Realidades


Um jornalista. Um fotógrafo. Põe-se e tira-se cenário e tudo muda. A história daquelas pessoas. Basta clicar em cima das imagens.
Uma notícia de fevereiro mas que continua, atual. 
Até quando. 

Para ver aqui.


Imagem daqui.

Dúvidas e dramas em início de ano escolar


"Às vezes as crianças julgam-se e rotulam-se a si próprias. Ginott fala-nos de Philip, de 14 anos, que estava a trabalhar num projeto com o pai e acidentalmente espalhou os pregos pelo chão. Carregado de culpa, olhou para o pai e disse:
 - Que desastrado que eu sou.
- Não é isso que se diz quando os pregos se espalham - diz o pai.
- O que é que se diz? - perguntou Philip.
- Diz-se: os pregos espalharam-se, vou apanhá-los! - respondeu o pai.
- Só isso?
- Só isso.
- Obrigada, pai."

Dra. Carol S. Dweck em,
 Mindset - a atitude mental para o sucesso.

Simples? Simples. 

Estas e outras questões para dia 14 do mês que vem.



Fé!

Ouvi uma vez esta música na rádio mas não fixei-lhe o nome, só que era do senhor Steve Maravilhas e com esta falta de dados, perdi-lhe o rasto.

Cá por casa fazem-se, de vez em quando sessões de cinema e felizmente, os filmes de animação são feitos também a pensar nos pais, apareceu-me isto este fim-de-semana.

Nem mais. Muita FAITH. E ação da nossa parte, para que a fé se torne real. 

Ao som disto, impossível, não acreditar, nesta semana. 


Quando o universo responde

A Luísa, enviou-me o seguinte mail:


Sabes a verdade bem dentro de ti e entre o que achas que se deve fazer e o que realmente querias fazer há um abismo de dúvidas e incertezas e paciências que vão variando em graus e modos de estar.

Então perguntas-te a ti própria e mandas pergunta ao dia, à semana, ao universo. Na espera da resposta, a uma inquietação que não sei bem explicar e ficas com dúvidas e mais perguntas que parece que ficam sem resposta. Mas aí, sem estares à espera, e porque procuras e perguntas e aprendeste a serenar o coração, aceitando o que não podes mudar e mudando o que é possível mudar, cai-te no colo o que precisavas ouvir. De novo.




Basta 1 gesto

... para fazer a diferença.
Um dar o braço a torcer.
Um sorriso a quem não o está à espera.
Um mail ou sms só a dizer Olá!
Um minuto de silêncio e pensar em alguém que está a precisar das nossas boas energias.
Um mimo, uma pequena surpresa a alguém, conhecido ou desconhecido.

Dia Internacional da Paz é hoje e começa, em cada um de nós, nas mais pequenas coisas.

Basta 1 gesto. 

Um grupo de jovens, das mais variadas crenças, mostraram isso mesmo. Cada um deles deixou uma mensagem, respeitando as suas verdades espirituais. Para ver aqui.



Imagem daqui.

Vamos cuscar 20#


A Sandra sorri com os olhos e estes são grandes e cheios de vida, não aguentando o tanto que têm para dar. Talvez por isso, decidiu dar do seu olhar aos outros. Um gosto em estar com eles, e este seu jeito de estar com os mais novos. Lembro-me de a ver pequenita, quando morávamos pelo mesmo bairro. Mais tarde nas saídas à noite, pelo café do costume e depois a Sandra andou a viajar por aí, à procura dessa sua vontade de estar perto dos mais pequenos até que, há tempos me apercebi que esse por aí era… Timor Leste. Daqui até lá são uma data de quilómetros, mais ou menos, mais de 14 mil e trezentos. Então, o que fez a Sandra rumar até tão longe? Vem aí mais um Vamos Cuscar.



Idade: 34
Naturalidade: Sertã
Comidas preferidas: Cozido à Portuguesa
Um livro a não perder: Inteligência Emocional, de Daniel Goleman, não só pelo seu conteúdo mas porque naquela altura me fez pensar...

1.       Desde que eras miúda, querias tomar conta de miúdos?
Não, como todas as miúdas eu quis ser quase tudo: polícia, arqueóloga, professora, psicóloga...


2.       O que te fez escolher esta área?
Ter uma família grande cheia de primos mais novos ajudou bastante, sempre me habituei a lidar com crianças. Mas acho que só durante o curso e quando comecei a trabalhar é que percebi que era mesmo isto que eu queria fazer. Somos bastante imaturos quando escolhemos a nossa formação, que hoje não é estanque, e ainda bem.




3.       O que é que os mais novos te ensinam?
Tanta coisa... a visão pura da vida e o foco nas coisas simples, a ser mais flexível, a ouvir antes de julgar, a ser mais jovem e mais alegre.



4.       Os filhos dos outros, passam a ser, um pouco, os teus filhos?
Grande parte do meu dia é passado com aquelas crianças, vivo as suas inseguranças e a suas certezas, sou alvo de críticas incisivas e de carinhos inesgotáveis. É muito fácil criar laços com crianças, desde as mais serenas às que requerem mais atenção.


5.       Como geres a despedida destes filhos emprestados, no fim de cada ano letivo?
Com o tempo habituei-me a este vai e vem de "filhos",  mentalizei-me que eles têm que crescer, seguir o seu caminho e eu o meu. Mas mantenho contacto com alguns, é muito interessante ver de longe o seu percurso e confirmar que alguns traços da personalidade ainda estão lá, bem vincados, desde pequenos.



6.       O que é que não se diz e é preciso dizer, sobre a educação de infância?
Que somos a base do ensino, e que esta base bem consolidada é o pilar de uma aprendizagem de qualidade. Que os educadores de infância são profissionais, que a educação de infância é uma atividade profissional, pensada e estruturada. Que não "tomamos conta" de crianças e que a nossa experiência e perspetiva devia ter tanto peso como a de outros profissionais.



7.       Deves ter muitas histórias na tua arca de recordações. Lembras-te de alguma em particular?
São tantas... mas falando em críticas e sinceridade, depois de um ataque de acne, ouvi de uma criança: "Ai Sandra, hoje estás tão feia."



8.       Partir, rumo a Timor Leste é uma decisão audaz. O que te fez comprar o bilhete de avião?
Timor-Leste era um sonho antigo, desde os tempos das imagens na televisão do massacre de Santa Cruz, que naquela altura, talvez pela idade, me marcaram bastante. Daí surge a curiosidade por este país e por este povo. Foi um sonho constantemente adiado, esta não foi a primeira vez que tentei vir para Timor-Leste. Poder aliar a parte profissional, à descoberta deste país e deste povo,  foi a oportunidade que não deixei escapar. 




9.       À chegada, que desafios encontraste?
A adaptação a outra cultura, outros hábitos, outro clima, aos olhares... os primeiros tempos são de constantes novidades a cada minuto. Nada é nosso, nem as pessoas, nem as condições de vida, no início sentes falta de quase tudo... Como fiquei na montanha a adaptação ao isolamento também foi lenta, até reinventar novos hábitos e novas rotinas demora algum tempo. Mas o ser humano tem uma impressionante capacidade de adaptação e neste momento já me sinto perfeitamente adaptada, primeiro estranha-se e depois entranha-se.



10.   Nesta altura em que o mundo, por vezes, parece um pouco ao contrário, o que tem Timor para oferecer?
Tem muito. Pessoalmente dá-me uma perspetiva do mundo para além da minha caixinha, a capacidade de valorizar as coisas mais simples, de me superar a cada dia e de relativizar os obstáculos.  Profissionalmente ainda existe respeito pela figura do professor e valoriza-se o ensino. Todos os dias cresce um sentimento de utilidade que me enche o coração e a alma.



11.   Como é um dia típico teu?
Às 8h começam as atividades letivas, que decorrem durante a manhã, de tarde regresso à escola, para planificação, preparação de materiais, apoios ou para atividades com a comunidade, como a formação de língua portuguesa e de cozinha, por exemplo.




12.   Deve haver momentos de saudades. Do que já vais sentindo falta?
No início sentia falta de tudo, foi uma mudança de estilo de vida drástica.  Agora sinto falta de passar tempo com a minha família e com os amigos, as tecnologias encurtaram um pouco a distância, no início, mas agora as saudades já apertam.



13.   Semelhanças entre Portugal e Timor… quais?
São um povo genuíno como o povo português, mas é uma nação muito jovem, que foi oprimida durante muitos anos e está agora a soltar as amarras. Culturalmente, a influência portuguesa já é muito dispersa, por causa dos anos de ocupação indonésia.  Com a independência, a língua portuguesa torna-se uma das línguas oficiais de Timor-Leste, mas não são muitas as pessoas que dominam esta língua. São maioritariamente Católicos, ainda por influência portuguesa, mas são mais participativos e conservadores.  Um beijo no rosto, durante um filme visto em público, ainda dá direito a ovação de pé e rostos corados.

Ainda é um país em reconstrução, faltam infraestruturas e recursos de quase todo o tipo. Esta diferença sente-se especialmente nas localidades mais isoladas, tal como também acontece no nosso país, noutra proporção, na zona centro, por exemplo. A diferença é que aqui não se sente o envelhecimento da população, pois a taxa de natalidade é bastante alta.

Ao nível do ensino também há muitas diferenças, a nível de infraestruturas e de formação de professores. Mas tem-se feito um grande esforço para colmatar estas lacunas. Acredito que com o tempo e empenho se chegará a bom porto.


Quanto às crianças, são alegres e espontâneas como em qualquer parte do mundo. Aqui valorizam o essencial, joga-se "à bola" descalço ou descalça-se o pé que chuta a bola, para não estragar os sapatos, e  chora-se compulsivamente quando se estraga um chinelo.

14.   O que vais trazer na tua bagagem?
Uma vivencia muito diferente, novas experiências, o contacto com outra cultura, uma nova forma de interpretar e lidar com os problemas, muitas histórias, boas recordações e saudades ...



15.   Depois de Timor, quais são os teus planos?
Viver um dia de cada vez... mas esta experiência despertou-me a curiosidade por conhecer outros países da comunidade de língua portuguesa, quem sabe...


16.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?

Eu acredito que se estamos aqui, é para sermos felizes, então, se não te faz feliz, muda-te. 




A chatice de viver no campo

De vez em quando, uma das partes do meu trabalho, está relacionada com desconstruir estereótipos e preconceitos. Por vezes sobre culturas diferentes porque o facto de as pessoas terem cores de pele, também elas diferentes ainda causa comichões. Outras vezes é mesmo só esta coisa muito simples e básica entre o mundo do litoral e a zona centro. 

Há uns anos atrás, por via de um intercâmbio de escolas, entre zonas do interior e zonas de cidade, havia miúdos a dizer que os do interior não deveriam ter casa de banho, nem tv´s e o acesso à internet deveria ser inexistente. Da mesma forma, os jovens do interior consideravam que os jovens da cidade litoral eram todos uns betos. Rapidamente perceberam que eram todos afinal e apenas... jovens.

Prefiro nem fazer muitas contas mas tudo isto já aconteceu para mais de dez anos e na verdade, continuo a ouvir comentários um pouco ... tontos sobre o que se pensa das pessoas das zonas interiores. Aliás, o que me incomoda sobremaneira, é um certo sentimento de coitadinhos por estarmos isolados do resto do mundo. E isso levou-me a reflectir que, realmente, viver no "campo", no interior profundo é uma chatice. Ora veja-se:


  • sempre que se consultam sites de promoções para passar fins-de-semana fora, aparece o qué? Turismo Rural. E isso é um pouco aborrecido, porque turismo rural já se faz por cá o ano inteiro.
  • um exagero de produtos biológicos. É a vizinha que vem dar só mais uma molhada de couves e abóboras que já não sabe o que lhes há-de fazer. Ou a tia Luísa que fez mais uns frascos de doce de maçã porque estavam todas a cair lá no pomar e o melhor foi fazer mais um docinho...biológico. E os ovos? Senhores, quando as galinhas resolvem começar a pôr, é uma chatice de ovos por estes lados. Ainda por cima sempre com aquela mesma cor laranja forte da gema. Caseiros, blhéc. 
  • por norma é um trânsito em que, nem sempre chegam 5 minutos para levar os miúdos à escola. Nos dias de mercado, é melhor contar com 10. Nunca se sabe se não vai estar um trator a fazer caminho também. 
  • há praias fluviais, caminhos pedestres para explorar e uma data de pássaros de manhã que não se calam. E muito silêncio às vezes. À noite ouve-se muito pouco e isso é coisa para uma pessoa apanhar um esgotamento. 
Pois, viver no interior tem uma série de contratempos porque ainda há muito para resolver e melhorar mas tem também muitas chatices que quem escolhe assumir como suas, as abraça com alma e entrega. 

A chatice de olhar para isto, todos os dias ao acordar. Não se a-g-u-e-n-t-a. 





Material (muito importante) para levar na mochila

Na maior parte das casas, o material está quase todo comprado e foi uma renda daquelas. Mas às vezes há um outro material, tão ou mais importante que este, para seguir, todos os dias, com os mais pequenos, na mochila. Foi sobre esse que escrevi em mais um artigo da secção de família, do site Delas :)

Para ler aqui.


imagem do facebook daqui.


Vamos a Aveiro?

Vai ser no próximo dia 7 de outubro, o Pais que Respiram em ... Aveiro!

Uma cidade que me diz tanto, pelos afectos bons que lá tenho. 
No bonito Espaço Criativo Biscoito.


Ainda há verde, senhores

Cá por casa, a cor verde é sempre vista com alguma "febre" ou não fosse o homem mais velho daqui, portador de uma doença chamada clubite-aguda-verde. Pelas minhas bandas pessoais, gosto do verde desde sempre. Casei-me de verde, por exemplo. Ainda não cheguei (nem chegarei!) ao ponto de pintar o cabelo desta cor mas gosto muito da sensação que o verde provoca. 

Uma enorme gratidão por ter o privilégio de viver, precisamente, rodeada de tantos elementos da natureza... verdes! Depois de tudo o que aconteceu este verão, o cenário mudou um pouco e há muitos lugares que foram substituídos pelo cinzento. Demasiados. Aliás, atrevo-me a dizer que fosse apenas um metro quadrado e já seria demais. Só que foram muitos, muitos, muitos, muitos, muitos quilómetros quadrados. 

Contudo, contrariamente ao que também se anda por aí a pensar, a zona centro, não ficou toda preta, nem vestida de cinzento. Há espaços que, felizmente, continuam intocáveis e é preciso ajudar a divulgar que assim é. É que esta é uma forma, tão boa, como outra, de ajudar as gentes da região centro: continuar a visitar os locais, dar-lhes vida. E este fim-de-semana fomos a um desses lugares, quase mágicos, onde entre muitos pássaros e o vento a passar nas árvores, se ouviu ... o silêncio. A quinze minutos de casa. 










Aconteceu assim

O primeiro encontro foi em março e foi tão cheio de tudo, que houve esta necessidade anunciada de nos voltarmos a sentar à volta de uma mesa. O grupo não estava todo porque já se sabe que é difícil de reunir todas as pessoas aos fins-de-semana. Era também, para durar só uma hora e foi muito mais. Mais uma vez recebidas, de forma tão genuína e boa pelo Convento da Sertã Hotel. Aquele espaço, cheio de histórias e muito sereno, ouviu partilhas, exercícios simples e vontades de se chegar mais longe, nesta coisa da parentalidade. 

Foi um final de tarde com o coração no ar, mas os pés bem assentes no chão porque cada uma das mães que ali estava, sabe bem os filhos que tem em casa e tem, simultaneamente, presente as dinâmicas da sua família. E é isso que é sempre tão bom: há partilhas mas nesse respeito tão verdadeiro de se começar a ter consciência que as famílias são todas diferentes. Apenas teimam em ter, em comum isto: a vontade de serem mais felizes. 















Dia 1

Há quem defenda que são precisos 21 dias para que algo se transforme num hábito. Para alguns funciona mais, para outros não é preciso tanto. 

Pode ser ler, começar a caminhar ou correr, brincar 10 minutos, deixar de fumar, comer fruta, largar o açúcar, sorrir para um desconhecido. A lista não tem fim.

Tenho uma meta para mim. Já comecei esta corrente ao longo dos últimos meses, várias vezes. Cheguei aos 14 dias seguidos. Hoje foi um novo recomeço. 

Aos dias 1.
Aos recomeços.
Vale sempre a pena tentar.










Imagem daqui.

Conjugar o verbo Ouvir

São muitas mudanças:
horários
amigos
professores
rotinas
desafios.

Controlar, a algum custo, a muita vontade de os proteger e de dizer uma série de informações que já se sabe, são demasiadas para assimilar, todas de uma vez. No meio disso tudo, praticar muito o verbo Ouvir. 

Ouvir 
quando estão calados;
quando ficam frustrados com coisas que antes não ficavam porque é a forma que têm para dizer que se sentem ansiosos com os novos desafios;
quando se decide dizer demasiadas coisas logo pela manhã quando basta um abraço e uma frase curta de incentivo;
quando começam a falar do que se passou e o que deveria ter-se passado, sem nós interrompermos com demasiadas perguntas. Eles já têm muitas a pairar na cabeça.

E esperar, no ritmo deles, que aos poucos, tudo vá bater certo. Porque vai.




Imagem daqui.

Pais que Respiram na ... escola



Juntar pais, dúvidas, partilhas, um punhado de estratégias, sentido prático e a dose certa de coração. Numa tarde, à volta de uma mesa, com sabores e saberes. 


Informações: abelpb@gmail.com
Inscrições abertas até 7 de outubro. 


Hábitos novos

O ser humano é um ser de hábitos e tanto é bom fugir a eles como dá muito jeito, segui-los: poupa-se tempo e sobra para o que é realmente importante. Neste arranque de ano escolar que sobre muito para
olhar nos olhos,
para dar as mãos,
para abraços apertados mesmo que digam que já não querem muito à frente dos amigos,
comer e conversar com vagares possíveis e
para rir.

Criar hábitos que ajudem aos mais novos para ler aqui e hábitos bons para os pais aqui.



Imagem deste autor

Amor e sabedoria de pais


"Como princípio, devemos assumir que os pais amam mais o seu filho do que nós, conhecem-no melhor do que nós, que a sua intuição é preciosa e que é uma honra entregarem a sua história de amor ao nosso cuidado."

Marta Gautier (psicóloga) em Não há famílias perfeitas.

Foto daqui.


Deste fim-de-semana cinzento

O telemóvel tocou pelas 3h30 da manhã. Um sono já muito solto porque o adormecer tinha sido já com a agitação de quem por cá mora e se habitou a estar de sobreaviso. 

O telemóvel tocou pelas 3h30 da manhã. Do outro lado avisavam-me da possibilidade de o fogo vir parar perto da nossa casa. "É desta." Levanto-me, molho o terraço onde já estão algumas fagulhas. Abro as janelas viradas para a estrada. Olho e demoro-me no olhar das árvores que todos os dias agradeço por ali estarem. Estou-lhes muito grata. Está vento. Um vento de sortes, de viragens, de humores repentinos. Visto-me, para o que der e vier. Os meninos dormem. Ele está longe, noutros fogos e com o coração cá. Diz-me que queria estar aqui, mais do que nunca, para nos proteger. Sossego-o e digo-lhe que estão outros, com aquela garra e entrega. Ligo-me a gente amiga que está também de sobreaviso, através das redes sociais. Estamos mesmo em rede. Fica tudo em estado de alerta. Pelas seis e meia adormeço. A nossa sorte foi a perda de muitas outras pessoas. Ainda não foi desta. 

Há um constante estado de alerta, pelas sirenes, pelo cheiro, pelos aviões que passam de cinco em cinco minutos, por mais uma mensagem que cai a dizer de perigos e pedidos de ajuda. Um "É desta" que se cola a cada um de nós, que por aqui vive. E depois o que fica, o que foi. Uma paisagem morta e que mata também quem vive no meio dela. As gentes repetem: "Está tudo tão triste, tão cinzento, tão negro, tão negro...". 

Pó voa
O fogo entrou pelos barracões, subiu oliveiras, rastejou pela erva seca. O fogo comeu a terra. Asfixiaram-se árvores de um tempo mais antigo que os primeiros Homens. O sol era um círculo vermelho e o carro ardeu. Junto ao cruzeiro, os pomares abortaram frutos prematuros e incandescentes. Mãos velhas gemeram e suplicaram vozes por uma milagrosa chuva. Dinossauros e pequenos sapatos derreteram, deixando em combustão os vestígios da infância. 
O meu pai tinha os olhos tristes.
A vida ardia.
Nós somos isto e por isso cheiramos a queimado por dentro.
Não choveu. A nossa casa é uma aldeia em cinzas.


 A Joana Lopes foi uma das pessoas que viu a sua aldeia de infância e de histórias escurecer. Este texto é dela. Deu voz ao que muitos não conseguem pôr por palavras. 

Entristecem-se os olhares e pairam muitas perguntas no ar, que só não tomam outras proporções pelos cansaços destes dias. As pessoas precisam de respostas que tardam em chegar. Até que cheguem e não, a mãe-Natureza continua. Daqui a uns tempos, vão começar novas ervas e fetos a despontar, e mesmo algumas árvores, em jeito de teimosia, vão rebentar novas pernadas, em jeito de mostrar que haverá sempre caminho a fazer, até que também ela, a mãe-natureza, um dia destes se canse. Até lá, estas gentes vão chorar, vão estar tristes mas a seu tempo, vão voltar a caminhar porque são feitos de uma garra bonita de resistência, coragem e acreditares. 




Dizem que a escola vai começar em setembro



Pela primeira vez para os pequenos e para muitos pais também. Pela primeira vez, por estas bandas são os dois a porem as mochilas, a terem um nervoso miudinho saudável na barriga, com as expectativas normais de reencontrarem amigos antigos, conhecerem caras novas, testarem-se junto de professores que nunca viram na vida. 

Testarem-se também a eles próprios. Os miúdos não dizem que não querem fazer má figura directamente. Que têm vergonhas, no plural, porque há muitas coisas novas a descobrir. A maioria tem algum receio do que os pais e até professores, pensem das suas capacidades. Não de forma declarada, claro. Mas está lá. Por gostarem tanto dos pais e desses adultos que agora vão passar tanto tempo com eles, querem muito que a coisa corra bem. Compreende-se. No fim e no princípio gostamos que as pessoas de quem gostamos, gostem do que fazemos. É muito gostar mas é verdade. 

E também em relação aos amigos e colegas. Serei chamado para as brincadeiras? Porque estão a rir-se de mim? Comparam-se porque faz parte. Alimentar as comparações é que não, seja com o primo, a irmã que sempre fez um brilharete na escola, ou o periquito. Cada um tem o seu ritmo e a sua riqueza de personalidade. Porque os miúdos, na sua generalidade, resolvem esta questão do stress, de forma muito simples, haja adultos que compreendam e os deixem. 

Os miúdos são crianças e esta frase, que parece uma redundância, na verdade, não é. Os miúdos, resolvem isto muito bem a jogar à apanhada, a dançar, a ouvir música, a jogar à bola, a gritarem muito nos intervalos e a voltarem a correr. Deitam para fora. São muito mais simples do que os adultos que ficam em tensões e ansiedades a acumular, a acumular. Portanto, nos dias antes e nos dias depois...é deixá-los descarregar como só eles sabem. Lá pelo meio, ir respirando e pô-los a eles também a serenar, com calma e carinho, cada um à sua maneira: uns a ler, outros a pintar, outros a caminhar a ritmos compassados para que dê tempo de observar. Entre o acelerar e o desacelerar, que haja tempo para que eles sejam o que sabem ser tão bem: crianças. 


Foto daqui.

Dos amigos do caraças

As amizades à séria fazem parte do movimento slow, em detrimento do fast-food, fast-relation. As amizades à séria precisam de tempo para apurar. Umas vezes esturricam e agarram-se ao fundo da panela, para logo a seguir se descobrir que importa muito o que fica à tona do tacho. São assim como alguns vinhos: quanto mais tempo passam, melhor ficam. Ou a fruta, para ser colhida madura. As amizades à séria não andam, por isso, por aí, aos tombos e caídos. Nem sempre são as que têm o ar mais fotogénico ou as que aparecem bonitas em todas as poses. São simplesmente o que são. Levam o seu tempo, tem os seus contratempos mas estão lá, porque são de verdade. Passe muito tempo ou não, mas aguentam a outra pessoa despida: sem sorrisos, sem finais felizes, sem dias cor-de-rosa. Aceitam a pessoa como inteira. 

A minha amiga D é assim. Temos, em conjunto uma montanha-russa de acontecimentos que se perderam ao longo do tempo. Ora ela, ora eu. E isto já vai para tantos anos que, cronologicamente sei identificar, mais ou menos o ano em que isto começou. Emocionalmente não existe ano, tal não é o emaranhado de emoções tão boas que temos uma pela outra. Ela é verdadeiramente do caraças. Por dois motivos tão simples e tão grandes. Acontece-lhe muita coisa, não necessariamente boa. Muitas das coisas que lhe acontecem são até más, feias, injustas, numa espécie de roleta russa que se lembra de parar, muitas vezes na casa dela. Há pessoas que se queixam muito de pequenos nadas, porque têm uma verruga no dedo mindinho do pé, porque a tonalidade da pele não ficou bem na fotografia. Quando ela se queixa, há mesmo coisas sérias a acontecer e há uns anos para cá, têm sido muitas coisas. Demasiadas até. 


O outro motivo do caraças tem a ver com o coração dela. Não sei se algum médico especializado na coisa já o mediu ou fez-lhe exames atentos mas o coração dela não é propriamente normal. Tem uma capacidade muito grande de dar e de amar. Digo isto sem qualquer tipo de lamechice. Ela ama verdadeiramente quem a rodeia. Ama tanto que se esquece dela muitas das vezes. E fá-lo com uma simplicidade tal, que lhe é natural. Ela é assim. Ponto. 


Por estes dois motivos ela é do caraças. A roleta-russa resolveu dar mais uma paragem no número dela e já chegava porque as pessoas também têm os seus limites, certo? A impotência de se ver um amigo assim dói muito. Faz-se o que se pode: dão-se ouvidos e abraços e procura-se pensar em conjunto. Foi aí que, falando com outras duas amigas do caraças, com quem nem sempre se está ou fala, mas que, a um pedido nosso, se chegam à frente. E não se chegam à frente por nós. Chegam-se à frente por uma pessoa que nem sequer conhecem mas apenas porque lhes estamos a pedir ajuda. "" isso. Fazem-no com uma entrega e um carinho tal como se fosse para mim, que sou a amiga directa. Fazem-no a uma pessoa anónima, desconhecida que nem sei se algum dia vão conhecer pessoalmente. Uma delas só dizia: "Mas não estamos cá uns para os outros?"


Estamos pois. Por isso, na mesma proporção em que se vê gentinha a passear por aí, vêm-se também amigos do caraças e por esses, vale a pena acreditar, que de uma forma ou outra, no fim isto vai bater tudo certo. 

D, isto vai bater tudo certo. ❤



Imagem daqui.

Pais que Respiram ... está de volta.



O Pais que Respiram é um dos projetos que mais me enche as medidas como pessoa e profissionalmente, pela liberdade de ação que tem, por ser tão dinâmico e por todas as emoções de verdade em amor que traz, para quem quer pensar nestas coisas da parentalidade de uma forma diferente.

Próximas datas:

setembro:

  • 16 - Pais que Respiram ... o depois - Sertã

outubro:
  • 7 - Pais que Respiram em ... Aveiro 

  • 14 - Pais que Respiram ... na Escola - Sertã

  • 28 - Pais que Respiram em ... Lisboa
Inscrições e informações: abelpb@gmail.com


Quando o coração acredita...



... de uma,
ou de outra forma,
a cabeça encontra uma forma de dar certo.



Imagem daqui.

Coisas para 2ª e depois.

Às vezes é apenas tempo para parar e silenciar e deixar que as respostas venham de dentro. Entre o muito que há para decidir e viver todos os dias, há um emaranhado de coisas para decidir. Um novelo. Às vezes é um novelo no topo do pescoço que é como quem diz, dentro da cabeça. Sem saber da ponta do novelo ou da forma que se lhe queira dar. 

Voltar à respiração compassada, lenta, pausada. Fechar os olhos. Deixar o novelo acalmar. Pôr a cabeça descansada e deixar que o coração diga que direcções tomar. Silêncio. Basta isso que as respostas vêm. Estão todas cá dentro.

P.S.: Voltar a este desafio de conseguir 21 dias seguidos com um pouco de meditação. 


Imagem daqui.

Cheiro a Férias - parte II

A maior parte está a terminar as férias de verão e há quem diga que a melhor forma de o fazer é começar já a pensar ... nas próximas.

Há uns tempos falei de um projeto muito bonito e cheio de pormenor aqui, prestes a começar: Wonderful Nest. A história da Isabel Vargem e como, após ter passado por Berlim, Nova Yorque e Luanda, decidiu-se por dar vida a um espaço dos seus avós. 

A partir de hoje estará oficialmente aberto, em Alcantarilha, Armação de Pêra e já conta com marcações para setembro. As imagens convidam tanto a ir já, rumo a sul, pelos muitos pormenores que a casa tem, desde a piscina no pátio, à parede que conserva ainda, os traços de pedra a contar histórias, há duas centenas de anos. 
















Para ver mais, basta clicar aqui  ou aqui