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Lupa


O tempo é diferente. Parece mais dilatado. Maior para umas coisas. Denso. A voar em muitos momentos. E há instantes em que surge um efeito de lupa, tudo maior, mais intenso. Quer para o feinho, angustiante, quer para o outro lado. Será depois, uma escolha possível. Escolher a lupa, onde ampliar. Num exercício diário, várias vezes ao dia. Colocar  a lupa. 
Cada um com a sua, com a sua realidade, com as suas pessoas, os seus olhares. Sem comparações. 
A beleza oculta, como uma vez ouvi que são as pequenas-grandes coisas que nos acontecem diariamente e que só um olhar treinado vai descobrindo. 
A-m-p-l-i-a-r. 




Precisamos de nos abraçar mais

Ontem ao fim do dia, entre passar roupa a ferro e começar a tratar do jantar, a Maria perguntou se podia ir jogar um jogo de tabuleiro porque ainda não tínhamos feito nada juntas. Num cenário lindo de novela, largaria tudo e ia jogar. Há dias em que é possível, ontem não dava porque sabia que daí a 40 minutos iam-me perguntar o que havia para o jantar e não lhes podia responder: jogo de tabuleiro! Então perguntei-lhe se queria fazer comigo, um bolo para comermos como sobremesa e assim estaríamos juntas a fazer algo. Concordou logo e foi tão bom aquele tempo de nós as duas. 

Semana passada, enquanto novamente passava a ferro, perguntei se queriam jogar um jogo de tabuleiro. Que eu tomaria as decisões e daria as respostas mas que pedia a ajuda deles para jogarem por mim. Estávamos os três juntos e divertimo-nos muito mesmo comigo com um ferro na mão. 

No outro dia, a Sónia Morais, do Cocó na Fralda, descrevia aqui um desabafo sobre as suas correrias de mãe com quatro filhos. Conciliar horários, esperas, levar uns a um lado enquanto, ao mesmo tempo, desenvolve o seu trabalho. Muitos dos comentários que recebeu foram de crítica de que, não fazia sentido queixar-se, que é uma privilegiada, que a escolha de 4 filhos ou de ser trabalhadora liberal era dela e que por isso não fazia sentido estar ali naquela lamuria. 

Na altura, comentei o seguinte:

"Um dia vamos ser uma comunidade de mães e pais que se apoiam. Que percebem que as realidades são todas diferentes umas das outras. Todas. Que todos fazemos escolhas diferentes. E que, temos tanto direito para nos queixar, apenas para a seguir continuar a fazer caminho. Deitar para fora faz bem. Faz bem à Sónia, faz bem a mim, faz bem a toda a gente. Torna-nos humanos mostrar a vulnerabilidade de cada um. Aceitá-la. Desejosa desses textos em vãos de escadas, a fazer o pino, a andar de bicicleta! A realidade da Sónia é diferente da minha e estou grata por essa partilha porque é possível retirar das suas aprendizagens aquilo que faz sentido no meu caminho. O resto pertence à Sónia.
Porque um dia, vamos ser uma comunidade de mães e pais que se apoiam.Independentemente, se têm empregada ou não, com bicicleta, carro ou triciclo, com avós/maridos/vizinhos a apoiar ou sozinhas. Abraço Sónia :)"

Esta semana vi este este vídeo da Megan Markl sobre a sua experiência na maternidade e como a simples pergunta de Como é que te estás a sentir? pode ter um impato importante na forma como nos vemos como mães e nos apoiamos. 

O vídeo foi postado na página poderosa da Rafaela Carvalho e para além dela, sigo mais um ou dois testemunhos de Mães, por coincidência (ou não) brasileiras e que abraçam a sua maternidade, abraçando a dos outros. São mães normais que partilham as suas fragilidades e conquistas, sem se sobrepor, nem vitimizar. A grande diferença de discurso e testemunhos que encontro aqui é menos julgamento e maior aceitação. 

Aceitação que há dias em que o leite vai entornar e o filho, vai com uma nódoa para a escola mas a sorrir. 

Aceitação que há dias em que em vez de uma sopa, conseguiu-se que comessem um pouco de verduras mas escolheu-se que o momento alto do dia era estarmos juntos ao jantar mais do que se recriminar porque não seguiu toda a tabela nutricional devida.

Aceitação que há dias em que não se conseguiu escovar o cabelo da filha e foi de toutiço mesmo, levou dois beijos bem dados nas bochechas antes de por a mochila nas costas. A recordação principal daquela manhã, foi o beijo da mãe. 

Aceitação que há dias em que se vai para a casa de banho, para o segundo banho do dia para chorar em paz, sem ser interrompida e mesmo assim, uma mão pequena vai bater na porta e diz: "Mãe, estás aí?"

Aceitação. Aceitar que em cada momento apenas fazemos o nosso melhor. Que o melhor de cada um tem a ver com a sua realidade, a sua história, o seu contexto. Menos julgamento, mais aceitação, mais abraços. Aceitar a sua realidade e a dos outros. Seja na maternidade ou em outra coisa qualquer. 

Porque um dia vamos ser uma comunidade de Mães e Pais que se apoiam.



Pais que Respiram
Porque (Em)Birras comigo? 
26 outubro - Sertã
29 novembro - Lisboa

Inscrições: abelpb@hotmail.com


Na próxima sexta

Uma das palavras que mais aparece na conversa com pais (e comigo própria...) é esta coisa das birras. Nem sempre se lhe dá este nome mas anda à volta disto:

Ela não quer fazer os trabalhos!
Quando digo para ir tomar banho instala-se uma guerra civil lá em casa.
De manhã, para o vestir, parece que o estou a enfiar dentro de um colete de forças!
A comida...já não sei o que lhe faça! Até tremo, sempre que vamos para mesa. Na escola dizem que corre tudo bem e aqui...
O telemóvel ou a televisão. Se pudessem, era o dia todo naquilo. Quando é para desligar, amuam e fica o ambiente lá em casa virado do avesso.
Chora e começa aos gritos no supermercado. 

Com mais ou menos drama e cor, quem nunca?

Então, na próxima sexta-feira, dia 23, na biblioteca municipal da Sertã, é mais ou menos isto que se vai passar. Mais ou menos porque está tudo pronto e planeado mas há sempre a margem boa de o barco da ação ir ao sabor de quem nela quiser aparecer:

" A melhor forma de encontrarmos as nossas respostas, é fazermos as perguntas certas. As que se adequam à nossa realidade, vivências e filhos em particular. Cada mãe, cada pai, cada filho tem o seu mundo em construção. As birras, dos grandes e dos pequenos são apenas mais um dos temperos das relações, que se querem, sobretudo, de afectos. Birras para todas as idades será um momento para nos divertirmos e descomplicarmos as situações tipo-vulcão que acontecem diariamente. Uma conversa à volta da mesa, com o sentido prático que este assunto merece."







Convite feito. 23 novembro, 18h :)
Inscrições (gratuitas mas necessárias):
na biblioteca municipal, pelo 274 604 227 ou abelpb@gmail.com