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Ia a duzentos, mil, talvez até dois mil. Ia com muita coisa, muita coisa para fazer, pensar. Uma lista imensa de coisas importantíssimas que não podiam esperar nem mais um segundo. Que eram de uma urgência urgente. Sem falhas, nem interrupções. Conseguiu ir aos CTT enviar mais uns projectos. Urgentes de uma urgência rápida. Virou-se. E foi aí que a levou. Uma chapada imensa, brutal.
"- Olá Luís! Estás bom?
Era a Alice. A Alice com todo o seu esplendor, sorriso orelha a orelha, como se nada fosse. Como se tudo fosse normalmente banal.
"- Sim! Tudo! - como atrever-me-ia eu a queixar. "Mas e tu, conta-me. Como estás?"
E esteve para ali a conversar, esquecido do tempo, das urgências urgentes, das reuniões, dos prazos, dos pormenores porque ali, naquele momento, estava-se a ViVeR. Literalmente a ViVeR porque a Alice, sim a Alice não tinha tempo a perder com aquela batalha que estava a travar por dentro, das células boas e das células más. Cancro. E mesmo a Alice não tendo tempo a perder, teve tempo para estarem os dois. Aquele encontro durou o seu tempo. Foi bom, genuíno, verdadeiro, cheio de ViDA e amor de partilha. A seguir cada um seguiu a sua vida, com a promessa de manterem contactos mais estreitos e regulares. Para partilharem o que realmente importa, filtrando as miudezas.
O Luís levou isso mesmo. Filtrar as miudezas. É que quando se leva um estalo assim, as milhentas angustiazinhas diárias ganham outra dimensão. Que chapada.
Dá que pensar, não?
Dedicada a minha querida A.M.
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