Parte II: Real vs. Imaginário

Acorda cedo e a primeira coisa que faz é ler um livro. A seguir diz que precisa fazer as poucas posições de yoga que conhece, medita por 5 minutos e só então, vai ver um pouco de bonecos na TV. Nunca mais de dois. Segue-se o tempo de ir comer o pequeno-almoço: papas de aveia com frutas. 

Dedica-se de novo à leitura antes de continuar o seu último quadro sobre as férias de verão. Dá uma ajuda no almoço que partilhamos. À tarde pede para ir brincar com os amigos e vai. No final do dia aparece feliz e sereno, dá um abraço sentido, diz que somos o melhor que lhe podíamos ter acontecido. Escreve no diário de verão que este foi mais um dia feliz e sonha alto com o que ainda está para lhe vir, já no dia seguinte.


...


Há os que lêem muito e há os que até para lerem a receita do bolo preferido se atiram ao chão e dizem que não. 

Há os que brincam e fazem amigos com muita facilidade, em qualquer lugar da rua e do mundo, e os que ficam a olhar primeiro, e olhar a seguir, e mais um pouco e só já quando dizemos que vamos embora é que respondem um "Já?" e pedem só mais um pouco, que querem entrar na brincadeira.

Há os que dão mil beijos e os que beijam apenas com o olhar. Há também os que fazem isto tudo misturado, com muita mestria. 

Há os que respondem primeiro sempre que sim a um pedido e os que desafiam primeiro a vida com um redondo Não só para termos a certeza, das certezas que lhes pedimos e nos desafiam a saber os motivos íntimos do que lhes pedimos.

Há os que se perdem de amores com a TV e os que só colados às pernas de crescidos encontram o mundo real da fantasia.

Há os que decoram tudo (mesmo o que não é suposto...) e os que, só com muita meiguice e aconchego de segurança, aprendem nas voltas de uma memória que precisa de treino de paciência. Muita. 

Há os que vibram com o palco em qualquer festa, sarau e evento e os que irão sempre chorar, apesar dos esforços e promessas que lhe são feitos. 

Há uns e há os outros, os que misturam isto tudo e os que têm um pouquinho de cada. E depois há mães e pais que escolhem, quem os escolheu para gostar, tal como são, em suaves empurradelas de darem o seu melhor, com tudo aquilo com que já nasceram. Só não podem ser aquilo que não são e sobretudo, não querem. É entre este balanço do filho que se tem e se imaginou que iria ser, muitas vezes camuflando vontades pessoais escondidas e atiradas à toa a esta mini-pessoa, que se encontra o tempero certo do filho que se tem à frente. 

O resto... é fazer uma grande careta à vida.


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