Sinfonia Matinal

Quando se sai de casa a horas, com tudo no sítio (cabeça, tronco e membros e os filhos todos inteiros), sem ter que voltar para trás em busca de cadernos-livros-sebentas-ténisdaginástica-pastadePC-agenda... é uma vitória digna de um qualquer campeonato desportivo. Nem percebo como é que não tocam altas sirenes, quando mais uma família, se senta finalmente no carro, cintos postos e está tudo no sítio e espante-se, a tempo e horas. 

Por isso era apenas mais uma dessas manhãs em que se marcou ponto a nosso favor e de toda uma logística, bem oleada e em funcionamento. 

E depois, não fosse aquele simples comentário. Às vezes basta uma frase mal dita, num tom apressado, nem sempre pensado, para que todo um esquema se desmorone e vá, tal como um carro de rolamentos, ribanceira abaixo. Basta esse conjunto de palavras, mal ditas. Quando se dá por ela, há frases trocadas já em volumes que não se quer e toda a harmonia conseguida naquele dia (fruto de tantos outros dias que correram em modo blhéc e que fizeram reajustar o que pode ser afinado para que corra bem) foi-se. Sumiu-se. Aquele dia que até parecia que era mais uma vitória, foi-se. O coração acelerado, um peso de alto abaixo a martirizar para quê aquilo, que exagero (o meu e o deles) e o dia que até prometia de sol, carrega-se. 

Não fosse um certo pudor, e a vontade é fazer um peão com o carro (que não sei fazer), dar meia volta, entrar escola adentro, tirá-los de lá, só para um abraço de silêncio e ficar ali no que é realmente importante. Deixar o coração ficar do tamanho que deve estar, em vez deste aperto de se perceber o exagero que foi (o meu e deles). Às vezes não se pensa com lucidez, na tirania dos horários. Vai-se o bom senso nesta coisa do que tem de ser, em vez do que faz sentido ser. E o adulto somos nós. 

E está tudo bem porque faz parte este descarrilar de amor por eles e por nós como mães-pais. Pondo pesos de lado, é refazer, mais uma vez a passada certa, que nos faça sentido e voltar a ouvir, o nosso coração e o deles. Acabou de se descobrir mais uma forma-de-não-fazer e por isso fica-se mais perto do caminho-de-fazer-bem. 

E sim, logo vai haver abraços e reencontros de vozes a dois tons. O tom deles e o nosso não tem de ser igual. É, aliás, desejável que não o seja, mas tem de ter a máxima sintonia possível para que a nossa melodia de família soe melhor.



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