Sempre que possível, oferecemos-lhes livros. Histórias que permitam viajar para dentro e fora deles. Que os façam crescer para lá do tamanho dos centímetros.
As estantes estão cheias deles. Ele já lê sozinho, ela ainda as ouve por nós. À noite, quando lhes perguntamos se já escolheram a história, respondem que não há nada para ler. Já leram aquilo tudo. Umas vezes relem-se histórias antigas, outras vezes trazem-se livros da biblioteca escolar ou da municipal e viaja-se de novo.
Este natal oferecemos à nossa pirata-princesa, este livro que conta a história de cores explicada a quem...não vê. Como explicar a um cego, a cor azul, ou o vermelho, ou o amarelo. Com o livro vem também o abecedário braille. E ela perguntava para que eram aqueles pontinhos e como é que as pessoas conseguem ler assim. Tentei-lhe explicar a maravilha que era as pessoas cegas também conseguirem ler.
Eles têm a sorte de terem uma tia, (e eu a melhor cunhada do mundo) que estudou língua gestual. Contei à mais nova que, junto desse alfabeto de braille, estava também o da língua gestual e assim podiam comunicar, em código, também com a tia.
Comunicar é fundamental, ajuda-nos a expandir, a ir mais além, quer se veja ou não. Quer se consiga ouvir os sons ou se precise de encontrar outras formas de transmitir as palavras.
Muitas das universidades têm livros técnicos para os invisuais. Mas falta haver mais escolha para que também eles possam sonhar através da leitura. O Politécnico de Leiria criou uma biblioteca braille. Chama-se Mãos que lêem e tem já prontos para impressão, 23 obras. Conta ter, até ao final do ano, um total de 35 obras disponíveis.
Quem conta um conto, acrescenta-lhe um conto e neste acaso, histórias para ler.
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Em modo avião
Eram mãe e filha. A mãe com idade suficiente já para ser avó porque os miúdos andavam a brincar ali de volta das duas, cobertos de areia e risos. Entre os vários pedidos da mais velha e dos outros dois pequenos, gémeos, que interrompiam, ora a mãe, ora a avó, percebi que trocavam histórias, cruzando o tempo e o espaço que só a partilha de quem quer ouvir e aprender, com as diferentes gerações, tem a sabedoria de fazer.
O livro que estava à minha frente era apenas um disfarce para poder ouvir, e aprender também eu, com aquela história.
- Mas o pai afinal ainda não te ligou porquê? Estão chateados?
- Não. Apenas se esquece e eu não gostei da forma vazia que me respondeu, com os seus Sins e Nãos, à conversa de ontem. Quando lá lhe apetecer, que me ligue. Eu não lhe volto a ligar, enquanto estiver aqui a passar estes dias contigo e os meninos.
- Então... e agora vão estar assim um, dois, três dias, sem se comunicarem?
- Pelos vistos. Eu não sei enviar mensagens. O teu pai também não. Não temos face-não-sei-das-quantas. Olha, deixa. Quando der, lá falaremos.
E a filha, no início da casa dos trinta, ficou para ali assim a olhar, ora para os miúdos, ora para o ar tranquilo da sua mãe. Não falavam e pronto. O tempo daria a ajuda necessária para se resolverem as situações.
Larguei finalmente o livro. Virei-me de barriga para baixo, domesticando o bronzeado à minha vontade e necessidade. Também fiquei a pensar naquilo. Nas urgências que temos à laia das muitas formas que temos de comunicar, de estarmos sempre tão disponíveis, ao toque de um telemóvel, na internet que tem vantagens indiscutíveis mas que também acelera e sobrecarrega o ritmo natural das emoções. Dar tempo a que o amor cresça ou desapareça de vez, a que a tristeza acalme, a decepção atenue. Não acelerar ao ritmo de mais uma mensagem, uma fotografia, um telefonema. Pôr todas as modernidades ao nosso serviço, em vez do inverso. Às vezes, de tão conectado que se está, perde-se um pouco o contacto de si próprio. Há uma disponibilidade constante de se estar on-line em vários sentidos.
Dar tempo para que as emoções tomem o seu lugar.
As novas tecnologias têm a vantagem de estarem sempre a alertar e avisar. Mas de tanto aviso e barulho tecnológico, perde-se também um pouco o ouvir-se a si próprio.
Recebi há pouco um desses telemóveis novos que apitam por vários motivos e mais alguns. E se há um deslumbramento inicial, rapidamente há uma sobrecarga de informação que constantemente teima em aparecer. No outro dia, apercebi-me que havia uma aplicação que avisava quando se tinha que beber água. Como podemos andar tão distraídos que até para beber água, precisamos que uma máquina nos avise! Mais ou menos por essa altura, compreendi as vantagens do modo avião. Pura e simplesmente desligar, por uma hora ou duas, ou na loucura, várias, e estar em modo avião. Sem distrações. Levantar voo e ver a vida sobre outra perspectiva, sem estar sempre refém da maquineta.
Aquela senhora, certamente já teria a sabedoria necessária para saber que não seria por enviar mais 50 sms ou insistir em deixar um post bonito no face-não-sei-das-quantas, que iria ficar bem com o seu marido. O senhor Anacleto, que lá lhe passasse a mosca, que logo acertavam os ponteiros.
Em modo avião, para se ligar, de novo, a si própria.
O livro que estava à minha frente era apenas um disfarce para poder ouvir, e aprender também eu, com aquela história.
- Mas o pai afinal ainda não te ligou porquê? Estão chateados?
- Não. Apenas se esquece e eu não gostei da forma vazia que me respondeu, com os seus Sins e Nãos, à conversa de ontem. Quando lá lhe apetecer, que me ligue. Eu não lhe volto a ligar, enquanto estiver aqui a passar estes dias contigo e os meninos.
- Então... e agora vão estar assim um, dois, três dias, sem se comunicarem?
- Pelos vistos. Eu não sei enviar mensagens. O teu pai também não. Não temos face-não-sei-das-quantas. Olha, deixa. Quando der, lá falaremos.
E a filha, no início da casa dos trinta, ficou para ali assim a olhar, ora para os miúdos, ora para o ar tranquilo da sua mãe. Não falavam e pronto. O tempo daria a ajuda necessária para se resolverem as situações.
Larguei finalmente o livro. Virei-me de barriga para baixo, domesticando o bronzeado à minha vontade e necessidade. Também fiquei a pensar naquilo. Nas urgências que temos à laia das muitas formas que temos de comunicar, de estarmos sempre tão disponíveis, ao toque de um telemóvel, na internet que tem vantagens indiscutíveis mas que também acelera e sobrecarrega o ritmo natural das emoções. Dar tempo a que o amor cresça ou desapareça de vez, a que a tristeza acalme, a decepção atenue. Não acelerar ao ritmo de mais uma mensagem, uma fotografia, um telefonema. Pôr todas as modernidades ao nosso serviço, em vez do inverso. Às vezes, de tão conectado que se está, perde-se um pouco o contacto de si próprio. Há uma disponibilidade constante de se estar on-line em vários sentidos.
Dar tempo para que as emoções tomem o seu lugar.
As novas tecnologias têm a vantagem de estarem sempre a alertar e avisar. Mas de tanto aviso e barulho tecnológico, perde-se também um pouco o ouvir-se a si próprio.
Recebi há pouco um desses telemóveis novos que apitam por vários motivos e mais alguns. E se há um deslumbramento inicial, rapidamente há uma sobrecarga de informação que constantemente teima em aparecer. No outro dia, apercebi-me que havia uma aplicação que avisava quando se tinha que beber água. Como podemos andar tão distraídos que até para beber água, precisamos que uma máquina nos avise! Mais ou menos por essa altura, compreendi as vantagens do modo avião. Pura e simplesmente desligar, por uma hora ou duas, ou na loucura, várias, e estar em modo avião. Sem distrações. Levantar voo e ver a vida sobre outra perspectiva, sem estar sempre refém da maquineta.
Aquela senhora, certamente já teria a sabedoria necessária para saber que não seria por enviar mais 50 sms ou insistir em deixar um post bonito no face-não-sei-das-quantas, que iria ficar bem com o seu marido. O senhor Anacleto, que lá lhe passasse a mosca, que logo acertavam os ponteiros.
Em modo avião, para se ligar, de novo, a si própria.
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