Houve uma altura em que escrevia quase todos os dias e era tão bom. A escrita é como um músculo, que se vai treinando e esticando para melhores desempenhos. Mas agarro também esta ideia de que, tal como a bicicleta, não se esquece. De início pode-se andar um pouco aos tropeços, mas com a prática, a insistência, retoma-se o caminho.
O tempo não estica, ou aliás, estica, como já disse muitas vezes, para o lado que tem de esticar. A vida vai-se (re)pensando e aos poucos, coloca-se no lugar certo, as prioridades. Demora tempo, leva muito tombo, mas as certezas, desde que se queira dar ouvidos ao que vem de dentro, que as gavetas desalinhadas vão estando de acordo com quem se é e quem se quer ser. Estou mais em paz aos 42, do que há dez anos atrás. É um trabalho, tal como a escrita, que é diário, de alinhamento com o que realmente nos interessa, com a certeza dos nossos valores e com a paciência necessária de saber que é um caminho. Um km, um cm de cada vez. E mesmo quando se sai do trilho, voltar para lá, com jeito, com carinho por nós.
A escrita está no meu trilho. Às vezes olho para ela, pisco-lhe o olho e em sussurro, peço-lhe um pouco mais de paciência. Há alturas e esta certeza, cada vez maior, que o caminho se faz caminhando. Um passo de cada vez, ao ritmo dos balanços do dia.
Imagem de Artem Beliakin
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