Sair da zona de conforto é dito como sendo importante para nos obrigarmos a crescer, reinventar ou desenvolver.
Por outro lado, estar ali no bem bom do nosso canto tem um sabor particular e seguro porque, na maior parte dos casos, demorou-se a chegar ali. Conhecem-se os cantos e manhas e vai-se demorando nesse aconchego bom do que já se conhece. Às vezes é até fundamental para respirar-se e ganhar forças. Por isso, deste lado, sou adepta deste género de sofá e de me manter, de vez em quando, em zona segura que respire tranquilidade.
As zonas de desconforto fazem dar uma volta maior, obrigam a perguntas e, melhor ainda, a encontrar novas respostas para situações que nem sabíamos que existiam. Há tanto por descobrir para lá das nossas fronteiras interiores. As maiores viagens são essas mesmas. Viagens que nos levam fundo cá dentro. Às vezes mergulha-se tanto nas nossas águas, que até parece que nos falta o ar. Só que não. Foi apenas um momento de fechamento de si e para os outros, para se voltar a encontrar o norte cá de dentro.
Sair da zona de conforto, sem saber muito bem o que vai acontecer a seguir faz-nos estar mais alertas e por isso todas as aprendizagens são potenciadas. Tudo é novo e ao mesmo tempo tentamos encontrar forma de responder com o que já aprendemos há muito. E se há algo a retirar desta última semana em que nem tudo foi perfeito e o foi ao mesmo tempo, foi isso mesmo: Está tudo bem. Permitir sentir isso mesmo, sem exageros, aceitando cada dia e possibilidade. Está tudo bem. Mesmo que não esteja, perceber (e sobretudo sentir) que faz-se o melhor e o resto é o que está a acontecer e abraçá-lo com a sabedoria do caminho já feito.
Tinha o sonho de os levar, pela primeira vez numa viagem maior. Finalmente, foi possível. Não foi perfeito porque o pai não conseguiu ir mas está tudo bem porque ele esteve presente de tantas e variadas maneiras.
Não foi perfeito porque houve os muitos cansaços de caminhar e explorar mas está tudo bem porque aprendemos os três, a ouvir-nos melhor e estar mais atentos às necessidades uns dos outros.
Não foi perfeito porque choveu e está tudo bem porque vimos que apesar da chuva, bicicletas continuaram a rolar e passeios a serem feitos. É apenas e tão só, chuva (como muitas outras coisas chatinhas da nossa vida).
Não foi perfeito porque todos os dias queria estar em discurso positivo, aos queixumes de sono-fome-cansaço-birras (deles e meus) mas está tudo bem porque como mãe sei que fui muito longe ao estar sozinha, no meio de algures, com os meus tesouros. Na maior parte dos dias, era só eu e eles. Estão tão crescidos e ajudámo-nos uns aos outros... Respirei muitas vezes fundo e eles ficavam a olhar e respiravam também até que passasse, do meu, ou do lado deles. Foi sobretudo isso, um tempo de treinarmos os tempos e vontades de cada um.
Não foi perfeito porque apesar de querer interagir e dar opiniões, não me entendo naquela língua cerrada mas está tudo bem porque pude ouvir muitas histórias de quem teve a simpatia de as partilhar em inglês e, mesmo com as minhas modestas frases de primeiro ciclo, foi bom apenas deixar-me estar.
Não foi perfeito porque ficou muito por visitar mas está tudo bem porque a maior visita foi a que fizemos a casa destes nossos amigos, que nos receberam com um amor imenso, partilharam os seus dias e as suas vidas e me ajudaram a tapar feridas que teimavam em sarar.
Foi um verão muito diferente do habitual, de desassossego vá-se lá saber de que águas profundas. Mas está tudo bem. Está mesmo. Porque a maior viagem é a que fazemos de dentro para fora de nós e sair da zona de conforto é ainda uma das melhores formas, de nos expandirmos, para lá fronteiras: as nossas.