Sobre o medo

Medo que ele ou ela não gostem.
Medo de falhar a voz, de gaguejar, de esquecer a fala, no momento, na hora, na deixa certa. Não existe o momento certo. Ou é, ou não é. É uma escolha.

Medo de não caber no vestido, nas calças, nas cuecas, naquela camisa ou t-shirt. Põe alguma coisa por cima desse corpo abençoado, de preferência a gritar cor, ou então sem cor alguma, desde que te faça rir, sorrir ou até gargalhar sobre ti mesma porque estás aqui e agora e o palco é este dia, este momento.

Medo de dizer que Sim, Sim, Sim porque o Não seria tão mais fácil. O não esconde o que já sabemos e agarra-nos no conforto (in)seguro em ficar a ver comboios passar. Passa um, passa dois, passa três... e nós ali, na estação a olhar. Apanha a merda do comboio e vai.

Medo de presentear-nos com um livro, um anel, um retiro, umas férias, um almoço ou dois. Presentear-nos com a vontade de merecer o que de bom e bonito a vida também tem.

Medo de segurar um gato, adotar um cão, abraçar um árvore sem saber as portas de amor que a cada passo existem, em cada ser que nos rodeia e que nos faz sentir que somos só uma energia da vida, que se renova a cada instante, num fluxo seguido de amor.

Medo de abraçar, de enviar uma mensagem, de dizer Amo-te, Gosto de Ti, de olhar nos olhos, de fazer um festa, de acariciar. 
Medo de acreditar, de sonhar, de voltar a tentar, de inspirar, de seguir em frente ou até de parar. De ouvir a voz de dentro, tão sábia, tão de sempre, tão de tudo.

Mudar o Medo por Eu Quero. E que comece mais um dia, mais uma semana.
Um Dia Feliz. T-O-D-O-S os dias. 




Imagem daqui.


Acreditar, acreditar, acreditar

Não sei bem como a Lisa me veio parar ao coração. Acho que foi mais uma daquelas felizes coincidências, de uma referência, de uma referência de alguém. Comecei por segui-la por causa do desafio dos 65 dias de meditação e da viagem que anda a fazer em família por esse mundo afora. A Lisa teve sempre a generosidade de responder nas redes sociais de forma tão simples e cheia de amor. Ontem lançou um desafio diferente. Está na Costa Rica e veio parar-lhe às mãos a história de uma menina, em recuperação de um cancro que resultou na amputação da perna e que, dadas as condições da casa onde vivia com a mãe e a irmã mais nova, está à mais de 10 meses, longe de viver em família. O hospital não autorizou a sua ida dada a fragilidade da sua saúde. E é nisto que as redes sociais têm de maravilhoso. A Lisa fez o apelo a mais de 8 mil km e em menos de 24 horas conseguiu-se o valor indicado para o aluguer de uma casa que vai permitir que, durante um ano, esta família esteja novamente junta.

As redes sociais, tal como tudo, têm o seu lado bom. É só puxar por ele, que a magia acontece. Acreditar, acreditar, acreditar para agir e fazer acontecer. 





O caminho

O percurso, supostamente, é o mesmo. Assim como o destino. Também a distância, varia, consoante a escolha do momento, em ir mais por ali ou além. Mas cada um de nós do grupo, vem com um ano de histórias, aprendizagens e vivências. Este ano éramos 8+1+1. 8 a caminhar+1 no carro a acompanhar+1 que foi no nosso coração e que teve que ficar em casa por questões de saúde. Por isso fomos 8+1+1. A maior parte de nós, vê-se de fugida nos restantes 365 dias do ano ou então nem se vê. Somos m-u-i-t-o diferentes, em idades, em formas de estar, nos trabalhos, em formas de viver e estar nos dias. Tão diferentes que nos fazemos bem. Temos em comum, esta coisa lamechas, do amor ao próximo, em não deixar ninguém para trás. Sem grandes pieguices mas na dose certa da loucura-saudável e respeito pela diversidade. Quem se junta pela primeira vez, arranja forma para estar nesta caminhada, uma vez por ano. Com mais ou menos crença, move-nos a fé, de uns pelos outros, num exercício que se depois estende, às outras pessoas com quem nos rodeamos o resto do ano. É o cuidar dos pés do outro, sem qualquer pudor. Ou abraçar e empurrar mais um pouco. O distrair quando o cansaço aperta, fazer rir, arrancar um sorriso. Emprestar a bengala, o chapéu, as meias. Partilhar as bolachas ou a água. Agradecer, uma e outra vez, quem vai conosco ali ao lado. Um pé, à frente do outro.

Não há O caminho. Nós somos caminho. 

O destino é aquele abraço emotivo em que agradecemos, agradecemos a cada um que está ali e repetimos uma e outra vez, em sussurro e ao ouvido: sem ti, não teria conseguido. Talvez sim, talvez cada um de nós, sozinho, também teria feito caminho, mas não Seria caminho. Foi uma chegada bonita, de partilha. Primeiro todos juntos, depois cada um com as suas crenças, a sua fé, a sua forma de sentir, para além do visível. 

A basílica, a igreja, o santuário são feitos de pedra e cimento. Nós todos somos feitos, (sim, ainda teimo em acreditar nisso...), por esperanças, pela amizade, pela entreajuda, pelo amor, pelo riso, pela superação da dor, pelo risco e aventura, pelo acreditar que sim, em nós e nos outros. E é nesse tipo de fé em que vou acreditando. 

Não há O caminho. Nós somos caminho. Até para o ano, de todos os dias. ♥️


























Dos maiores exercícios

Depois de várias noites mal dormidas, lombas e buracos na estrada dos dias, ontem foi o aniversário do João. Um dia que, já por si, mais agitado, amanhece e desenrola-se com uma série de imprevistos que, em outros tempos, teriam posto em causa, o que realmente importa. 

Essa foi das maiores aprendizagens destes últimos anos e que ainda está em processamento aqui dentro. O que realmente é importante no momento?

Imaginem um farol lá ao longe. Um farol que guia, ilumina e orienta. Cada um tem o seu forrado com aquilo que lhe faz mais sentido. Seja a família, o amor, o trabalho, o dinheiro, sexo, amigos, arte, comida, ler... A lista não tem fim. Imagino o farol com várias dessas palavras coladas. Umas em tamanho gigante, com direito a luzes néon, e outras mais discretas mas estão lá. Por vezes, elas transformam-se em forma e feitio ao longo dos anos porque as prioridades mudam ao sabor de quem nos queremos transformar. O farol está lá e vai orientando e guiando o nosso caminho. Mesmo quando o tempo está nublado, a luz vai insistindo porque existe a certeza do que é mais importante para nós. . 

Houve uma altura em que andei à deriva e a lei era sobreviver à tona da água. Mesmo nessa altura, essa luz ia guiando, mesmo com menos força ou sem tantas certezas. Sei agora, que é um exercício quase diário, lembrar, lembrar, lembrar o que é importante, qual o foco dos dias. Por isso, o que realmente é importante no momento, tendo o meu farol a guiar? 

No meio dos atropelos de ontem, o importante era ele. Saber o quanto o amamos, é querido, o orgulho que sentimos em que já é e se está a transformar. Saber que tem quem gosta dele, ao seu lado, dar-lhe asas para voar. Serenar os outros tempos e momentos do dia, porque no fim, com o farol a guiar, está tudo bem, mesmo quando parece que não está. Confiar e continuar o caminho. 

Dos meus maiores exercícios, tem sido este: lembrar que o farol está lá firme, relembrar o que lá está inscrito, a minha verdade, e que o caminho se faz com fé, confiança e persistência. Haja essa luz por dentro. 



imagem daqui.

A leveza

Comecei a tomar café já tarde. Não nas horas dos dias, mas nos anos da vida. Assim a sério talvez só há 3 anos para cá e nem sempre. Nestes últimos meses, tornou-se um ritual matinal ir ao mesmo sítio. Mesmo quando os ombros carregam preocupações matinais (por norma empoladas porque na verdade tudo se compõe), subo a rua, entro naquele espaço e peço um café ao balcão. Àquela hora somos quase sempre as mesmas. Mais do que o café, tomo aqueles cinco minutos de conversa, de parvoíces ou confidências, de cumplicidades de amizades leves, que se vão construindo assim. Todas com mais caminho feito do que o meu. Não são mais do que 5 ou 10 minutos. Pago e sigo o caminho. Vou mais leve. Sempre mais leve. E mais do que o vício da cafeína, enraíza-se o vício das pessoas que nos fazem e acrescentam cor aos dias. Obrigada Tina, Manuela e Maria. ♥️

Desço a rua, reorganizo o olhar para o dia: atiro para trás das costas os cinzentos e foco no que hoje, mais do que nos outros dias é importante. A leveza de 12 anos do meu João. Que ainda procura pela mãe, ainda aceita e pede abraços e beijos, que já questiona tanto e me faz saber e acreditar, que aos poucos, o vou soltando para voos mais altos, porque sei que posso confiar, que tem um coração e pensamentos à procura de perguntas e respostas. Sê feliz meu amor. Que privilégio poder ser tua mãe. :) 






Há alturas

Houve uma altura em que escrevia quase todos os dias e era tão bom. A escrita é como um músculo, que se vai treinando e esticando para melhores desempenhos. Mas agarro também esta ideia de que, tal como a bicicleta, não se esquece. De início pode-se andar um pouco aos tropeços, mas com a prática, a insistência, retoma-se o caminho. 

O tempo não estica, ou aliás, estica, como já disse muitas vezes, para o lado que tem de esticar. A vida vai-se (re)pensando e aos poucos, coloca-se no lugar certo, as prioridades. Demora tempo, leva muito tombo, mas as certezas, desde que se queira dar ouvidos ao que vem de dentro, que as gavetas desalinhadas vão estando de acordo com quem se é e quem se quer ser. Estou mais em paz aos 42, do que há dez anos atrás. É um trabalho, tal como a escrita, que é diário, de alinhamento com o que realmente nos interessa, com a certeza dos nossos valores e com a paciência necessária de saber que é um caminho. Um km, um cm de cada vez. E mesmo quando se sai do trilho, voltar para lá, com jeito, com carinho por nós. 

A escrita está no meu trilho. Às vezes olho para ela, pisco-lhe o olho e em sussurro, peço-lhe um pouco mais de paciência. Há alturas e esta certeza, cada vez maior, que o caminho se faz caminhando. Um passo de cada vez, ao ritmo dos balanços do dia.



Imagem de Artem Beliakin

Para lembrar

Para lembrar e colar nos post-its da vida.


"We choose our life every day.
We don’t necessarily choose our circumstances every day, but we do choose the person we are going to be."