Vamos cuscar? 19#

Sento-me na plateia como todos os restantes pais babados. Sabemos que o que se vai seguir representa muitas horas de empenho e dedicação. Dos mais pequenos, os médios , das maiores e dela. Sobretudo dela porque se lhe sente a expectativa daqueles dias em que se mostram finalmente as muitas coreografias, pensadas e sentidas meses antes. Percebe-se em cada detalhe que coloca nas atuações que foi tudo pensado ao pormenor, desde as roupas, aos cenários, ao bem estar dos mais pequenos, no incentivo às mais velhas, num cuidado atento às necessidades das diversas faixas etárias. A Diana é assim. Uma apaixonada pela dança que procura aperfeiçoar, em conjunto com estas tantas gentes que coordena e guia, em cada aula, em cada sarau. Sendo apaixonada pela dança já a desafiei a criar um grupo de gente ainda mais crescida. As vergonhas do palco dispensam-me as actuações mas a vontade de ritmos sincronizados, vendo o corpo a trabalhar em uníssono com a música, deixar-me-iam tentada a experimentar.

Ouço as mais velhas a organizarem-se, gerindo tempos de estudo para os exames e cancelando férias para estarem presentes. A dança poderá ser o denominador comum a esta vontade de se apresentarem em palco. Mas é mais. A Diana dá-lhes um espaço para se exprimirem e que vai para lá da dança. Entre confidências, rigor e treino, sabem que ali é um porto seguro onde estão presentes muitos valores que as vão acompanhar em outros momentos das suas vidas. Ficam de fora as chatices com os pais, os namorados, um ou outro teste que não lhes tenha corrido tão bem. Os mais pequenos sentem a festa, o respeito a serem crianças ao mesmo tempo que aprendem coisas tão simples como trabalhar em coordenação de grupo, a não deixar ninguém para trás, a disciplina, a divertirem-se e a exporem-se, depois de trabalho e esforço, perante os outros.
Esta é a Diana deles e de todos nós pais que lhe agradecemos num bem haja sentido. Vamos Cuscar a Diana Passos?



Idade: 30 anos
Naturalidade: Cernache do Bonjardim
Comidas preferidas: Massas e Pizza
Um livro a não perder: “ O céu existe mesmo” de Todd Burpo e Lynn Vincent

1.       Quando nasceste, vieste a dançar?
 Sim, hoje em dia chego a pensar que sim. Quando era criança dançava muito sozinha no quarto em frente ao espelho. Era ali que me sentia livre. Há 20 anos atrás a única programação com música e dança que dava na TV era o Top +, ao domingo à tarde, passava a semana à espera daquele momento só para ver os bailarinos a dançar nos video clips das estrelas norte americanas ... chegava a gravar e depois durante a semana imitava os bailarinos, desde a mão para cima bem esticada, até ao pé para o lado esquerdo.

2.       A paixão pela dança começou como?
 Quando eu era adolescente não se ouvia falar em dança, apenas nas grandes cidades se podia praticar e em poucos sítios, mas dentro de mim eu sentia que era algo muito forte. Aos 13 anos durante as férias organizei com as minhas amigas uma coreografia para dançarmos num evento que se fazia nas Piscinas Municipais de Cernache. Treinávamos imenso, muitas horas, passávamos tardes e tardes naquilo e gostámos tanto que voltámos a repetir no ano seguinte. Chegávamos a ir à feira comprar uma roupa para o evento, com os trocos que cada uma conseguia e a minha irmã já nessa altura, fazia-nos os penteados. Era um misto tão bom de sensações que com 16 anos procurámos um sitio em Cernache para treinar mais a sério. O Bar Clube de Cernache abriu-nos as portas e fundámos o grupo DanceClub.




3.       Porquê o Hip Hop?
Hip Hop porque é uma dança livre, podemos dançar como nos apetecer, dentro dos parâmetros do Hip Hop, claro, mas expressar-mo-nos livremente é do melhor que há. Inventar o que o nosso corpo nos fala através de movimentos  é simplesmente fantástico.

4.       Todos os dias é preciso dançar?
Claro que sim! Não há nada melhor que por uma música, seja ela qual for, e deixar o corpo sentir o que ouve, da maneira como cada um entender. Dançar liberta-nos, faz-nos sorrir e é possível fazê-lo em qualquer idade e faz tão bem à alma.

5.       Em palco vemos a dimensão do número de crianças e jovens que geres. Quantos começaram por ser e quantos são agora?
Começaram por ser 7 meninas de 8 anos que adoravam dançar e que ajudei na participação delas num evento. Elas gostaram tanto e os pais também que me incentivaram a dar-lhes aulas. Entretanto tudo foi crescendo e em Dezembro de 2016 chegámos aos 200 alunos.


6.       Quais são os maiores obstáculos que encontras para pôr um projecto destes a dançar?
Talvez passar para muitos pais e adultos que dançar não é fácil, que não é como correr uma estrada e voltar. É preciso treinar muito para que todos dancem ao mesmo tempo nos “tempos” corretos da música. É preciso todos estarem presente nos treinos para que consigamos dançar em grupo, porque nós não dançamos individualmente, dançamos em conjunto e por isso precisamos uns dos outros.

Todos eles quando começam a dançar percebem que é difícil e para o resultado final ser bonito não é tarefa fácil, é preciso muita coordenação motora, conjugar braços com cabeça e pés, para o lado esquerdo e depois direito e cima e baixo, tudo ao mesmo tempo, é muito difícil.  É preciso decorar os movimentos, a coreografia, estar concentrado para que tudo flua com naturalidade e no fim de tudo que se divirtam enquanto estiverem a dançar, que esse sim, é o principal objetivo.

Tenho alunos que se queixam que a mãe não compreende que seja preciso treinar tanto ou que chega até a desvalorizar o que ela anda a fazer nos treinos ou que o pai se chateia por ver a filha sempre a dançar no corredor, nas compras e no médico.

Tal como investir em roupa para o Espetáculo ou atuações . Dança é arte e a roupa também faz parte de toda a coreografia que foi criada. A roupa é essencial para que todos se sintam ainda mais Unidos, interligados. Nós dançamos em grupo, precisamos uns dos outros, no Hip Hop um dos valores mais mencionados é “precisamos de Todos” para que no final tudo brilhe de uma forma bonita.





7.       Nos dias de dúvidas e incertezas, onde vais buscar as tuas forças?
Aos abraços, aos sorrisos, às frases ditas e ao brilho no olhar  que recebo diariamente dos meus alunos quando entram na sala de aula.


8.       As tuas maiores fontes de pesquisa e formação artística têm origem em quem?
Portugueses: Vítor Fontes, Rita Spider, Vítor Fonseca- Cifrão,  
Internacionais: Laure Courtellemont, Matt Steffanina, Kyle Hanagami, DanaAlexa


9.       Que sonhos tens para o Dance Club?
Ter a nossa própria escola era um sonho meu e de muitos alunos que já andam no Hip Hop há muitos e muitos anos. Ter um sítio onde pudéssemos treinar sempre que quiséssemos e ter a nossa marca era uma sonho de todos nós.


10.   E para ti, em termos de dança, o que será um sonho tornado realidade?
Com muito orgulho e grata por estes 10 anos de trabalho, o  meu maior sonho a nível de dança já foi cumprido. Era ensinar, fazer chegar a cultura  do Hip Hop a muitas e muitas crianças do nosso Conselho e arredores. Dar-lhes a possibilidades de poderem aprender na sua terra sem que fosse preciso ir para as grandes cidades como aconteceu comigo.
Sempre quis incentivar as crianças a sair de casa para vir fazer algo diferente, algo que mexesse com o interior delas, algo que viesse da alma, do coração.



11.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
Os sorrisos sinceros de todos os que me rodeiam e me querem bem. Ver a felicidade estampada em cada rosto dos que amamos é sem dúvida o melhor penso rápido que podemos ter na vida.



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