Já chega.

No outro dia, estava a fazer uma retrospectiva das semanas e meses para trás. Nada de melancólio ou demasiado elaborado. Apenas a olhar pelo espelho retrovisor, antes de tomar a próxima direção. Aos poucos, a sair, cada vez mais, a sair da zona de conforto. Pelo menos da minha. Não sei se teve a ver com a chegada dos entas, das muitas leituras que resolvi retomar, leituras do bem, mas o que é certo é que dizer mais vezes Sim ao que sai da alma e do coração, leva a destinos diferentes. No fundo, o mapa que nos vai guiando para os caminhos de maior felicidade. A de cada um. 


E veio esta ideia insistente de Já chega de adiar. Já chega mesmo. 
Experiências novas para este fim-de-semana. Vamos a isto ;)








Vamos Cuscar? 16#

Foi apenas mais um apelo, dos muitos que vemos no facebook. Da primeira vaga de pedidos de ajuda, deixei passar. Os dias às vezes comem-nos as prioridades para além das que temos ao nosso redor. Há muitas coisas a acontecer que, mesmo longe, estão também perto de nós. Desta vez, uma pesquisa mais aprofundada, levou-me até à Ana e à recolha, na altura, de roupas quentes, sacos de cama e tendas, para um campo de refugiados na Sérvia. O camião está quase, quase a chegar. Se tudo correr bem, no final desta semana. Entretanto a Ana já lá está, como voluntária. Faz relatos de provocação, outras (muitas, demasiadas vezes….) de indignação porque se recusa a calar. Às vezes sente-se que grita de lá. Ler os relatos na primeira pessoa dói. Dói mais ainda saber que por serem relatos sem filtros, porque não está sujeita ao politicamente correcto, são reais. Crua e friamente reais. A Ana é do caraças. No meio das muitas coisas com que tem que se preocupar, das muitas histórias que ouve e guarda, arranjou um tempo para conversarmos à distância. Um dia destes vou dar-lhe um abraço apertado, apertado ao vivo e conhecer a cor dos olhos dela. A Ana é uma pessoa bonita.
Vamos Cuscar a Ana?



Idade: 44
Naturalidade: Angola
Comidas preferidas: Cozido à portuguesa
Um livro a não perder: Cem anos de solidão

Se pudesses convidar alguém famoso (vivo ou morto) para jantar, quem escolherias e porquê?
Zeca Afonso❤
Enquanto jantávamos podias sempre ir cantando. 😉 Admiro-o muito. Para mim é um dos nossos símbolos. 

 1-      A Vontade de Voluntariado começou como?
Acho que nunca tive vontade de fazer voluntariado...sempre trabalhei na área da exclusão social com toxicodependentes e sem abrigo... foi um processo "natural" . Em 2015 tive o primeiro contacto com esta situação, estive 12 dias num campo em Gegvelia na Macedônia... depois em Portugal continuei a ajudar os refugiados que o nosso país acolheu.  Entretanto... o ano passado fui para a Grécia, Atenas, cerca de um mês e agora Belgrado, onde já estou há mais de um mês.

2- Como se organiza a vida profissional e as saudades dos teus, quando se parte para apoiar um campo de refugiados?
A vida profissional foi fácil de organizar, porque estou desempregada, logo tenho disponibilidade. Como não tenho filhos, nem uma relacionamento, as saudades são da família toda, dos amigos, mas principalmente dos meus sobrinhos...depois tens dias, em que até consegues suportar bem...mas nos dias menos bons (e que são muitos) as saudades são muitas, e sentes falta dos mimos para te ajudar a seguir em frente. Tens as tecnologias que ajudam a aproximar, mas não é a mesma coisa...

3- Que verdades não estão a ser contadas sobre os refugiados?
Tanta coisa que não está a ser divulgada. A principal é as crianças sujeitas a tráfico sexual, a violência que a policia exerce sobre eles... e depois a quantidade de gente que está a ganhar com isto. Tudo serve para fazer negócio, para se auto promoverem, organizações, pessoas... E depois há o lado da irresponsabilidade de muitos voluntários, porque não é só ter vontade de fazer voluntariado, há que ter muita responsabilidade e acima de tudo maturidade para o fazer. Estás a lidar com vidas de pessoas, com histórias de grande sofrimento por trás... e isso envolve um grande compromisso e respeito, pela sua cultura, pela sua maneira de estar na vida. Eu vi e vejo voluntários a beberem álcool ou a fumarem haxixe com eles... e isso não é correcto, isso não ajuda em nada, muito pelo contrário, só faz com que as pessoas caminhem mais rapidamente para um "abismo"... se pensares que no seu país por exemplo eles não bebem álcool, ou muitos deles nem haxixe fumavam... mas aqui em nome do convívio são convidados a fazê-lo. Isto deixa me completamente fora de mim. Disto também não se fala, porque não convém...



4- O que mais te angústia aí?
Tudo me dá angustia... mas principalmente, os miúdos desacompanhados, isso parte-me o coração....depois é estares a distribuir jantares e perceberes que a comida não vai chegar para todos... Ou ires pedir cobertores a uma organização e ela diz que só tem ordem para te dar 20....





5- Como é um dia típico aí?
Não há dias típicos. Eu, por exemplo, estou envolvida em vários "projectos". Numa manhã posso estar a ajudar na preparação dos jantares para esse dia, ou a ajudar nos exercícios físicos, ou a dar apoio no corte da lenha, ou simplesmente estar sentada num dos barracões à conversa com as pessoas... À tarde, normalmente, ajudo nos carregamentos dos telemóveis, disponibilizando energia através de um gerador para poderem carregar os telemóveis, isto normalmente dura até às 17h... depois à noite até as 21h é o jantar, ajudar na distribuição dos mesmos, controlar os bilhetes...



6- Todos os dias pensas nos regresso?
Não penso no regresso... Tenho saudades claro, mas não penso no regresso. Sei que estou onde tenho de estar e é aqui que faço falta neste momento. Claro que para bem da minha sanidade mental vou ter que fazer uma pausa, curar as feridas e recarregar baterias...

8- Quantos portugueses voluntários estão aí? E refugiados?
Neste momento sou a única portuguesa cá, mas já estivemos 4. Eles foram recarregar baterias para regressarem. Portugal está muito bem representado aqui, tudo voluntários independentes
Refugiados ... estão neste momento nos barracões cerca de 1000 pessoas.

7- A tua ida para aí mudou a ideia que tinhas sobre os refugiados?
A ideia que sempre tive dos refugiados mantém-se, são pessoas como eu. Eu própria já estive daquele lado, quando tive de fugir de Angola, com os meus pais, irmãos e primas... Como em todo o lado há pessoas boas e más, com mais ou menos educação, com mais ou menos valores....Mudou no sentido de admirar cada vez mais a sua coragem e resiliência para suportarem tudo aquilo que suportam e passam na sua vinda para a Europa.



9- Estando nós deste lado, como podemos ajudar?
A ajuda pode ser dada de várias formas, monetária, apoiando quem está no terreno, com bens quando há campanhas a decorrer, e todos os dias desmistificando a ideia de que os refugiados são terroristas e só vão trazer problemas. Portugal também já recebeu alguns refugiados, as pessoas podem sempre ajudar na sua integração, e isso é muito fácil de fazer, mesmo sem teres bens ou dinheiro para doar, podes dar 1, 2, 3 horas do teu tempo, simplesmente a conviver com quem se está a adaptar ao teu país, a tua cidade ou à tua vila.


NOTA: Para quem quiser saber como ajudar, contactar a Ana Perpétuo, via facebook. 

Um copo cheio

Ficou para ali a olhar o copo. Era um copo bonito até. Um turquesa transparente que ao sol, parecia quase cor de céu, em dias de praia bons. Ficou para ali a vê-lo encher. Não se conseguia mexer. Como se o corpo não lhe obedecesse. Era só esticar a mão e fechar a torneira mas entre a distância da extremidade da mão e a torneira, estava a distância do peso dos dias. E pensou que mal teria se se deixasse ficar assim. Só a olhar a ver o copo encher. Não sabe bem se passaram alguns minutos, ou horas ou até dias naquilo. Só sabia que não se conseguia mexer. Ficou ali a olhar o copo a transbordar. E depois foi a bacia onde estava o copo e foi passando para o chão, até que lhe chegou aos pés. E olhou para baixo e para todas aquelas coisas que lhe gritavam urgência. Para parar, para decidir, para dar passos, muitos passos que se transformassem em caminhos que havia para percorrer. 

Um copo a encher-se de tudo e todos. Um copo a transbordar. Cheio de coisas, de pessoas, de ideias, da falta delas, de tarefas (muitas!), de decisões. Mesmo, muitas, muitas coisas. E ficou ali a vê-lo encher, encher até que começou a transbordar e  já não sabia se era do copo ou se era dela. Só sabia que entre o transbordar do copo (ou seria dela?) a torneira de coisas precisava de ficar fechada por uns tempos. Deixar secar aquilo tudo. Limpar, o copo e a alma. 

Às vezes é preciso parar e sobretudo esvaziar os copos para que possa entrar realmente o que interessa, realmente o que lhe interessa. Deixar sair, para deixar entrar. 


O Futuro do Agora

Quando o futuro,
Começa agora e se diz Sim,
ao que é preciso para estar mais perto de quem sempre fomos e finalmente, nos permitimos Ser.


Vamos Cuscar? 15#

Isto começou mais ou menos há dez anos. Com muitas interrupções. Vários partilhadores de conhecimento. Por coincidência, esta é a segunda vez que tenho uma professora de Yoga, chamada Sara.

A Sara não foi sempre professora de Yoga mas, neste momento, é este o seu caminho por opção. Atrevo-me a dizer que também por vocação porque quando saímos das suas aulas, estamos todos com um ar como se fossemos capaz de levitar. O mérito é da prática mas muito da energia que a Sara nos transmite e que transcende as simples posturas. Com imensa entrega e carinho, puxa sempre um pouco mais por nós, e fá-lo com o respeito e o tempo que cada um de nós precisa. Cada um, na sua individualidade. Como se ela soubesse dos caminhos que a cada um levou até ali, e as conquistas que cada um pretende alcançar.

A Sara é assim muito discreta. Um sorriso tão bom. Assim do nada diz que esteve na Índia a aprender e a praticar, com os grandes mestres. Do nada também conta que esteve em Londres. Que teve nas suas aulas, o cantor Chris Martin, dos meus Coldplay. Que sorte para o Chris. Que sorte nossa também a de conhecermos a Sara e termos o privilégio de aprender com ela.
Nem todos os meses consigo ir. Ainda a reajustar horários por causa dos meus tesouros-príncipes. Mas quando vou, sei que sou mais completa e estou mais perto de quem quero ser. E um dia sei, que vai ser assim, todos os dias. Vamos cuscar a Sara?


Idade: 39
Naturalidade: Lisboa
Comidas preferidas: Sou vegetariana. Adoro sopas!
Um livro a não perder: Tão Te King, livro do Caminho e do Bom Caminhar, com tradução e comentários do português António Miguel de Campos, da Relógio de Água.

1.       Se pudesses convidar alguém famoso (vivo ou morto) para jantar, quem escolherias e porquê?
Gostaria de me encontrar com Krisnamacharia, reconhecido como o Pai do yoga moderno, guru do Pattabhi Jois. Recuava ao tempo dele, gostava de ver um pouco do yoga naquele tempo!

2.       O teu primeiro contacto com o Yoga começou como?
O meu primeiro contacto com o yoga foi num ginásio perto de Lisboa, com o Tarik van Pren. Em 1998, passado uns meses, o Tarik aconselhou-me a ir praticar com o Mestre dele, pois eu estava completamente rendida ao yoga. Pratiquei dois anos no centro português de yoga em Lisboa com o Mestre Carlos Rui. Ainda hoje tenho muita da sua influência nas minhas aulas. Em 2000 o primeiro contacto com o ashtanga yoga é com o Tomás Zorzo em Espanha, e depois de conhecer este método tão bonito e eficiente, um ano depois estava a praticar com Sri K. Pattabhi Jois na Índia.

3.       No momento entre escolher este caminho e deixar para trás outras vivências profissionais, o que te fez seguir em frente?
Eu era muito nova quando comecei a praticar yoga, tinha 20 anos, frequentava o curso de gestão de empresas em Lisboa, o qual não completei. Uma viagem à Índia e consequente ida prolongada para Londres e a vida profissional acabou por estar quase sempre ligada ao yoga. Possivelmente o curso de gestão de empresas não era de todo para mim!

4.       A Índia foi certamente uma experiência intensa. O que deixaste lá teu, e o que veio contigo?
Fui sozinha com 24 anos na minha primeira viagem à Ìndia. Não sei o que se deixei lá… mas sei que levava na minha bagagem uma dedicação e uma fé imensa a esta prática, sentia-me bem e sabia que  a minha vida seria melhor com o yoga. De lá veio a inspiração, o alento para continuar este caminho escolhido. Foi maravilhoso conhecer Pattabhi Jois, era um homem muito simpático, muito sensível, com um grande sentido de humor, com uma naturalidade fora do comum. Era fantástico estar na sua presença todos os fins de tarde, a maior parte das vezes em silêncio. Recordo sempre esses momentos com carinho.



5.       Como foste parar a Londres?
No instituto de ashtanga yoga de Mysore, na Índia, conheci professores de yoga de todo o mundo. Ao conversar com Hamish Hendri, professor certificado por Pattabhi Jois, disse-lhe que não havia ashtanga yoga em Portugal e ele desafiou-me a ir praticar em Londres. No ano de 2002 estava em Londres, a praticar no AshtangayogaLondon, um centro com centenas de praticantes. Meses mais tarde, o Hamish perguntou-me se queria aprender a fazer ajustamentos aos alunos. Fiquei muito surpreendida, era um privilégio. Trabalhei no AshtangayogaLondon durante três anos, uma experiência incrível, que meu deu bastante confiança para ensinar este método de yoga.

6.       Dos muitos alunos que já passaram por ti, que transformações vês, nas pessoas que praticam?
O contacto com o yoga, leva as pessoas pouco a pouco a optar por um estilo de vida mais saudável, a fazer escolhas mais conscientes e isso vai influenciar imensos aspectos nas suas vidas.

7.       O yoga é mais do que uma mera prática física. Para além das posturas, o que se aprende com o Yoga?
Depende do que o praticante está diponsível para aprender com o yoga. Do propósito da sua prática!

Na minha experiência de quase vinte anos de prática regular de yoga, posso dizer que o yoga me veio dar uma sensação de espaço interior. A conexão da prática de Asana (posturas) com a respiração profunda e tranquila, ajuda-me a criar esse espaço dentro de mim. A pessoa expande-se! O Amor é espaço, a paz é espaço… O yoga no fundo ajuda-me no meu dia-a-dia e também ajudou em momentos mais difíceis da vida, perante adversidades, sem perder controle. A prática de yoga dá esse suporte, ajuda a equilibrar, a não deprimir, a ser mais positivo!



Os yoga sutras de Pattanjali, definem o que é o yoga no seu segundo sutra, dizem que “O yoga é tranquilização das flutuações mentais” (yoga-sutra, cap. 1, vers2). Se o praticante sentir que a sua qualidade e pensamento melhora, já é uma grande conquista!
Mas isto só é possível praticando, pode ler tudo acerca de yoga, mas se não praticar não vai sentir o que poderá ser o yoga. Esta é uma filosofia essencialmente prática!

8.       Para quem acha que o Yoga é algo muito complexo, e só para pessoas com força e flexibilidade, o que dirias?
O yoga é para todos, é maravilhoso ver nas aulas pessoas tão diferentes, na idade, no corpo e no propósito da prática. Começamos a progressivamente ao ritmo de cada aluno, à medidas das suas capacidades. A força, a flexibilidade, a concentração acabam por acontecer. O Pattabhi Jois dizia “Just do your practice, and all is coming.”

9.       Todos os dias são bons para se praticar?
Só há uma má prática… é aquela que não se faz! Apenas 10 minutos de prática já é bom, deve ser diária. Na tradição de Pattabhi Jois, não se pratica nos dias de lua cheia e lua nova, como uma paragem semanal e seis dias de prática semanal.

10.   Com um caminho tão bonito de prática, como o teu, o que gostarias ainda de experimentar neste percurso de Yoga?
Gostaria muito de voltar à Índia, mas agora com a família.

11.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?

Não há nada melhor do que uma boa e vigorosa prática de yoga, se não tiver o tapete na altura da “comichão”, respirar bem fundo 20 vezes já vai ajudar!



13 anos

Aqui não existe cavaleiro em cavalo branco. Seria, certamente, muito aborrecido.

Nem por aqui mora uma rapariga de tranças longas, à espera numa qualquer torre de castelo. As moças reais, descem as escadas e vão à procura do que querem. 

E isso não significa que não haja algum rosa a salpicar os dias, e declarações tontas de juras de amor. Há dias de finais felizes. Há outros que nem por isso. 

Por aqui, somos pessoas reais, que riem, às vezes choram, outras vezes discutem, conversam, partilham, gostam de abraços, discordam, e voltam a tentar. Uma e outra vez, ao longo de 13 anos, de quando se resolveram dizer Sim, perante um grupo de pessoas que quiseram aparecer para testemunharem essa promessa de haver mais dias de SIM, do que os Não. Por isso se disse Sim naquele dia. 
Que eles prevaleçam todos os dias. 
Que todos os dias valham a pena. 
Mesmo naqueles em que pareça que não. 
Que seja o SIM a ganhar.



Do que gosto muito

... de não ligar ao relógio.
... de os abraçar, até me pedirem para parar.
... de escolher bandas sonoras para os nossos dias.
... de parar tudo e ficar apenas a olhar.
... de voltar a acreditar. Uma e outra vez.
... de voltar a sonhar. Ir buscar os meus sonhos à arca. Tirar-lhes o pó e dizer que é a nossa vez, a deles e a minha.

... de correr. Aprendi e ainda aprendo a gostar.

... descobrir coisas novas. Puxar para lá dos limites do que eu achava que era capaz. Somos sempre mais um pouco.
... fazer surpresas. De tocar naqueles pontos que sei que vão fazer os outros felizes.
... do silêncio. Às vezes, preciso muito de ouvir o silêncio a falar.
... de sair à deriva. De descobrir novas fronteiras e passa-las.
... simplificar. Ainda a aprender a cada passo.
... dos meus. Os que escolho e os que a vida escolheu para mim desde que por cá ando.
... escrever. Organizo-me por dentro.
... ler. Viajo e deixo de saber onde estou. Até já fui à lua só para ficar a olhar lá de cima. Gostei muito.

No outro dia, enquanto corria de um local para chegar a outro, dei comigo, a pensar, nesta pergunta.


Do que GOSTO MESMO, MESMO muito?
Ainda ando a responder. Todos os dias. Para voltar aos lugares onde sou mais eu e mais feliz.







O meu Sporting

Tenho uma-espécie-de-doente-do-Sporting lá em casa. Bem sei que faz um esforço para me responder com um pouco de lucidez quando está a ver um jogo, mas sei que aqueles Sin´s e Não´s me soam muito a mecânicos e que, apenas 5% de atenção, está com atenção ao que lhe estou a perguntar. O que fazer? Pois, respeitar. Aquilo "só" dura 90 minutos, mais o intervalo, mais o prolongamento, mais o antes para saber todos os pormenores, mais o depois para se poder comentar, ver os ângulos daquele fora de jogo mal assinalado ou um cartão cor-de-laranja às pintas azuis que ficou por marcar.

Pois, eu não percebo nada ou pouco daquilo. Mas quase que admiro aquela fé quase cega em acreditar que nada daquilo é combinado, nem os resultados, nem as "sortes" de ganhar ou perder. São 90 minutos de puro divertimento e tem direito a eles. Aquela vontade de ver jogo após jogo, como se dali fossem sair grandes verdades. Não saem mas há uma vontade em acreditar que sim.

Já me tentou evangelizar mas sem grande sucesso. Isto ou começa de pequeno ou então acho difícil que ainda se vá lá.

Há uma série de que já falei aqui, e que tem em mim, esse efeito. Aprendi a respeitar esse efeito em mim: miúdos na cama, sento-me no sofá e o mundo fica em suspenso. As duas últimas semanas foram muito grandes, maiores do que os sete dias previstos para cada uma delas. Nem sempre as emoções têm tempo para serem vividas porque os ritmos dos dias são mesmo assim.

Ontem, já a casa em silêncio, deito-me no sofá. Ponho para trás o último episódio. Esqueci-me de levar lenços. Falha grave. Teve o efeito pretendido, como sempre. Através dos seus muitos personagens, passo em revista as tristezas, as aflições e também as certezas e alegrias dos últimos tempos. Ontem foi sobre a perda, uma perda grande do tamanho das nossas raízes mas também os reencontros. Sobre o amor, sobre perdoar. Sobre as pessoas que estão ali sempre ao lado. Mesmo que nós estejamos menos perfeitos. Menos nós.

Hoje passei à porta do "trabalho" dele. Como sempre aceno e envio-lhe o meu melhor sorriso. Hoje foi aquele sabor ainda de ontem, de saber que, cada dia conta e que me sinto feliz por estarmos cá ainda para dizer Olá. Ele e ela as minhas mais bonitas raízes. E todos os dias contam. Todos os tempos são precisos. Todos.



Como passei a gostar de passar...1#

...a ferro.

Basta haver uma nesga de tempo com sol, que a máquina de roupa entra em euforia desvairada (ou serei eu?!?!) e a montanha de roupa cresce. Pego no telemóvel e vejo como me vou entreter nas próximas meias horas. Domingo passado foi isto e nem dei conta da montanha de roupa que se ia passando. Há gente maravilhosa.





O que é importante

Ando com muitos textos cá dentro. Palavras soltas que se vão juntando em frases, para que lhes dê ordem e razão de existir. Só que o tempo não tem esticado para tudo e tem acontecido muito tudo por aqui.Por isso, quando se encontra um pouco de tempo para parar, tem-se parado. 

Se há coisa que o tempo vai ensinando é que o tempo não estica e não tem mal Que é tão importante ir definindo as prioridades, tratar das urgências e depois parar. Porque há dias de montanha-russa tão intensos, tão de dar, que depois é preciso mesmo tempo para respirar um fôlego de cada vez. Repor algumas energias, colocar a cabeça e o coração no lugar. Por estes lados não há a possibilidade boa de me meter em SPA´s ou simplesmente tirar o fim-de-semana e não fazer nada. Continua a por-se roupas para lavar, passar, comidas para fazer e adiantar, dar um jeito a casa (às vezes acho que tem vida própria...e até tem...a de nós os 4!) e no meio disso tudo ser-se um pouco de si, nos vários papéis que se assume e gosta de ter.

No meio destes atropelos dos dias, houve troca de mail´s com 3 amigas. Uma delas deu-nos a conhecer um texto tão bonito que, por ser tão sincero, o sentimos como verdade. Houve ali troca de impressões nossas, quase como se tivéssemos sentadas a beber um chá, num qualquer final de tarde, embora estejamos espalhadas por este país e até para lá fronteiras. Tão bonito. Sobre as imperfeições assumidas e sobre o ser-se feliz, só assim, como cada vez me faz mais sentido.

Para ler aqui.