Em modo pausa do Natal

A Nanda fartou-se. Avisou e já foi uma sorte fazê-lo que, naquele ano não ia haver perú, nem bacalhau. Que não contassem com o tronco de natal, a tarte de natas com chocolate, nem a aletria. Que as famosas bolachas não iam sair do forno, nem doces caseiros, nem compotas. Embrulhos cheios de dedicatórias para os 23 sobrinhos, 4 irmãos e respetivas cunhadas e genros, sogro, sogra e piriquito, tinham esgotado a sua vez. 

A Nanda, vestiu o seu melhor pijama e robe e perante o ar incrédulo dos 3 filhos e de um marido que interrompeu todo um esquema de jogos de futebol que tinha nessa semana para ver, sentou-se no sofá com uma chávena fumegante de chá acabado de fazer. Fartou-se. Há mais de um mês que deu por si cansada, antes mesmo de toda a azáfama começar. Viu toda a gente a correr, a despachar trabalho, a tentar encaixar jantares, lanches e pequenos-almoços de amigos e colegas, onde já não existe espaço nem para mais uma coderniz, quanto mais um perú. Lamúrias e queixumes de um lado e do outro, pedidos loucos da maior parte que tenta demonstrar, sem qualquer dúvida, a importância desta quadra de amor

Percebeu que esta maratona de amor reflete tanto os tempos de contra-relógio que vive. Sempre pela melhor foto, pelo melhor momento, num desgaste insano de si própria. A Nanda não quer saber. Hoje não quer saber do natal e colocou-o em modo de pausa. Tudo a volta que esperasse enquanto repunha a respiração no lado certo do coração e percebesse realmente o que queria deste e dos próximos natais. 

O que queremos realmente do Natal? - enviou-me hoje por sms. Confesso que fiquei para ali uns bons minutos a olhar para o ecrã e entre uma ponta de inveja por esta revolução em marcha, a qual dá tanta vontade de juntar, repeti, vezes sem conta, ao longo do dia O que quero realmente do Natal...



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