Voltei a um lugar onde já fui e continuo a ser muito feliz. Pelas relações de afecto que por lá tenho, por tudo o que por lá cresci e desta vez para retomar uma área de trabalho de que gosto muito, relacionado com a interculturalidade. Porque nos defendemos face aos outros que parecem (e são) diferentes, como criar pontes entre nós e de que forma nos redescobrimos nesse encontro. Ia mediar e dinamizar uma ação. Saio de lá sempre mais renovada porque me obriga, a fazer uma série de perguntas e a redefinir-me como pessoa. É um processo transformativo e dinâmico.
Foram seis horas muito bem passadas. Um dia de sol e a ria de Aveiro a dizer Bom Dia.
Cheguei bem cedo, prevendo dificuldades com o estacionamento. O carro ficou num parque ainda a alguns metros do local de formação mas não fazia mal. Caminhar, logo pela fresca soube bem, mesmo que com malas e sacos nas duas mãos. Tinha à minha espera, um grupo muito simpático e interventivo, com vontade de encontrar novos olhares no trabalho com pequenos e graúdos. Sentir a diferença como um processo.
Saí assim, já ao fim da tarde cheia de entusiasmo e aquele cansaço bom de ter corrido da melhor forma possível. Regresso novamente avenida abaixo. E sigo. E sigo. E continuo a seguir. E começo a estranhar que aquele caminho já me parecia demasiado longo para o que tinha feito de manhã. O meu sentido de orientação é o que é. Os meus amigos gozam muito comigo. O que é certo é que chego sempre aos destinos que pretendo. Já encontrar o caminho de volta é toda uma nova história. Raramente faço o mesmo percurso no regresso. Não tem mal nenhum. Afinal, não estamos cá para descobrir novas saídas?!?
Apercebo-me que realmente estou só ligeiramente perdida. Ainda me mantinha dentro da cidade só não sabia onde. Por momentos há ali uma pontinha de pânico a trespassar o pensamento. Com os mesmos sacos da manhã, com a adrenalina a descer e o cansaço a subir. O discernimento e clareza de raciocínio, naturalmente a fugir. "E se eu nunca mais encontro o parque, o carro e não regresso a casa?!?!" Empreendo novo caminho e vejo ao longe a GNR. Um certo orgulho fez-me não entrar. Sigo assim mais para diante, perdendo-me cada vez mais e vejo um sô-Guarda a falar com um senhor já com alguma idade. Interrompo a conversa e faço a descrição possível, de onde estaria o meu carro à espera. O guarda fica a olhar sem perceber bem o que eu estava para ali a descrever e diz que vai pedir indicações ao posto. O senhor, muito prestável diz-me que sim senhor, não só sabe onde fica, mas que lhe calha em caminho e me pode deixar lá.
Ora bem, vem-me todas as frases que me ensinaram em miúda: "Não se confiam em estranhos! Não se aceita boleia de ninguém!". Só que este senhor tinha ar de avó. E um avó que ainda por cima era um pouco surdo e com quem tive que falar mais alto, dentro do que a boa educação permite. Olhei para os meus sacos, para as horas a passar, para o meu cansaço, para os muitos quilómetros que ainda tinha pela frente. E olhei para o senhor e vi uma pessoa. Entramos na carrinha dele. Disse-me para me tranquilizar: "Minha senhora, não fique desconfiada, não lhe vou fazer mal!" Tirei daqui duas conclusões. Primeira, que pelos vistos já tenho ar de minha-senhora, que o minha-menina já lá vai; e que devo ter um ar inofensivo e pouco robusto para o senhor se sentir seguro em me dar uma boleia. Eu acabar de falar sobre estereótipos, preconceitos e afins e depois eu própria a viver tudo isto em poucos minutos.
Uma conversa muito simpática e agradável, ainda me falou do neto e desta cidade. Afinal estava a poucos minutos do meu local de perdimento. Depois de muitos obirgadas!, perguntei-lhe o nome.
Muito, muito Obrigada sr. Guedes-de-Aveiro! Há gente boa neste mundo.
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