Há quem oiça vozes do além.
Eu oiço, muitas vezes, a voz da Sandra. Não porque ela grite muito lá em casa dela para mim, distam-nos mais de 200km mas porque a Sandra é pessoa para deixar sementes em que se cruza com ela. Mais do que respostas, deixa perguntas e num gesto bonito de humildade e de sabedoria, faz-nos chegar às respostas de cada um. Não há certos ou errados. Há as nossas respostas. E está tudo bem! Uma das frases que trago dentro de mim, passada pela Sandra.
Numa altura em que estamos todos limitados, mais do que nunca, a encontros digitais, foi precisamente assim que me cruzei com a Sandra: na formação online de Coachgin Parental para profissionais. Passados vinte anos de trabalho e experiência, encontrei aqui uma linguagem que já há muito colocava em prática e que ficou cimentada. É que as teorias só fazem sentido quando as podemos colcoar em prática. Senão são só um conjunto de livros e folhas a ganhar pó nas estantes.
Temos em comum, o respeito pela sabedoria dos pais, pelas suas competências, muitas vezes escondidas e pouco valorizadas e acreditamos também que quando se apoia uma mãe ou um pai a encontrar o seu melhor, os resultados passam para os mais novos e todos ficam a ganhar.
Vamos cuscar a Sandra Belo?
Idade: 49
Naturalidade: Lisboa (mas com costela
de Castelo Branco – materna e paterna)
Comidas preferidas: todas! Adoro
cozinhar e adoro comer. Tenho imenso prazer em inventar receitas. Gosto muito
de salgados.
Um livro a não perder: tenho muitos, é difícil escolher. Mas gosto muito “A cor dos sonhos” de Josep Lopez Romero
1.
A vontade de ir para Londres, com três crianças, na altura com 6, 4 e 2
anos, surgiu a partir
de que necessidade?
Situação
profissional do ex-marido: desde Abril de 2006 que ele tinha começado a estar
fora do país. Surgiu a oportunidade de nos mudarmos para Inglaterra, há muito
que desejávamos ter a experiência de viver fora.
2.
Quando regressaste de Londres, o que trazias na
tua mochila de mãe e de psicóloga/coacher?
Muitas
coisas que guardo e recordo até hoje.
Trazia
o conceito de “coaching parental” por explorar – descobri esta abordagem num
boletim escolar que veio na mochila de um dos meus filhos.
Trazia
uma forma de viver mais descontraída, os encontros de mães nas bibliotecas com
os filhos que estavam em casa.
Trazia
uma forma de aproveitar mais o tempo e o que a vida me vai dando.
Trazia
uma experiência de solidariedade e de uma aprendizagem relativamente a confiar
em quem acabamos de conhecer.
Guardo
muitas memórias de tempo bem passado com os meus filhos.
3.
Passaste também pelo Brasil em trabalho. O que
mais te enriqueceu nessa experiência?
A
ida ao Brasil foi relampega. Fomos e viemos (eu e a Ângela, minha colega do
projecto Family Coaching) em menos de uma semana. Fomos para um fim de semana
de formação intenso e rico. Foi espetacular ver a quantidade de pessoas que
vinha de sítios muito diferentes para participar na nossa formação para
técnicos/profissionais que trabalhavam com famílias.
Esta
ida surgiu na sequência de pedidos que vínhamos recebendo para ir até lá e
partilhar o trabalho que vínhamos desenvolvendo.
O
grupo heterogéneo e com histórias de vida e de trabalho vieram na nossa
mochila. Há pessoas com mantemos contacto até hoje.
4.
O que é afinal o coaching parental?
É
uma abordagem centrada nos pais, que acredita que eles são os especialistas da
sua família e que a eles cabe a responsabilidade de conduzirem a vida familiar.
O coaching parental tal como o entendo, acredita que os pais e as mães têm
qualidades e competências que lhes permitem gerir a sua vida familiar da forma
que lhes fizer mais sentido.
É
uma abordagem que respeita os valores e princípios dos pais, que os eleva, que
os apoia a descobrirem-se para que possam gerir a sua vida familiar de um modo
mais satisfatório.
5.
O teu trabalho é sobretudo com mães, pais e
educadores. É aí que tudo começa?
Sem
dúvida. E que bom que é quando conseguem os dois lados da moeda estar de mãos
dadas.
6.
Ser mãe ou pai agora, é diferente de há 10 anos.
O que mudou e o que é igual?
Ui!
Pergunta dificil (ou não!) Ser pai hoje também será diferente de ser pai daqui
a 10 anos. A vida, o mundo vai mudando e por isso, importa que os pais também
eles se vão adaptando. Eu acredito que os pais e as mães crescem com os filhos.
Os filhos são uma oportunidade de desenvolvimento pessoal, caso a queiramos
aproveitar.
7.
Quando mergulhaste no coaching, há mais de dez
anos, ainda não era muito falado por cá. Porquê a escolha dessa abordagem para
o trabalho com Pais?
Pela
forma positiva como olhava para os pais. O foco é no positivo, no que fazem
bem, nas suas potencialidades. Apoiar os pais a procurar soluções mais do que
deixá-los presos nos problemas fazia-me (e faz-me!) muito sentido do ponto de
vista pessoal, profissional e até da minha maternidade.
8.
Para ti, como mãe de três, o que continua a ser
um desafio diário?
Respeitar
a individualidade de cada um, acolher o que trazem e são em cada dia e a partir
daí parar e pensar, ganhar distância e questionar-me como posso apoiá-los a
caminhar mais um pouco em direcção aquilo que ambicionam, ao caminho que querem
percorrer.
Aceitar
que ele podem querer algo muito diferente do que eu quero (e do que eu possa em
algum momento tre sonhado para eles).
É
um exercício de humildade e aceitação permanente.
9.
Um dos vossos pontos de trabalho, no Family
Coaching é também o trabalho sobre a adolescência e a adolescência, sendo
apenas mais uma fase de desenvolvimento, é muitas vezes vista, pelos pais, como
uma ideia muito cinzenta. O que precisam os pais com adolescentes de saber?
Que
está tudo bem. Que é apenas mais uma etapa de desenvolvimento em que o
adolescente tem necessidade de autonomia, do seu grupo e de descobrir qual o
seu papel neste mundo.
Penso
que é importante dar esperança aos pais (para que também eles possam
transmiti-la aos adolescentes). Gosto muito de uma ideia que associo a Maria
Montessori – é uma altura em que sintam liberdade com limites, mas também que
se sintam muito amados com tudo o que são e como são. No final, quando a
adolescência der lugar à vida adulto queremos que eles cheguem lá equilibrados
e saudáveis (física e emocionalmente).
Esta
etapa pode ser muito exigente para os pais, muitos referem que se sentem
frequentemente testados, puxados até aos limites. Como trabalhamos com os pais,
é fundamental que cuidem de si para que possam depois estar disponíveis para os
adolescentes.
10. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos
remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu
dia-a-dia? Uso alguns sim... Verbalizações como “está tudo bem”; “o que é
que eu quero?”; “o que depende de mim” e muitas visualizações, acompanhadas de
respiração de ar puro; a corrida de vez em quando também é um excelente penso
rápido e a oração.
P.S.: