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Fica para a outra Vida



Julgo que nunca se falou tanto de produtividade, de sucesso, de metas e objetivos. Passou das empresas, para cada um de nós. E se cada um, não tiver, pelo menos 10 listas de sonhos-coisos-atividades-fora-da-zona-de-conforto para fazer, está vetado ao grupo dos mongos-que-não-chegam-a-lado-nenhum. Algumas redes sociais, com todos os filtros disponíveis também não ajudam muito porque parece que está tudo num estado de realização e busca pessoal constante, quase tipo nirvana. 

A pressão (irrealista) que isto coloca é assim ao nível, em alguns casos, do esgotamento. "E não sou tão bom como aquele. E não me levanto às 4h30 da manhã para correr/meditar/escrever/concretizar metas e objetivos!" 

Era apenas mais um sábado, em que, de modo contorcionista, tentava fazer uma das posturas da aula. Enquanto por lá estou, penso sempre que é uma aula muito democrática. Há quem faça yoga há vários anos, e ainda não se dobre à frente e há quem tenha começado há menos tempo e já o faça. É um caminho muito individual, em que cada um vai celebrando as suas conquistas... e está tudo bem. 

Por isso, estava a tentar, mais uma vez (das restantes 30 deste ano...), a suar em bica, tentar e dar o meu melhor, colocar o peso do corpo, em cima dos braços. E é mesmo só isso, uma tentativa porque a força destes bracitos-de-gelatina é o equivalente ao melhor esparguete italiano. Mesmo que seja o integral. É essa a força. Mas vou tentando uma e outra vez porque um dia vai acontecer. Aquilo tudo é uma boa lição de humildade porque ainda bem que não estamos virados para o espelho. Ver uma pose bem feita é lindo, já a tentativa do que é suposto fazer, é todo um outro cenário. Por isso, seguindo diligentemente as indicações da minha guru Sara, faz-se mais uma tentativa e outra. Por ter noção da figura bonita que estaria a fazer digo-lhe, em jeito de pedido de desculpa: "Estou a tentar. Para o ano consigo!" Ao que a Sara responde: "Ou fica para outra Vida!" 

E estou-lhe grata por isso. Não só para o Yoga, mas para uma data de outras coisas. Porque saiu-me um peso de cima. Libertou para me entregar não à meta final, mas àquele momento. Vou continuar a insistir para lá chegar, e sei que a Sara vai continuar a insistir para puxar o melhor de cada um de nós, mas está tudo bem fazê-lo sem relógio e muito menos, sem calendário. 

Sabemos que queremos chegar do ponto A, ao ponto B mas porquê essa pressão do tempo, das metas, dos objetivos? Sim, orientam as ações mas não pode ser ao ponto, de deixarmos de nos esquecer do caminho, do processo, da transformação que é precisa para lá se chegar. Sei lá se algum dia vou conseguir fazer a posição invertida da cabeça, por mais do 1,5 segundo, sem ajuda (e sabe Deus, Alá e todos os outros deuses, de todas as religiões, o que foi preciso, para chegar ali...); ou lançar um livro, ou correr novamente uma maratona, sem parecer um tomate maduro. Não sei. Mas sei que é bom fazer o caminho, o processo, aproveitar os avanços e retrocessos. Sei que é muito sábio saborear o caminho sem estar sempre a pensar na meta, na conquista em si. 

Não acredito em Vidas Futuras, não da forma que me quiseram impingir em miúda. Só sei que é libertador tirar o peso de tudo o que há para resolver, na perfeição nesta. Até lá, é saborear o caminho e dar o melhor. Se for nesta, é nesta. Senão ... fica para outra Vida.


Sobre o medo

Medo que ele ou ela não gostem.
Medo de falhar a voz, de gaguejar, de esquecer a fala, no momento, na hora, na deixa certa. Não existe o momento certo. Ou é, ou não é. É uma escolha.

Medo de não caber no vestido, nas calças, nas cuecas, naquela camisa ou t-shirt. Põe alguma coisa por cima desse corpo abençoado, de preferência a gritar cor, ou então sem cor alguma, desde que te faça rir, sorrir ou até gargalhar sobre ti mesma porque estás aqui e agora e o palco é este dia, este momento.

Medo de dizer que Sim, Sim, Sim porque o Não seria tão mais fácil. O não esconde o que já sabemos e agarra-nos no conforto (in)seguro em ficar a ver comboios passar. Passa um, passa dois, passa três... e nós ali, na estação a olhar. Apanha a merda do comboio e vai.

Medo de presentear-nos com um livro, um anel, um retiro, umas férias, um almoço ou dois. Presentear-nos com a vontade de merecer o que de bom e bonito a vida também tem.

Medo de segurar um gato, adotar um cão, abraçar um árvore sem saber as portas de amor que a cada passo existem, em cada ser que nos rodeia e que nos faz sentir que somos só uma energia da vida, que se renova a cada instante, num fluxo seguido de amor.

Medo de abraçar, de enviar uma mensagem, de dizer Amo-te, Gosto de Ti, de olhar nos olhos, de fazer um festa, de acariciar. 
Medo de acreditar, de sonhar, de voltar a tentar, de inspirar, de seguir em frente ou até de parar. De ouvir a voz de dentro, tão sábia, tão de sempre, tão de tudo.

Mudar o Medo por Eu Quero. E que comece mais um dia, mais uma semana.
Um Dia Feliz. T-O-D-O-S os dias. 




Imagem daqui.


Dos dias do avesso: jogo do Monopólio

Recebe-se uma chamada e o dia muda. Tiram-nos o tapete, leva-se com um balde de gelo em cima da mona ou um estalo a velocidade cósmica.

Quem diz uma chamada, diz uma sms, um mail, uma carta, um pombo correio. Algo que mude as energias vigentes do dia. Nessa avalanche de acontecimentos resta sempre e só, cada um. Competindo a cada um mudar o rumo desse seu vendaval. 

Ontem foi assim. Às vezes vai ser assim. Faz parte das regras do jogo em que depois de se ter comprado a rua Augusta e a estação de São Bento, ficamos de castigo na casa de prisão, por duas jogadas a ver os outros companheiros a passarem por nós. Enquanto por lá se está pode-se aproveitar para dizer mal do mundo inteiro e culpar o sistema, a política, as finanças, a chuva ou a falta dela. Tudo menos a si próprio. Ficar nessa casa parado, às vezes (muitas vezes) é um processo de aprendizagem, de pensar mais na resposta, de nos fazermos parte da equação. Enquanto por lá se está que se...

... Respire. Uma e outra vez. Não no sentido de sobrevivência mas naquele sentido de parar e apenas sentir o ar respirar, enquanto os milhentos pensamentos se obriguem a serenar. É que quando nos obrigamos a reduzir o ritmo da respiração, obrigamos os pensamentos a abrandarem o tempo a que correm dentro de nós. Estes pensamentos não ajudam. Apenas tentam atropelar-se uns aos outros.


... Olhe. Olhar com olhos de ver o que temos à nossa volta. O que é nosso e de tão bom e demorar nesse olhar. Seja para o gato de estimação, para aquela planta que andamos a cuidar, para a filha, para o companheiro de longa estrada. Seja que ser vivo esteja ao redor, parar para olhar para ele. E os pensamentos continuam a serem colocados no sítio porque nesse momento, a pirâmide das prioridades muda e o que tem realmente valor, volta ao lugar onde pertence.


... Ame. Primeiro por dentro para que depois passe esse amor para fora. É possível viver sem amor diário mas não se vive tão bem. Entre a escolha da amargura, da zanga, da raiva, que se escolha amar mesmo que às vezes pareça difícil e tão, tão desafiante. Mas que se escolha amar. Amar um pouquinho de cada vez, leva a muito amor, no fim. Merecemos viver em amor. 

E quando nos dermos conta, já é a nossa vez de jogar de novo. Ter paciência neste jogo da vida e acreditar sempre, que somos merecedores de o jogar. 




Imagem daqui.

Para aqueles dias

Sabes aqueles dias em que parece que nada anda?
Que por mais listas que se façam, está sempre tudo por fazer,
no trabalho,
em casa,
na vida em geral?
Em que parece que nada acontece, do que já devia acontecer? 
E olhando à volta toda a gente parece ter vidas tão mais interessantes, mais vigorosas, glamorosas, em que tudo parece encaixar?
Olha-se para trás e não se dá valor ao que já se alcançou?
Quando duvidas das tuas armas de combate, das tuas paixões, do que sabes fazer e queres tanto fazer?
Em que desanimas porque se lês,
se acreditas,
se voltas a acreditar para que tudo dê certo,
e nunca mais uma mísera luz aparece ao fim do túnel,
da estrada,
dos dias a dizer: "Vai dar certo?". 

Pois, precisamente esses dias. 

E então cai-te nas mãos uma pessoa bonita, que te dá com ternura, uma bofetada, em modo de carícia na face e sussurra: " Vai dar certo, sim." 

Para esses dias e para todos os outros.