Há partos e partos, é certo. Filhos diferentes, numa mesma mulher, resultam em dores, experiências e vivências diferentes.
Cada gravidez tem direito à sua história, de enjoos ou não, de desejos e todas as particularidades inerentes. Tal como as personalidades de cada um dos seres que se está a gerar.
Dos dois, guardo a recordação de ter sido rápido, suportável (à conta das maravilhosas drogas administradas...) e que não seria por essas dores, que não teria mais filhos. Claro está, que no momento se pensa sempre: "Mas porque raio &$#%$$#, estou aqui de novo!" Passou. Casos encerrados. As hormonas da felicidade instantânea fazem o resto, e tê-los nos braços muito mais.
Recordo-me que as primeiras dores, do primeiro, me surpreenderem e porque raio nunca ninguém me tinha dito que se iniciam como as comuns dores do período. Andei ali 9 meses a imaginar-me a gritar, arranhar e puxar os cabelos, do pai da criança. Sim, muito por influência dos filmes e dos relatos que muita gente resolve fazer, contando todos os pormenores...muitas vezes, não os melhores. Cada caso é um caso. Ponto.
Para o que dificilmente alguém prepara alguém é para ver um filho doente. Mesmo que seja uma simples constipação. Vê-los prostrados faz-nos ter vontade de dar-lhes todas as canetas lá de casa, colocá-las nas mãos e suplicar-lhes que comecem a riscar, de novo, as paredes. Tudo menos ficarem ali imóveis, sem grandes reações.
Vê-los acordados de anestesias gerais eleva tudo a novas dimensões. Bem se sabe que faz parte, que os avanços da medicina permitem que seja realmente tudo mais seguro, que é para o bem deles e blá, blá, blá. Ver um filho assim a bracejar, a gritar, a pedir água, a queixar-se de dores, mesmo que nos repitam que é apenas resultado do acordar das drogas que os protegeram das outras dores, mesmo que seja a inconsciência a falar mais alto e aí uma pessoa se pergunta se não será o inconsciente a falar a verdade, vê-lo assim, não há epidural que faça minorar a dor.
Racionaliza-se tudo e sabe-se que vai passar, que tem de ser para o bem deles. Mas há ali segundos em que o nosso instinto animal de proteção vem ao de cima e os pegamos nos braços, com vontade de os enrolar ao nosso colo, mesmo que já sejam grandes demais. "O melhor remédio é o colo de mãe. Quer deitar-se ao pé, ou pôr ao colo?" Das duas vezes, equipas e hospitais diferentes. Das duas vezes, colo prescrito como o melhor remédio. Das duas vezes, acalmaram-se quase de imediato.
O parto não é, de facto, a pior parte. Felizmente que o melhor está também, sempre por acontecer: poder vê-los de novo a gritar, a cantar, saltarem, fazerem cambalhotas e até atirarem-se, com jeitinho, do sofá abaixo, de novo. Acho que tão depressa não vou voltar a ralhar por estarem aos gritos pela casa toda, enquanto se riem até não aguentarem mais, à espera que os mande sossegar. Que gritem, que corram, que sejam felizes.
Porque o nosso coração nesses dias contrai-se e fica tão pequeno que seria bem provável que desaparecesse com o fluxo sanguíneo. Uma gratidão imensa à medicina porque vê-los cheios de dores, sem soluções, nem repostas às maleitas será certamente uma dor, então, sem relato possível.
Que gritem, que cantem aos altos berros, que façam o pino, que só assim, o coração volta a funcionar de novo. Que sejam crianças muito, muito felizes.
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