Maratonas à parte

Julgo que das últimas vezes que corri a sério devia de ter uns 7 ou 8 anos. Eram competições de escola e que até não tinham corrido mal. Eu fazia parte da minoria étnica portuguesa, por terras germânicas, normalmente não apontada. Contudo, cedo se desenvolveu, por dentro, este sentimento de orgulho em ser portuguesa e mesmo assim competir no seio de uma comunidade que não o era. Na grande maioria das vezes, fui muito acarinhada. 

Por uma série de circunstâncias da vida, a atividade física foi ficando para trás, retomada aos solavancos de inícios e paragens, de acordo com o sabor da vida e da vontade de lhe dar a volta. 

Há mais ou menos seis meses retomaram-se as caminhadas. Há mais ou menos um mês, no contexto de puxar uma querida amiga, de uma zona cinzenta, desafiei-a a irmos correr uma maratona, ou uma meia. Eu. Desafiei.A.Correr. 

Entenda-se. A última vez que corri mais a sério tinha 7 ou 8 anos. Não conta as vezes que corro atrás dos miúdos, para ver se  não se estatelam no chão ou a jogar à apanhada. Portanto, uma meia-maratona. Concerteza. 21 loooooongos quilómetros. Sim senhor. 

A zona cinzenta dela passou e agora era preciso decidir se o desafio se mantém ou não. Se isso sequer faz sentido e para quê fazê-lo. Há atualmente um culto à volta das corridas. São modas, esta por acaso até impulsiona a uma vida mais saudável, por isso, menos mal. E sim, há uma questão química forte com a libertação de hormonas de prazer e que tornam esta atividade, aos poucos viciante. A superação de limites, de tempos, de resistências. O espírito de grupo que se sente. Uma motivação forte e crescente conquistada a cada passo. 

Neste ano do Sim, um dos desafios propostos é sair da zona de conforto só assim para ver os limites (será que existem?) que nos impomos, olhar na cara, as desculpas que inventamos. 

Sair da zona de conforto implica rever valores, ampliar formas de percepcionar a vida, mudar paradigmas. Os nossos, os de sempre, para outros que nos façam sentir o fluxo da vida, todos os dias. 

Portanto, isto começou mais ou menos há um mês. Tenho uma amiga de corrida, que corre comigo a 280km de distância. Chamo-lhe coache-mai-linda. Faço-lhe muitas perguntas e ela, com a sua grande paciência de entrega, responde a todas e incentiva-me aos Sins de cada passo que dou. Das primeiras vezes em que dei corda às sapatilhas, as imagens que me apareciam à frente eram, mais ou menos por esta ordem: uma maca, o número do INEM, pessoa-verme-a-arrastar-se-pelo-asfalto. 

Aos poucos vou percebendo que é um processo, que mais do que a meta, todo o caminho é que importa, mais do que tempos ou velocidades, é esta capacidade de levantar cedo, arrastar-se porta a fora e quer chovisque, quer faça geada, por um passo à frente do outro. Apenas isso. Um passo de cada vez, olhar em frente e apreciar o caminho. 

Neste momento, vejo todo este processo como uma metáfora de vida, onde o caminho é valorizado, para além do ansiado objetivo final. Mais do que uma transformação física é esta capacidade de nos superarmos em termos emocionais e psicológicos. Neste caso é a corrida, podia ser outro desafio qualquer.

Ontem, por coincidência (ou não!), enquanto fazia exercícios intensos e ultra-elaborados aos braços, passando roupa a ferro, ao zapingar os canais de TV, parei numa reportagem emocionada do vencedor de um trail decorrido, há poucos dias, na costa vicentina. Dizia ele, com a vez embargada, após mais de 5 horas longas de prova, que até se pode ter toda a preparação física do mundo, no fim, o que conta é o que se passa na cabeça. Atrevo-me a acrescentar que o coração também tem uma palavra a dizer. 

Vamos ver como vai decorrer toda esta preparação até março. 

Ontem foi a maratona do Porto e houve gente bonita a correr por lá. 
Ontem, pela primeira vez, fiz 3 km, a correr, sem parar. E para mim, teve o sabor de uma maratona. A minha. E fiquei feliz na chegada à meta. Agora...é continuar.







6 comentários:

  1. Ahhhh, estou inchada de orgulho! É para continuar, sempre! E cá estarei a apoiar e ajudar, sempre também! Um beijo enorme! Minha atleta mai jeitosa! <3

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    1. Coache-mai-linda :) Obrigada por todos os treinos e ajudas!

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  2. És maravilhosa... talvez vistas bem as coisas não só ajudas.te a tua amiga a dar um passo em frente no caminho certo... como também encontras.te um novo caminho para ti mesma...(obrigada) gosto de ti... assim ... pk sim... beijoka

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  3. E ainda terminas com bom aspeto! Realmente és fabulosa❤ orgulho por fazeres parte da minha vida❤ Qd do grande, quero muito ser cm tu�� bjo godo da Carla Ribeiro

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    1. Obrigada Carla :) A cara foi de felicidade :) Também grata por os nossos caminhos se cruzarem ;)

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