Sobre o dinheiro

Há muitos anos atrás, numa discussão sobre dinheiro, com alguém que estava a ser devedora de dinheiro, explicava-me essa pessoa que eu não estava a compreender. Não estava a compreender o drama que era para alguém que tem uma vivenda e uma vida desafogada, o que era manter esse nível de vida. Alguém que recebia um ordenado certo e muitas vezes acima da média. O que lhe explicava então era que, quem tem uma vivenda, carro topo de gama e um ordenado certo, tinha liberdades que quem não vive nesse patamar de desafogo financeiro, tem. Pode vender a casa, o carro. Se não quiser comprar um arroz de melhor qualidade, pode escolher, comprar outro. Em vez de cinco bifes, compra três. Tem a certeza de poder gerir um ordenado, de ter os impostos pagos, sem ter que retirar o dinheiro dessas contribuições, ao próprio ordenado. 

Há uma liberdade de escolhas com o desafogo monetário. Uma liberdade que permite, inclusivamente, gerir de outra forma. Que permite pensar tranquilamente, nos dias que virão. 

Quando não se tem, é certo e sabido que se fica com um músculo de gestão inacreditável. Mas fica também o amargo de boca por se saber que anda muito dinheiro a circular, que pertence a uma série de gente, e por uma série de motivos, não chega a quem já trabalhou por ele. Trabalhar a recibos verdes tem destas coisas. Tenho vários amigos assim. A mim também me acontece algumas vezes. Por isso, de vez em quando dou por mim a pensar nestas coisas do dinheiro, como faz falta haver mais literacia financeira e em última análise, mais sensibilidade pelos outros. É que quando um papel não é despachado, numa qualquer secretária, alguém, do outro lado da cidade, não vai receber, mais uma vez, a horas. Como o caso da minha amiga Lúcia, a quem responderam: "Sabe como é... no meio das festas natalícias, a sua folha de pagamento perdeu-se!" Ainda se riram no fim, como se nada fosse e desejaram boas festas. 

Há muito para aprender nesta máquina demasiado burocrática e que beneficia a quem lhe põe pouco óleo. Há certamente muito para aprender a quem sofre estas consequências na pele e por isso só pode ver nisto, uma oportunidade de aprendizagem e de evolução, numa fuga a este esquema. Fala-se pouco publicamente sobre estas questões, muito pouco para o que me apercebo. Falar de dinheiro é apenas uma forma de se ajudar a si próprio, de poder ajudar os outros, de outra forma também. Já lá vai o tempo de trocar dois porcos por uma vaca. O dinheiro faz parte da nossa realidade. É um veículo que, quando bem gerido, pode chegar onde é realmente necessário e ajudar à felicidade também.

Que as boas vibrações do todo um universo estejam com todos os que andam nestes formatos de recibos verdes. E Lúcia... vai correr bem. 


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