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Dos livros e do (des)Cuidar

Foi neste sábado à noite. Ouço o telemóvel a apitar. Um mail. Àquela hora? Da Luísa. Não costuma escrever porque ela é mais de ligar. Um mail talvez preocupada que me apanhasse já a dormitar. 

A Luísa e eu vamos partilhando histórias, umas com mais finais felizes que outras, mas é sobretudo uma relação de partilhas. As de fora e as de dentro. São as de dentro que sempre nos levam muito longe às duas. Juntas ou em aventuras individuais mas sempre com o olhar atento da outra. 

"Tenho um livro, aquele livro, sabes? Que já li e reli muitas vezes. Em alturas do ano em que o coração aperta e a mente precisa de arejar outros ares, volto a ele. Volto sempre a ele. Umas vezes abro ao calhas. Outras sei exactamente o que preciso de reler. Como que em busca de um pouco de mim que se perdeu nestes dias de desassossego. Eu sei que gostas mais do filme com a Júlia Roberts mas eu cá gosto mesmo é do livro. De passar as folhas, de voltar a sublinhar o que já está sublinhado, em jeito de ir um pouco mais além do que por ali vai. 

Desta vez, de tão perdida que me encontro por dentro, pensei fazer o mesmo. Ir assim um ano por esse mundo a viajar, por dentro e por fora. 4 meses para comer, 4 meses para orar e 4 meses para amar. Depois percebi que não era preciso ir a parte nenhuma, que podia fazer tudo, mesmo aqui e começar essa viagem agora. Que precisava de um
tempo para cuidar do corpo,
tempo para cuidar da alma,
tempo para cuidar do coração. 
Porque me apercebi que andei distraída com tanta coisa que fiquei para trás e agora preciso de um mapa para me encontrar. Quero muito voltar a encontrar-me no ponto onde já estive, sabes? Se já lá estive é possível lá voltar, não te parece? Por isso, não sei bem como mas vou começar nesta viagem para mim mesma. 

Logo te conto."

E foi isto. Gosto muito da Luísa e só espero que ela encontre o seu caminho de volta. 



Imagem daqui.


O Peso das Coisas

Era uma fatia triangular. De um chocolate vivo e brilhante. O creme, também ele de chocolate e de frutos silvestres, a escorrer pelo prato a fora, à procura de um espaço para se destacar, no meio daquela tentação doce, quase pecaminosa, a gritar em suplício para ser devorada.
Dá-se uma primeira trinca e mais outra. As seguintes, já em sufoco surdo, fizeram desaparecer aquele pedaço de mau exemplo às boas regras de nutrição.
Fala-se, escreve-se e publica-se muito sobre comida: blogues, programas, medicamentos, tratamentos e afins, a comida é esmiuçada até mais não. Quase até às partículas ínfimas de um átomo.  E se elas são pequenas! Fazem-se muitos sacrifícios, em prole de uma vida saudável porque hoje as tentações são mais do que muitas e ao virar de cada supermercado, pastelaria ou loja de comércio alimentar. Longe vão os tempos onde apenas se estava rodeado de árvores de fruto e umas quantas hortas. Agora está tudo tão à mão (e quem se terá lembrado de colocar à venda pastéis de nata e outras delícias da pastelaria, mesmo ali perto das caixas de pagamento?!?!) que  é muito mais difícil de resistir.
E aguenta-se, aguenta-se muito para um corpo mais são. Ainda bem. Mas também se coloca muito peso nas coisas. “Ai que respirei o ar desta tarte e estou a engordar!” A comida acaba por ser comida mas a culpa é tão grande que todo o encanto natural de se ter algo genuinamente bom à nossa frente, desaparece. Nesse dia, para além de calorias a mais, também se ingeriu, ressentimento, culpa, desvalorização…tudo o que tira a graça a algo tão simples como é comer, saborear.
Que seja uma vez por outra, que o pecado da gula entre pela goela adentro, mas se for para pecar, que se peque em consciência, se entenda que é um ato isolado, e que comido com prazer alimenta partes nossas que não o corpo. Como tudo, feito com parcimónia, na medida certa, só pode fazer bem. Os malditos pesos de consciência, sejam sobre a comida ou outras maleitas qualquer, atormentam feitos abutres o nosso equilíbrio e bem-estar. Por isso há que dar-lhes o devido peso, sem exagerar.
Toda esta conversa deu cá uma fome…com juizinho mas com vontade!