Aos fins-de-semana

Os fins-de-semana aqui devem ser muito comuns como em tantas outras casas. 
Pôr (alguma) ordem em casa.  Tratar de roupas, entre lavar máquinas ao ritmo a que o São Pedro deixa e passar a ferro. E "só" estas coisas consomem muito tempo. Demasiado para o meu gosto. Às vezes gostava que saíssemos de mansinho de casa, logo pela manhã, fechar a porta de entrada, sem alaridos e a casa que se amanhasse. Quando voltássemos, estar tudo no sítio. E é muito bonito quando me dizem que para deixar estar mas complica muito mais o resto da semana. Também não os consigo a andar com roupas com nódoas dos últimos dois anos. Se bem que seriam recordações bem bonitas "nódoa de mousse de chocolate de 2015" ou "ranho de birra de maio de 2014". Alguma ordem por casa facilita. E a maldita empregada que foi-se-me num cruzeiro e nunca mais voltou. 

Assim sendo, os fins-de-semana são para pôr em ordem, a desordem da semana. E outras tantas listas onde raramente entra a palavra  descanso, repouso ou descontração. Por isso quando me perguntam que planos para o fim-de-semana, fico sempre um pouco sem saber o que responder. Não há estreias de espetáculos para ir, nem cinemas ou outras coisas que tais. Ou simplesmente ficar no sofá, com uma manta e um chá. O sofá ainda lhes pertence e não faz mal. Tudo isto é tão passageiro que sei que ainda vou sentir saudades de os ver ali deitados, em preguiça de fim-de-semana a correr os canais infantis. Quando finalmente chego lá eu, já eles aconchegados na cama, demoro menos de trinta minutos a adormecer. Nos dias de maior loucura, vemos um filme de ação porque, pelos vistos, ainda são dos poucos que me põem a adrenalina ao rubro. De resto, vê-se uma série de curta duração. 

Tudo isto começou a parecer-me poucachinho... Chegar ao fim de um dia e "só" ouvi-los a gritalhar para trás e para a frente, sem realmente termos estado juntos, sabe a poucachinho. Cheguei à conclusão que, quando estou em casa com eles, vejo sempre coisas para fazer. A casa funciona como um monstro enciumado sempre à procura de atenções. Por isso, mesmo com este tempo de chuva, o desafio era sair de casa, onde não visse pó, desarrumações ou roupas. 

Propus-lhes a ida à "nossa" biblioteca. Gostamos os três muito dela. Para eles há uma piso inteiro de livros, folhas, lápis de cor e jogos. E o plano era tão simples quanto este: escolher um jogo e estar por lá até nos apetecer. Sentámo-nos nos puffs e entre birras porque "Estou mesmo com azar!! A mim só me saem cartas que não valem nada!" fomos ficando. Tivemos também a sorte de participarmos na Hora da História e ouvirmos uma história bonita sobre um menino que queria apanhar uma estrela. Dei por mim a saber-me tão bem estar ali, com eles aninhados a mim, a ouvirmos alguém contar uma historia. É que normalmente somos nós que as contamos e fazer o exercício inverso são cócegas suaves de bem-estar.

Seguiu-se ainda uma atividade em que a mais nova e eu construímos uma estrela bonita para pendurar, e o mais velho, não dado tanto a estas artes, escolheu um livro para ler (depois de pedir 1,2,3 vezes, se não podia mesmo ir jogar para os computadores...). 






Quando demos por nós, estivemos por ali mais de metade da tarde. Só nós faltava ir às compras, num supermercado pequeno para não perder tempo em filas e confusões, escolher ainda algo bom para o nosso lanche e fazer o caminho de casa. Ao abrir a porta da nossa casa, ouço o mais velho dizer "Que dia bem passado..." E aqueceu-me o coração. Perguntaram de novo, se não podiam ir lanchar para a sala, à frente da TV mas lá se convenceram que seria bom estarmos só assim, na cozinha, no nosso lanchinho de sábado, com uns cachorros quentes improvisados na tostadeira, sem demoras. 

Às vezes é preciso bater com as portas para chegar onde se quer. E sair para longe, para estarmos mais perto. 




Sem comentários:

Enviar um comentário