Compostagem Emocional

Livrar-se do lixo, do pó, da roupa suja, papéis amarrotados.

Livrar-se de relações pobres, despidas de sentido.

Livrar-se de conversa oca, de circunstância, só porque sim.

Livrar-se de tudo o que empecilha o movimento, que faz tropeçar, parar no tempo, como se o tempo não tivesse tempo contado.

Livrar-se de tudo isto e muito mais. Tudo o que refreia, chateia e aborrece.

Livrar-se das gentes que tratam mal só porque apetece e se está ali ao pé.

Livrar-se da incompetência, da falta de valores e consideração.

As vezes livrar-se disto tudo passa por bloquear cá dentro. Pôr um ponto final.
Porque quando se livra disto tudo e se deita na compostagem emocional, nascem coisas novas. 
Livrar-se de algo é tornar-nos mais livres "deles", mais espaço para surgir em nós, o Novo e Ousado.
O respeito, a valorização pessoal. 
Por isso, receita-se a compostagem emocional: deitar fora o que não presta. O espaço deixado SÓ PODE TRAZER COISAS BOAS...afinal, o primeiro passo para a mudança já começou...o resto é uma grande aventura!





História de um Bungalow

Abre-se a porta. Melhor, desliza-se a porta porque é preciso poupar espaço.
Pousam-se os sacos e malas. Entra-se. Está-se na sala e cozinha. À direita uma casa de banho com duche. Em frente à mesa da sala, duas portas. Cada uma para um quarto. Um deles com 3 camas, em formato de beliche 2 delas.

Dentro dos armários da cozinha (pode-se chamar cozinha?) há duas panelas e uma frigideira. No outro, 6 pratos rasos, de sobremesa e de sopa. Nas gavetas, uma concha de sopa, talheres para 6 pessoas, duas colheres de pau. E pouco mais.

E é isto para um fim-de-semana alargado. Tudo à mão e ao pé. Facilmente se arruma qualquer divisão da casa porque pouco lá tem. 

Andamos cheios de muitas coisas. Por isso, o conceito de vida nómada, sem muitas tralhas atrás, já não se adequa à maior parte. Mas faz que pensar esta nossa capacidade de adaptação, de viver com muito menos, de poupar muito mais tempo sem tantas tralhas à volta. De cada vez que se fica na dúvida se um objeto fica ou sai de casa para todo o sempre, penso no Bungalow, no paradigma de simplificar o que nos rodeia sem tanta coisa a distrair do que é realmente importante para cada um de nós. 

Quando se demora muito tempo a explicar algo é porque ainda não se foi ao cerne da questão. A maior parte das coisas são simples. Parece até que se leva uma vida inteira a perceber as leis simples de cada um. Que o digam as pessoas de muitas décadas. Resumem rapidamente o que importa, daquilo que não interessa. 

Acabei esta semana um livro sobre Steve Jobs. Um génio do seu tempo. Ler sobre a sua obra, o seu percurso, as suas conquistas é uma fonte de inspiração a várias níveis. O de simplificar também. Um dos conceitos subjacentes aos produtos criados tinham esta filosofia por trás: muitos botões, muitas teclas, muitas funções...não. Simplifique-se que os produtos devem ser intuitivos sem precisarem de manuais de instruções. Como as nossas vidas.

Por isso, da próxima vez que se:

  • quer comprar uma quinquilharia nova;
  • se demore 30 minutos a relatar uma história que nos magoou;
  • não encontre um objeto dito fundamental na gaveta da casa de banho...
...procure-se o importante do secundário. O néctar, o essencial. 
O resto... é mera paisagem.




Tem medo

Tem medo de arriscar.
Tem medo de ser mau pai/má mãe.
Tem medo de não ser amada, de voltar a apaixonar-se, de fazer amor.
Tem medo de ser despedido.
Tem medo de não receber ordenado.
Tem medo de perder a casa.
Tem medo que a amiga nunca mais lhe fale.
De abrir a carta das análises. É positivo? 
Medo. Medo. 

Ter medos no sentido de se ficar parado. À espera. Avanço? Recuo? Desisto?

Medo de um dia se aperceber que não valeu a pena. 

Assumir o medo é o primeiro passo para o libertar. Dizer-lhe o nome. Olhá-lo na cara.

Tenho medo de... "Ouviste? TENHO MEEEDOOO DE TI!"

Feche-se agora os olhos (depois de ler o texto!). Imagine-se o medo em toda a sua cor e dimensão. Com todos os seus pormenores. A nossa reação. Os outros medinhos mais pequenos, associados a ele, os parasitas, que se riem e alimentam do medo. Os medinhos. Imagine-se todos eles...a sair de onde moram cá dentro. Imagine-se esses medos, todos dentro de um balão, cheio com eles, a subir...subir, cada vez mais longe.

Os medos se foram. O que fica? Um espaço imenso, gigantesco de possibilidades, inúmeras hipóteses e caminhos, sem nada a travar. 

Os medos paralisam, toldam os movimentos, a ação, o agir. Quando se libertam fica essa gigantesca possibilidade de respirar e prosseguir. 

"- E eles voltam?
- Claro! Faz parte.
- E o que faço?
- Sente-los de novo, para depois os deixar partir. Já fizeram o que tinham a fazer. Fazer-te agir, procurar respostas, libertar inseguranças e fazer um caminho mais cheio de possibilidades."

Por isso, que se fechem os olhos, se deixem os medos entrar num balão e ficar a vê-los partir. O que fica, será bem mais rico. 



As tentativas

A vida não são tentativas. Ou se respira ou cai-se para o lado. 

Imagine-se o coração a dizer:" Ai vou tentar bombear o sangue...talvez consiga, talvez não. Ups! Morreu!!!"

Ou um bebé dentro da barriga da mãe:" Vou ver se acerto na saída. É lá...se calhar é melhor não...talvez sim, talvez não!"

Ou ainda um bombista suicida:" Talvez aperte no botão...talvez aperte só meio botão...não sei." Bom, neste caso até é benéfico ser só uma tentativa e ficar por aqui MAS a esmagadora maioria dos casos ou se faz à séria ou não. Entregar-se de corpo e alma.

"Vou tentar fazer um bolinho bom." Caramba, assim nem as gemas, nem as claras acreditam no que está a ser feito. AGORA se disser que vai fazer o melhor bolo-de-chocolate-do-Bairro-da-Papoila, que até a Alzira do 2º esquerdo vai-se roer de inveja, só com o cheiro divinal a chocolate derretido... Aí sim, não há farinha, fermento ou açúcar que resista à convicção de uma massa bem mexida.

Se tudo fosse tão simples como um bolo de chocolate... Na verdade não é, mas tudo pode ser feito por passos e etapas.

Seja no trabalho, nas relações, nos afetos, nos sonhos por concretizar, seja na forma como se corre, se veste, se pinta, se dança ou escreve. Até na forma como se sonha e acredita.

As tentativas toldam a convicção de que vai correr bem, é assim uma zona cinzenta, que não ata, nem desata. 
Agarre-se o touro pelos cornos, Agarre-se de frente e com convicção. E aqui touro são os constantes desafios diários. Não os bichinhos simpáticos, que deixem-nos lá a pastar nos verdes prados, longe das arenas. 

Fora as tentativas fraquiiiiinhas, fraquiiiiiinhas? Venham as certezas que só se alcançam com a determinação de quem acredita que tudo está em aberto. Todas as possibilidades em jogo. Por isso... Fora as tentativas fraquiiinhas, fraquiiiinhas?