Vamos Cuscar 26#

O Mário, ou Marinho (ou ainda Borracha...) como a maior parte dos amigos o chama, é de sorriso aberto, rasgado. Entre a provocação e o humor perspicaz é raro não dizer um Olá ou um Bom dia, a quem se cruza com ele. Está lá, de corpo e alma, para quem precisa. Fazia parte do grupo de amigos das saídas à noite há já... uns anos largos. Melhor nem fazer contas. E daquele outro grupo de bombeiros, formados no calor daqueles anos em que nada os parava. Uma colheita e escola rara, dirão muitos deles, que com ele, andaram em fogos que vão deixar, para sempre, marcas. Principalmente as da força e espírito de grupo. 

Escolheu fazer parte da PSP há 21 anos e entre os vários sítios por onde passou, está neste momento na região da Nazaré. É um dos muitos rostos anónimos que está (ainda mais) na linha da frente destes tempos tão desafiantes. 

Cruzamo-nos muito menos agora mas a simpatia franca, descomplicada e genuína continua lá. Vamos cuscar o Mário?






Idade: 46
Naturalidade: Sertã
Comidas preferidas: Bacalhau à Brás / Cozido à Portuguesa
Um livro a não perder: Polícias sem história de Francisco Moita Flores!
Um sítio de sonho visitado e outro de sonho a visitar: Cuba e gostaria de visitar Zanzibar.










1.Em miúdo já brincavas aos polícias e ladrões?
Sim, bastantes vezes!

2.Em que é diferente ser polícia agora e quando começaste?
É diferente em tudo!
Diferente o respeito que o cidadão tem pela autoridade, diferente o sentido de cidadania das pessoas, diferente o modo de policiar e intervir com as pessoas.
As pessoas hoje em dia são donas da razão e conhecem sobretudo os direitos, já os deveres nem tanto! Nas intervenções com os cidadãos, os Policias de hoje têm de estar cada vez mais munidos de argumentos e conhecimentos para fazer ver as pessoas o lado da razão e da lei.



3.O teu trabalho passa por gerir e lidar com pessoas em situações, muitas vezes, carregadas de emoções fortes. Como mantens a calma e a lucidez nesses momentos?
Não é fácil porque todos nós temos condicionantes psicológicas e estados de espírito menos bons. Ao longo do tempo crias as tuas próprias defesas para não deixares que as situações que encaras, te afectem e consegues ter a clarividência e focar no objectivo de resolver aquele problema específico, sem complicar, sem ficar a pensar mais que o necessário.


4.Deve haver também muitos momentos felizes. Partilhas um?
Os momentos mais felizes são aqueles em que há um agradecimento sincero de um cidadão, às vezes basta uma palavra, um “obrigado” e ficamos de coração cheio.
Mas lembro-me de um episódio que me marcou, porque de certa forma eu e o meu colega fizemos a diferença e ao mesmo tempo houve um reconhecimento generalizado da população. Passou-se em 2008, no primeiro verão que fiz serviço na Nazaré. Tratou se de uma tentativa de suicídio, onde uma jovem no cimo de um precipício, se encontrava na eminência de se atirar. Fomos accionados para o local e com alguma paciência, provocando a distracção da visada, foi conseguido através de uma acção arriscada, resgatar a cidadã, teve um final feliz… Nos dias seguintes era abordado na rua por cidadãos anónimos a dar-me os parabéns pelo modo e o risco que teve a acção. Saiu um artigo com foto da situação em que a legenda dizia em relação ao polícia daquela foto “Herói do dia, herói de uma vida”. Isto são situações que nos preenchem!
 


5.Lidas com pessoas diariamente. O que continua a surpreender-te nas pessoas?
Não deveria surpreender, mas surpreende-me que ainda há pessoas boas, com bom íntimo, com algum grau de pureza! A generalidade preocupa-se apenas com as suas convicções ou a ausência delas e cada vez com mais extremismo. 


6.Como retemperas forças, nos dias de folga?
Estar com que mais gosto dá-me paz e o equilíbrio, voltar à minha terra dá-me tranquilidade, estar com as minhas gentes faz-me bem!




7. Um dia de trabalho teu, é cheio de incertezas. Quais são as certezas em que te apoias para manteres a tua boa disposição?
Não penso no que tenho pela frente! Mas encaro todas as situações como uma ameaça real, posso pecar por excesso. Mas sei que é uma das formas que vai fazer voltar para junto de quem mais gosto.


8.Na tua opinião, o mundo onde te movimentas, ainda é um lugar seguro?
Sim é sem dúvida um lugar seguro, mas na minha profissão a segurança é relativa, basta uma fracção de segundo e tudo muda






9.Como profissional, que está na linha da frente deste momento tão desafiante para todos nós, que mensagem nos queres deixar?
Que as pessoas tenham respeito umas pelas outras. E que sobretudo respeitem o trabalho e as indicações daqueles que por desempenharem profissões mais expostas a este perigo, não se podem resguardar a si e aos seus.  Que aproveitem o momento de pausa e façam uma reflexão do comportamento em sociedade e relacionamentos interpessoais.

10. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
Parar para respirar…




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