Há um ano

Na véspera do meu aniversário, estava aterrada no sofá ao fim do dia. Miúdos deitados e por isso a aproveitar aqueles vinte minutos, em que ainda me mantenho acordada e com alguma lucidez. A Mia saltou para ao pé de mim e ficou a fitar. E eu fitei-a também. E nesse instante faço uma viagem de 365 dias. 

Há um ano não tinha uma gata em casa. Aliás, sempre disse que não iríamos ter animais porque ia dar mais trabalho, porque não cresci com animais e não sabia o que lhes fazer. Um ano depois, estava a alimentar uma gata de dias, com seringa de leite, na esperança de a manter viva. Aninhei-a ao colo para que ela pudesse sentir o calor, substituindo um início de vida sem mãe. 

Há um ano estava longe de imaginar que ia correr uma maratona. Mais, que ia arranjar forma de me preparar minimamente para uma, que ia sair do país para o fazer, que ia começar e atravessar a meta. Pelos meus dois pés. 42,195km. 

Há um ano tinha o sonho e a vontade de continuar a ir de mochila às costas com eles e irmos descobrir novos horizontes. Então um dia, lá fomos de novo. E o sorriso deles, compensa tudo o que é preciso poupar e fazer, para lá chegar. 

Há um ano tinha a vontade mas a pouca certeza de voltar ao yoga e muito menos à meditação. Ainda longe de fazer grandes acrobacias com o corpo ou com a mente, mas mais perto de respirar cada vez melhor. No yoga, nos dias e na meditação. É um caminho que tem tonalidades tão ricas, quantas as entregas que se queiram fazer. Com pessoas de luz que partilham deste caminho, guiadas pela mestre Sara e o sábio luminoso Tomás. Que caminho poderoso este e que descoberta que tem sido.

Há um ano queria voltar ao Pais que Respiram, aos encontros com quem quer insistir em ver uma outra forma de olhar o seu amor e entrega como mãe, como pai, como educador. Agora o verbo querer, conjuga-se no presente e o queria, transformou-se em vai acontecer. 

Há um ano estava longe de imaginar que amizades em suspenso voltaram a encontrar-se, por motivos tristes mas verdadeiros e cheios de amor. Descobri que a amizade e o amor, não se guiam por calendários ou relógios. Acontecem e vivem-se quando têm que ser, quando são precisos ou porque a força que os une, assim o faz acontecer. 

Há um ano atrás não imaginava que algumas pessoas iriam partir e isso dói. E na mesma proporção recebi notícias de que pequenos seres que estão para chegar e fizeram-me encher os olhos de alegria. São os balanços e ciclos.

Num ano cabem tantas vontades, tantos imprevistos. Haja um abraço para os receber e um coração grande para os guiar, naquela sabedoria que os anos vão trazendo. Estou grata aos 42, com todos os momentos doces e os outros. Os outros que fizeram crescer, puxar, quase desistir mas afinal vieram para ensinar. 
Venham os 43. 


Imagem da Skyla Design

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