Chegou à cozinha.
Olhou para o relógio.
Começou a tratar dos pequenos-almoços: ovos e torradas. Leite e Iogurtes. Fruta.
Olhou para o relógio.
Rapidamente deu um jeito à loiça que ficou a secar.
Olhou para o relógio.
Acabou de tratar dos sacos para aquele dia: lanches, o almoço dela, a pasta de papéis.
Olhou para o relógio.
Um nervoso miudinho a acompanhar aqueles ponteiros que tiquetecavam-lhe a cada passo em que tentava ganhar a corrida. Umas vezes sim, umas vezes não.
Gostava de tudo o que fazia, só aquele relógio que não parava de lhe atormentar o raciocínio e às vezes até os afectos.
Mas hoje não, hoje é sábado ou domingo ou feriado. Hoje ele pode andar à velocidade que queira. Até colocar duas horas, numa só. Hoje o tempo pertence-lhe e aos dela. Do que mais gosta nestes dias é a lentidão com que pode saborear os momentos. Conseguir olhar para os olhos deles e ouvi-los rir ou a queixarem-se. Pedir-lhes com infinitas paciências algo para fazer, e que já sabe que vai vir acompanhado com um lamento qualquer. Gosta particularmente de não ter que os apressar, de os deixar namorar uma folha vazia que se vai transformar em muitas cores ou ouvi-los no silêncio a viajar nos livros, ou ainda a correrem um atrás dos outros.
Não olhar para o relógio. É esse o plano para hoje.
Sem comentários:
Enviar um comentário