Quando é que somos generosos...conosco?

Este ano consegui retomar o yoga. Tem sido um namoro que ora começa, depois pára por anos, depois retoma umas semanas. Mas este ano, foi começar e levar adiante. Há quem vá à missa semanal. O yoga é a minha missa, a minha forma de celebração. Chego quase sempre com nuvens por dentro do desgaste da semana e saio de lá, quase sempre também, mais leve. Bastante mais leve. Mesmo que um pouco contorcidita, mas mais leve. 

Aquilo que parecia impossível há uns meses, agora, aos poucos, muito devagar, começo a sentir pequenos progressos. A Sara, de quem já falei aqui, tem esse encanto: põe-nos a fazer coisas, puxa por nós, ao nosso ritmo, e um pouco mais além. Porque ela vê um pouco (bocadão) mais além do que nós e por isso, empurra-nos, com salpicos de amor, a esticarmos músculos e a fazer forças, que nem sabíamos que seriam possíveis. 

Como é evidente, há vezes em que me desequilibro, em que me desconcentro e daqui vai disto, em vez de virar para a direita, estou na esquerda. Retoma-se, uma e outra vez, ao ritmo da respiração. Vai haver posturas que vou levar ainda bastante tempo para as alcançar. E outras que já me são naturais. Algumas desafiam, outras quase metem-me medo. Mas cada um que está para ali a contorcer-se tem a sua história de estar ali. De entrega, de persistência, de ter fé, de acreditar que está a um momento de fazer diferente e conseguir.

Hoje, a certa altura enganei-me e lá vinha aquela voz de periquito a mandar vir comigo: E tens de estar atenta, concentra-te no que fazes, perdeste o ritmo, respira, respira!... E blá, blá, blá. Foi quando dei comigo a pensar sobre sermos generosos. A exigência é importante mas a generosidade também. 

Quando foi a última vez que fui generosa no descanso e sentei-me sem culpa de ter mais alguma coisa para fazer?
Quando foi a última vez que fui generosa com os meus erros, aceitando que tudo pode ser uma aprendizagem e que errar faz parte do processo?
Quando foi a última vez que fui generosa com o meu corpo, aceitando como ele é, seja mais alta, gorda, magra, com ou sem rugas, celulite ou pele descaída? Estar profundamente grata pelo corpo generoso que tenho?
Quando foi a última vez que fui generosa em rodear-me do que me faz bem sejam pessoas, música ou simplesmente nada. Ficar no silêncio.

E no meio daquelas posturas, dei comigo a pensar sobre isto da generosidade, sobre calar aquela voz irritante e a já estar feliz naquele momento, com o que já tinha conseguido alcançar até aquela altura de instantâneo queixume. E sorri. Às vezes, quando no meio da aula, sinto os dentes a serrar ou a ficar muito séria, com os músculos da cara contraídos, esboço um sorriso. Hoje sorri, com generosidade para comigo. Abracei apenas aquele momento presente até à seguinte inspiração e expiração. Namasté. ❤️




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