As marés...e o hipnotismo

A onda vai. A onda vem. A onda vai. A onda vem. A onda vai. A onda vem. Já sente náuseas? Bom sinal. Significa que está hipnotizado e que dentro de 23 segundos e meio vai começar a cacarejar como uma galinha!

Destinos à parte, coisas místicas e cartas astrais e por aí fora, é curioso como às vezes os acontecimentos nos empurram para sítios para onde não imaginávamos parar. Por mero acaso está a trabalhar-se em áreas que não se contava, enquanto portas que sempre estiveram abertas e pareciam tão seguras, se fecham. Durante bastante tempo insiste-se em continuar a bater às mesmas portas, tunga, tunga, tunga e… Nada! Até parece que estamos a falar para o vazio, a parede ou um coelho (percebeu-se a subtileza da piada política-social-atual?).
Depois de muita insistência, de haver galos por tudo quanto é testa, sangue a esvair-se, lágrimas até, aceita-se e conforma-se que aquela porta fechou de vez. Não adianta. O curioso é que entretanto, muito tenuemente surgem sinais (que dava jeito que fosse do tamanho dos de trânsito…mas para isso o Universo ainda não está virado) de alternativas.
Então…para quê remar contra a maré, quando essa maré já se foi? É deixar ir na onda, na crista ou sem ela, mas deixar porque novos caminhos estão para ser descobertos. E isto tanto vale para as relações, para as profissões, para o trabalho sejam lá que mudanças forem. Às vezes  é assim. Deixar ir ao sabor da onda e ver o que ela traz.
20, 21, 22 … 23!!!! Toca a cacarejar!!!!



O Peso das Coisas

Era uma fatia triangular. De um chocolate vivo e brilhante. O creme, também ele de chocolate e de frutos silvestres, a escorrer pelo prato a fora, à procura de um espaço para se destacar, no meio daquela tentação doce, quase pecaminosa, a gritar em suplício para ser devorada.
Dá-se uma primeira trinca e mais outra. As seguintes, já em sufoco surdo, fizeram desaparecer aquele pedaço de mau exemplo às boas regras de nutrição.
Fala-se, escreve-se e publica-se muito sobre comida: blogues, programas, medicamentos, tratamentos e afins, a comida é esmiuçada até mais não. Quase até às partículas ínfimas de um átomo.  E se elas são pequenas! Fazem-se muitos sacrifícios, em prole de uma vida saudável porque hoje as tentações são mais do que muitas e ao virar de cada supermercado, pastelaria ou loja de comércio alimentar. Longe vão os tempos onde apenas se estava rodeado de árvores de fruto e umas quantas hortas. Agora está tudo tão à mão (e quem se terá lembrado de colocar à venda pastéis de nata e outras delícias da pastelaria, mesmo ali perto das caixas de pagamento?!?!) que  é muito mais difícil de resistir.
E aguenta-se, aguenta-se muito para um corpo mais são. Ainda bem. Mas também se coloca muito peso nas coisas. “Ai que respirei o ar desta tarte e estou a engordar!” A comida acaba por ser comida mas a culpa é tão grande que todo o encanto natural de se ter algo genuinamente bom à nossa frente, desaparece. Nesse dia, para além de calorias a mais, também se ingeriu, ressentimento, culpa, desvalorização…tudo o que tira a graça a algo tão simples como é comer, saborear.
Que seja uma vez por outra, que o pecado da gula entre pela goela adentro, mas se for para pecar, que se peque em consciência, se entenda que é um ato isolado, e que comido com prazer alimenta partes nossas que não o corpo. Como tudo, feito com parcimónia, na medida certa, só pode fazer bem. Os malditos pesos de consciência, sejam sobre a comida ou outras maleitas qualquer, atormentam feitos abutres o nosso equilíbrio e bem-estar. Por isso há que dar-lhes o devido peso, sem exagerar.
Toda esta conversa deu cá uma fome…com juizinho mas com vontade!

E quando um estranho se aproxima...

Devia ter perto dos 5 a 6 anos e já achava muita graça às experiências com os outros, ver-lhes as reações. Por essa idade era frequente, quando andava na rua, virar-se para as pessoas que passavam no passeio e do nada dizer apenas: “Bom Dia!”, com sorriso discreto mas sincero, as respostas, um pouco surpreendidas não se faziam esperar e quase sempre, entre um murmurar e outro, o sorriso e a saudação eram devolvidas.
Ainda hoje, a “experiência sociológica” persiste em contextos mais elaborados: nos correios, repartições de finanças…seja onde for, de vez em quando sai um Bom Dia com sorriso e as respostas aparecem.
Acontece por vezes, quando se tem que tratar de assuntos chatos e piolhosos, pegar-se no telefone e no fim da conversa ficar-se com a sensação boa de se ter sido bem atendido. Alguém, anónimo, decidiu naquele momento fazer-lhe o que lhe competia profissionalmente mas ir um pouco mais além e ser gente.
O desafio está aí. Ser-se gente para quem não se conheça: seja com Bom Dia, seja cedendo um lugar, elogiando uma peça de roupa, seja lá o que for… fazer bem a alguém que não se conheça.
Utopia ou não, acreditar que o bem anónimo faz bem e se multiplica a partir daí, traz mais de volta do que aquilo que em dez segundos se dá. A experiência na maior parte dos casos vale a pena, a sensação de bem-estar também.
E se o dia tem 86400 segundos (acabei de fazer a conta na máquina!), o que são 10 segundos?!
Por isso, quem sabe, se um dia destes, não nos cruzamos por aí, e sem combinar nada, sai um Bom Dia, com direito a sorriso e tudo J