Uma lupa, uma simples lupa e fica resolvido.
Traz-lhe uma torrada. À vista desarmada é apenas um pedaço de pão. Com uma lupa vê o cuidado com que o cortou, colocou uma dose exagerada de manteiga, que já sabe que vai reclamar mas que gosta. Com uma lupa vê ao pormenor o sorriso rasgado que faz, quando lha traz, cheio de orgulho e carinho.
"Olha aqui, fiz-te um bilhete!" Um quadrado de papel com um esboço de desenho. À lupa sabe o amor e a dedicação que ali está, a surpresa que faz questão em fazer, de chegar de mansinho, num sussurro e entregar-lhe à socapa, aquele pedaço de cor.
Abraça-a enquanto faz o jantar e pergunta-lhe como correu o trabalho. Vira-se e diz que gosta muito dela. Tem mais 20 escandalosos cm, que se atreveu a crescer nos últimos dois anos. À lupa sente o carinho, o conforto, daquele abraço agora maior do que ela, em papéis invertidos de um corpo em mudança.
Passar os dias à lupa, faz-nos encontrar momentos valiosos, instantes gigantes, demasiado preciosos para os deixarmos escapar, no barulho dos dias. Treinar o olhar. É disso que se trata. Olhar para lá do que aparece.
Mais lupa, por favor.
P.S.: Sou-vos grata J.M.J.
Imagem daqui.