Manicómio de Mães 3#


“Quero dar a eles porque eles querem
 ou 
porque eu não tive?”


Seja no sapatinho, junto à chaminé, ou ao pé da árvore de Natal, seja na altura do aniversário, a maior parte dos miúdos de hoje, recebe prendas. Prendas no plural e um plural bastante grande e alargado. “Já abri esta… Há mais?” Da mesma forma que o fast-food, as prendas passaram a ser um pouco fast-surpresa. Já vi esta, durante 10 segundos… o que se segue? Perde-se o tempo de saborear a prenda, de lhe reconhecer utilidade e da descoberta de todos os contornos. Reflexo dos tempos em que é muito fácil descartar e substituir o que, supostamente, já tem pouca utilidade, passado o tempo inicial de encanto. Aquele desejo de se querer mesmo, mesmo uma prenda, perdeu-se um pouco.

Quem oferece tem gosto em comprar. Em imaginar a cara e o espanto de quando rasgar o papel. Antecipar toda a euforia da entrega é, por si só, uma satisfação. Por esse mesmo motivo, em vez de uma prenda, que eles queiram e desejem mesmo, entretanto, compra-se mais uma, e outra, e mais aquela que até está em promoção ou muito em conta. E os miúdos são, na sua essência, até bastante minimalistas. Atrevo-me a dizer que 99,8% brincou com caixas de plástico da cozinha, com os sapatos lá de casa ou com molas da roupa. Quem é que lhes compra e arranja brinquedos topo de gama? Nós, os adultos. Recordo-me de uma vez ter comprado um brinquedo grande ultra-pedagógico-super-colorido-cheio-de-sons-e-artefectos. Este brinquedo veio guardado numa caixa, embrulhada e foi assim que cheguei a casa feliz, muito feliz e lha entreguei. Ele deveria ter, talvez, nem dois anos. Rasgou o papel, ajudámos a tirar tudo dentro da caixa. Passou a restante primeira meia hora a brincar. Com a caixa. Repito, com a caixa.

À medida que crescem, por influência dos amiguinhos, da televisão, tornam-se, na verdade mais exigentes. Pedem e voltam a pedir. Isso não tem mal algum. Sonhar faz bem, ser ambicioso também. E pô-los a pensar também.

“Se tivesses mesmo que escolher, apenas um brinquedo ou dois para os teus anos, o que é que realmente gostarias de ter?”

Pô-los a pensar no que lhes é importante, focâ-los no essencial, em vez de estar constantemente a dispersar as atenções. Os miúdos brincam muito mais, quando têm muito menos. Se tiverem um quarto cheio de brinquedos, dispersam a atenção. Colocar apenas uma mão cheia deles e ir rodando ao longo do tempo, faz com que se foquem. A aprendizagem de focar vai-se tornando importante depois para o futuro, da escola, do trabalho, da sua vida pessoal.

Por isso, à questão “Quero dar a eles porque eles querem ou porque eu não tive?” talvez seja um pouco dos dois. Na maior parte das vezes, cabe-nos ir pensando, em quanto tempo de sorriso verdadeiro, aquela nova prenda, na prática, se vai traduzir. Cá dentro, aquela voz mais sensata e que não se deixa guiar pelo instinto do imediato, sabe o que faz, ou não faz, sentido. As crianças são seres criativos. Com pouco, fazem muito. 

Bom senso. Muito bom senso. 


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