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É paixão

A ideia era ter sido cozinheira. Mas lembro-me bem de ter chegado a casa e ter dito bem alto: "Quando for grande, quero ser cozinheira!" E me terem respondido: "Minha menina, se é para isso que vais estudar, tira já daí essa ideia!"

E foi com este pragmatismo que se foi uma carreira brilhante numa qualquer cozinha. Quer dizer, tenho a minha, com as minhas cobaias lá de casa e família simpática e amigos generosos que, de volta e meia, saboreiam o que se faz pelos tachos. Ainda ninguém faleceu repentinamente, nem ficou verde. 

Ainda veio a vontade de ser professora de línguas, até que um colega, o João, um dia se virou para mim e disse: "Tu tinhas jeito para ser psicóloga." Assim, sem mais, nem menos. Não sei se ele tivesse dito outra coisa qualquer como electricista ou jardineira, teria feito o mesmo efeito, julgo que, a bem da humanidade, não. A sugestão dele, ficou cá dentro e foi crescendo.

Hoje sei, que podemos estar tão bem, em vários trabalhos e felizmente, que o mundo se está a abrir um pouco por aí e já se vêm pessoas que escrevem e pintam, ou são jornalistas e cantam. 

Ter abraçado a psicologia como área de trabalho, tem aberto tantas portas há quase vinte anos, que me deu a oportunidade de estar no chão sentada com crianças de 3 anos a contar histórias, a passar dias de formação com escolas  ou a PSP, pelo país todo; a estar apenas com uma pessoa e um pacote de lenços ao pé, ou numa sala cheia de pais e mães emocionados; rir (muito) com os meus adolescentes e também lhes chamar a atenção quando é preciso, seja a prepararmos o almoço (novamente a comida) em conjunto ou a fazer arborismo (ainda tremo de pensar...). 

É um privilégio trabalhar com o Ser Humano, seja com que idade for e independentemente da sua condição ou estado. É estabelecer relação com o outro, ajudar a encontrar o que de melhor tem por dentro e depois deixar ir, para a seguir recomeçar com outro alguém. 

Ainda há tanto por fazer para que os psicólogos tenham voz, um papel ativo, que as pessoas tenham acesso aos seus serviços sem listas grandes de espera. Para que não se faça confusão sobre o que fazem e o que está ao seu alcance. E não, não andamos de vassoura por aí... Se bem que daria jeito, com o preço a que estão os combustíveis... 

Já disse que gosto muito, muito do meu trabalho, que é uma paixão boa, muito desafiante, e que fiz bem em ouvir o João e seguir Psicologia? 

No meu mês, hoje é o dia dos Psicólogos. 
Parabéns, a nós todos, que acreditamos e fazemos por isso. Parabéns a nós, e às pessoas com quem temos o privilégio de cruzar caminho, e que depositam o que de mais precioso têm dentro de si. 
Como se diz na minha terra, bem hajam ♥️








Perdi-me nas letras

Não me lembro de ter lido tanto, como neste mês, deste ano. Levei, como sempre, uma mala só com livros para eles e para mim e algum sarcasmo meu por achar que ia dar conta daquilo. Dois livros que estavam por acabar e outros dois por começar. 

Instituímos e levámos à letra, os três, o Tempo Livre, que traduzindo quer dizer que é o tempo em que cada, já fora das suas obrigações de mãe e de filhos, pode fazer o que mais lhe apetece. Eles foram uns amores, estão tão crescidos... Eles embrenham-se no que lhes dá mais gozo e eu fiz o mesmo. Só havia a condição de nesse tempo, haver algum silêncio pela casa. 

Estiquei esse tempo também de manhã, quando, mesmo sem despertador, acordei a horas de madrugada. Nada a fazer, o meu relógio interno tem destas coisas e aprendi a tirar-lhe proveito. Gostar cada vez mais, das primeiras horas do dia, quando tudo à volta ainda está em silêncio. Entre esse tempo matutino, o do meio da manhã e um pouco à tarde, deu-se conta das páginas. É certo que há livros que puxam mais do que outros e há aqueles que nos puxam e enfeitiçam de cada vez que os queremos largar e é só mais uma página... Muitas páginas depois deram-se conta dos livros todos e agora já à procura de outros para ver se ainda serão devorados antes dos dias quererem tomar conta de nós. Há sempre uma lista grande de preferências por aqui, já pronta mas ontem descobri um novo. É que era mesmo aquilo agora só que... 
Em todos os sites que normalmente procuro, diz indisponível e esgotado! 
Como?? 
O livro só saiu este ano em abril e já não está disponível? 
Alguma sugestão?
Ideias?!?!?

Querido universo, fazes magia e conta-me como encontrá-lo?






Paixão por.

Henriqueta levantava-se todo os dias, mais coisa, menos coisa, pelas 6h44. Uma rotina estruturada, pensada, até ao vigésimo cabelo branco. Parava no mesmo café, dia sim, dia não: "Um café cheio, uma gota de leite, se-faz-favori."

Pegava na bicicleta. No cesto desta, uma mala com papéis arrumados, organizados por temas de importância do dia. Às costas, uma mochila simples com o que precisava diariamente:
- água;
- carteira;
- telemóvel;
- Tablet;
- escova...e mais 23 coisas fundamentais à sobrevivência feminina actual.

Henriqueta entrava pontualmente às 8h29. Saí tardiamente, sempre depois das 19h. Feliz no trabalho mas nos últimos meses, custava a entrar e uma vontade sempre muito grande de vir respirar ares de rua. Um sufoco claustrofóbico de estar presa e aquele ir e vir de todos os dias. Falta de sentir formigas a subirem-lhe pernas e braços a fora. Borboletas no estômago. Enfim, uma selva inteira adormecida nas entranhas dos seus pensamentos.

Henriqueta mandou tudo para o c... Foi ontem. Sem aviso prévio, nem postal de pagamento. Não entrou ao serviço às 8h29, nem às 8h30, nem às 9h, nem às 9h25.

Parou à beira rio que atravessava aquele lugar. Bicicleta para um lado. Mochila para o outro. No meio, ela. Olhou e contou todas as nuvens que passavam. Até se f-a-r-t-a-r.

Pegou num bloco que ia sempre na mochila. Um dos 23 itens fundamentais.

Título: Paixão por.

Paixão por correr descalça na praia. Paixão pela praia. Pelo cheiro, pela água. Por estar na areia a contemplar. A comer uma bola de Berlim. A ler. A rebolar.

Paixão por ler até que os olhos lhe doam.

Paixão por escrever. Uma, duas, três vezes. Sempre que a inspiração apareça, sem manda-la esperar, nessa sala de estar da imaginação e que tem medo, tanto medo, que de tanto a fazer esperar, um dia destes, a inspiração, se inspire dali para fora.

Paixão por viajar. Pegar na mala, na mochila, pegar num avião, num barco. No carro de empréstimo e meter-se estrada fora, água e ar a dentro, até que o corpo lhe peça sossego.

Paixão por noites de amor. Para que adiá-las?

Paixão por ter gente à frente, com ganas de trabalhar até que a alma doa e que vibre com ela, em cada aventura nova.

Paixão por todos eles.  Apenas estar com e neles. Os dela, os da tribo. Os de sangue, os outros também.

Henriqueta quer Paixão e quer agora. Porque é agora que ela está cá.