Sento-me na
plateia como todos os restantes pais babados. Sabemos que o que se vai seguir
representa muitas horas de empenho e dedicação. Dos mais pequenos, os médios , das
maiores e dela. Sobretudo dela porque
se lhe sente a expectativa daqueles dias em que se mostram finalmente as muitas
coreografias, pensadas e sentidas meses antes. Percebe-se em cada detalhe que
coloca nas atuações que foi tudo pensado ao pormenor, desde as roupas, aos
cenários, ao bem estar dos mais pequenos, no incentivo às mais velhas, num
cuidado atento às necessidades das diversas faixas etárias. A Diana é assim.
Uma apaixonada pela dança que procura aperfeiçoar, em conjunto com estas tantas
gentes que coordena e guia, em cada aula, em cada sarau. Sendo apaixonada pela
dança já a desafiei a criar um grupo de gente ainda mais crescida. As vergonhas
do palco dispensam-me as actuações mas a vontade de ritmos sincronizados, vendo
o corpo a trabalhar em uníssono com a música, deixar-me-iam tentada a
experimentar.
Ouço as mais
velhas a organizarem-se, gerindo tempos de estudo para os exames e cancelando
férias para estarem presentes. A dança poderá ser o denominador comum a esta
vontade de se apresentarem em palco. Mas é mais. A Diana dá-lhes um espaço para
se exprimirem e que vai para lá da dança. Entre confidências, rigor e treino,
sabem que ali é um porto seguro onde estão presentes muitos valores que as vão
acompanhar em outros momentos das suas vidas. Ficam de fora as chatices com os
pais, os namorados, um ou outro teste que não lhes tenha corrido tão bem. Os
mais pequenos sentem a festa, o respeito a serem crianças ao mesmo tempo que
aprendem coisas tão simples como trabalhar em coordenação de grupo, a não
deixar ninguém para trás, a disciplina, a divertirem-se e a exporem-se, depois
de trabalho e esforço, perante os outros.
Esta é a Diana
deles e de todos nós pais que lhe agradecemos num bem haja sentido. Vamos
Cuscar a Diana Passos?
Idade: 30 anos
Naturalidade: Cernache do Bonjardim
Comidas preferidas: Massas e Pizza
Um livro a não perder: “ O céu existe
mesmo” de Todd Burpo e Lynn Vincent
1. Quando nasceste, vieste a dançar?
Sim, hoje em dia chego a pensar que
sim. Quando era criança dançava muito sozinha no quarto em frente ao espelho.
Era ali que me sentia livre. Há 20 anos atrás a única programação com música e
dança que dava na TV era o Top +, ao domingo à tarde, passava a semana à espera daquele
momento só para ver os bailarinos a dançar nos video clips das estrelas norte americanas ... chegava a gravar e depois durante a semana imitava os bailarinos, desde a mão
para cima bem esticada, até ao pé para o lado esquerdo.
2. A paixão pela dança começou como?
Quando eu era adolescente não se ouvia falar
em dança, apenas nas grandes cidades se podia praticar e em poucos sítios, mas
dentro de mim eu sentia que era algo muito forte. Aos 13 anos durante as férias
organizei com as minhas amigas uma coreografia para dançarmos num evento que se
fazia nas Piscinas Municipais de Cernache. Treinávamos imenso, muitas horas, passávamos
tardes e tardes naquilo e gostámos tanto que voltámos a repetir no ano seguinte.
Chegávamos a ir à feira comprar uma roupa para o evento, com os trocos que cada
uma conseguia e a minha irmã já nessa altura, fazia-nos os penteados. Era um
misto tão bom de sensações que com 16 anos procurámos um sitio em Cernache para
treinar mais a sério. O Bar Clube de Cernache abriu-nos as portas e fundámos o grupo
DanceClub.
3. Porquê o Hip Hop?
Hip Hop porque é uma dança livre, podemos
dançar como nos apetecer, dentro dos parâmetros do Hip Hop, claro, mas
expressar-mo-nos livremente é do melhor que há. Inventar o que o nosso corpo nos
fala através de movimentos é simplesmente
fantástico.
4. Todos os dias é preciso dançar?
Claro
que sim! Não há nada melhor que por uma música, seja ela qual for, e deixar o
corpo sentir o que ouve, da maneira como cada um entender. Dançar liberta-nos,
faz-nos sorrir e é possível fazê-lo em qualquer idade e faz tão bem à alma.
5. Em palco vemos a dimensão do número de
crianças e jovens que geres. Quantos começaram por ser e quantos são agora?
Começaram
por ser 7 meninas de 8 anos que adoravam dançar e que ajudei na participação
delas num evento. Elas gostaram tanto e os pais também que me incentivaram a dar-lhes
aulas. Entretanto tudo foi crescendo e em Dezembro de 2016 chegámos aos 200
alunos.
6. Quais são os maiores obstáculos que
encontras para pôr um projecto destes a dançar?
Talvez
passar para muitos pais e adultos que dançar não é fácil, que não é como correr
uma estrada e voltar. É preciso treinar muito para que todos dancem ao mesmo
tempo nos “tempos” corretos da música. É preciso todos estarem presente nos
treinos para que consigamos dançar em grupo, porque nós não dançamos individualmente,
dançamos em conjunto e por isso precisamos uns dos outros.
Todos
eles quando começam a dançar percebem que é difícil e para o resultado final ser
bonito não é tarefa fácil, é preciso muita coordenação motora, conjugar braços
com cabeça e pés, para o lado esquerdo e depois direito e cima e baixo, tudo ao
mesmo tempo, é muito difícil. É preciso
decorar os movimentos, a coreografia, estar concentrado para que tudo flua com
naturalidade e no fim de tudo que se divirtam enquanto estiverem a dançar, que
esse sim, é o principal objetivo.
Tenho
alunos que se queixam que a mãe não compreende que seja preciso treinar tanto ou
que chega até a desvalorizar o que ela anda a fazer nos treinos ou que o pai se
chateia por ver a filha sempre a dançar no corredor, nas compras e no médico.
Tal como investir em roupa para o
Espetáculo ou atuações . Dança é arte e a roupa também faz parte de toda a
coreografia que foi criada. A roupa é essencial para que todos se sintam ainda
mais Unidos, interligados. Nós dançamos em grupo, precisamos uns dos outros, no
Hip Hop um dos valores mais mencionados é “precisamos de Todos” para que no
final tudo brilhe de uma forma bonita.
7. Nos dias de dúvidas e incertezas, onde vais
buscar as tuas forças?
Aos abraços, aos sorrisos, às frases ditas
e ao brilho no olhar que recebo
diariamente dos meus alunos quando entram na sala de aula.
8. As tuas maiores fontes de pesquisa e
formação artística têm origem em quem?
Portugueses: Vítor Fontes, Rita Spider, Vítor Fonseca- Cifrão,
Internacionais: Laure Courtellemont,
Matt Steffanina, Kyle Hanagami, DanaAlexa
9. Que sonhos tens para o Dance Club?
Ter a nossa própria escola era um sonho meu
e de muitos alunos que já andam no Hip Hop há muitos e muitos anos. Ter um
sítio onde pudéssemos treinar sempre que quiséssemos e ter a nossa marca era
uma sonho de todos nós.
10. E para ti, em termos de dança, o que será
um sonho tornado realidade?
Com
muito orgulho e grata por estes 10 anos de trabalho, o meu maior sonho a nível de dança já foi
cumprido. Era ensinar, fazer chegar a cultura do Hip Hop a muitas e muitas crianças do nosso
Conselho e arredores. Dar-lhes a possibilidades de poderem aprender na sua
terra sem que fosse preciso ir para as grandes cidades como aconteceu comigo.
Sempre
quis incentivar as crianças a sair de casa para vir fazer algo diferente, algo
que mexesse com o interior delas, algo que viesse da alma, do coração.
11. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos
remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu
dia-a-dia?
Os
sorrisos sinceros de todos os que me rodeiam e me querem bem. Ver a felicidade
estampada em cada rosto dos que amamos é sem dúvida o melhor penso rápido que
podemos ter na vida.