Era uma fatia triangular. De um chocolate vivo e brilhante. O creme, também ele de chocolate e de frutos silvestres, a escorrer pelo prato a fora, à procura de um espaço para se destacar, no meio daquela tentação doce, quase pecaminosa, a gritar em suplício para ser devorada.
Dá-se uma primeira trinca e mais outra. As seguintes, já em sufoco surdo, fizeram desaparecer aquele pedaço de mau exemplo às boas regras de nutrição.
Fala-se, escreve-se e publica-se muito sobre comida: blogues, programas, medicamentos, tratamentos e afins, a comida é esmiuçada até mais não. Quase até às partículas ínfimas de um átomo. E se elas são pequenas! Fazem-se muitos sacrifícios, em prole de uma vida saudável porque hoje as tentações são mais do que muitas e ao virar de cada supermercado, pastelaria ou loja de comércio alimentar. Longe vão os tempos onde apenas se estava rodeado de árvores de fruto e umas quantas hortas. Agora está tudo tão à mão (e quem se terá lembrado de colocar à venda pastéis de nata e outras delícias da pastelaria, mesmo ali perto das caixas de pagamento?!?!) que é muito mais difícil de resistir.
E aguenta-se, aguenta-se muito para um corpo mais são. Ainda bem. Mas também se coloca muito peso nas coisas. “Ai que respirei o ar desta tarte e estou a engordar!” A comida acaba por ser comida mas a culpa é tão grande que todo o encanto natural de se ter algo genuinamente bom à nossa frente, desaparece. Nesse dia, para além de calorias a mais, também se ingeriu, ressentimento, culpa, desvalorização…tudo o que tira a graça a algo tão simples como é comer, saborear.
Que seja uma vez por outra, que o pecado da gula entre pela goela adentro, mas se for para pecar, que se peque em consciência, se entenda que é um ato isolado, e que comido com prazer alimenta partes nossas que não o corpo. Como tudo, feito com parcimónia, na medida certa, só pode fazer bem. Os malditos pesos de consciência, sejam sobre a comida ou outras maleitas qualquer, atormentam feitos abutres o nosso equilíbrio e bem-estar. Por isso há que dar-lhes o devido peso, sem exagerar.
Toda esta conversa deu cá uma fome…com juizinho mas com vontade!
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