Vamos Cuscar #28

Não sei se é dos ares daquela zona, ou do que por lá comem ou respiram mas de onde a Cristina vem, há um conjunto de pessoas que são feitos de uma massa especial de Ser-se Humano. A Cristina não é exceção. Fomo-nos encontrando e desencontrando ao longo dos tempos. No último ano, por uma série de circunstâncias, os nossos caminhos cruzaram-se um pouco mais. Muitas vezes no silêncio. Às vezes estar presente é encontrar forma de se dizer que se está lá, mesmo que não haja resposta porque as forças ou a tristeza simplesmente não permitem mais. 

É uma Mulher com um M muito grande. Uma mulher onde cabe ser-se irmã, filha, mãe, prima (sorte a minha...), amiga e profissional de enfermagem. Com amor. Com entrega. Com uma sensibilidade e disponibilidade inspiradora. Novamente com Amor, muito. Nota-se na forma como fala com meiguice, com um humanismo, com um sentido prático e com os pés na terra de quem fez um longo caminho com pulso próprio. 
Vamos Cuscar...a Cristina?






Idade: 47
Naturalidade: Strasbourg, em França
Comidas preferidas: Um cozido à portuguesa, com um bom vinho tinto e companhia de gente BOA, com certeza
Um livro a não perder:  “O Santo, o Surfista e a executiva” de Robin  Sharma
Um sítio de sonho visitado e outro de sonho a visitar: o sítio de sonho visitado foi Strasbourg, a minha Terra Natal. Gostaria de visitar a Noruega.

1. O que é para ti família?
Família é o Pilar da vida, é a verdadeira fonte de água pura, onde se busca toda a energia, todo o amor e sucesso.




2. Sendo a mais velha de seis irmãos, quando te inscreveste em enfermagem, metade do curso já estava feito com muita prática em casa?
Não, Não… Todos os dias há uma nova aprendizagem, mas a verdade é que o facto de cuidar dos irmãos mais novos, fortalece-nos. Ficamos mais destemidos, amadurecemos muito mais rápido, sentimos a responsabilidade de os proteger, de que nunca se pode dar parte de fraca. Porque eles encontram ali qualquer coisa que os alimenta. 
E ainda nos dias de hoje, estou sempre disponível a dar-lhes uma resposta positiva, nem que fique por instantes apreensiva.
Além disso também sou a prima mais velha de 17 primos (da família paterna). É bastante gratificante e colocando numa balança todos os pontos fortes e fracos, sem dúvida que 99% são resultados positivos. 
Um desabafo: Há momentos que me apetece ir para o deserto, ficar ali sem ouvir ninguém … e que se lixem todos… 




3. Quando tiveste a certeza que era mesmo isto que querias fazer na tua vida?
Desde que me conheço, nunca outra profissão me passou pela mente.





4. Ao longo de mais de duas décadas de experiência em Hospitais e Centros de Saúde, o que é que ainda te custa fazer?
A transmissão de más noticias, a morte traumática (seja ela de que faixa etária for), mas em especial, custa-me pais que deixam filhos pequenos e a morte de jovens e crianças.
O velho ditado diz (ou pelo menos é nisso que acredito), que ninguém veio até mim por acaso. Todos temos uma missão! E, por mais estúpido que pareça, várias vezes tentei fugir e questionar-me do porquê dessas pessoas partirem na minha presença. Agora entendo: é essa a  minha missão! Ajudar alguém em fim de vida a partir em paz, com dignidade, amor… proporcionando um ambiente de tranquilidade e leveza. Sem gritos. E transmitir tudo isso aos familiares, porque na verdade quem vai morrer nem sempre tem medo do acontecimento, mas sim da falta dessa serenidade, do amor familiar, do desconforto, da dor de estar sozinho.
Normalmente, até colocava música relaxante, e lembro-me que um certo dia um Médico brincou comigo: “Com uma música assim, quem não quer morrer consigo?”.
Acredito que “fim de vida” pode ser algo grandioso, se estiverem presentes todos esses valores.


5. Nos momentos mais desafiantes do teu trabalho, onde vais buscar a lucidez para agir?
Na fé, no amor, no otimismo e força no ser humano que tenho à minha frente. Não desisto! Há sempre uma solução! Talvez sinta que exista em mim uma capacidade de concentração apenas no agora e atuar consoante o que vejo naquele momento.


6. Quem continuam a ser as tuas grandes referências na área da enfermagem e na Vida? Porquê?
A Enfermeira Laura, a minha orientadora de curso, num estágio de psiquiatria. Pela sua voz e riso, que contagia o mundo. A Enfermeira Olga Pereira, a minha orientadora no meu primeiro emprego no serviço de cirurgia do Hospital São Francisco Xavier. Pelo seu amor, tranquilidade e perfeição em tudo o que faz. O enfermeiro Paulo Correia, o meu orientador no estágio de cuidados intensivos durante a especialidade de enfermagem médico-cirúrgico. Por toda a força interior, sabedoria, postura e carinho com que comunicava e cuidava de pessoas ventiladas.
Os meus Professores, Mestres, Superiores Hierárquicos. Cada um deles com uma personalidade própria, mas que muito aprendi e aprendo diariamente. Toda uma equipe interdisciplinar que cuida com o coração.
Os utentes, como foco principal, pelo seu olhar de gratidão, as suas palavras de carinho e compreensão que renova toda a energia.
Na vida sem dúvida, a minha Mãe. Pela sua poderosa fé e amor. Foi e será sempre a maior Mestra do universo. Há, simplesmente, princípios e valores que são de berço, nenhuma universidade estará capacitada para tal. Os meus filhos são verdadeiramente o sonho de qualquer pai e mãe, são a força da nossa luta diária, da nossa alegria e felicidade, sem nunca existir exaustão ao fim de 24h/32h seguidas de trabalho. E claro, a minha cara metade, os meus irmãos, sobrinhos e restante família e amigos.
Para mim, este calor humano é a pedra mais preciosa da vida.


7. No final de um turno de muitas horas, o que te sabe bem?
Entrar no carro, fazer aquela curta viagem onde vem ao de cima algumas emoções. Refletir, chorar e pensar em algo cómico que me faça rir quando estou prestes a chegar ao meu destino… Chegar a casa, fechar portas e janelas, desligar o telemóvel e desligar a campainha. Finalmente, sentarmo-nos os quatro naquele sofá milagroso e terapêutico, às vezes a conversarmos ou em silêncio ou a discutir… pois tanto os dias de chuva como os de sol têm a sua beleza. 




8. Na tua opinião, para além da medicina e da ciência, o que é importante para manter a nossa saúde?
O stress e os pessimismos fazem muito mal à nossa saúde. Contribuem para um envelhecimento precoce, para futuros problemas de saúde e vidas infelizes, contagiando também os que nos rodeiam. A sensação de que parece que tudo corre sempre mal, de que nada as satisfaz.
Por isso, na minha opinião, para mantermos uma vida saudável, precisamos de serenidade, equilíbrio interior e amor por nós próprios acima de tudo. Podemos ser tão felizes com tão pouco! Precisamos de alegria, felicidade e de boa disposição. Não desperdiçar nem um segundo com pensamentos fúteis, até porque só temos uma vida e há que desfrutar dela ao máximo. O tempo não volta atrás. Precisamos de acordar e agradecer todas as dádivas. Tudo tem um propósito de ser… o ser humano não consegue controlar nada então há que retirar em todos os momentos o lado positivo das coisas. E precisamos de uma alimentação saudável (“Nós somos o que comemos”) e praticar exercício físico. São de facto dos grandes contributos para manter uma ótima saúde!
E, por último, na minha opinião viajar, conhecer o mundo, várias culturas, o comportamento das pessoas e suas diferenças, é realmente das experiências mais fascinantes da vida. Repõe todo o combustível necessário para continuar em frente… e, faz muito bem à mente.




9. Ter uma profissão em que tanto se dá e cuida dos outros, como ainda foi possível, criar e educar dois filhos, agora já maiores de idade, que mostram tanto bom senso, sentido prático e sucesso nas suas vidas?

Nunca fui uma pessoa de pensamentos negativos e de desistir, mas confesso que educar um filho é sem dúvida das profissões mais exigentes, e também dos melhores investimentos da vida.
Houve momentos bem complicados. Enquanto vivia em Lisboa, encontrava-me realizada profissionalmente, mas sentia que não conseguia educar e acompanhar os meus filhos como eles mereciam. Então tive que tomar uma decisão bastante difícil na altura, e que durante muito tempo, me atormentou: sair de Lisboa e ir morar para uma aldeia pacata da Guarda. Pensava eu “aqui não tenho nada… perdi todos os meus sonhos… nunca mais me vou realizar profissionalmente”. Pura mentira! Pois todos os sucessos começaram aqui.
Enquanto eles eram pequenos, até aos 10 anos, dediquei grande parte do meu tempo à sua educação. Com muita presença física, sempre preocupada com as sopas, comidinha caseira, conhecer os professores, a escolinha, as atividades extracurriculares, enfim… com muito atenção e sem grandes bens materiais (nunca valorizei muito esse aspeto). Tentei sempre que crescessem como boas pessoas, trabalhadores e que fossem adultos preparados para o mundo. Sem lhes tirar todas as pedras do caminho e a dar-lhes asas para voarem, para saberem que nada na vida vem de mão beijada, mas sim da dedicação, persistência, esforço, honestidade, da autoconfiança, da humildade e do amor.
Entretanto novos desafios profissionalmente surgiram e tudo se completou, com todo o tempo ocupado, às vezes sinto que precisava de 48h diárias. 
Penso que as nossas atitudes enquanto pais, fizeram deles os seres humanos que hoje são, simplesmente incríveis, uns filhos de excelência com uma força da natureza e com tanto sucesso. Considero que somos uns pais de sorte porque eles são realmente qualquer coisa de divinal. Possuem todos os valores humanos na perfeição!





10. Já houve momentos em que quiseste virar as costas a esta profissão e seguir um rumo diferente?
Nunca! Se não fosse enfermeira, não seria verdadeiramente feliz. Mas ainda não perdi a esperança de regressar a Lisboa e exercer funções dentro da minha especialidade, como enfermeira de cuidados intensivos ou emergências médicas.





11. Como profissional na área da saúde, que está na linha da frente deste momento tão desafiante para todos, que mensagem nos queres deixar?
Que nada na vida acontece por acaso e que o ser humano é extremamente resiliente. Quantos de nós não conhecia sequer os seus vizinhos, corríamos o dia inteiro, nunca havia tempo para nada, não tínhamos dinheiro para nada? E agora o mundo inteiro está unido, as pessoas entreajudam-se, temos tempo para refletir: o quanto consumistas éramos, o quanto corríamos em vão, a importância de um simples abraço e da falta que alguém nos faz.
Como profissional da saúde, toda esta coragem, esforço e dedicação é em parte possível devido à gratidão e carinho de todos os que nos apoiam neste momento. 
Nomeadamente, no nosso caso, o apoio incansável da Câmara Municipal de Pinhel, do Sr. Presidente Rui Ventura e dos seus colaboradores, que têm realizado um trabalho incansável. Que todos os dias incluindo fins de semana, oferecem refeições completas, deliciosas e quentinhas aos profissionais de saúde. Obrigada, Obrigada a todos esses mimos.
Com a certeza de que nos vamos tornar pessoas diferentes depois desta pandemia.


12. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
A boa disposição, a alegria, a bênção por acordar, estar viva e com saúde. Viver no amor e na paz para comigo e para com os que me rodeiam. Guiar-me pelos acontecimentos do dia (amanhã logo se vê!). Aproveitar todas as dádivas da vida.
No meu local de trabalho, é deixar tocar uma música relaxante e fazer comédia, até dos momentos mais horrorosos.
Sempre em busca do que realmente me torna uma pessoa feliz.




Vamos Cuscar 27#


5h30 da manhã. Sem vontade de levantar para mais uma corrida mas a data da primeira maratona estava ali a poucos meses. A companhia matinal de sempre: a rádio. Sei lá procurar playlist´s e cenas assim que tais que existem agora. Rádio e está feito.
A Comercial. A "minha" Comercial. 
A Ana do Carmo no seu horário das 5h às 7h. 

Num desses muitos dias, com frio lá fora, envio-lhe uma mensagem, via redes sociais, só a desejar um Bom Dia, a dizer que conto com a companhia dela, mesmo que à distância. Sem qualquer expetativa de sequer obter resposta, o não, como se diz por aí, está certo. Só queria uma alma vivinha desta vida, para saber que mais alguém está acordado-numa-tentativa-de-lucidez-aquela-hora. A Ana respondeu. Respondeu dessas e em muitas outras vezes, sempre com grande simpatia. As redes sociais, também podem trazer e  podem mostrar o lado bom de cada um de nós. É uma escolha. 

A maratona fez-se e a Ana, sem saber bem como, fez parte dos treinos da madrugada. 

Poucas semanas antes de ficarmos nesta espécie de realidade alternativa em que vivemos, conhecemo-nos pessoalmente e espontaneamente foi dado um abraço. Afinal, quantos km já não corremos juntas! 
Vamos Cuscar a Ana do Carmo?


Idade: 42
Naturalidade: Montijo
Comidas preferidas: Vai tudo! Menos carne à jardineira.
Um livro a não perder: O Perfume
Um sítio de sonho visitado e outro de sonho a visitar: Tailânida, adorei! Gostava de ir às Filipinas, Costa Rica e mais perto, Marraquexe. 





1. Como começou a paixão pela rádio? 
A paixão pela rádio começou na faculdade. Escolhi a cadeira de comunicação radiofónica porque desde criança que tinha “pancada” por microfones. Depois dei comigo a pensar “tu queres ver que isto até é giro?!” Caí de amores nessa altura, já ouvia o Homem Que Mordeu o Cão e as Manhãs da Comercial.



2.       O que mais te encanta, ainda hoje, na rádio? 
Hoje há ainda mais coisas que me encantam na rádio. Encanta-me, acima de tudo, fazer parte da vida das pessoas. Estou com elas em dias felizes, em dias menos coloridos, estou com elas carregadas de sono ou super bem dispostas, enquanto trabalham, estudam ou até preparam a lancheira dos filhos. Encanta-me imaginar que estou ao lado delas na secretária, na cozinha, no lugar do pendura. 




3.       Qual a vantagem de ter um programa que começa às 5h da manhã? Nenhuma. (risos) Mentira! Para mim, novamente, a vantagem são as pessoas. Àquela hora as pessoas sentem que são a única alma acordada no mundo inteiro, o resto está a dormir. A minha “missão” é mostrar-lhes que não estão sozinhos, que há muita gente a viver logo tão cedo. Esta “união pela dor” é uma coisa que não se explica. Sente-se. Convido toda a gente a acordar mais cedo, a ligar o rádio e a perceber. Depois não vão querer outra coisa! (risos)




4.       Ao longo destes anos de trabalho, o que é que ainda te surpreende quando chegas ao estúdio e clicas no botão: No Ar? 
Naqueles dias em que não tenho vontade nenhuma de acordar, em que o corpo até sai da cama mas a cabeça fica lá, surpreende-me que quando ligo o microfone renasce uma Ana bem disposta, com ganas de começar o dia. Nunca percebo de onde é que esta rapariga vem. Nos outros dias, em que até estou de bem com a vida apesar da hora, sinto um friozinho na barriga quando ligo o microfone.



5.       Na emissão das 5h, que público tens a acompanhar-te?
Através das mensagens que recebo, percebo que há muitos motoristas a ouvir, seja de longo curso ou de cidade, pessoas que fazem distribuição de pão e bolos (mandam mensagem e eu cheia de fome!!!), pessoas que estão a preparar-se para treinar, que estão a preparar as lancheiras… e como a Comercial se ouve em tudo o mundo há quem me ouça na Tailândia, na praia (e depois mandam foto para fazer inveja da boa!), pessoas que estão a andar de bicicleta na Austrália, professores a caminho do trabalho na Finlândia e até no Uzebequistão! Esta diversidade fascina-me.



6.       Não bebes café. Como fazes para estar com tanta energia boa tão cedo?
Não sei. Juro!!!! Não bebo café, nem chá verde, nem bebidas energéticas… não sei mesmo. Talvez seja por estar no estúdio. Acho que esse é o meu shot de adrenalina diário. Só pode.

7.       Que histórias guardas, com carinho, deste teu trabalho? 
Novamente, acho que guardo as pessoas. Aquelas que eu nunca sonhei que fosse conhecer e, de repente… BAM!!! Lá estão elas à minha frente, a falar comigo. Enumerá-las até é injusto, porque seguramente vão ficar imensas de fora. Sem qualquer ordem cronológica ou de preferência, guardo a conversa com o ator brasileiro Reynaldo Gianecchini, com a malta da Porta dos Fundos, aqueles 2 ou três minutos com a Sara Sampaio, o escritor Nicholas Sparks, a entrevista à actiz Jennifer Lawrence, ao actor Chris Pratt, a conversa com o Sam Smith quando ele tinha acabado de chegar às músicas, a tarde de Pedro Abrunhosa, trocar palavras simpáticas com o Pablo Alboran, a conversa com os Imagine Dragons a cantar a seguir ali à minha frente…





8.       Na tua opinião, e com tantas outras formas de comunicação que existem atualmente, porque continua a fazer sentido a rádio? 
A questão é precisamente essa. A rádio continua a fazer todo o sentido porque, apesar de tantos novos canais de comunicação, a rádio não só não se “amedrontou”, como se adaptou a eles e faz uso diário dos mesmos. Pegou noutros meios de comunicação e alargou o seu espaço de ação, tornando-se presente na vida de mais pessoas. Além das pessoas que têm o hábito de ligar o rádio, chega agora também às que ligam o computador, às que olham para os dispositivos que estão pousados na palma da mão, por exemplo.




9.       Que sonhos tens ainda, por realizar, nesta tua profissão?
O meu primeiro sonho profissional está realizado: trabalhar na rádio Comercial. O que vier a seguir é generosidade da vida (e esforço próprio também). Mas… se pudesse acordar um bocadinho mais tarde e falar com os “meus” ouvintes à mesma seria fantástico!



10. Tendo em conta a tudo o que estamos a viver, como notas que a rádio traz mais cor aos dias, para quem vos ouve?
Nestes dias, a rádio continua a desempenhar o seu papel principal que é fazer companhia a quem tem o rádio ligado. Chegaram-nos vários relatos de pessoas que agora estão a trabalhar de casa e continuam a ouvir a sua rádio, pessoas que estão afastadas da família e atrás da rádio passam a mensagem fazendo com que outras pessoas em igual circunstância - e somos tantos! - não se sintam sozinhos na saudade... No entanto, houve uma mensagem que me tocou em particular. Foi a de um doente infetado com Covid 19 que estava internado num hospital de Lisboa em isolamento. E, portanto, além do pessoal médico, as pessoas da rádio eram as únicas que estavam com ele. Este ouvinte agradeceu a companhia, a tal cor nos dias dele. E eu agradeci-lhe a preferência. Porque estar naquela situação de fragilidade, de medo, talvez até de incerteza, de isolamento, e escolher uma certa rádio e as respetivas pessoas para estar com ele é de uma enorme generosidade. Portanto, de repente, são estas pessoas que trazem cor (e grande sentido de responsabilidade) aos nossos dias e ao trabalho que desempenhamos.



11.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia? 
Acredito verdadeiramente que se tivéssemos a capacidade de “calçar os sapatos dos outros” haveria menos comichões. Só não erra quem não faz.



Vamos Cuscar 26#

O Mário, ou Marinho (ou ainda Borracha...) como a maior parte dos amigos o chama, é de sorriso aberto, rasgado. Entre a provocação e o humor perspicaz é raro não dizer um Olá ou um Bom dia, a quem se cruza com ele. Está lá, de corpo e alma, para quem precisa. Fazia parte do grupo de amigos das saídas à noite há já... uns anos largos. Melhor nem fazer contas. E daquele outro grupo de bombeiros, formados no calor daqueles anos em que nada os parava. Uma colheita e escola rara, dirão muitos deles, que com ele, andaram em fogos que vão deixar, para sempre, marcas. Principalmente as da força e espírito de grupo. 

Escolheu fazer parte da PSP há 21 anos e entre os vários sítios por onde passou, está neste momento na região da Nazaré. É um dos muitos rostos anónimos que está (ainda mais) na linha da frente destes tempos tão desafiantes. 

Cruzamo-nos muito menos agora mas a simpatia franca, descomplicada e genuína continua lá. Vamos cuscar o Mário?






Idade: 46
Naturalidade: Sertã
Comidas preferidas: Bacalhau à Brás / Cozido à Portuguesa
Um livro a não perder: Polícias sem história de Francisco Moita Flores!
Um sítio de sonho visitado e outro de sonho a visitar: Cuba e gostaria de visitar Zanzibar.










1.Em miúdo já brincavas aos polícias e ladrões?
Sim, bastantes vezes!

2.Em que é diferente ser polícia agora e quando começaste?
É diferente em tudo!
Diferente o respeito que o cidadão tem pela autoridade, diferente o sentido de cidadania das pessoas, diferente o modo de policiar e intervir com as pessoas.
As pessoas hoje em dia são donas da razão e conhecem sobretudo os direitos, já os deveres nem tanto! Nas intervenções com os cidadãos, os Policias de hoje têm de estar cada vez mais munidos de argumentos e conhecimentos para fazer ver as pessoas o lado da razão e da lei.



3.O teu trabalho passa por gerir e lidar com pessoas em situações, muitas vezes, carregadas de emoções fortes. Como mantens a calma e a lucidez nesses momentos?
Não é fácil porque todos nós temos condicionantes psicológicas e estados de espírito menos bons. Ao longo do tempo crias as tuas próprias defesas para não deixares que as situações que encaras, te afectem e consegues ter a clarividência e focar no objectivo de resolver aquele problema específico, sem complicar, sem ficar a pensar mais que o necessário.


4.Deve haver também muitos momentos felizes. Partilhas um?
Os momentos mais felizes são aqueles em que há um agradecimento sincero de um cidadão, às vezes basta uma palavra, um “obrigado” e ficamos de coração cheio.
Mas lembro-me de um episódio que me marcou, porque de certa forma eu e o meu colega fizemos a diferença e ao mesmo tempo houve um reconhecimento generalizado da população. Passou-se em 2008, no primeiro verão que fiz serviço na Nazaré. Tratou se de uma tentativa de suicídio, onde uma jovem no cimo de um precipício, se encontrava na eminência de se atirar. Fomos accionados para o local e com alguma paciência, provocando a distracção da visada, foi conseguido através de uma acção arriscada, resgatar a cidadã, teve um final feliz… Nos dias seguintes era abordado na rua por cidadãos anónimos a dar-me os parabéns pelo modo e o risco que teve a acção. Saiu um artigo com foto da situação em que a legenda dizia em relação ao polícia daquela foto “Herói do dia, herói de uma vida”. Isto são situações que nos preenchem!
 


5.Lidas com pessoas diariamente. O que continua a surpreender-te nas pessoas?
Não deveria surpreender, mas surpreende-me que ainda há pessoas boas, com bom íntimo, com algum grau de pureza! A generalidade preocupa-se apenas com as suas convicções ou a ausência delas e cada vez com mais extremismo. 


6.Como retemperas forças, nos dias de folga?
Estar com que mais gosto dá-me paz e o equilíbrio, voltar à minha terra dá-me tranquilidade, estar com as minhas gentes faz-me bem!




7. Um dia de trabalho teu, é cheio de incertezas. Quais são as certezas em que te apoias para manteres a tua boa disposição?
Não penso no que tenho pela frente! Mas encaro todas as situações como uma ameaça real, posso pecar por excesso. Mas sei que é uma das formas que vai fazer voltar para junto de quem mais gosto.


8.Na tua opinião, o mundo onde te movimentas, ainda é um lugar seguro?
Sim é sem dúvida um lugar seguro, mas na minha profissão a segurança é relativa, basta uma fracção de segundo e tudo muda






9.Como profissional, que está na linha da frente deste momento tão desafiante para todos nós, que mensagem nos queres deixar?
Que as pessoas tenham respeito umas pelas outras. E que sobretudo respeitem o trabalho e as indicações daqueles que por desempenharem profissões mais expostas a este perigo, não se podem resguardar a si e aos seus.  Que aproveitem o momento de pausa e façam uma reflexão do comportamento em sociedade e relacionamentos interpessoais.

10. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
Parar para respirar…




Lupa


O tempo é diferente. Parece mais dilatado. Maior para umas coisas. Denso. A voar em muitos momentos. E há instantes em que surge um efeito de lupa, tudo maior, mais intenso. Quer para o feinho, angustiante, quer para o outro lado. Será depois, uma escolha possível. Escolher a lupa, onde ampliar. Num exercício diário, várias vezes ao dia. Colocar  a lupa. 
Cada um com a sua, com a sua realidade, com as suas pessoas, os seus olhares. Sem comparações. 
A beleza oculta, como uma vez ouvi que são as pequenas-grandes coisas que nos acontecem diariamente e que só um olhar treinado vai descobrindo. 
A-m-p-l-i-a-r.