Sobre Não Saber

"Olha, de novo para os livros.

Uns dizem que é importante ir pela esquerda. Outros, que a verdade absoluta está no cimo daquela nova conquista. 

A seguir ouve, pessoas cheias de certezas, a dizerem que a receita infalível, para saber por onde seguir, é aquela.

Desliga tudo, arruma os livros na estante empoeirada, senta-se no silêncio. 

Sabe que não sabe. E sabe também, que há muito tempo, que se força a saber. Essa insistência de dar passos e mais passos, a fazer caminho. 

Ajeita-se nesse sentar, que é diferente de há um ano, dos últimos meses. 

Fecha os olhos. Respira. Está desconfortável nesse Não-Saber. Então retoma a postura e fica apenas ali. Até que o desconforto, faça parte e se torne confortável.

O tempo vai fintando e sussurra que já chega. Ela diz que não. Que precisa de Não-Saber. 

Que mal tem, Não-saber? Qual o problema de ficar a observar, de se permitir dar-se tempo para ouvir, respirar, sentir-se? Tudo em si, diz para abrandar, reformular verdades. Mais uma vez. É sempre mais uma vez, reformular, a partir do questionamento da direção a tomar. 

Por agora, não toma direções, nem sentidos. 

Por agora, quer apenas ficar por ali a Não-Saber."


O Não-Saber é marinar. É ter a confiança de saber que está tudo lá o que é preciso e confiar, que na altura certa, o Norte surge. Não por magia (ou talvez um pouco...) mas por se me permitir viver, e acolher, a incerteza do Não-Saber. 


"A seu tempo. A seu tempo. O caminho vai-se mostrando à medida que se vai fazendo. E nem sempre o caminho é feito de caminhar. Às vezes, o melhor que se pode fazer, é ficar nesse sossego, nessa quietude que é aceitar a mudança, nem sempre percetível, nem sempre ruidosa."



Para silenciar

 

Pertencemos a uma época de muito ruído. 

O que se vê, o que se ouve, o que parece que é. 

E mesmo parecendo que é um momento ou um rasgo de descompressão e puro lazer, quando damos por nós, estamos a fazer mil e umas considerações sobre o: "Vou só espreitar por 2 minutos e ver o que se passa no mundo...". O tempo voa, desaparece entre páginas e as internetes da vida. 

Mil e uma vozes vão despertando dentro de nós e aquilo que era para ser um momento de alivio, torna-se numa data de vozes cá por dentro: "Tenho de mudar a cozinha! Deveria de tratar dos ténis novos. E se começasse a fazer judo? Acho que vou começar a comer lentilhas ao pequeno almoço..." 

O poder do nosso dedo, está em silenciar. 

Carregar nos muitos botões que temos disponíveis e desligar. Desligar por fora, silenciar por dentro e deixar sair apenas uma voz, um sentido, o nosso sentido, a nossa voz. 

Um dedo, e tudo muda. 

Para silenciar. 





Para serenar - 3 ideias

Agimos melhor, quando conseguimos sossegar a inquietação que, por estes dias, tem sido em crescendo, com o que estamos a ver e ouvir. Revejo na minha cabeça, as páginas dos livros de História, que pareciam tão distantes, e agora aparecem a cores, tão perto.

Ainda a refazermo-nos de 2 anos de pandemia, de muitas incertezas e reajustamentos, estamos a presenciar, um outro nível de dúvidas sobre como vai ser o dia de amanhã. Em jeito de brincadeira, vamos dizendo que não sabemos como vai ser o próximo fim de semana. Na verdade, nunca o soubemos mas o contexto atual, levou a incerteza dos dias, a um outro patamar. 

E depois há uma espécie de culpa por se poder levar uma vida banal de ida ao supermercado, consultas, ler, buscar filhos à escola, irem ao futebol ou natação. Até rir parece quase um processo complexo de uma espécie de pecado, quando a seguir vemos um noticiário com vidas desfeitas. 

Este constante estado de alerta, apreensão e incerteza, tolda a forma como podemos agir e cuidar de nós e dos outros. Sermos melhores Seres Humanos. Melhores Pais.

Mas agimos melhor, quando conseguimos serenar o que vai cá dentro. Ajudamos mais e mais longe. Ajudamos melhor e a quem nos rodeia, no imediato. 

Para serenar:

1. Limitar a quantidade de informação. Cada um de nós, em medidas diferentes, tem um limiar de informação que consegue gerir. Há uma inquietude que acontece no corpo, a que se estivermos atentos, conseguimos parar. Em nada ajuda ver a mesma notícia, 20 vezes seguidas. Informados sim, entupidos com notícias e imagens, não. Observar, observar o que vai cá dentro e dizer um chega, quando for demais. 

2. Boas escolhas. Há quem, neste momento não as tenha. Nós temos. Vivemos numa espécie de micro-paraíso onde é seguro, onde estamos protegidos, onde temos formas de nos subsistir, acesso a cuidados de saúde... Temos escolhas. Honremos e façamos bom uso das nossas escolhas. Por nós, por quem nos rodeia e por quem, neste momento, não as tem. 

3. Descompressão. Funcionamos melhor, ajudamos mais, se formos tendo momentos de descompressão. Rir, cantar, meditar, jogar, conversar... o que funcionar para cada um. Sem culpas. Uma panela de pressão só funciona, quando liberta o vapor em excesso. Cada um encontrará a melhor forma de libertar o que está a presenciar. 

Não temos a capacidade de mudar as decisões do mundo, a mais de 4 mil km, mas podemos fazer pequenas mudanças, aqui e agora, neste mundo que nos rodeia. No nosso mundo cá dentro, no mundo dos nossos filhos, dos nossos vizinhos, dos nossos colegas, das pessoas que entretanto vão chegar, das ajudas e apoios que conseguimos enviar. 

Agimos melhor, quando serenamos cá dentro.

De dentro para fora.

Para fazer a diferença.

Sermos diferença.



 




O que Fica

O QUE FICA

O que fica, será a forma como mostramos a nossa indignação e revolta, nos pequenos gestos dos nossos dias.

A forma como tranquilizamos os nossos pequenos, dando-lhes apenas pequenas doses do que nos rodeia mas sem exagerar nessa dosagem de realidade que, felizmente, não precisam, nem têm que lidar.

A forma como gerimos os nossos medos e angústias. A forma como queremos já aqui e agora, demonstrar respeito, tolerância, empatia, diálogo e comunicação. Começa com as pessoas com quem vivemos, trabalhamos, o vizinho do lado.

A forma como escolhemos ajudar a quem está lá longe, e que em breve, também estará por cá. Sem apontar dedos a quem escolha fazer de forma diferente. Cada um, à sua maneira, estará a fazer o seu melhor. E só isso, já vale a pena.

A forma como ouvimos. Ouvir, sem interromper, acolher o outro, as suas partilhas e dúvidas.

Há quem, neste momento, não tenha escolhas, que não sejam as da sobrevivência primária. Honremos as nossas, as muitas escolhas que temos ainda neste momento. As muitas portas que podemos abrir, que sejam reflexo daquilo em que mais acreditamos, os nossos valores, o nosso farol mais interno e que nos guie, na forma de estar perante os outros.

O que fica será sempre a forma de Ser(mos) Humanos. Todos os dias, um pouco mais.





O problema está no grau do adjetivo

Muitas vezes olhamos para o lado. O que o outro consegue fazer, alcançou ou tem. O outro. 

Com os filtros desta vida, é ainda mais fácil de divagar sobre as potencialidades de quem nos rodeia. Parece muitas vezes que os outros são melhores mães ou pais, fazem mais exercício, ou comem melhor. Têm carros, roupas, viagens tiradas de revistas de sonho. 

Ora, quando eu digo que o outro é mais__________ (preencher com o adjetivo que se aplicar), remeto-me para o menos. E na verdade só precisamos de sair desse ciclo vicioso de comparação e deixar o outro seguir com a sua vida. E nós... com a nossa! 

Este mês senti necessidade de reajustar uma série de coisas, dentro e fora de mim. Mudança de ritmos, meus e deles. Desafios diferentes. Então basta ir relembrando, ou para quem for mais distraído, encontrar de raíz, QUAIS SÃO AS MINHAS COMPETÊNCIAS QUE AJUDAM? 

Seja o sentido prático, a criatividade, o sentido de humor, uma habilidade grande para a organização ou pelo contrário, um talento para improvisar... o que é que ajuda a reajustar, neste regresso ao novo ritmo? 





O que é para mudar?

Depois de saber o quê, de dar um Nome ao que é preciso ReAjustar,

pensar no Como, nas pequenas mudanças que fazem a diferença. 

Tal como aquelas calças ou saia precisam de um pequeno reajuste para assentar bem, o que é que se for ReAjustado neste momento, vai fazer a diferença no Bem Estar que se quer (e merece) sentir?

Para relembrar sempre... começar a frase de mudança com "Eu quero/vou/posso...




Quem quiser em formato para imprimir, basta enviar pedido para: abelpb@hotmail.com.