questionar também sobre os porquês dessa mão cheia de ideias que é suposto fazer parte só porque sim.

Que a nossa viagem esteja cheia de pontos de interrogação para chegarmos aos nossos pontos de exclamação cheios de sorrisos.
Tão teus, tão meus, tão nossos.
9 anos de nascer a tua mãe.

Voa alto minha doce Maria.