Mostrar mensagens com a etiqueta quarentena. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta quarentena. Mostrar todas as mensagens

Comunicação com um ecrã

O rosto mesmo ali, misturado com expressões, entoações e cheiros foi substituído por um ecrã. 
Numa altura em que a comunicação indireta disparou, seja por redes sociais, por videochamadas, grupos de whatsapp, reuniões online e por aí diante, nem sempre fica claro o que queremos expressar ou o que concluímos, que os outros nos estão a querer dizer porque a nossa forma de o fazer mudou. E mudou para todos.

As frases escritas, as entoações de voz ou as expressões no rosto podem não estar a ser claras com quem estamos a falar, ou de quem estamos a ouvir, e a mesma frase inocente, pode despoletar o início de uma qualquer batalha no meio do oceano das nossas relações. 

Esta situação não é nova, para qualquer um de nós. Já aconteceu um outro incidente com aquela amiga, a namorada ou marido, a mãe ou um colega de trabalho. A grande diferença é que agora, mais de oitenta por cento das nossas relações passam por este filtro de um ecrã que esconde cansaços, frustrações e até boas intenções. E isto para qualquer idade, sejam os adultos em formato polvo a acudir às várias solicitações, seja para as crianças e jovens que, em tempo recorde, estão a aprender a gerir amizades, namoros, saudades dos pais ou ainda relações com os professores à distância de um clique. 

A bem de todos, a realidade é esta por uns tempos largos. Aceitar que estamos todos em processo de aprendizagem, também de comunicação e de reinventar novas formas de expressar o que queremos, sentimos e pedimos, facilita a ter paciência conosco e com quem nos rodeia. 

Sei que é uma repetição por estes lados, mas respirar é tão básico, tão primário à nossa existência que, o seu treino também aqui nos ajuda a sermos mais gentis e tolerantes conosco e também com os outros. Estamos TODOS a aprender e só isso, por si, é meio caminho andado para desenvolvermos em nós, esta nova tolerância de comunicação





Vamos Cuscar #28

Não sei se é dos ares daquela zona, ou do que por lá comem ou respiram mas de onde a Cristina vem, há um conjunto de pessoas que são feitos de uma massa especial de Ser-se Humano. A Cristina não é exceção. Fomo-nos encontrando e desencontrando ao longo dos tempos. No último ano, por uma série de circunstâncias, os nossos caminhos cruzaram-se um pouco mais. Muitas vezes no silêncio. Às vezes estar presente é encontrar forma de se dizer que se está lá, mesmo que não haja resposta porque as forças ou a tristeza simplesmente não permitem mais. 

É uma Mulher com um M muito grande. Uma mulher onde cabe ser-se irmã, filha, mãe, prima (sorte a minha...), amiga e profissional de enfermagem. Com amor. Com entrega. Com uma sensibilidade e disponibilidade inspiradora. Novamente com Amor, muito. Nota-se na forma como fala com meiguice, com um humanismo, com um sentido prático e com os pés na terra de quem fez um longo caminho com pulso próprio. 
Vamos Cuscar...a Cristina?






Idade: 47
Naturalidade: Strasbourg, em França
Comidas preferidas: Um cozido à portuguesa, com um bom vinho tinto e companhia de gente BOA, com certeza
Um livro a não perder:  “O Santo, o Surfista e a executiva” de Robin  Sharma
Um sítio de sonho visitado e outro de sonho a visitar: o sítio de sonho visitado foi Strasbourg, a minha Terra Natal. Gostaria de visitar a Noruega.

1. O que é para ti família?
Família é o Pilar da vida, é a verdadeira fonte de água pura, onde se busca toda a energia, todo o amor e sucesso.




2. Sendo a mais velha de seis irmãos, quando te inscreveste em enfermagem, metade do curso já estava feito com muita prática em casa?
Não, Não… Todos os dias há uma nova aprendizagem, mas a verdade é que o facto de cuidar dos irmãos mais novos, fortalece-nos. Ficamos mais destemidos, amadurecemos muito mais rápido, sentimos a responsabilidade de os proteger, de que nunca se pode dar parte de fraca. Porque eles encontram ali qualquer coisa que os alimenta. 
E ainda nos dias de hoje, estou sempre disponível a dar-lhes uma resposta positiva, nem que fique por instantes apreensiva.
Além disso também sou a prima mais velha de 17 primos (da família paterna). É bastante gratificante e colocando numa balança todos os pontos fortes e fracos, sem dúvida que 99% são resultados positivos. 
Um desabafo: Há momentos que me apetece ir para o deserto, ficar ali sem ouvir ninguém … e que se lixem todos… 




3. Quando tiveste a certeza que era mesmo isto que querias fazer na tua vida?
Desde que me conheço, nunca outra profissão me passou pela mente.





4. Ao longo de mais de duas décadas de experiência em Hospitais e Centros de Saúde, o que é que ainda te custa fazer?
A transmissão de más noticias, a morte traumática (seja ela de que faixa etária for), mas em especial, custa-me pais que deixam filhos pequenos e a morte de jovens e crianças.
O velho ditado diz (ou pelo menos é nisso que acredito), que ninguém veio até mim por acaso. Todos temos uma missão! E, por mais estúpido que pareça, várias vezes tentei fugir e questionar-me do porquê dessas pessoas partirem na minha presença. Agora entendo: é essa a  minha missão! Ajudar alguém em fim de vida a partir em paz, com dignidade, amor… proporcionando um ambiente de tranquilidade e leveza. Sem gritos. E transmitir tudo isso aos familiares, porque na verdade quem vai morrer nem sempre tem medo do acontecimento, mas sim da falta dessa serenidade, do amor familiar, do desconforto, da dor de estar sozinho.
Normalmente, até colocava música relaxante, e lembro-me que um certo dia um Médico brincou comigo: “Com uma música assim, quem não quer morrer consigo?”.
Acredito que “fim de vida” pode ser algo grandioso, se estiverem presentes todos esses valores.


5. Nos momentos mais desafiantes do teu trabalho, onde vais buscar a lucidez para agir?
Na fé, no amor, no otimismo e força no ser humano que tenho à minha frente. Não desisto! Há sempre uma solução! Talvez sinta que exista em mim uma capacidade de concentração apenas no agora e atuar consoante o que vejo naquele momento.


6. Quem continuam a ser as tuas grandes referências na área da enfermagem e na Vida? Porquê?
A Enfermeira Laura, a minha orientadora de curso, num estágio de psiquiatria. Pela sua voz e riso, que contagia o mundo. A Enfermeira Olga Pereira, a minha orientadora no meu primeiro emprego no serviço de cirurgia do Hospital São Francisco Xavier. Pelo seu amor, tranquilidade e perfeição em tudo o que faz. O enfermeiro Paulo Correia, o meu orientador no estágio de cuidados intensivos durante a especialidade de enfermagem médico-cirúrgico. Por toda a força interior, sabedoria, postura e carinho com que comunicava e cuidava de pessoas ventiladas.
Os meus Professores, Mestres, Superiores Hierárquicos. Cada um deles com uma personalidade própria, mas que muito aprendi e aprendo diariamente. Toda uma equipe interdisciplinar que cuida com o coração.
Os utentes, como foco principal, pelo seu olhar de gratidão, as suas palavras de carinho e compreensão que renova toda a energia.
Na vida sem dúvida, a minha Mãe. Pela sua poderosa fé e amor. Foi e será sempre a maior Mestra do universo. Há, simplesmente, princípios e valores que são de berço, nenhuma universidade estará capacitada para tal. Os meus filhos são verdadeiramente o sonho de qualquer pai e mãe, são a força da nossa luta diária, da nossa alegria e felicidade, sem nunca existir exaustão ao fim de 24h/32h seguidas de trabalho. E claro, a minha cara metade, os meus irmãos, sobrinhos e restante família e amigos.
Para mim, este calor humano é a pedra mais preciosa da vida.


7. No final de um turno de muitas horas, o que te sabe bem?
Entrar no carro, fazer aquela curta viagem onde vem ao de cima algumas emoções. Refletir, chorar e pensar em algo cómico que me faça rir quando estou prestes a chegar ao meu destino… Chegar a casa, fechar portas e janelas, desligar o telemóvel e desligar a campainha. Finalmente, sentarmo-nos os quatro naquele sofá milagroso e terapêutico, às vezes a conversarmos ou em silêncio ou a discutir… pois tanto os dias de chuva como os de sol têm a sua beleza. 




8. Na tua opinião, para além da medicina e da ciência, o que é importante para manter a nossa saúde?
O stress e os pessimismos fazem muito mal à nossa saúde. Contribuem para um envelhecimento precoce, para futuros problemas de saúde e vidas infelizes, contagiando também os que nos rodeiam. A sensação de que parece que tudo corre sempre mal, de que nada as satisfaz.
Por isso, na minha opinião, para mantermos uma vida saudável, precisamos de serenidade, equilíbrio interior e amor por nós próprios acima de tudo. Podemos ser tão felizes com tão pouco! Precisamos de alegria, felicidade e de boa disposição. Não desperdiçar nem um segundo com pensamentos fúteis, até porque só temos uma vida e há que desfrutar dela ao máximo. O tempo não volta atrás. Precisamos de acordar e agradecer todas as dádivas. Tudo tem um propósito de ser… o ser humano não consegue controlar nada então há que retirar em todos os momentos o lado positivo das coisas. E precisamos de uma alimentação saudável (“Nós somos o que comemos”) e praticar exercício físico. São de facto dos grandes contributos para manter uma ótima saúde!
E, por último, na minha opinião viajar, conhecer o mundo, várias culturas, o comportamento das pessoas e suas diferenças, é realmente das experiências mais fascinantes da vida. Repõe todo o combustível necessário para continuar em frente… e, faz muito bem à mente.




9. Ter uma profissão em que tanto se dá e cuida dos outros, como ainda foi possível, criar e educar dois filhos, agora já maiores de idade, que mostram tanto bom senso, sentido prático e sucesso nas suas vidas?

Nunca fui uma pessoa de pensamentos negativos e de desistir, mas confesso que educar um filho é sem dúvida das profissões mais exigentes, e também dos melhores investimentos da vida.
Houve momentos bem complicados. Enquanto vivia em Lisboa, encontrava-me realizada profissionalmente, mas sentia que não conseguia educar e acompanhar os meus filhos como eles mereciam. Então tive que tomar uma decisão bastante difícil na altura, e que durante muito tempo, me atormentou: sair de Lisboa e ir morar para uma aldeia pacata da Guarda. Pensava eu “aqui não tenho nada… perdi todos os meus sonhos… nunca mais me vou realizar profissionalmente”. Pura mentira! Pois todos os sucessos começaram aqui.
Enquanto eles eram pequenos, até aos 10 anos, dediquei grande parte do meu tempo à sua educação. Com muita presença física, sempre preocupada com as sopas, comidinha caseira, conhecer os professores, a escolinha, as atividades extracurriculares, enfim… com muito atenção e sem grandes bens materiais (nunca valorizei muito esse aspeto). Tentei sempre que crescessem como boas pessoas, trabalhadores e que fossem adultos preparados para o mundo. Sem lhes tirar todas as pedras do caminho e a dar-lhes asas para voarem, para saberem que nada na vida vem de mão beijada, mas sim da dedicação, persistência, esforço, honestidade, da autoconfiança, da humildade e do amor.
Entretanto novos desafios profissionalmente surgiram e tudo se completou, com todo o tempo ocupado, às vezes sinto que precisava de 48h diárias. 
Penso que as nossas atitudes enquanto pais, fizeram deles os seres humanos que hoje são, simplesmente incríveis, uns filhos de excelência com uma força da natureza e com tanto sucesso. Considero que somos uns pais de sorte porque eles são realmente qualquer coisa de divinal. Possuem todos os valores humanos na perfeição!





10. Já houve momentos em que quiseste virar as costas a esta profissão e seguir um rumo diferente?
Nunca! Se não fosse enfermeira, não seria verdadeiramente feliz. Mas ainda não perdi a esperança de regressar a Lisboa e exercer funções dentro da minha especialidade, como enfermeira de cuidados intensivos ou emergências médicas.





11. Como profissional na área da saúde, que está na linha da frente deste momento tão desafiante para todos, que mensagem nos queres deixar?
Que nada na vida acontece por acaso e que o ser humano é extremamente resiliente. Quantos de nós não conhecia sequer os seus vizinhos, corríamos o dia inteiro, nunca havia tempo para nada, não tínhamos dinheiro para nada? E agora o mundo inteiro está unido, as pessoas entreajudam-se, temos tempo para refletir: o quanto consumistas éramos, o quanto corríamos em vão, a importância de um simples abraço e da falta que alguém nos faz.
Como profissional da saúde, toda esta coragem, esforço e dedicação é em parte possível devido à gratidão e carinho de todos os que nos apoiam neste momento. 
Nomeadamente, no nosso caso, o apoio incansável da Câmara Municipal de Pinhel, do Sr. Presidente Rui Ventura e dos seus colaboradores, que têm realizado um trabalho incansável. Que todos os dias incluindo fins de semana, oferecem refeições completas, deliciosas e quentinhas aos profissionais de saúde. Obrigada, Obrigada a todos esses mimos.
Com a certeza de que nos vamos tornar pessoas diferentes depois desta pandemia.


12. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
A boa disposição, a alegria, a bênção por acordar, estar viva e com saúde. Viver no amor e na paz para comigo e para com os que me rodeiam. Guiar-me pelos acontecimentos do dia (amanhã logo se vê!). Aproveitar todas as dádivas da vida.
No meu local de trabalho, é deixar tocar uma música relaxante e fazer comédia, até dos momentos mais horrorosos.
Sempre em busca do que realmente me torna uma pessoa feliz.




Não sou (só) Tudo

Não sou (só) mãe.
Não sou (só) empregada doméstica. 
Não sou (só) professora, educadora. 
Não sou (só) profissional.
Não sou (só) amiga.
Não sou (só) filha.
Não sou (só) companheira.
Não sou (só) irmã, sobrinha, prima.

Somos de tudo um pouco. 
E às vezes (muitas vezes) apenas uma parte de cada vez.
Por isso, não queiramos ser Tudo de uma (só) vez.

P.S.:
Dos dias em que tudo se mistura. E está tudo bem.
Dos dias em que pouco deu certo. E faz parte.
Dos dias em que se volta ao início e se percebe que é uma-coisa-de-cada-vez fazendo o possível. E parar mais vezes do que avançar.










Sem receitas

Depois de tanta informação, sugestões, opiniões, dicas... a verdade é que temos tudo cá dentro.
Cada um de nós.
Mães, pais, filhos, das mais variadas idades.
Está tudo cá dentro.

Observamos uma catadupa de maratonas de atividades para fazer em casa: ler, exercícios físicos, aulas online, receitas novas, mails, teletrabalho ou não. E a maior parte de nós, sejamos os adultos ou as crianças e jovens, temos tudo cá dentro. A sobrecarga dos dias fora de casa, parece querer invadir os dias dentro de casa. 

Para que? 
Porquê? 

1. Na maior parte dos casos, ninguém conhece melhor os filhos do que os próprios pais. Ninguém. O que é que eles gostam ou precisam? Eles estão em fase de adaptação, tanta quanto os adultos. O que faz sentido eles fazerem nesta fase de reajustes? O que a vizinha ou o amigo estão a fazer com os filhos, por norma, não funciona com os nossos. E está tudo bem, faz parte. 

2. Se os mini-seres sobreviveram até agora, significa que Mães e Pais têm muitas capacidades válidas para os colocar neste Mundo. Por isso, esta é mais uma fase, apenas mais uma fase, a ser superada, com as competências que cada Mãe e Pai já tem. Gostam de dançar? Dancem. Gostam de ver filmes? Vejam. Tem especial talento para cozinhar? Cozinhem. 

Há uma fórmula secreta para cada dupla de Mãe/Pai-Filhos.
Sem receitas. 
Tão simples quanto isso. 
Dar voz aos super poderes de Mães e Pais. 
Todos têm. 
Todos. 


5 minutos

As vezes que se ouviu essa frase: quando o bebé descansar, descansa também! 

Dentro das possibilidades de cada uma, quase ninguém faz isso. Ou porque é mesmo só pôr mais uma roupa a lavar, estender, passar, ou adiantar as comidas, ou as muitas outras coisas que uma casa-família exige. Com o tempo, com a escuta que vamos fazendo de nós mesmos, percebemos que quando não nos damos esse tempo de paragem, quando eles param um pouco, as coisas não correm tão bem. Quer dizer, tudo está a rolar e a fazer-se mas menos bem por dentro porque faltaram aqueles 5 minutos só nossos, sem culpa do deveria-de-estar-a-salvar-o-mundo. O mundo começa também por dentro. O mundo começa de dentro para fora. 

Nesta tentativa que todos andamos a fazer, de descobrirmos e nos reinventarmos em novas rotinas, hábitos e ritmos dos dias, seja com ou sem trabalho, dentro ou fora de portas, seja com um, dois, três ou mais filhos, a bem de todos, é preciso 5 minutos nossos. Só nossos. 
Sem perguntas.
Sem interrupções.
Sem discussões.
Sem comidas.
Sem roupas. 
Sem arrumações.
Sem limpezas.
5 minutos. Ou mais. Ou menos. O possível. 

Sim. Nem que seja, nesse refúgio maravilhoso da casa de banho. 
Quem nunca.