Quando um trabalho, não o é.

Quando me perguntam o que é que eu faria se ganhasse o Euromilhões (que nunca jogo), entre outras coisas simples, sai-me: construir uma escola como me desse na gana.

Há escolas lindas, onde todos as crianças são bonitas, quer tenham ranho a escorrer, t-shirts rasgadas ou piolhos na cabeça. Onde chorar não faz mal, faz apenas parte do processo. Onde há tempo para aprender, para os professores e para as crianças. Onde a escola teria muito espaço para brincar. A maior parte seria para descobrir, explorar, procurar e fazer muitas, muitas perguntas. Rodeado de muito verde, de animais. De música, de pinturas e faz-de-conta. De ajudar.

Era isto.





Uma das partes do meu trabalho é ajudar a estudar. Chamo-lhe sessões de métodos de estudo. Explico sempre aos pais que não é bem explicações porque não estamos só a falar das matérias. Às vezes (muitas vezes) falamos deles. Às vezes também de mim, porque a modelagem é um processo de aprendizagem, explicado pela Psicologia. Quase tudo tem um objetivo e um prepósito, por isso se calha em conversa falarmos do último episódio de uma qualquer série que andam a ver, isso é aproveitado para refletir sobre eles e nos objetivos que têm para as suas vida e na qual a escola faz parte.

Estudar tem de ser bom. Tem de ser divertido. Tem de saber a doce, mesmo que pareça salgado ou azedo. Eles têm de aprender a rir dos disparates, enquanto vão aprendendo a responsabilizarem-se e assumirem o compromisso que fizeram com eles próprios, sobre as notas que eles querem ter. E também se ralha e se chama a atenção e não é por se estar em ambiente descontraído que se é menos exigente. Ali se aprende a olhar para os livros como aliados, a consultá-los, a fazer esquemas.

Tudo isto só faz sentido se eles gostarem um pouco mais deles, como pessoas e como alunos. Por isso quando estou a estudar com eles, muitas vezes não damos conta que o tempo passa, embora a gestão do tempo também seja acarinhada ao longo daquela hora.

Há dias de maior cansaço. Deles e meu mas na maior parte das vezes sinto que aquilo não é bem trabalho... é uma forma de estar.

Por isso, quando me perguntam o que é que faria se ganhasse o Euromilhões, seria mais ou menos isto, em grande escala e com que partilhasse esta loucura de achar que estudar é sobretudo uma descoberta para o novo.

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