Limites

Às vezes nem legenda dá para colocar. Nem texto. Poucas ou nenhumas palavras. Às vezes é um desassossego de fora, mesmo que termine em bem, que desassossega por dentro.

Às vezes não dá para mais. Mas dá para ficar quieto, no silêncio... logo que deixem. 

Às vezes é só isto. E faz bem. 









A eles.

Há uma série de anos atrás, ouvi um grande sábio-filósofo-da-vida dizer que amigos a sério, a sério, os contava pelos dedos de uma mão. Um sábio com o nome de Raúl Solnado. Uma frase que na altura me intrigou e que na ingenuidade de quem ainda tinha pouca estrada percorrida e com ainda menos sobressaltos, achou tudo aquilo um exagero. 

Vários (bastantes...) anos depois, confirma-se a verdade. Nas curvas dos dias, são poucos os que realmente estão lá. Não tem mal, não há mágoa nestas palavras, a realidade é como é. A aceitação dos outros, passa tanto pela nossa própria aceitação de erros e limites. Cada um dá o que lhe é possível dar. Cada um de nós, faz o mesmo. 

Uma gratidão por todos aqueles que ficam por perto, mesmo estando longe. Os duros. Grata por eles. 








A vida num improviso

Estava sol por isso era de aproveitar nestes dias de inverno tardio. Uma mochila às costas, petiscos simples, caseiros e bons para um almoço improvisado. Quatro pares de pés em caminho, numa aventura sem grandes planos de antecipação que são os que correm melhor. Deixar a vida de improviso. 

Apenas lhe dissemos que íamos fazer uma aventura e escalar uma montanha alta. A maior, pelo menos que se vê aqui de casa. Um cenário privilegiado, com muito verde sempre e água, onde a onde a salpicar a paisagem, ora em forma de riacho ou de ribeira. Água boa para escutar, como lhes pedimos para fazer, tapando os olhos: "O que ouvem?" 

A água da ribeira!
Os pássaros!

Mais um pouco, cada vez mais a subir. Uma paragem, várias (muitas... mas que importa?). Para apanhar espadas pelo caminho e sabres de luz.E flores. "Já viste esta flor mãe? Colhi para ti! E quando chegamos? Ainda falta muito?"

Está quase, está quase. 

"Ó mãe, já viste esta vista tão bonita...!" E enche-se o coração pela capacidade de contemplação que vão aprendendo e que nós reaprendemos com eles. 

À vinda, na descida, por entre o arvoredo, um pequeno riacho que é preciso passar e uma ponte meio improvisada e que vem dar um colorido bom a esta aventura: "Ai tenho medo! E se não sou capaz?" Sãos e salvos, pedem, quando chegam a casa se podem brincar só mais um pouco antes dos trabalhos e sestas. Cedemos em 5 minutos que se esticaram para quinze. Brincam, num forte, improvisado, feito por eles, na sala, com mais de 10 mantas e cobertores...

A vida num improviso. Tão bom. 













Diz que faz bem 1#: hibernar




Hibernar até que dê tempo de acordarmos para o que nos interessa.
Hibernar para curar feridas.
Para descobrir qual o rumo a seguir, no passo a seguir.

Hibernar porque é sempre uma boa desculpa ficar quieto e ver os outros passar. Às vezes faz bem. Diminuir o aceleramento. Respirar. Viajar dentro de nós. Recuperar forças. Perceber e responder a uma data de perguntas à muito adiadas. 

Ficar ali e diminuir o ritmo da vida. Desacelerar o coração, obrigá-lo a parar um pouco, deixar-se de queixumes e lamurias. Que quando ele pára só lhe faz bem. Às vezes ele corre demais, sente demais. Precisa de sossegar, de respirar em conjunto com os pulmões e perceber o bom que é sentir tomando-lhe o gosto, saboreando as frações do tempo, os gostos e desgostos. Com os desgostos também se dá tempero aos dias, horas e desalinhos da vida. Até que se tenha forças e luz para voltar a acordar, para os dias de sol. 

Hibernar. 


Imagem bonita daqui.






A vontade quando é mais forte

Esta coisa começou mais ou menos há alguns anos. Veio por curiosidade. Foi-se instalando pela espreguiça de um corpo que pede a paz de cada vez que lhe pedem para chegar para lá do que nunca pensou em fazer. 

Primeiro com professor, com aulas e onde seria tão mais fácil continuar, não houvesse ainda as condicionantes dos horários e de nem sempre ser fácil conciliar. Sim, com um livro à frente também cheguei a fazer. Até grávida da minha mais nova. Até que a professora, já nós de 7 meses, disse que talvez fosse altura de sossegar e dar ao corpo descanso (e ao bebé...) que aquilo já não eram propósitos para uma barriga espetada e atrevida. 

Anos depois a vontade persiste. Nestas voltas de encontrar uma solução para os pedidos do corpo, que aqui encontra uma forma de regressar a uma origem qualquer. Não sei. Às vezes parece que sempre fiz isto, que aqui me encontro. 

Não querendo desistir desta ideia pus-me a procurar e encontrei este canal. Estou há quase 3 meses para concluir este desafio de 30 dias mas já falta pouco. Para quem nunca fez é simples para começar, tem noções básicas e é muito explicativo. Para quem já tem algumas noções é passar alguns dias para frente que começa a ser mais desafiante. E depois há também a escolha de outros vídeos: yoga para dores de costas, dias difíceis, para o final do dia... enfim, é só escolher. 

Isto tudo só para dizer e reforçar que em querendo se encontra forma de lá chegar. Pode não ser logo quando a vontade nos impulsiona mas em querendo, em sonhando, em procurar o que nos faz sorrir por fora e na alma, persistindo, com a calma dos dias como se quer ou à velocidade que o coração dita, chega-se lá. E eu sei, que um dia lá vou chegar. Com, ou sem pedido ao Pai Natal.


Namasté.









Que título?

Por motivos de trabalho é precisar pesquisar muito, conhecer histórias novas, gentes por esse mundo fora. Há uma vontade de descobrir o novo, compreender um pouco mais a alma e a vontade humana. Seja ela boa ou ... sem possibilidade de ser qualificada.

Há realidades tão distantes, frias, tão irrealisticamente verdadeiras, que a simples leitura cria náuseas, uma sensação no corpo muito forte. A mente quer rejeitar, aquilo que os olhos lêem. Mas são verdades, aconteceram mesmo. 

Duas histórias para ler, aqui e aqui. Um livro que é preciso ler e não sei bem como. E se Yeonmi Park descobriu uma razão para viver, muito sentido fará que cada um dos restantes de nós, a descubra. E se não for possível chegar ao deserto da Coreia do Norte, que se comece ao nosso lado.

Pensei muito se faria sentido colocar este discurso aqui. Pela dor, pela crueza real. Não divulgar é um pouco como não passar a palavra. E é preciso passa-la muito e bem alto. Haja liberdade para ver ou não. Ficará ao critério de cada um que felizmente a temos. 



Em balanço do dia de hoje este sentimento de gratidão por tudo o que se tem, umas coisas mais garantidas do que outras é certo, mas gratidão. Muito mais do que tudo o que se possa ainda vir a ter, é compreender e sentir tudo o que já se é e se tem. Fazer uma lista de três coisas pelas quais se estar grato. Tão, tão simples. Estar grato no presente, seguindo em frente. Perceber que podemos todos fazer mais e melhor. Todos os santos dias.






Porque é 2ª - 2#

Para hoje, para amanhã, para os despois-despois-despois-de sempre.




Imagem daqui.

Indignação em forma de factura

Hoje chamara-me de distraída.
Não foi bem desta forma mas foi como se fosse. 
E aquilo aborreceu-me assim até às entranhas.
Certo e sabido que não sou um ás nos papéis. Que se puder fazer o pino (que ainda não sei fazer mas chego lá) em vez de tratar de facturas, papéis, IVA´s e organização de papeladas, eu faço. Até faço o pino invertido e aos saltos. 

E fiquei a pensar porque me aborreceu aquele comentário cru. E lá descobri. Tal como muito boa gente, levanto-me muito cedo, todos os dias. Não há cá mordomias de quem me passe roupas a ferro, ou limpe a casa. Trabalho muito, muito fora e dentro de casa. Cuido de duas crianças lindas que estão a crescer bem, penso na alimentação deles, se vão bonitos e limpos, se andam felizes. Não o faço sozinha, eles têm um pai presente e eu um companheiro ao meu lado. Trabalho muito, muito fora de casa, nem sempre nas melhores condições neste país que temos, que gosto muito mas que detesto em igual proporção nas suas particularidades de deixa andar e cuida pouco, de quem faz muito, muito. 

O meu trabalho é olhar pelos outros. Amo, profundamente, tudo o que faço. De paixão e entrega. Sei que, havendo dias de oscilações de desempenho, sou atenta aos outros. Cada macaco no seu galho. O meu galho é este. Por isso, sou distraída sim, com os papéis, mas não me tomem por distraída em todo o resto. E agora estou a imaginar um palavrão grande. Cada um que imagine o que quiser, deixo isso à liberdade de quem lê.

... (palavrão!) os papéis e papeladas!!!

E sim, boa semana!

P.S.: Eu...um dia destes.





Zoom

Puxa para a frente, para trás. Foca e desfoca.

Muito pormenor, ou só um deles. Os pormenores, os temperos dos dias.

E só quando se vê o quadro todo, é que todo o quadro faz sentido. Como os dias, os momentos, as fases. 

Este livro bom, visto hoje, em jeito de sobremesa a seguir ao almoço. Eles gostaram e eu também. 












Sshhhhht, escuta.

As vezes há tanto para dizer e os dias calam-nos.
Calam-nos com as suas urgências e importâncias. 
Muitas vezes que não são as nossas e que sem que nos apercebamos, nos caem em cima em magotes.

Há dias para silenciar os dias e apenas ouvir o que ele nos tem para dizer. 
Porque todos os dias, o dia tem algo para contar. 
Há dias para ouvir. 
Como o de hoje.








Florinda com a Laurinda e o Roberto.




Florinda a fazer-se de difícil e em pose de contemplação gaivotal.




A minha amiga Florinda.

Mais uma verdade

Há gente que sabe do que fala. Do que pensa. Do que nos põe a pensar.

Estes senhores sabem. 

Tão boas as imagens, as mensagens.

Mais uma verdade.

Para ler aqui.



Ser menina no século de hoje

A conversa começou mais ou menos assim:

- Então este ano, queres mascarar de que?
- De Faísca!

Fiquei a pensar, em silêncio.

- Não é bem de Faísca, estás a ver... era mais piloto de automóveis!

Continuei em silêncio já a pensar como arranjar um capacete com o tamanho adequado.

- Ou então... astronauta!

E eu já a ver o papel de alumínio cá de casa a entrar em ação.

- Ou aqueles senhores que fazem filmes, sabes? 

Na minha cabeça, uma máquina de filmar feita em cartão já a ser magicada.

- Mas o que eu queria mesmo, mesmo era de Pirata!!"

E assim foi, com espada, chapéu, calças, camisola, com tudo a que tinha direito! A minha filha de 4 anos. Esqueçam-se as princesas e folhos e brilhantes. 

Já no carro perguntei se era mesmo aquilo que queria levar. Com o seu sorriso tão doce e determinado disse que sim! 

Esta cena da vida doméstica fez-me pensar um pouco nisto de ser menina, e de se ser, sobretudo criança, independentemente de ter pilinha ou não. O bom que é eles poderem escolher e descobrirem-se como querem realmente ser. Nos muitos modelos que lhes impingimos (sim, sim...eu certifiquei-me mais de algumas vezes se não preferia ir de Elsa, ou Ana, as princesas famosas do filme Frozen, ao que sempre me respondeu que gostava até mais do Olavo...um boneco de neve simpático e prestável!) e nesta coisa boa de lhes podermos dar a conhecer tantas outras alternativas que não só as mais evidentes.

Gosto particularmente do trabalho desta mãe fotógrafa que pediu à filha para "vestir" a pele de 5 Mulheres Famosas e que contribuíram para um mundo melhor e mais colorido, por altura do seu quinto aniversário.

E que se pode ver tudo aqui.



Tão bonito, não é? Não tão bonita quanto a minha pirata, mas bonito e inspirador.

Outras leituras que não as normais e só de princesas, até porque na vida real, há muito poucas, para ver neste site delicioso.

E por fim, este anúncio tão bom e que nos faz pensar, nisto de se comportar como uma menina e que, quer se queira, quer não, ainda existe. 
Para pensar. 
Para fazer diferente.
A bem delas, a bem de todos nós. 






Todos os dias


Todos os dias, à mesma hora.
Punha os chinelos no sítio. Calçava lentamente os botins. Primeiro o esquerdo. Depois o direito. Os pés, protestavam com o cheiro da borracha escura, onde faltava o pêlo dos chinelos, a quentura do tecido aos quadrados. 

Olhava para o relógio. Estava na hora. Punha a boina. O dia estava de sol de inverno, mesmo sendo Verão. 
Um dia claro, um calor que escaldava. 
Um frio por dentro, de quem lhe faltava. 

Pegou no gato, em jeito de novelo e aninhando-o no meio da manta, no parapeito da janela, pouso-o com uma festa na cabeça. O gato esticou-se e lambeu-lhe a mão, como que a limpar as sujidades das saudades que lhe saiam da pele. Uma saudade que o fazia sair, sempre aquela mesma hora.

Desce a rua. Passo lento. Coração acelerado. Por mais que fizesse concorrência aos caracóis do quintal lá de trás, o coração sempre acelerado com a aproximação do paredão. 
Inspira, 
expira,
inspira,
 expira, quase ao ritmo da ondulação. O coração, não quer saber e solta a saudade por todo o lado e quase não lhe cabendo no peito, lança-se a descompasso, e acelera o ritmo de viver.

Senta-se. Levanta-se. Num ritual ensaiado há mais de largos meses. Uma saudade que lhe arrefece a alma, com calor que esquenta a face. Olha para o longe, mais longe que o mar alcança. Um dia, um dia, naquela mesma hora que partiu, há de chegar. Quem sabe, será hoje, será amanhã? 
A esperança é certa,
do tamanho dessa saudade,
que lhe aperta,
e ao mesmo tempo lhe dá alento,
neste sustento, de quem ama de verdade a ...

Foto desta página bonita - Darkroom.






Porque é 2ª: 1#

As segundas podiam também ser às terças. É diferente quando definimos o ponto de arranque. Às vezes já se vai na quinta-feira e ainda se sente que é para aí domingo à noite, com pouca vontade de fazer seja o que for.

Há palavras sábias que vêm com o tempo. Uma dimensão grande que se vai apoderando e por vezes, sobrepondo a nós.

Sei que o amor é importante. Tanto que às vezes nem se sabe muito bem, porque ponta começar, na mistura de amores que andam por aí: os dos filhos, do amante, namorada, do cão e chimpanzé, por estranhos, e o amor por nós

Uma certeza vai-se tendo por aqui, mesmo com todo o trabalho, persistência, enlouquecia, loucura, tristeza, gargalhada, risos ou não, com choro e desilusões, com amor, faz mais sentido. Tudo. 

Porque, por acaso é segunda, da primeira semana, do segundo mês, deste ano.

Feliz fevereiro. 



Imagem aqui.