A chatice de viver no campo

De vez em quando, uma das partes do meu trabalho, está relacionada com desconstruir estereótipos e preconceitos. Por vezes sobre culturas diferentes porque o facto de as pessoas terem cores de pele, também elas diferentes ainda causa comichões. Outras vezes é mesmo só esta coisa muito simples e básica entre o mundo do litoral e a zona centro. 

Há uns anos atrás, por via de um intercâmbio de escolas, entre zonas do interior e zonas de cidade, havia miúdos a dizer que os do interior não deveriam ter casa de banho, nem tv´s e o acesso à internet deveria ser inexistente. Da mesma forma, os jovens do interior consideravam que os jovens da cidade litoral eram todos uns betos. Rapidamente perceberam que eram todos afinal e apenas... jovens.

Prefiro nem fazer muitas contas mas tudo isto já aconteceu para mais de dez anos e na verdade, continuo a ouvir comentários um pouco ... tontos sobre o que se pensa das pessoas das zonas interiores. Aliás, o que me incomoda sobremaneira, é um certo sentimento de coitadinhos por estarmos isolados do resto do mundo. E isso levou-me a reflectir que, realmente, viver no "campo", no interior profundo é uma chatice. Ora veja-se:


  • sempre que se consultam sites de promoções para passar fins-de-semana fora, aparece o qué? Turismo Rural. E isso é um pouco aborrecido, porque turismo rural já se faz por cá o ano inteiro.
  • um exagero de produtos biológicos. É a vizinha que vem dar só mais uma molhada de couves e abóboras que já não sabe o que lhes há-de fazer. Ou a tia Luísa que fez mais uns frascos de doce de maçã porque estavam todas a cair lá no pomar e o melhor foi fazer mais um docinho...biológico. E os ovos? Senhores, quando as galinhas resolvem começar a pôr, é uma chatice de ovos por estes lados. Ainda por cima sempre com aquela mesma cor laranja forte da gema. Caseiros, blhéc. 
  • por norma é um trânsito em que, nem sempre chegam 5 minutos para levar os miúdos à escola. Nos dias de mercado, é melhor contar com 10. Nunca se sabe se não vai estar um trator a fazer caminho também. 
  • há praias fluviais, caminhos pedestres para explorar e uma data de pássaros de manhã que não se calam. E muito silêncio às vezes. À noite ouve-se muito pouco e isso é coisa para uma pessoa apanhar um esgotamento. 
Pois, viver no interior tem uma série de contratempos porque ainda há muito para resolver e melhorar mas tem também muitas chatices que quem escolhe assumir como suas, as abraça com alma e entrega. 

A chatice de olhar para isto, todos os dias ao acordar. Não se a-g-u-e-n-t-a. 





1 comentário:

  1. Anabela,tão real,é mesmo uma chatice...Eu já estive nos dois lados e acredite não troco está chatice por nada...amo está terra,amo poder sentar-se na relva fresca que tenho à porta de casa,adoro chegar a casa ao final do dia e ir comer um Bello pêssego debaixo da árvore,ou uma cereja,ou um morango��que chatice ...Respirar este cheirinho a terra molhada...ver a lua e conversar com as estrelas no meu terraço... bem e os meus 5 cães,o gato,as galinhas e os coelhos...é uma chatice pegada...mas claro não deixo de ter saudades do cheirinho a alfama e a sardinhas...mas isso,resolve se num saltinho e vamos festejar os santos populares...

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