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Sobre o que lá vem

 Os primeiros a usarem, de boa vontade a máscara foram eles. E às vezes nem era preciso. Custa ver, os momentos de saudades de jogarem à bola, de irem à escola ou de brincarem com os amigos. Mas depois, vemos a encontrarem alternativas, num ápice de piscar os olhos. 

Seguem com a vida, apesar de tudo, como ela está e o que tem de melhor, nas circunstâncias atuais. Continuam a refilar, a rir, a correr pela casa, a lerem, a pintarem, a sonhar alto com o que querem fazer um dia, com a certeza de que vai mesmo acontecer. Sem temores ou anseios do que ainda vem, das incertezas. A vida, na sua forma mais simples. Tanto para aprender com eles...

Para a semana retoma a escola, à distância do botão. Ficam por viver as brincadeiras dos recreios, as corridas, as conversas, as provocações, os empurrões, as gargalhadas em grupo, a seca e a maravilha das aulas, com as inevitáveis partidas que a presença numa sala, puxa o corpo a fazer. Mas é o que é. Por todos, é assim. E já não vamos às cegas: 

  • Eles já sabem. Há um ritmo entre aulas online e telescola. Eles já o conhecem e a adaptação, com os devidos reajustes, vai ser mais rápida do que da última vez. Eles adaptam-se muitas vezes melhor, do que nós, os adultos. 
  • Dar espaço e tempo. Mesmo sabendo ao que vem aí, é preciso afinar os dias, a rotina. Ver o que funciona melhor na nossa família e dar-lhe tempo para encontrar o melhor ritmo. É diferente ao do vizinho, da prima e do colega.
  • Acolher. Vai haver momentos de frustração. Fazem parte. Também os há na escola fora da nossa casa. Acolher e aceitar que faz parte. Encontrar as #bolhasdeoxigénio de que já falei aqui. Ajudar a encontrar a deles, e a nossa com eles. 
E respirar, lenta e pausadamente. 
Uma respiração de cada vez, e chegamos lá. 
Juntos. ❤





Créditos de Imagem desta autora.

Vamos Cuscar 25#


Há quem oiça vozes do além.
Eu oiço, muitas vezes, a voz da Sandra. Não porque ela grite muito lá em casa dela para mim, distam-nos mais de 200km mas porque a Sandra é pessoa para deixar sementes em que se cruza com ela. Mais do que respostas, deixa perguntas e num gesto bonito de humildade e de sabedoria, faz-nos chegar às respostas de cada um. Não há certos ou errados. Há as nossas respostas. E está tudo bem! Uma das frases que trago dentro de mim, passada pela Sandra. 

Numa altura em que estamos todos limitados, mais do que nunca, a encontros digitais, foi precisamente assim que me cruzei com a Sandra: na formação online de Coachgin Parental para profissionais. Passados vinte anos de trabalho e experiência, encontrei aqui uma linguagem que já há muito colocava em prática e que ficou cimentada. É que as teorias só fazem sentido quando as podemos colcoar em prática. Senão são só um conjunto de livros e folhas a ganhar pó nas estantes. 

Temos em comum, o respeito pela sabedoria dos pais, pelas suas competências, muitas vezes escondidas e pouco valorizadas e acreditamos também que quando se apoia uma mãe ou um pai a encontrar o seu melhor, os resultados passam para os mais novos e todos ficam a ganhar. 

Vamos cuscar a Sandra Belo?




Idade: 49

Naturalidade: Lisboa (mas com costela de Castelo Branco – materna e paterna)

Comidas preferidas: todas! Adoro cozinhar e adoro comer. Tenho imenso prazer em inventar receitas. Gosto muito de salgados.

Um livro a não perder: tenho muitos, é difícil escolher. Mas gosto muito “A cor dos sonhos” de Josep Lopez Romero

1.       A vontade de ir para Londres, com três crianças, na altura com 6, 4 e 2 anos, surgiu a partir de que necessidade?
Situação profissional do ex-marido: desde Abril de 2006 que ele tinha começado a estar fora do país. Surgiu a oportunidade de nos mudarmos para Inglaterra, há muito que desejávamos ter a experiência de viver fora.





2.       Quando regressaste de Londres, o que trazias na tua mochila de mãe e de psicóloga/coacher?
Muitas coisas que guardo e recordo até hoje.
Trazia o conceito de “coaching parental” por explorar – descobri esta abordagem num boletim escolar que veio na mochila de um dos meus filhos.
Trazia uma forma de viver mais descontraída, os encontros de mães nas bibliotecas com os filhos que estavam em casa.
Trazia uma forma de aproveitar mais o tempo e o que a vida me vai dando.
Trazia uma experiência de solidariedade e de uma aprendizagem relativamente a confiar em quem acabamos de conhecer.
Guardo muitas memórias de tempo bem passado com os meus filhos.



3.       Passaste também pelo Brasil em trabalho. O que mais te enriqueceu nessa experiência?
A ida ao Brasil foi relampega. Fomos e viemos (eu e a Ângela, minha colega do projecto Family Coaching) em menos de uma semana. Fomos para um fim de semana de formação intenso e rico. Foi espetacular ver a quantidade de pessoas que vinha de sítios muito diferentes para participar na nossa formação para técnicos/profissionais que trabalhavam com famílias.
Esta ida surgiu na sequência de pedidos que vínhamos recebendo para ir até lá e partilhar o trabalho que vínhamos desenvolvendo.
O grupo heterogéneo e com histórias de vida e de trabalho vieram na nossa mochila. Há pessoas com mantemos contacto até hoje.



4.       O que é afinal o coaching parental?
É uma abordagem centrada nos pais, que acredita que eles são os especialistas da sua família e que a eles cabe a responsabilidade de conduzirem a vida familiar. O coaching parental tal como o entendo, acredita que os pais e as mães têm qualidades e competências que lhes permitem gerir a sua vida familiar da forma que lhes fizer mais sentido.
É uma abordagem que respeita os valores e princípios dos pais, que os eleva, que os apoia a descobrirem-se para que possam gerir a sua vida familiar de um modo mais satisfatório.

5.       O teu trabalho é sobretudo com mães, pais e educadores. É aí que tudo começa?
Sem dúvida. E que bom que é quando conseguem os dois lados da moeda estar de mãos dadas.

6.       Ser mãe ou pai agora, é diferente de há 10 anos. O que mudou e o que é igual?
Ui! Pergunta dificil (ou não!) Ser pai hoje também será diferente de ser pai daqui a 10 anos. A vida, o mundo vai mudando e por isso, importa que os pais também eles se vão adaptando. Eu acredito que os pais e as mães crescem com os filhos. Os filhos são uma oportunidade de desenvolvimento pessoal, caso a queiramos aproveitar.



7.       Quando mergulhaste no coaching, há mais de dez anos, ainda não era muito falado por cá. Porquê a escolha dessa abordagem para o trabalho com Pais?
Pela forma positiva como olhava para os pais. O foco é no positivo, no que fazem bem, nas suas potencialidades. Apoiar os pais a procurar soluções mais do que deixá-los presos nos problemas fazia-me (e faz-me!) muito sentido do ponto de vista pessoal, profissional e até da minha maternidade.

8.       Para ti, como mãe de três, o que continua a ser um desafio diário?
Respeitar a individualidade de cada um, acolher o que trazem e são em cada dia e a partir daí parar e pensar, ganhar distância e questionar-me como posso apoiá-los a caminhar mais um pouco em direcção aquilo que ambicionam, ao caminho que querem percorrer.
Aceitar que ele podem querer algo muito diferente do que eu quero (e do que eu possa em algum momento tre sonhado para eles).
É um exercício de humildade e aceitação permanente.


9.       Um dos vossos pontos de trabalho, no Family Coaching é também o trabalho sobre a adolescência e a adolescência, sendo apenas mais uma fase de desenvolvimento, é muitas vezes vista, pelos pais, como uma ideia muito cinzenta. O que precisam os pais com adolescentes de saber?
Que está tudo bem. Que é apenas mais uma etapa de desenvolvimento em que o adolescente tem necessidade de autonomia, do seu grupo e de descobrir qual o seu papel neste mundo.
Penso que é importante dar esperança aos pais (para que também eles possam transmiti-la aos adolescentes). Gosto muito de uma ideia que associo a Maria Montessori – é uma altura em que sintam liberdade com limites, mas também que se sintam muito amados com tudo o que são e como são. No final, quando a adolescência der lugar à vida adulto queremos que eles cheguem lá equilibrados e saudáveis (física e emocionalmente).
Esta etapa pode ser muito exigente para os pais, muitos referem que se sentem frequentemente testados, puxados até aos limites. Como trabalhamos com os pais, é fundamental que cuidem de si para que possam depois estar disponíveis para os adolescentes.

10.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia? Uso alguns sim... Verbalizações como “está tudo bem”; “o que é que eu quero?”; “o que depende de mim” e muitas visualizações, acompanhadas de respiração de ar puro; a corrida de vez em quando também é um excelente penso rápido e a oração.

P.S.:
A Sandra tem este espaço onde partilha as suas reflexões. 

Para quem pretender acompanhar o trabalho do Family Coaching têm aqui, aqui ou aqui.


Simplificar

Este ano tem sido de boas descobertas. Uma delas sobre o minimalismo. Não no sentido de desfazer-me de tudo e viver numa tenda mas ir ao que interesse. É um caminho, é um processo mas está a ser feito. 

A Cláudia Ganhão apareceu-me nesse caminho através do seu blogue e da sua página no Instagram.

E o minimalismo pode e faz sentido viver-se também na nossa forma de ser mãe ou pai. Nem de propósito lá no blogue saíram ideias para Mães Ocupadas. Tão simples (a ler...) e desafiantes para se irem implementado aos poucos, à medida das nossas vidas. 

Partilho convosco aqui.


A história

Das minhas maiores descobertas do ano passado foi ler e aplicar o chamado minimalismo. Não no sentido radical, nem de um dia para o outro (nem dava...com duas crianças em casa!) mas sei que é um processo, um caminho que pretendo continuar porque lhe encontro muitas vantagens. Esta nova área de interesse levou-me a conhecer, explorar novas pessoas e leituras de que irei falar mais para adiante. 

Hoje de manhã, caiu-me no colo mais um desses textos que não sendo novidade, encaixou muito bem. Há dias em que de tanto pedirmos, nos aparece à frente, o que precisamos de ouvir. Joshua Baker é um entendido nas matérias sobre viver de forma mais simples e genuína e escreveu um artigo sobre a história que contamos a nós mesmos. 


Não consigo emagrecer ou engordar, porque nunca soube fazer boas escolhas de comida. 
Não consigo deixar de fumar, eu já tentei e não deu.


E a lista não tem fim. O que me fez pensar em qual a minha história como mãe.

Que história estou a contar a mim mesma sobre ser mãe? 
Que mãe sou para o João e que mãe sou para a Maria?
Que mãe sou às 8h da manhã ou às 9h da noite?
Que mãe sou quando me fazem 20 perguntas ao mesmo tempo?
Que mãe sou quando não estou bem?
Que mãe sou quando estamos todos com pressa, quando me dizem que não querem comer ou quando me pedem cinquenta vezes a mesma coisa?

E que história é essa que me conto, depois de responder a estas perguntas, depois de os deixar na escola, de lhes ralhar, de ficar frustrada ou muito feliz? Que história é essa que me conto quando as coisas correm bem ou correm mal? 

A história vai mudando com o tempo e com a nossa fase de vida. Às vezes basta lermos mais alguma coisa, ou termos uma conversa com alguém que nos inspire para percebermos que afinal, a nossa história tem mudança possível. Outras vezes basta apenas parar. Só isso. Parar e respirar fuuuuundo. 

Vamos sempre a tempo de mudar a nossa história? Sim. Acredito profundamente nisso. Reajustando as expetativas, sendo mais generosos conosco e com quem nos rodeia. Introduzindo o que faz sentido nas nossas vidas de mães e pais. Em pequenos passos. Pensando e agindo. Pensando e agindo. Pensando e agindo. 

Por isso fica a pergunta.




Próximas ações:
Porque (Em)Birras comigo? - 26 outubro - Sertã
Pais que Respiram ... na Escola - 29 novembro - Lisboa.
Informações: abelpb@hotmail.com


É paixão - parte II

Dá um trabalho danado, não adormecer. 
Não adormecer no ritmo dos dias, nas suas rotinas, e turbulências.
Não adormecer porque a música é sempre a mesma, a que ouvimos por fora e a que cantamos por dentro, e que rima com medo, não sermos capazes ou com o adiar para uma altura melhor. A altura melhor, será sempre agora em vez do depois.
Não adormecer porque nos acostumamos ao de sempre.

O contrário é encontrar um despertador bem barulhento por dentro e dizer mais Sins do que Nãos. É insistir e voltar a remexer naquilo que nos põe um brilho no olhar e faz sorrir de nervoso miudinho só porque sabemos que faz parte de nós, a nossa verdade. E as nossas verdades só podem trazer sabores doces de amor, mesmo com os dissabores do momento. 

Duas ações que me deixam sempre com borboletas boas na barriga. Estão convidados com toda a entrega e amor. 
Abraço de sol. 
Até breve.

P.S.: Informações/inscrições - abelpb@hotmail.com







Na próxima sexta

Uma das palavras que mais aparece na conversa com pais (e comigo própria...) é esta coisa das birras. Nem sempre se lhe dá este nome mas anda à volta disto:

Ela não quer fazer os trabalhos!
Quando digo para ir tomar banho instala-se uma guerra civil lá em casa.
De manhã, para o vestir, parece que o estou a enfiar dentro de um colete de forças!
A comida...já não sei o que lhe faça! Até tremo, sempre que vamos para mesa. Na escola dizem que corre tudo bem e aqui...
O telemóvel ou a televisão. Se pudessem, era o dia todo naquilo. Quando é para desligar, amuam e fica o ambiente lá em casa virado do avesso.
Chora e começa aos gritos no supermercado. 

Com mais ou menos drama e cor, quem nunca?

Então, na próxima sexta-feira, dia 23, na biblioteca municipal da Sertã, é mais ou menos isto que se vai passar. Mais ou menos porque está tudo pronto e planeado mas há sempre a margem boa de o barco da ação ir ao sabor de quem nela quiser aparecer:

" A melhor forma de encontrarmos as nossas respostas, é fazermos as perguntas certas. As que se adequam à nossa realidade, vivências e filhos em particular. Cada mãe, cada pai, cada filho tem o seu mundo em construção. As birras, dos grandes e dos pequenos são apenas mais um dos temperos das relações, que se querem, sobretudo, de afectos. Birras para todas as idades será um momento para nos divertirmos e descomplicarmos as situações tipo-vulcão que acontecem diariamente. Uma conversa à volta da mesa, com o sentido prático que este assunto merece."







Convite feito. 23 novembro, 18h :)
Inscrições (gratuitas mas necessárias):
na biblioteca municipal, pelo 274 604 227 ou abelpb@gmail.com



O que se vai Respirar?

À medida que vão crescendo, a ideia é irem sendo, cada vez mais livres. 
Primeiro agarrados a um colo e a um abraço que mesmo já não cabendo, por ali vão-se demorando no vagar das suas aventuras. Às vezes quase que parece que estão demasiado grandes para os braços que os querem acolher, mas há tanta forma de se pedir aconchego que o colo gostoso sempre será morada segura. Há tantas formas de dar colo, como há formas de os soltar e deixar ir à descoberta. Deixá-los serem livres na celebração da diferença. 

Por isso, o que se respira, no Pais que Respiram?

A diferença de cada mãe, cada pai, de cada filho, na sua individualidade e singularidade. A ideia de fazermos todos o pino, aos 6 anos, 2 meses e 3 dias, não faz mais sentido. Até porque nunca fui capaz de o fazer. E parece-me que haverá por aí mais duas ou três pessoas que também nunca o tenham feito. 

Serão três horas de (re)descoberta de quem se é na aventura de se ser mãe ou pai. Refletir um pouco sobre o que já se tem e ir trilhando caminho para onde se quer ir. Os filhos serão a desculpa perfeita do que se queira mudar... em si próprio. A mudança, para ser de verdade, começa sempre no próprio, não é? Serão debatidos alguns conhecimentos e estratégias com a elasticidade própria da plasticina: cada um molda ao formato de quem é e sobretudo, de quem quer ser como mãe e pai. Tendo sempre em vista onde se quer chegar, como família. 

Somos mais fortes quando temos mais conhecimento e informação porque temos escolha de ação. As nossas escolhas. Não as dos nossos pais, a da vizinha ou daquele amigo de que tanto gostamos. As nossas. 

No fim, nunca se fica indiferente. Não é possível. Pronto, a não ser que se seja uma anémona mas esta ação não está pensada para ser feita no mar. Apenas para o oceano de cada um. 

Assim, será à volta de uma mesa, primeiro de reflexões, saberes e emoções, e depois de bons sabores, que o palco ficará montado para o enredo deste Pais que Respiram - iniciação. Obrigatório levar fome de pensar, de saberes, de agir e da outra fome também. 

Programa das Festas
  • Espelho meu, espelho meu...quem sou eu?
  • SuperMãe, quem? 
  • A minha família dava um filme de...
  • Filhos às cores
  • Pontos de Colisão são Pontos de União
  • Postal para o Futuro


Próximo Pais que Respiram - 26 de outubro - Castelo Branco.
Informações/Inscrições: abelpb@gmail.com








Parte II: SuperMãe vs SuperHumana

Num dos livros deste verão que andei a ler, relatava as maravilhas do nosso cérebro e que, ao contrário do que tanto para aí se diz, sim senhor que ele vai atrofiando com a idade mas também ganha em flexibilidade e capacidade de se reinventar. Perdem-se capacidades mas são compensadas por outras DESDE QUE se continue a exercitar este "músculo". A certa altura lê-se que, por exemplo, fazer listas de supermercado, não abona muito a favor das nossas competências de memorização. E aí parou tudo. COMO DEIXAR DE FAZER LISTAS? Seja as de supermercado ou outras. Para que muita da engrenagem funcione bem, há listas a nascer da mala, em cima da mesa ou na porta do frigorífico. Toda uma indústria de post-it coloridos, às riscas e pintas montado, já para não falar de apps que ajudam (será que afinal não??) a que nada fique por mãos alheias, para se conseguir fazer tudo. 

E é aqui é que está a questão. Isto de se ter que fazer tudo, com graciosidade, de preferência com o ar radioso e engomado de quem está sempre a acabar de sair de uma sessão de massagem; que nunca em tempo algum se esquece de comprar só mais aquele material imprescindível que é a caneta de azul turquesa, com purpurinas florescentes ao pôr-do-sol, a tocar As quatro estações de Vivaldi, enquanto larga uma fragrância de brisa do mar; ou então acabou de costurar o fato de Carnaval alusivo ao tema do Homem Pré-Histórico a viver em Marte;  e sabe ainda a tabela nutricional adequada para o desenvolvimento de cada um dos filhos... São SuperPoderes de uma SuperMãe. Há quem o consiga. Verdade. E que para além de o conseguir ainda é extremamente feliz. Verdade também. Mas 98,8% não consegue e sente algum desconforto por isso.  

Quem nunca se baralhou com a indumentária para uma das festas de natal-páscoa-fim-de-ano, ou trocou as cores de roupa entre os filhos? (Já contei aquela vez em que TODAS, repito TODAS as meninas do concerto de Natal iam com uma belíssima fita vermelha no cabelo e a minha, com dois lindos totós e laços vermelhos? Não contei? Então vamos fingir que nunca aconteceu. Eram só mais de 80 miúdas em palco. Grande vantagem foi reconhecê-la imediatamente, no meio de tanta cabeça com fita...).

Ou se esqueceu do dia do fotógrafo na escola.

Quem nunca chamou cereais, àquelas coisas, muito açucaradas a que se mistura leite e está despachado o pequeno-almoço?

Ou olhou para a t-shirt, acabada de tirar do molho de roupa por passar e disse para consigo mesmo: Os tecidos enrugados, usam-se. 

Ou foi levar os filhos de pijama à escola. Já o vi e vai daí que a moda pega. 

Quem nunca disse aos miúdos que não, nem mais um chocolate a seguir ao jantar, dissertando sobre todos os malefícios do açúcar e blá-blá-blá... e mal eles adormecem, se senta no sofá e vai um quadrado de chocolate e mais um e mais outro.

Na verdade, uma ou outra coisita, todas e todos nós. E isso não é revelador de incompetência pura. É-se apenas um SuperHumano, com todas as suas fragilidades, assumidas e sentidas sem culpa. Que modelo ou exemplo queremos passar aos miúdos? De que nunca se falha, que é difícil de errar e que alguém, que comete um mínimo deslize merece, no mínimo, prisão por largos tempos?

Mostrar as fragilidades e birras como mães e pais é mostrar que há margem para melhorar, que o erro faz parte e que, na mesma proporção do que não correu bem, há igualmente um outra vontade de mostrar que existe mudança e vontade de fazer melhor. Somos apenas H-U-M-A-N-O-S. E como já dito aqui, está tudo bem. Está mesmo. Ser exigente como mãe ou pai é maravilhoso. Faz-nos ir mais além. Mas não ao ponto de deixarmos de ver o que realmente importa nesta relação bonita que é suposto ser a que se tem com os filhos. Abre também espaço para que também eles queiram fazer caminho com desafios de melhorar e serem SuperHumanos

Mesmo com o vento a despentear, haja força nesse sorriso. 😉😊









Para o meio deste mês



Continua a ser uma das minhas bolhas de oxigénio mais queridas porque não sinto o tempo a passar de tão bom que é. E os sorrisos de quem participa, dão-me a certeza de que é por aqui o caminho.






Sobre arranques escolares, férias, gritos e relógios

Aquilo de que mais gosto em momentos de paragens de trabalho são as férias do ... relógio. Os relógios cá de casa são embrulhados, cuidadosamente em papel de sede, com fita de lã e colocados no fundo de uma gaveta quando se portam bem. Quando se portam mal, seguem para a Mongólia. 

Gosto de não ter que apressar os miúdos para comerem, de os deixar em pijama mais horas do que as permitidas no código parental revisto - 2ª edição, de andarem despenteados só porque sim. De haver muito menos rédea curta. 

É o relógio e os horários para os levantar ao início do dia e os conseguir deitar a horas decentes, nos dias de semana, que cá me causam comichão ao sistema. Quando não há este stress... anda-se na paz do senhor. E da senhora, que sou eu. 

No meio disto tudo começou mais um período escolar e com ele foi ressuscitado, a contragosto, o maldito relógio. Senti, por ele, uma pontada de amargura, logo no primeiro dia. Ele a trautear TIC-TAC-TIC-TAC mesmo ali nas minhas ventas. Confesso que me pareceu que o ouvi emitir um riso sarcástico, mal lhe virei as costas. De frente, não se atreve. Ainda lhe pesa na memória a última neve da Mongólia. Os miúdos até ajudam mas está claro que são ... miúdos. Por serem miúdos, esticam a corda, o elástico, o fio de nylon, até que a voz de adulto se sobrepõe (pela não-sei-quanta-vigésima-vez...) e sai em disparo demasiado alto. Sai um grito e com ele saem palavras menos bonitas de fins de dia que em dias de relógio escondido, não aparecem. Acho mesmo que quando o relógio entra de férias, essas palavras vão com ele também. 

Miudagem na cama. Aterra-se no sofá, sabendo de antemão, quem vai ganhar, mais uma vez, nestes dias frios de inverno. O sofá e a lareira, tenho a certeza que têm um caso e é nessa cumplicidade que me fazem adormecer, noite sim, noite também. Até que tal não aconteça, quando se cai no sofá, cai também aquela culpa miudinha de se saber, bem cá no fundo, que não havia necessidade de tudo aquilo, que não fosse o maldito relógio e os horários, seria bem mais simples. 

Assim naqueles minutos antes de me deixar encantar pela hipnose de sofá-lareira, apercebo-me da grandiosidade dos miúdos. Porque eles lá sabem que se gosta muito deles, e mesmo assim, mesmo havendo ralhetes, vozes que atingem altitudes dos Himalaias, e palavras mais feias, mesmo assim, são capazes de esquecer, para logo a seguir darem um abraço ou um beijo, numa rapidez de amor que desconcerta. Quero aprender com eles. A ir ao que interessa. A perdoar o geral, para ir ao particular daquela pessoa de quem gostam. Sem mas ou ses. 
Os miúdos gostam e ponto final. 
Eles são sábios, não são? 







Foto daqui.




Ainda sobre os testes

Nesta altura do ano, em muitas casas, ouve-se mais ou menos isto:

"Mas tu já estudaste??

Tens 3 testes para a semana... não é melhor saíres do sofá e ires para o quarto fazer exercícios?

Deixa o telemóvel e pega nos livros!

... ou então ...

Larga os livros, vem almoçar. Já chega!

Mas estás a chorar porquê? É muita matéria, não é?"


Vem aí a segunda leva de testes e haverá tantas receitas, quantas famílias houver, na medida certa de paciência, na dose adequada de confiança que precisam para fazerem mais este esforço de rever e consolidar o que há para estudar. E quem os censura pela falta de vontade quando há um sol lá fora a espreitar ou uma lareira já acesa, depois de uma semana de aulas e atividades e só apetece fazer... nada? Em muitos casos eles sabem o que têm para fazer, faltando-lhes a vontade e a motivação certa para lá chegar. Em suaves empurrões de firmeza, salpicados de compreensão e carinho leva-se esta tarefa a bom porto. Os pais sabem a importância deste último esforço e eles também não querem falhar por isso, entre uns e outros, lá se há-de encontrar a fórmula certa. Seja na varanda, com uma manta estendida a aproveitar os raios de sol, no quarto com música de fundo ou na mesa da sala, alguma coisa há-de funcionar.

E isto para mães e pais ouvirem antes de emitirem decibéis de frases descoloridas, pela casa fora. No fim, vai correr bem.


A escola

Chegou a casa.
Foi concentrado, compenetrado e focado, directo para o quarto. Tirou os livros. Fez os trabalhos de casa. A seguir, fez uma revisão de tudo o que aprendeu naquele dia. Arrumou os livros do dia seguinte. Colocou a mochila na entrada. 

Só que não. Não foi nada disto que aconteceu.

"Ó mãeeeeeeee!!! Não encontro o lápis!"
"Não me apetece fazer isto! Ainda ontem fiz! Porque tenho que voltar a fazer as mesmas letras que fiz na escola?"
"A Luísa é mais rápida que eu a escrever..."
"Isto é chato!!!!" 
"Posso só jogar mais um jogo no tablet, antes de ir fazer os tpc?? Pleaseeeeeeeeeeeee!"
"Ó pai, senta-te aqui ao pé de mim, enquanto passo este texto de 3 páginas!"

Estas e outras questões pertinentes para o estado da nação de cada casa, no próximo Pais que Respiram na ... Escola.

Inscrições até 7 de outubro para: abelpb@gmail.com


Vamos cuscar 20#


A Sandra sorri com os olhos e estes são grandes e cheios de vida, não aguentando o tanto que têm para dar. Talvez por isso, decidiu dar do seu olhar aos outros. Um gosto em estar com eles, e este seu jeito de estar com os mais novos. Lembro-me de a ver pequenita, quando morávamos pelo mesmo bairro. Mais tarde nas saídas à noite, pelo café do costume e depois a Sandra andou a viajar por aí, à procura dessa sua vontade de estar perto dos mais pequenos até que, há tempos me apercebi que esse por aí era… Timor Leste. Daqui até lá são uma data de quilómetros, mais ou menos, mais de 14 mil e trezentos. Então, o que fez a Sandra rumar até tão longe? Vem aí mais um Vamos Cuscar.



Idade: 34
Naturalidade: Sertã
Comidas preferidas: Cozido à Portuguesa
Um livro a não perder: Inteligência Emocional, de Daniel Goleman, não só pelo seu conteúdo mas porque naquela altura me fez pensar...

1.       Desde que eras miúda, querias tomar conta de miúdos?
Não, como todas as miúdas eu quis ser quase tudo: polícia, arqueóloga, professora, psicóloga...


2.       O que te fez escolher esta área?
Ter uma família grande cheia de primos mais novos ajudou bastante, sempre me habituei a lidar com crianças. Mas acho que só durante o curso e quando comecei a trabalhar é que percebi que era mesmo isto que eu queria fazer. Somos bastante imaturos quando escolhemos a nossa formação, que hoje não é estanque, e ainda bem.




3.       O que é que os mais novos te ensinam?
Tanta coisa... a visão pura da vida e o foco nas coisas simples, a ser mais flexível, a ouvir antes de julgar, a ser mais jovem e mais alegre.



4.       Os filhos dos outros, passam a ser, um pouco, os teus filhos?
Grande parte do meu dia é passado com aquelas crianças, vivo as suas inseguranças e a suas certezas, sou alvo de críticas incisivas e de carinhos inesgotáveis. É muito fácil criar laços com crianças, desde as mais serenas às que requerem mais atenção.


5.       Como geres a despedida destes filhos emprestados, no fim de cada ano letivo?
Com o tempo habituei-me a este vai e vem de "filhos",  mentalizei-me que eles têm que crescer, seguir o seu caminho e eu o meu. Mas mantenho contacto com alguns, é muito interessante ver de longe o seu percurso e confirmar que alguns traços da personalidade ainda estão lá, bem vincados, desde pequenos.



6.       O que é que não se diz e é preciso dizer, sobre a educação de infância?
Que somos a base do ensino, e que esta base bem consolidada é o pilar de uma aprendizagem de qualidade. Que os educadores de infância são profissionais, que a educação de infância é uma atividade profissional, pensada e estruturada. Que não "tomamos conta" de crianças e que a nossa experiência e perspetiva devia ter tanto peso como a de outros profissionais.



7.       Deves ter muitas histórias na tua arca de recordações. Lembras-te de alguma em particular?
São tantas... mas falando em críticas e sinceridade, depois de um ataque de acne, ouvi de uma criança: "Ai Sandra, hoje estás tão feia."



8.       Partir, rumo a Timor Leste é uma decisão audaz. O que te fez comprar o bilhete de avião?
Timor-Leste era um sonho antigo, desde os tempos das imagens na televisão do massacre de Santa Cruz, que naquela altura, talvez pela idade, me marcaram bastante. Daí surge a curiosidade por este país e por este povo. Foi um sonho constantemente adiado, esta não foi a primeira vez que tentei vir para Timor-Leste. Poder aliar a parte profissional, à descoberta deste país e deste povo,  foi a oportunidade que não deixei escapar. 




9.       À chegada, que desafios encontraste?
A adaptação a outra cultura, outros hábitos, outro clima, aos olhares... os primeiros tempos são de constantes novidades a cada minuto. Nada é nosso, nem as pessoas, nem as condições de vida, no início sentes falta de quase tudo... Como fiquei na montanha a adaptação ao isolamento também foi lenta, até reinventar novos hábitos e novas rotinas demora algum tempo. Mas o ser humano tem uma impressionante capacidade de adaptação e neste momento já me sinto perfeitamente adaptada, primeiro estranha-se e depois entranha-se.



10.   Nesta altura em que o mundo, por vezes, parece um pouco ao contrário, o que tem Timor para oferecer?
Tem muito. Pessoalmente dá-me uma perspetiva do mundo para além da minha caixinha, a capacidade de valorizar as coisas mais simples, de me superar a cada dia e de relativizar os obstáculos.  Profissionalmente ainda existe respeito pela figura do professor e valoriza-se o ensino. Todos os dias cresce um sentimento de utilidade que me enche o coração e a alma.



11.   Como é um dia típico teu?
Às 8h começam as atividades letivas, que decorrem durante a manhã, de tarde regresso à escola, para planificação, preparação de materiais, apoios ou para atividades com a comunidade, como a formação de língua portuguesa e de cozinha, por exemplo.




12.   Deve haver momentos de saudades. Do que já vais sentindo falta?
No início sentia falta de tudo, foi uma mudança de estilo de vida drástica.  Agora sinto falta de passar tempo com a minha família e com os amigos, as tecnologias encurtaram um pouco a distância, no início, mas agora as saudades já apertam.



13.   Semelhanças entre Portugal e Timor… quais?
São um povo genuíno como o povo português, mas é uma nação muito jovem, que foi oprimida durante muitos anos e está agora a soltar as amarras. Culturalmente, a influência portuguesa já é muito dispersa, por causa dos anos de ocupação indonésia.  Com a independência, a língua portuguesa torna-se uma das línguas oficiais de Timor-Leste, mas não são muitas as pessoas que dominam esta língua. São maioritariamente Católicos, ainda por influência portuguesa, mas são mais participativos e conservadores.  Um beijo no rosto, durante um filme visto em público, ainda dá direito a ovação de pé e rostos corados.

Ainda é um país em reconstrução, faltam infraestruturas e recursos de quase todo o tipo. Esta diferença sente-se especialmente nas localidades mais isoladas, tal como também acontece no nosso país, noutra proporção, na zona centro, por exemplo. A diferença é que aqui não se sente o envelhecimento da população, pois a taxa de natalidade é bastante alta.

Ao nível do ensino também há muitas diferenças, a nível de infraestruturas e de formação de professores. Mas tem-se feito um grande esforço para colmatar estas lacunas. Acredito que com o tempo e empenho se chegará a bom porto.


Quanto às crianças, são alegres e espontâneas como em qualquer parte do mundo. Aqui valorizam o essencial, joga-se "à bola" descalço ou descalça-se o pé que chuta a bola, para não estragar os sapatos, e  chora-se compulsivamente quando se estraga um chinelo.

14.   O que vais trazer na tua bagagem?
Uma vivencia muito diferente, novas experiências, o contacto com outra cultura, uma nova forma de interpretar e lidar com os problemas, muitas histórias, boas recordações e saudades ...



15.   Depois de Timor, quais são os teus planos?
Viver um dia de cada vez... mas esta experiência despertou-me a curiosidade por conhecer outros países da comunidade de língua portuguesa, quem sabe...


16.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?

Eu acredito que se estamos aqui, é para sermos felizes, então, se não te faz feliz, muda-te.