Os abraços.
Um beijo demorado.
Uma festa no braço, no ombro, no rosto.
São cinco os sentidos e parece que um deles, o toque, está em standby. Em pausa.
Desde que nascemos, habituamo-nos a ele. Porque faz falta, faz a diferença. É o toque que nos ajuda a criar a nossa humanidade coletiva, que aproxima, que acolhe, que conforta, que traduz num gesto, aquilo que nem sempre se consegue murmurar ao outro. É ele que faz libertar no nosso corpo, uma série de magias hormonais de bem estar.
Criámos um código de comunicação a partir dele e aprendemo-lo não de agora, neste instante, mas está nas entranhas dos muitos avós passados.
Faz-nos falta? Faz.
Sentimos saudades daquela liberdade que nem sabíamos que tínhamos? Sim.
Mas somos também capazes de nos adaptar, dentro da nova normalidade. É a que há, a que existe, a necessária.
Parece que nos transformamos em ilhas. Que seja uma fase, para bem de todos. Mas que dentro da nossa ilha, onde escolhemos ter algumas (poucas) pessoas com quem partilhar beijos, abraços, festas, o façamos em abundância. Por esses, e pelos outros que não beijamos, abraçamos e acariciamos. Por nós, que ainda precisamos desse toque, que nos faz bem e reconforta.
E que sejamos Pontes para as outras ilhas. Podemos partilhar, falar, rir, chorar de umas ilhas para as outras. Podemos sobretudo também ouvir as outras ilhas. Sejamos Pontes para as outras ilhas.
Falar e ouvir.
Partilhar o que nos fez sorrir e partilhar também o que nos angustia, nuns dias mais do que outros. Estarmos em constante estado de alerta provoca danos, não ajuda. Sermos responsáveis por nós e pelos outros mas sem isolar. Sermos pontes para os outros e também por nós. Falar, deitar fora, os medos, as angústias. Mandar uma mensagem, ligar a alguém, escrever um postal, mandar um pombo correio.
Seja com amigos, com colegas de trabalho, com a vizinha, com um psicólogo, com a linha de saúde, que tem, há largos meses a funcionar, psicólogos formados para nos ouvir, nestes medos que estamos todos, todos, a aprender a gerir.
Há dias e dias. E é naqueles dias, mais cinzentos, que sejamos pontes, pelos outros, e também por nós.