Uma folha e uma caneta.

Põe a mão na mala. Nada.
Volta a mexer. Nada.
Um ligeiro pensamento de pânico miúdo trespassa-lhe a mente: "E se...".
Novamente vasculha tudo entre bolachas, agenda, lenços, chaves. Nada MESMO.

Pensa como é que vai recuperar o telemóvel que acaba de deixar em casa dos amigos? Amigos estes que se mudaram agora de casa, por isso, não sabe movimentar-se nesta grande cidade para ir lá ter. Foi ele, que simpaticamente a deixou à porta da clínica onde ia ter consulta, logo a seguir ao almoço.
Nada.

A história acaba por correr bem. Lá se lembra do único número de contacto que sabia de cor (a casa dos pais!), amigos em comum, e pediu-lhes o contacto deles. Recorreu a uma cabine telefónica (será que ainda existe? funciona?) e conseguiu.

E enquanto se dirigia para o local de encontro, com hora marcada (que não havia telemóvel para outras combinações ou desmarcações) pensou naquele dia, cheio de percalços. Nos porquês, nos sobressaltos e desvios de um dia, que tinha começado, já por si, de forma tão atribulada.

E às vezes não há explicações. Às vezes aceita-se o descontrolo do dia, imprevistos e tira-se o melhor partido dele. A espera. Sem sms, sem agenda eletrónica.

Apenas a conversa com um senhor na paragem de autocarro a precisar de orientações.

Apenas esta folha e caneta. Este novo texto. E este sol, tão bom.

Deixar o descontrolo das situações ocorrerem porque nada mais há a fazer. O telemóvel vem a caminho.

Neste silêncio, que até sabe bem, até o olhar estranho de quem passa e não percebe o que é que aqui se passa: parada no passeio a escrever. E apenas esta folha e caneta. Simples.




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