Aos fins-de-semana

Os fins-de-semana aqui devem ser muito comuns como em tantas outras casas. 
Pôr (alguma) ordem em casa.  Tratar de roupas, entre lavar máquinas ao ritmo a que o São Pedro deixa e passar a ferro. E "só" estas coisas consomem muito tempo. Demasiado para o meu gosto. Às vezes gostava que saíssemos de mansinho de casa, logo pela manhã, fechar a porta de entrada, sem alaridos e a casa que se amanhasse. Quando voltássemos, estar tudo no sítio. E é muito bonito quando me dizem que para deixar estar mas complica muito mais o resto da semana. Também não os consigo a andar com roupas com nódoas dos últimos dois anos. Se bem que seriam recordações bem bonitas "nódoa de mousse de chocolate de 2015" ou "ranho de birra de maio de 2014". Alguma ordem por casa facilita. E a maldita empregada que foi-se-me num cruzeiro e nunca mais voltou. 

Assim sendo, os fins-de-semana são para pôr em ordem, a desordem da semana. E outras tantas listas onde raramente entra a palavra  descanso, repouso ou descontração. Por isso quando me perguntam que planos para o fim-de-semana, fico sempre um pouco sem saber o que responder. Não há estreias de espetáculos para ir, nem cinemas ou outras coisas que tais. Ou simplesmente ficar no sofá, com uma manta e um chá. O sofá ainda lhes pertence e não faz mal. Tudo isto é tão passageiro que sei que ainda vou sentir saudades de os ver ali deitados, em preguiça de fim-de-semana a correr os canais infantis. Quando finalmente chego lá eu, já eles aconchegados na cama, demoro menos de trinta minutos a adormecer. Nos dias de maior loucura, vemos um filme de ação porque, pelos vistos, ainda são dos poucos que me põem a adrenalina ao rubro. De resto, vê-se uma série de curta duração. 

Tudo isto começou a parecer-me poucachinho... Chegar ao fim de um dia e "só" ouvi-los a gritalhar para trás e para a frente, sem realmente termos estado juntos, sabe a poucachinho. Cheguei à conclusão que, quando estou em casa com eles, vejo sempre coisas para fazer. A casa funciona como um monstro enciumado sempre à procura de atenções. Por isso, mesmo com este tempo de chuva, o desafio era sair de casa, onde não visse pó, desarrumações ou roupas. 

Propus-lhes a ida à "nossa" biblioteca. Gostamos os três muito dela. Para eles há uma piso inteiro de livros, folhas, lápis de cor e jogos. E o plano era tão simples quanto este: escolher um jogo e estar por lá até nos apetecer. Sentámo-nos nos puffs e entre birras porque "Estou mesmo com azar!! A mim só me saem cartas que não valem nada!" fomos ficando. Tivemos também a sorte de participarmos na Hora da História e ouvirmos uma história bonita sobre um menino que queria apanhar uma estrela. Dei por mim a saber-me tão bem estar ali, com eles aninhados a mim, a ouvirmos alguém contar uma historia. É que normalmente somos nós que as contamos e fazer o exercício inverso são cócegas suaves de bem-estar.

Seguiu-se ainda uma atividade em que a mais nova e eu construímos uma estrela bonita para pendurar, e o mais velho, não dado tanto a estas artes, escolheu um livro para ler (depois de pedir 1,2,3 vezes, se não podia mesmo ir jogar para os computadores...). 






Quando demos por nós, estivemos por ali mais de metade da tarde. Só nós faltava ir às compras, num supermercado pequeno para não perder tempo em filas e confusões, escolher ainda algo bom para o nosso lanche e fazer o caminho de casa. Ao abrir a porta da nossa casa, ouço o mais velho dizer "Que dia bem passado..." E aqueceu-me o coração. Perguntaram de novo, se não podiam ir lanchar para a sala, à frente da TV mas lá se convenceram que seria bom estarmos só assim, na cozinha, no nosso lanchinho de sábado, com uns cachorros quentes improvisados na tostadeira, sem demoras. 

Às vezes é preciso bater com as portas para chegar onde se quer. E sair para longe, para estarmos mais perto. 




Pergunta 1#

Sabem aquela fase dos miúdos que fazem 539 perguntas, num minuto? Essa mesmo. É uma fase de exploração que tira do sério os adultos mas para eles uma viagem à terra das descobertas. Com o tempo deixamos de fazer boas perguntas. Só que na verdade, boas perguntas, levam-nos para sítios que não sabemos, partes recônditas do nosso cérebro nunca antes exploradas e que de repente dizem: É lá...sim senhor, afinal há vida por aqui, isto não é só mato a crescer, por baixo de quilómetros de silvas de ignorância, há fervilhar intenso de acontecimentos.

Pois o Penso Rápido também serve para isto. Um humilde servo ao vosso dispor. Este ano vão surgir as mais brilhantes perguntas. Brilhantes porque tenho a certezinha absoluta que desse lado vão surgir as melhores respostas do planeta, quiçá (esta palavra é pouco usada no nosso dia-a-dia...) de todo um universo. 

Aqui vai a primeira. Tudo preparado? Respiração suspensa? 




Se eu fosse um macaco,
quem seria a primeira pessoa,
a quem iria roubar uma banana?



Prometi, ou não prometi profundidade? Aqui está ela. 

 

Pontos que contam histórias

Sempre que possível, oferecemos-lhes livros. Histórias que permitam viajar para dentro e fora deles. Que os façam crescer para lá do tamanho dos centímetros. 

As estantes estão cheias deles. Ele já lê sozinho, ela ainda as ouve por nós. À noite, quando lhes perguntamos se já escolheram a história, respondem que não há nada para ler. Já leram aquilo tudo. Umas vezes relem-se histórias antigas, outras vezes trazem-se livros da biblioteca escolar ou da municipal e viaja-se de novo. 

Este natal oferecemos à nossa pirata-princesa, este livro que conta a história de cores explicada a quem...não vê. Como explicar a um cego, a cor azul, ou o vermelho, ou o amarelo. Com o livro vem também o abecedário braille. E ela perguntava para que eram aqueles pontinhos e como é que as pessoas conseguem ler assim. Tentei-lhe explicar a maravilha que era as pessoas cegas também conseguirem ler. 

Eles têm a sorte de terem uma tia, (e eu a melhor cunhada do mundo) que estudou língua gestual. Contei à mais nova que, junto desse alfabeto de braille, estava também o da língua gestual e assim podiam comunicar, em código, também com a tia. 

Comunicar é fundamental, ajuda-nos a expandir, a ir mais além, quer se veja ou não. Quer se consiga ouvir os sons ou se precise de encontrar outras formas de transmitir as palavras.

Muitas das universidades têm livros técnicos para os invisuais. Mas falta haver mais escolha para que também eles possam sonhar através da leitura. O Politécnico de Leiria criou uma biblioteca braille. Chama-se Mãos que lêem e tem já prontos para impressão, 23 obras. Conta ter, até ao final do ano, um total de 35 obras disponíveis.

Quem conta um conto, acrescenta-lhe um conto e neste acaso, histórias para ler. 




Dar tempo ao luto

Tenho uma querida amiga a passar um processo de luto. E ela é uma valente, de uma luz e força que não se vê muito. A perda de um filho vira as fases do luto ao contrário. Perdem-se as regras e as psicologias. 

Escrevo isto tudo com o consentimento dela. Por conversas que tivemos e outras subentendidas. Escrevo também por motivos de uma outra perda que aconteceu, numa comunidade pequena e grande de emoção e afetos. 

As perdas são sempre perdas. E quando há emoções e afetos de verdade, doem sempre para lá do que se consegue explicar. As perdas ao contrário, de pais que perdem filhos, em situações inesperadas, deixam vazios que não se explicam. Perguntam-se muitas vezes os Porquês e os Comos até à exaustão. Procuram-se os últimos passos e escolhas e se terão sido feitas as melhores decisões. Mesmo não havendo culpas algumas, elas revisitam-se e soltam-se fúrias. É preciso deitar para fora uma dor que não tem tamanho. Não tem tamanho a saudade, a falta dos abraços, dos sorrisos, até dos choros. De tudo. Falta uma parte dos pais, muito mais importante que um braço ou uma perna e que estes pais trocariam no momento, por esse seu bem mais precioso: um filho. 

Um filho é por isso uma extensão de nós: de sonhos, de expetativas, de um caminho de passado percorrido mas de um tanto futuro que ainda estaria para vir. 

Nestas alturas não existem as palavras certas porque nada apaga essa dor e essa saudade. É preciso um tempo e um espaço para a dor e para um luto. E que varia de cada mãe, de cada pai. É preciso deitar fora a irracionalidade que assola. É preciso tudo isso. Por isso quando me perguntam O que se diz nestas alturas?, há na verdade muito pouco a dizer. Apenas um sincero estou aqui, que pode ou não ser verbalizado. Às vezes basta a presença, um abraço sincero e sentido, um olhar. Oferecer ajuda nas coisas práticas. Deixar a porta aberta, a da casa e do coração, para que quando for preciso, estar disponível. Até lá... É estar apenas. Mesmo que em silêncio. E ouvir. Ouvir mais do que falar. Não se julgue, não se diga Se fosse eu... Cada história encerra em si um caminho próprio. 

A vivência da perda de um filho é para lá do que é possível explicar. Por isso, não se apresse o que é impossível de ser apressado. 

Gavetas

Abriu-a com alguma rudeza. Percebeu dessa rudeza e parou um instante. Como é que era? Era para respirar. Respirou. Olhou-a de soslaio. Respirou. Percebeu-lhe as rugas, as falhas de polimento. Parecia desgastada pelo tempo, pelas mãos dos dias. Pela falta de cuidado, talvez até, algum desmazelo. 

Tirou-a para fora e virando-a do avesso, viu o seu corpo despido, nu. Vazio. Ficou a fitar. Passou-lhe as mãos. Sentiu-lhe os nós, os veios. Um cheiro um pouco perdido com o tempo mas ainda assim um cheiro próprio de ontem, de passado. Por momentos, pareceu-lhe também um salpico de fresco, de um possível amanhã. Não sabia. 

Virou-a de novo às direitas. Ficou para ali a olhar uns minutos, ou terão sido horas? Não sabia. Só sabia que era o seu tempo de a encher. Era uma gaveta que se esvaziou, para se encher da sua tristeza. Arrumou-a devagar. A tristeza tem de ser bem tratada, senão transforma-se num qualquer outro absurdo. A tristeza faz parte.  Não tem mal. Ás vezes demora uns minutos, outras vezes horas, outras ainda dias. Só não queria que ela tomasse corpo demais. Que lhe crescesse no peito e rebentasse por aí, disparando em todos os sentidos. Não queria. 

Então tirou esta gaveta que já lhe conhecia os dias, os queixumes e choros. Que sabia que iria tratar a tristeza como ela precisa de ser tratada, com tempo. Nesse compasso de tirar a tristeza de dentro, com as decepções, os cansaços, as faltas de vontade de dar mais passos, as frustrações, foi arrumando cada um dos elementos da tristeza nessa gaveta sábia que sabe que pouco adianta ficar assim por muito tempo. Deitou para fora, ali para dentro. A gaveta ajeitou-se. Prometeu guardar tudo até que nada daquilo lhe fizesse sentido. Arrumou a gaveta no lugar, com toda essa bagagem. Ainda olhou para trás quase com vontade de lhe pegar de novo e sentir aquilo tudo mais uma vez. Sabia que seria em vão. Uma vez arrumada pouco mais haveria a fazer. Tudo aquilo que lhe era cinzento, já não lhe pertencia, fazia agora parte de um universo paralelo, com o qual aprendeu a deixar ir. Com o tempo, aquela gaveta ia ficando vazia, até que já não houvesse mais tristeza para contar. E nessa altura, outras gavetas estariam para se abrir, por certo de cores mais vivas, com outro tipo de entusiasmo. 

Todas as gavetas fazem parte. 
Umas compõem os tons das outras. 
Cada uma delas com historias para esquecer ou ensinar. 






Amanhã é Agora

Juntou todo o tempo que num dia gasta a ver o mail, ou as redes sociais. Ou a responder a sms. Ou até a ver TV. E decidiu, escolheu, que valeria a pena ver por uma hora e pouco isto. Mesmo que passasse algumas partes à frente. 

Este documentário precisa de passar longe e para muita gente. Está aqui algo para todos nós. Em algum ponto, isto vai tocar as sensibilidades particulares de cada um. 

O que gosto particularmente é esta capacidade, de um conjunto de cidadãos comuns, estarem a fazer diferença, localmente. Nas suas próprias comunidades. Muitas vezes me pergunto como fazer face às ditaduras-democráticas do tem que ser assim. Afinal, há quem faça diferente, neste momento, e que esteja a tornar as pessoas mais felizes no Agora. Para o Amanhã.

P.S.: E para quem não tenha tempo da tal hora e pouco seguida, vejam 5 minutos. Valem cada segundo.






Penso Rápido Instantâneo 9#


Recomeçar

De voltar a começar, em outro lugar. Em lugares de voltar a acreditar e sonhar.


Funciona melhor com abraços apertados na linha de partida e saber que até ao ponto de chegada apenas se dá um passo de cada vez



Uma torrada e uma história de amor

Era o final de mais uma semana com muitos desafios, que terminou com mais um dia longo.

Depois desse dia longo, foi o jantar, a cozinha. Foi só mais uma bacia demasiado grande de roupa para passar. Antes disso, deita-los.


Já perto das onze da noite, chega finalmente ao sofá. Aquela criatura, completamente maquiavélica, pelo menos no inverno, que tem garras e nos anestesia com poderes inter-galáticos.

Já quase rendida, ao quente da lareira, à manta onde se aconchega, naquele sofá, pede-lhe uma torrada, à maneira dele. Sabe que vai vir, escandalosamente cheia de manteiga. Sabe que faz mal, que sozinha nunca a faria. Que àquela hora da noite, mais do que a fome, é o conforto de saborear uma ceia, sem pressas, esquecendo horários e despertadores do dia seguinte. Podia-se ter levantado, cortado o pão fino e posto só uma película ligeira de manteiga. Podia, só que não era a mesma coisa. 


Nestas alturas, apesar do muito caminho já feito, com curvas e momentos de descoberta, umas vezes sozinha, outras vezes a dois, é que percebe porque estão juntos. Aquela torrada, cortada de forma grosseira, a escorrer manteiga, tempera o seu dia, saindo dos limites, entre o que deve ser feito e o que sabe bem. 

As pequenas coisas. No fim e no princípio, o que contam, são as pequenas coisas.

Dos dias de avesso

"- Dia 13, sexta-feira foi dia de azar, não foi mãe? - olhos arregalados do mais velho.
- Isso começou tudo porque numa certa sexta-feira 13, houve uma batalha muito feia e ficou associada a data e o dia da semana, a algo mau. Não significa isso que haja sempre azares nesses dias. São mitos e histórias que vão ficando. 
- E o que é o azar? - pergunta a mais pequena.
- É quando acontecem coisas não muito boas, quando menos se está à espera."

Uma série de peripécias, entre sustos e chatices que aconteceram entretanto. Umas mais diretas, ou mais longe, mas mesmo assim, como se fossem cá dentro.  Já não é sexta-feira, nem é dia 13. 

Lia ontem que é nas pequenas-grandes adversidades que se testam forças e crenças. Respirar entre umas e outras.
Não deixar o pensamento atropelar.
Colocar o coração no sítio e a cabeça no lugar.
E dizer à sexta-feira, lá onde ela queira, que quem manda nos dias e na vida, somos nós, mesmo com dias ao contrário e do avesso.
Vamos sempre a tempo de recomeçar.





Óscar ao quadrado

Há quem mereça um Óscar. Não sei se existe a distinção de Óscares ao quadrado. Eu sei, eu gosto de matemática, mas é para também isto que ela serve. Para pôr ao quadrado, ao cubo ou mais, gente que sabe falar e tem a coragem de o fazer, para que se oiça por muitos lados. Até que se fique rouco, até que a voz doa. Seja em relação a quem for. As desigualdades têm de continuar a ser faladas. 

"Desrespeito gera desrespeito.
Violência gera violência"

Por isso acredito que um sorriso gera outro sorriso, e uma boa ação gera outra. É experimentar. 

Talvez já toda a gente tenha visto. Mas para quem ainda não viu, aqui fica. 


Manicómio de Mães 3#


“Quero dar a eles porque eles querem
 ou 
porque eu não tive?”


Seja no sapatinho, junto à chaminé, ou ao pé da árvore de Natal, seja na altura do aniversário, a maior parte dos miúdos de hoje, recebe prendas. Prendas no plural e um plural bastante grande e alargado. “Já abri esta… Há mais?” Da mesma forma que o fast-food, as prendas passaram a ser um pouco fast-surpresa. Já vi esta, durante 10 segundos… o que se segue? Perde-se o tempo de saborear a prenda, de lhe reconhecer utilidade e da descoberta de todos os contornos. Reflexo dos tempos em que é muito fácil descartar e substituir o que, supostamente, já tem pouca utilidade, passado o tempo inicial de encanto. Aquele desejo de se querer mesmo, mesmo uma prenda, perdeu-se um pouco.

Quem oferece tem gosto em comprar. Em imaginar a cara e o espanto de quando rasgar o papel. Antecipar toda a euforia da entrega é, por si só, uma satisfação. Por esse mesmo motivo, em vez de uma prenda, que eles queiram e desejem mesmo, entretanto, compra-se mais uma, e outra, e mais aquela que até está em promoção ou muito em conta. E os miúdos são, na sua essência, até bastante minimalistas. Atrevo-me a dizer que 99,8% brincou com caixas de plástico da cozinha, com os sapatos lá de casa ou com molas da roupa. Quem é que lhes compra e arranja brinquedos topo de gama? Nós, os adultos. Recordo-me de uma vez ter comprado um brinquedo grande ultra-pedagógico-super-colorido-cheio-de-sons-e-artefectos. Este brinquedo veio guardado numa caixa, embrulhada e foi assim que cheguei a casa feliz, muito feliz e lha entreguei. Ele deveria ter, talvez, nem dois anos. Rasgou o papel, ajudámos a tirar tudo dentro da caixa. Passou a restante primeira meia hora a brincar. Com a caixa. Repito, com a caixa.

À medida que crescem, por influência dos amiguinhos, da televisão, tornam-se, na verdade mais exigentes. Pedem e voltam a pedir. Isso não tem mal algum. Sonhar faz bem, ser ambicioso também. E pô-los a pensar também.

“Se tivesses mesmo que escolher, apenas um brinquedo ou dois para os teus anos, o que é que realmente gostarias de ter?”

Pô-los a pensar no que lhes é importante, focâ-los no essencial, em vez de estar constantemente a dispersar as atenções. Os miúdos brincam muito mais, quando têm muito menos. Se tiverem um quarto cheio de brinquedos, dispersam a atenção. Colocar apenas uma mão cheia deles e ir rodando ao longo do tempo, faz com que se foquem. A aprendizagem de focar vai-se tornando importante depois para o futuro, da escola, do trabalho, da sua vida pessoal.

Por isso, à questão “Quero dar a eles porque eles querem ou porque eu não tive?” talvez seja um pouco dos dois. Na maior parte das vezes, cabe-nos ir pensando, em quanto tempo de sorriso verdadeiro, aquela nova prenda, na prática, se vai traduzir. Cá dentro, aquela voz mais sensata e que não se deixa guiar pelo instinto do imediato, sabe o que faz, ou não faz, sentido. As crianças são seres criativos. Com pouco, fazem muito. 

Bom senso. Muito bom senso. 


Penso Rápido Instantâneo 8#

Aventura



Doses generosas de brilho no olhar. Coração aos saltos em quantidade saudável.

No limiar da zona de conforto, a roçar a vontade de experimentar coisas novas, com o olhar no alto e pelo menos, um dos pés, assentes no chão. Na maior parte das vezes, basta um dos pés.


Deixar ir, ao sabor do vento. Acreditar que vai correr bem, quando a vontade vem do coração. 

Passatempos à parte... E depois?

Na altura do verão, houve vários passatempos a decorrer e que premiaram os queridos fregueses desta casa. Este foi um e este foi outro.

Na altura, o mel BeeRural estava ainda em projeto. Lançado no fim do ano passado, a vencedora do passatempo, a Ana Pedrosa,  recebeu estes três bonitos frascos em casa. Já não fui a tempo de lhe pedir uma foto dela com o mel porque...o mel já se comeu todo! Fome, não é? Estou completamente rendida ao mel de Urze...tão, tão bom. 







Também a Filomena já esteve a usufruir do seu prémio, no Hotel Convento da Sertã e promete voltar. 





Há gente de tanto valor e que trabalha com tanto profissionalismo, aqui na zona centro. Repensar a bússola deste país, percebendo que as zonas urbanas são importantes mas que aceitando, de uma vez por todas, que tanta coisa bonita está a acontecer por todo o país e que vale a pena conhecer.

P.S.: Tudo isto não foi patrocinado. Apenas acredito no que é bom e que é nosso. 

Uma panela de ferro

Era uma cozinha com cheiro defumado, um pouco negra até do fumo da fogueira no chão. Umas panelas de ferro por cima. Um caldo de sopa, com couves. Um chocolate quente, feito por alturas da Páscoa, tão forte por ser com leite de vaca fresco, muito, muito açúcar e várias tabletes derretidas em lume brando, tanto quanto a lenha que a minha querida avó Maria quisesse colocar. Tão forte que acabava sempre comigo, em amena descarga intestinal mas, que interessava isso, pelo sabor forte e emocional daquilo tudo. Demorava tempo cada uma destas iguarias. Ainda lhes sinto o sabor e o cheiro.

Muitos anos depois, recebo uma mensagem via WhatsApp. Estou a fazer o jantar, em modo de ritmo de semana: panela de pressão ao lume com sopa, filetes e arroz a fazer no forno, para rentabilizar recursos e tempo. Vejo de esguelha a mensagem e paro tudo. Sorriu. Uma panela de ferro ao lume. Um caldo com cor vibrante. Um prato de sopa a que quase sinto o cheiro. A minha querida e doce avó Maria, já não está cá para assistir a estas modernices de se verem sopas e lareiras, à distância de um clique. Num segundo, teletransporto-me para a pequena casa desta minha avó: cheiros, sorrisos, os beijos dela. 

Num segundo depois estou a ler esta mensagem, enviada por esta tão sábia amiga. Decide sempre escolher uma ou duas palavras no início de cada ano e que definirão o norte das suas ações, durante os 365 dias que o compõem. Esta minha amiga, pensa de forma bonita, pondo a razão ao serviço do coração e por esse mesmo motivo, completou a palavra serenidade, com esta panela de ferro. Fazer o lume. Esperar pelas brasas. A água e o seu tempo de fervilhar. Colocar os ingredientes. Mexer tudo. Saborear uma sopa, feita de tempo, reflexões, gratidão e vagares. 

Cada um adequar os ritmos, ao que lhe faça sentido. A mim iria dar-me um ataque de nervos, se tivesse que fazer assim, as sopas, cá em casa. Mas admiro-a tanto nesta capacidade individual de se saber respeitar. 

No fundo, passa por cada um saber respeitar, o que a cada um, faz bem. 

Escolham-se as palavras que nos façam felizes. Mude-se o contexto que nos rodeia. As mudanças por dentro, acontecem com pequenas mudanças por fora. Ponham-se em prática as ações que lhes vão dar vida. Saboreiem-se estes e outros caldos. 






À dezena

As nossas conquistas são nossas. Implicam o nosso esforço e vontade. Uma boa dose de maluquice dentro do prazo, um pouco de sonho e pés bem assentes na realidade mas com o olhar lá no alto. 

Mesmo sendo essas conquistas só nossas, têm muitos formatos na forma como lá chegamos e são tanto ou mais cheias de prazer, consoante as boas (muito boas!) companhias que encontramos no caminho e que, por isso mesmo, nos acompanham na estrada.

Cada corrida feita é à conta de colocar o pé, um à frente do outro. É seguir em frente sem pensar nos Se´s ou Mas. É à conta das dores, primeiro foi nas canelas, depois no resto das pernas, nos joelhos, nos dedos dos pés. Infelizmente ainda não existem corridas que se fazem e em que alguém nos leve ao colo. Espera... os finlandeses já a criaram. Espertos, não é? Mas quer dizer... acho que prefiro a forma assim mais normalzinha de corrida. À primeira vista não sei se isto será muito agradável.





Por isso, as dores, as conquistas são de cada um. Mas são também das pessoas que nos acompanham, que acreditam. É do companheiro que fica em casa a cuidar dos piquenos e que envia mensagens a incentivar, da coache-mai-linda (alcunha que um belo dia saiu, nas trocas de sms e que ficou) que mesmo estando ela própria a recuperar, continua a incentivar cada km conquistado deste lado, da companheira-amiga desta corrida e que a muitos km, sei que vai treinar para acompanhar este desafio. Por isso, as conquistas, mesmo sendo individuais à sua maneira, à sua maneira, trazem gente lá dentro. Gente boa que acredita, com e por nós, que um dia vai ser o Sim, a um qualquer desafio que nos quisemos impor. 

Ontem, com a inspiração deste grande personagem da nossa história, tive uma das pessoas-sol como companhia e incentivo. A cunhada mais bonita que podia ter. Um desafio para uma e outra, num total de 10 km. Ontem, esta conquista foi minha, mas foi muito das duas também porque os caminhos fazem-se sozinhos e as vitórias e esforços que lhe estão associados são de cada um, mas são muito melhores se estiverem cheios daquelas pessoas-sol que nos fazem acreditar que há mais Sin´s do que Não´s.





Diálogos


"Luísa: - Vamos agarrar o dia de hoje como se não houvesse amanhã?
Olívia: - Tem mesmo de ser?
Luísa: - Sim.
Olivía: Porquê?
Luísa: - Porque o amanhã não existe. Só temos o hoje. 

Um longo silêncio. 
Olívia: Prometes que vais estar sempre ao pé de mim, mesmo longe?
Luísa: - Sempre. Ainda antes de te conhecer. As manas de coração são assim."


Penso Rápido Instantâneo 7#




Mimalhar


Deriva de uma das palavras mais bonitas que é Mimar.

É alimentar o outro, directamente no coração, com pós de bem-querer e bem-gostar.

Precisa de se lhe saber os gostos, as paixões e o respeito bonito de vontades.



É tão simples como dar um abraço, um beijo ou em estados avançados de gostar, fazer pequenas surpresas.  


É por estas e por outras.

Que gosto tanto destes senhores. Este vídeo bonito, sobre esta coisa de se ser humano, por todos os cantos do mundo. 

Em breve, sei que vai acontecer. 

Continuar a acreditar que os vou ver ao vivo a cantar.




Uma travessa por um fio.

Temos um serviço de loiça a funcionar. Os pratos partidos foram poucos ao longo destes anos por isso, não tem sido necessário, para já, repô-los. E temos um outro serviço, assim para dias mais festivos ou quando o número de gente à mesa torna necessário aumentar a meia dúzia de pratos existentes. 

Em junho, por altura da festa surpresa da minha querida e doce mãe, foi necessário, à meia dúzia, mais meia dúzia existente, juntar mais uma dúzia de pratos. Comprar estava fora de questão e o empréstimo de pratos, feito a gente amiga, parecia ser mesmo o mais viável. Até que nos lembrámos de um serviço muito antigo, guardado com carinho no sótão e que mal foi usado, pelo avó do Pedro. Máquina de lavar com ele. Um serviço cheio de história, tão simples, tão bonito. Fez um sucesso na altura e não voltou mais para o sótão. Lá consegui guardá-lo entre os armários da cozinha e a estante dos livros da sala, numa das caixas dos brinquedos, guardado com mil cuidados, entre panos e paninhos. Foi usado neste Natal, e à história bonita da existência deste serviço pelo avó Barreto, junta-se agora, a história dos anos da minha mãe.

Ontem houve filetes para o jantar. Normalmente coloco-os num prato com guardanapo e fica despachado o assunto. Do armário, uma das travessas do serviço ficou a olhar para mim. Sorriu. Puxei de um banco da cozinha. Encavalitei-me por ali acima para resgatar aquela travessa, de loiça delicada. Sorri-lhe de volta e disse-lhe: "Porque não?" Assim, num dia normal de início de ano, houve uma travessa bonita a enfeitar a refeição, para que possa contar ainda mais histórias de gente à volta da mesa.

Já noite, com a casa em silêncio e enquanto  pensava na roupa do dia seguinte, em mais uma tentativa de que as manhãs não sejam tão atabalhoadas, olhei para o lado. Um dos fios a sorrir, em jeito de desafio, tal como a travessa. Um fio com história, com uma pedra de âmbar simples, trazida da nossa viagem, há mais de uma dúzia de anos atrás. E de novo a pergunta: "Porque não?"

Temos demasiadas coisas bonitas guardadas para as ocasiões especiais. Precisamos de soltá-las mais. Abrir gavetas, por tudo a saltar cá para fora. Das coisas bonitas que fomos guardando com o tempo e das outras, as nossas, e a que se dá o nome de qualidades e competências. Soltar quem somos e libertar as nossas paixões e vontades. 


Afinal ... Porque não?









Vencedora do Passatempo Livro De Onde Vêm as Bruxas?

Não estava esquecido.

A vencedora do passatempo De onde vêm as Bruxas?, e que vai receber um livro da escritora Joana Lopes e ilustrado por Luís Belo foi... Cátia Daniela!

Parabéns!!


Os mais vistos e gratidão

Recomendado por gente de renome internacional, transversal a várias religiões e por terapeutas nas mais diversas áreas, a gratidão é ancestral. Houve alturas em que se orava antes de comer, em sinal de respeito pelo alimento diário. Nos Estados Unidos existe um dia dedicado à celebração da Ação de Graças. 

Se há dias em que não se tem vontade de ver colorido nenhum, no meio do caos, é sempre possível agradecer as coisas simples, mesmo simples. Recordo-me sempre de uma entrevista do querido Raúl Solnado em que dizia que quando acordava, e se mexia os dedos dos pés, se sentia grato por mais um dia de vida. Tão simples quanto isto.

Para este início de ano ficam duas sugestões. 
O frasco da gratidão, feito individualmente ou em família e porque não os dois? Um frasco de vidro vazio.
Um papelinho e caneta ao pé. 
30 segundos, no fim do dia para escrever algo pelo qual se esteve grato naquele dia. Colocar dentro do frasco. 
Ler todos os papelinhos no último dia deste ano. Tão simples quanto isto.




Tenho um daqueles telemóveis modernos desde setembro. Ainda um pouco perdida, descubro-lhe, aos poucos, as vantagens. As aplicações são uma delas. Existe uma app 21 Gratitude que tem um exercício diário, durante 21 dias, de treino desta aptidão de gratidão. Não demorei mais de 3-5 minutos a responder e a pensar no que me era proposto. Provavelmente muito, mas mesmo muito menos tempo do que aquele que passamos numa qualquer rede social. Fica o desafio. 

Posto isto, fica a minha gratidão por todos os que por cá, e por esse mundo fora (EUA, Alemanha, Suiça, Rússia...), têm acompanhado este blogue. Muito grata pelo carinho e feedback que têm dado e que me tem proporcionado, ir cada vez mais longe, nesta paixão pela escrita. 

Deixo-vos, por isso, os mais vistos deste ano que passou, para reler, para opinarem, para reaprender. Bem hajam.






A novos começos

Gosto de novos começos. À segunda, nos inícios do ano, em qualquer altura desse mesmo ano. De perceber que está sempre tudo em aberto. De recomeçar. Mais uma vez. Ganhar o fôlego certo. 

Às vezes paro tudo. Pego numa folha em branco ou no meu caderno Penso Rápido. Volto ao início, ao que faz sorrir, acreditar que sim. Começo a escrever, a organizar ideias. Pensar no que dá formigueiro nas mãos e uma comichão boa na barriga. Insistir nisto de acreditar que vai valer a pena. 

A novos recomeços. Para todos nós.