Balançar

Sou do signo balança e isso talvez aqui seja o menos importante. 

O mês de dezembro tem uma velocidade incrível. Muita gente gosta destes trinta e um dias, onde o frio já vai apertando e onde a par do conforto de camisolas e casacos mais quentes, de uma ou outra forma, se aconchega ou procura aconchego da alma, nesta coisa do natal.

O mês de dezembro tem uma velocidade incrível. Trinta dias onde se procura condensar famílias que tenham que estar absolutamente felizes, quando o ano inteiro foram, apenas, famílias normais, sem estarem sempre a sorrir, a sentir o coração a explodir de alegria. 

O mês de dezembro tem uma velocidade incrível. Vinte e nove dias para se sentir uma fé e uma esperança renovada, logo abandonada, lá para o dia 6 ou 7 de janeiro quando, depois de muito evitar, nos colocamos em cima de uma balança que não mente. Ou as calças. Uma enormidade de otimismo depois pouco alimentado durante o resto do ano. 

O mês de dezembro tem uma velocidade incrível. Vinte e oito dias em que se compra, embrulha, e se enlouquece com a lista de coisas para fazer entre bacalhaus, perús, rabanadas, laços, fitas e cabazes. 

E os dias continuam, vinte e sete, vinte e seis...

O mês de dezembro tem uma velocidade incrível. A que lhe impomos. A que se quiser dar. Um mês com uma energia muito, muito própria. Sente-se no ar uma espécie de euforia coletiva. Que é boa, seja ela conduzida para aquilo que fizer a cada um, realmente feliz. Parar. Perguntar: como quero que seja realmente o meu mês de dezembro. 

Por isso estava para aqui a pensar, que sendo do signo balança, me vou inspirar na palavra balançar. Fazer o balançar do que quero para este mês. E o que quero e faz sentido para todos os outros meses que aí vem. Compreender que em cada mês há um novo natal, uma nova luz, um novo recomeço. Todos os meses. Todos os santos dias. Sendo ano novo tanto em fevereiro, como em pleno mês de agosto.

Mês de dezembro...para balançar.

P.S.: Partilha - e quando a seguir a este texto, inicio pesquisa de imagem, aparece esta música que se chama Balançar, que eu nunca tinha ouvido, que eu não conhecia e que a Mafalda Veiga e o Tiago Bettencourt já cantam. Bonito esta coisa de seres humanos diferentes, sentirem coisas tão semelhantes :) Fica a sugestão.



Créditos de Imagem: Revoada 

Insónia






Dava voltas na cama. Passados três quartos de hora resolve acender a luz, ligar o computador e vomitar, através da escrita. 


Às vezes levamos para a cama, não apenas sono ou um bom companheiro. Às vezes levamos connosco meio mundo, que fico por ali sentado, a olhar, a mordiscar-nos a paciência, as orelhas, as chatices, a picar. Coisas do dia a dia, normalmente, quase sempre, coisas chatas, achatadas e indrominadas Coisas que nos tiram o sono e que insiste em não desligar. Revêm-se episódios, histórias mal resolvidas das muitas horas do dia, ou de dias anteriores. Frases ditas, malditas que se ouviram, ou que ficaram por dizer. Quantas vezes, só depois de se bater com a porta é que sai aquela frase que lhe encaixava maravilhosamente, que nem um estalo, a alta velocidade? 

Continua-se a escrever, a vomitar. A luz acesa ajuda a que os pensamentos sosseguem mais um pouco. O cansaço vai-se instalando. Fazem-se contas de quantas horas faltam para o maldito despertador voltar a tocar. O ciclo recomeça e enviam-se pragas aos demónios, responsáveis por estarmos acordados a horas tão tardias. 

Os olhos a quererem fechar. Sentimento de injustiça continua por lá e estes voltam-se a abrir num ápice.

Lembra-se então, da película de um filme. Das muitas, muitas sequências de imagens que lhe dão vida. Assim como as preocupações de uma insónia. Dar a dimensão aos demónios como eles a merecem: ridiculamente pequena. Um instante de imagem, comparada com toda a longa metragem que já lá vai e com toda aquela que ainda está para vir. E que venha.

Daqui a pouco, o relógio toca. Já vomitei. O resto, os demónios, terão um destino tal qual como o vómito: sanita abaixo. E agora desculpem, vou puxar o autoclismo, apagar a luz...e dormir. Bons sonhos.

P.S.: E descobrem-se coisas boas como esta iniciativa até ao dia 6 deste mês. Toca a Todos