Para serenar - 3 ideias

Agimos melhor, quando conseguimos sossegar a inquietação que, por estes dias, tem sido em crescendo, com o que estamos a ver e ouvir. Revejo na minha cabeça, as páginas dos livros de História, que pareciam tão distantes, e agora aparecem a cores, tão perto.

Ainda a refazermo-nos de 2 anos de pandemia, de muitas incertezas e reajustamentos, estamos a presenciar, um outro nível de dúvidas sobre como vai ser o dia de amanhã. Em jeito de brincadeira, vamos dizendo que não sabemos como vai ser o próximo fim de semana. Na verdade, nunca o soubemos mas o contexto atual, levou a incerteza dos dias, a um outro patamar. 

E depois há uma espécie de culpa por se poder levar uma vida banal de ida ao supermercado, consultas, ler, buscar filhos à escola, irem ao futebol ou natação. Até rir parece quase um processo complexo de uma espécie de pecado, quando a seguir vemos um noticiário com vidas desfeitas. 

Este constante estado de alerta, apreensão e incerteza, tolda a forma como podemos agir e cuidar de nós e dos outros. Sermos melhores Seres Humanos. Melhores Pais.

Mas agimos melhor, quando conseguimos serenar o que vai cá dentro. Ajudamos mais e mais longe. Ajudamos melhor e a quem nos rodeia, no imediato. 

Para serenar:

1. Limitar a quantidade de informação. Cada um de nós, em medidas diferentes, tem um limiar de informação que consegue gerir. Há uma inquietude que acontece no corpo, a que se estivermos atentos, conseguimos parar. Em nada ajuda ver a mesma notícia, 20 vezes seguidas. Informados sim, entupidos com notícias e imagens, não. Observar, observar o que vai cá dentro e dizer um chega, quando for demais. 

2. Boas escolhas. Há quem, neste momento não as tenha. Nós temos. Vivemos numa espécie de micro-paraíso onde é seguro, onde estamos protegidos, onde temos formas de nos subsistir, acesso a cuidados de saúde... Temos escolhas. Honremos e façamos bom uso das nossas escolhas. Por nós, por quem nos rodeia e por quem, neste momento, não as tem. 

3. Descompressão. Funcionamos melhor, ajudamos mais, se formos tendo momentos de descompressão. Rir, cantar, meditar, jogar, conversar... o que funcionar para cada um. Sem culpas. Uma panela de pressão só funciona, quando liberta o vapor em excesso. Cada um encontrará a melhor forma de libertar o que está a presenciar. 

Não temos a capacidade de mudar as decisões do mundo, a mais de 4 mil km, mas podemos fazer pequenas mudanças, aqui e agora, neste mundo que nos rodeia. No nosso mundo cá dentro, no mundo dos nossos filhos, dos nossos vizinhos, dos nossos colegas, das pessoas que entretanto vão chegar, das ajudas e apoios que conseguimos enviar. 

Agimos melhor, quando serenamos cá dentro.

De dentro para fora.

Para fazer a diferença.

Sermos diferença.



 




O que Fica

O QUE FICA

O que fica, será a forma como mostramos a nossa indignação e revolta, nos pequenos gestos dos nossos dias.

A forma como tranquilizamos os nossos pequenos, dando-lhes apenas pequenas doses do que nos rodeia mas sem exagerar nessa dosagem de realidade que, felizmente, não precisam, nem têm que lidar.

A forma como gerimos os nossos medos e angústias. A forma como queremos já aqui e agora, demonstrar respeito, tolerância, empatia, diálogo e comunicação. Começa com as pessoas com quem vivemos, trabalhamos, o vizinho do lado.

A forma como escolhemos ajudar a quem está lá longe, e que em breve, também estará por cá. Sem apontar dedos a quem escolha fazer de forma diferente. Cada um, à sua maneira, estará a fazer o seu melhor. E só isso, já vale a pena.

A forma como ouvimos. Ouvir, sem interromper, acolher o outro, as suas partilhas e dúvidas.

Há quem, neste momento, não tenha escolhas, que não sejam as da sobrevivência primária. Honremos as nossas, as muitas escolhas que temos ainda neste momento. As muitas portas que podemos abrir, que sejam reflexo daquilo em que mais acreditamos, os nossos valores, o nosso farol mais interno e que nos guie, na forma de estar perante os outros.

O que fica será sempre a forma de Ser(mos) Humanos. Todos os dias, um pouco mais.