Mostrar mensagens com a etiqueta João. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta João. Mostrar todas as mensagens

Dos maiores exercícios

Depois de várias noites mal dormidas, lombas e buracos na estrada dos dias, ontem foi o aniversário do João. Um dia que, já por si, mais agitado, amanhece e desenrola-se com uma série de imprevistos que, em outros tempos, teriam posto em causa, o que realmente importa. 

Essa foi das maiores aprendizagens destes últimos anos e que ainda está em processamento aqui dentro. O que realmente é importante no momento?

Imaginem um farol lá ao longe. Um farol que guia, ilumina e orienta. Cada um tem o seu forrado com aquilo que lhe faz mais sentido. Seja a família, o amor, o trabalho, o dinheiro, sexo, amigos, arte, comida, ler... A lista não tem fim. Imagino o farol com várias dessas palavras coladas. Umas em tamanho gigante, com direito a luzes néon, e outras mais discretas mas estão lá. Por vezes, elas transformam-se em forma e feitio ao longo dos anos porque as prioridades mudam ao sabor de quem nos queremos transformar. O farol está lá e vai orientando e guiando o nosso caminho. Mesmo quando o tempo está nublado, a luz vai insistindo porque existe a certeza do que é mais importante para nós. . 

Houve uma altura em que andei à deriva e a lei era sobreviver à tona da água. Mesmo nessa altura, essa luz ia guiando, mesmo com menos força ou sem tantas certezas. Sei agora, que é um exercício quase diário, lembrar, lembrar, lembrar o que é importante, qual o foco dos dias. Por isso, o que realmente é importante no momento, tendo o meu farol a guiar? 

No meio dos atropelos de ontem, o importante era ele. Saber o quanto o amamos, é querido, o orgulho que sentimos em que já é e se está a transformar. Saber que tem quem gosta dele, ao seu lado, dar-lhe asas para voar. Serenar os outros tempos e momentos do dia, porque no fim, com o farol a guiar, está tudo bem, mesmo quando parece que não está. Confiar e continuar o caminho. 

Dos meus maiores exercícios, tem sido este: lembrar que o farol está lá firme, relembrar o que lá está inscrito, a minha verdade, e que o caminho se faz com fé, confiança e persistência. Haja essa luz por dentro. 



imagem daqui.

A leveza

Comecei a tomar café já tarde. Não nas horas dos dias, mas nos anos da vida. Assim a sério talvez só há 3 anos para cá e nem sempre. Nestes últimos meses, tornou-se um ritual matinal ir ao mesmo sítio. Mesmo quando os ombros carregam preocupações matinais (por norma empoladas porque na verdade tudo se compõe), subo a rua, entro naquele espaço e peço um café ao balcão. Àquela hora somos quase sempre as mesmas. Mais do que o café, tomo aqueles cinco minutos de conversa, de parvoíces ou confidências, de cumplicidades de amizades leves, que se vão construindo assim. Todas com mais caminho feito do que o meu. Não são mais do que 5 ou 10 minutos. Pago e sigo o caminho. Vou mais leve. Sempre mais leve. E mais do que o vício da cafeína, enraíza-se o vício das pessoas que nos fazem e acrescentam cor aos dias. Obrigada Tina, Manuela e Maria. ♥️

Desço a rua, reorganizo o olhar para o dia: atiro para trás das costas os cinzentos e foco no que hoje, mais do que nos outros dias é importante. A leveza de 12 anos do meu João. Que ainda procura pela mãe, ainda aceita e pede abraços e beijos, que já questiona tanto e me faz saber e acreditar, que aos poucos, o vou soltando para voos mais altos, porque sei que posso confiar, que tem um coração e pensamentos à procura de perguntas e respostas. Sê feliz meu amor. Que privilégio poder ser tua mãe. :) 






Carta ao meu filho

Doce João.

Foi contigo que me iniciei nestas andanças de mãe. Primeiro a medo e depois a passos seguros, deste-me a mão e a confiança para perceber (e sentir) que é um passo e uma conquista de cada vez. Que o amor não tem medida quando se trata de filhos. Que na mesma proporção cresce o medo de não estar a dar o meu melhor, de acontecer algo cinzento e numa proporção ainda maior, esse amor de mãe-filho que sussurra que: Está tudo bem. 

É contigo que aprendo, todos os dias, a generosidade do amor e do perdão. Das birras que tenho, que tens e que é no abraço do depois que sabemos que vai correr tudo bem e que estaremos sempre lá. Mesmo à distância, mesmo que surjam os amigos e as outras aventuras, que estaremos sempre lá. As vezes que, no meio da multidão, apenas piscamos o olho um ao outro e ali se encerra a cumplicidade só nossa. Sem palavras, sem mais nada. Aquele piscar de olho que conta uma história a duas vozes e um só coração.

Sou hoje mais pessoa, mais gente, por tudo o que me ensinas e me acrescentas. 
Parabéns meu filho. 
Voa alto até onde o teu olhar e coração te levem. No caminho e no regresso estará sempre este abraço e piscar de olho, à tua espera. 

Um beijo, mãe Bela ❤


A festa de anos

A notícia de preparar um casamento em cinco dias, para ler aqui, fez furor. Para quem terá rios de dinheiro não deve ser difícil mas o sucesso da questão foi ser simples, despretensioso e pareceu-me bastante em conta. A ideia foi simplificar. Ora, tendo o assunto casamento já despachado por estas bandas, e com a festa de anos do mais velho para preparar, pensei... e se fosse possível simplificar?

A vontade de passar mais tempo com os miúdos, do que na cozinha, de não ter uma espécie de esgotamento para que a casa esteja apresentável e toda uma logística para focar no que realmente importa. A D. Alzira (a minha empregada fantasma...) continua para parte incerta, por isso, era arregaçar as mangas. 

Fomos para um espaço escolhido por ele onde puderam correr à vontade, com sombras, vento bom, onde houve bola, escorregas e baloiços. Ah... e de uso livre. A hora de festa foi a partir das 11h e incluiu piquenique que me pareceu que foi um sucesso: mantas e toalhas no chão. Pizzas acabadas de chegar, empadas, salgados, muita melancia, morangos, batatas fritas, muita água e sumo. E pipocas. As pipocas desaparecem sempre e iam em baldes simples para que fossem eles a partilhar. Salame de chocolate e bolo de anos caseiro. Faz parte da tradição cá de casa. 

Uma das meninas disse que nunca tinha feito um piquenique e gostou muito. Não houve chatices, birras e afins? Houve. Há sempre. Só que disfarçaram-se em forma de corrida, com o cheiro bom das árvores, com a ribeira como cenário de fundo. Aprendi a jogar aos zombies e até me consegui sentar um pouco com alguns pais a ... conversar! No caminho para casa disse-me que foi a melhor festa de anos de sempre. 

Este mantra a repetir até que entre cá dentro: Simplificar para que sobre tempo para o que é mais importante. 























Uma década de uma vida inteira de João

Não nos tornamos logo mães.
Quando nasceu fiquei a noite inteira a olhar para ele a tentar perceber, o que é que estava a acontecer. A dimensão dele e nossa e como não seria mais a mesma. Um buraco imenso de um amor que desconhecia e do outro lado da moeda, um medo de tudo o que pudesse não correr de feição. Arrependi-me. Devia ter dormido nessa noite porque as seguintes já não deram. 

Por isso, não nos tornamos logo mães. Vou-me construindo à medida de que puxa por mim, me faz perguntas, muitas, muitas, me questiona nas minhas verdades para descobrirmos uma nova verdade em conjunto

Com ele voltei a olhar para os meus hábitos de livros e de conhecimento. Pelo querer saber sempre mais. A empurrá-lo com gentileza para fora da sua zona de conforto quando sei que vai ficar mais feliz a seguir. A fazer figura de tonta quando o vejo num qualquer palco, numa qualquer peça de palco, para ver que ali estou, por e com ele. Sei a conquista grande que foi para ele chegar ali. Estivemos juntos em cada degrau dado, do meu colo, cheio de choro e incertezas, para ali. 

Descobri um mundo cheio de galáxias, de extra-terrestres, de Wobi Woo Kenobi, e de Jedis e de Yoda. A olhar para os paus e canas que vamos encontrado pelo caminho, como espadas. Sempre as espadas que se acumulam na parte de trás do carro. "Só mais esta mãe!". A adorar ainda mais chocolate. Fui gulosa por chocolate na gravidez. Deliciava-me com algum do chocolate que ia comendo. Deve-lhe ter passado para o ADN. É um apreciador de chocolate. 

Às vezes, de manhã, ouço-o a cantar e contenho-me no meio das pressas do relógio que não pára para o ouvir. Distrai-se outras vezes e faz-me ter fúrias de vulcão em erupção quando repito as mesmas coisas, cinco, seis, dez vezes seguidas. Depois aparece e pede um desculpa, que lhe sai de dentro e se vê nos olhos. Nem sempre o meu vulcão se deixa amanssar e digo-lhe que me dê um tempo. Às vezes é ele que me pede um tempo. Por isso, não nos tornamos logo mães. É um processo em construção.

Hoje faz uma década desta construção, na certeza de que há muitas incertezas, de que ele está a crescer e a mudar. E eu mudo com ele também. Estou-lhe muito, muito grata por isso. O meu João.







João

Nasci como mãe há 9 anos e mais ou menos 9 meses. 

Tão grata e abençoada por esta aventura se ter iniciado com um miúdo como ele. 

Sou muito melhor pessoa com e por ele. 

O meu João. O meu doce João.