Há uns tempos
comecei a dar comigo a dizer aquelas frases de “Andei contigo ao colo!” ou
“Lembro-me de ti em pequeno!”. Evito sempre pronunciar tais afirmações por dois
motivos: pelo jovem que tenho à minha frente e que considera estas frases
sempre com um ar de “O que é que eu tenho a ver com isto!” e por mim. COMO É
QUE JÁ ANDO A DIZER ESTAS FRASES??
Por esse mesmo
motivo, quando vi um post do Diogo como campeão, tive que olhar duas vezes
porque nem o estava a reconhecer desde a última vez que estivemos juntos, num
tão bom jantar de família. Está o dobro do tamanho, e ele já era grande na
altura, e um sorriso rasgado a substituir-lhe o olhar tímido da última vez. O
motivo também não era para menos… o Diogo consagrou-se, no passado 28 de maio, como
Campeão da Europa da JSKA em kata e
Vice-Campeão da Europa da JSKA em kumite. Ah?!?! Pois, na altura também
fiquei sem perceber mas o meu amigo Google lá me explicou que JSKA significa Japan
Shotokan Karate Association. Percebi também
que fosse o que isto fosse era sinónimo de muito trabalho e dedicação e que
precisava de ser passada a palavra. Só mais uma nota importante. O Diogo vive numa aldeia da Beira Alta. Só para que se vão desconstruindo preconceitos face ao interior.
Vamos cuscar o Diogo?
Idade: 15
Naturalidade: Lisboa
Comidas preferidas: Hambúrguers e Pizzas
Um livro a não perder: Ainda a descobrir
1. Chegar às finais e vencê-las é um caminho
que começou… quando?
Este
processo já vem desde alguns anos atrás. Tudo começou quando eu ainda era uma
criança de 5 anos, que estava ali com o intuito de ganhar alguma
responsabilidade e concentração, porém, com o passar do tempo, o gosto pela
modalidade e pela competição da mesma veio por acréscimo, e então comecei a
treinar mais e melhor, esforçando-me sempre ao máximo e ultrapassando sempre
todos os obstáculos, encarando o Karaté não como um simples desporto, mas sim
como uma forma de vida.
2. Assim para quem não percebe nada de artes
marciais, explica em que consiste esta modalidade.
O karaté é uma modalidade que tem como objetivo desenvolver
a capacidade de autodefesa dos seus praticantes. Este engloba, no seu geral, 5
máximas que são: Carácter, Sinceridade, Esforço, Etiqueta e Autocontrolo, que
nos ajudam a ser pessoas mais calmas, mais honestas, mais humildes e mais
concentradas.
Este desporto
divide-se em duas principais provas que são: Kata e Kumite. Kata é uma luta
imaginária contra um ou mais adversários, expressa numa sequência fixa de
movimentos, enquanto que o Kumite é o chamado combate livre que junta dois
oponentes.
3. Como vieste parar à JSKA?
Todos os anos se
realiza a Taça Nacional da JSKA, onde participam os melhores karatecas do
estilo Shotokan do país. Os meus senseis (mestres) sempre me estimularam para a
participação nesta prova, e com a sua ajuda e claro, com muito trabalho, fui
conseguindo boas classificações, apesar de não serem suficientes para ir a um
Europeu. No entanto, estes resultados foram-se transformando em garra e
determinação para continuar a esforçar-me. E foi com este espírito, que no dia
14 de maio consegui os pódios de 1º lugar em Kata e 2º lugar em Kumite,
sagrando-me Campeão e Vice-Campeão Nacional da JSKA, conseguindo assim o
apuramento para a Hungria, onde obtive precisamente as mesmas classificações.
4. Quando é que te começaste a aperceber que
havia mesmo possibilidade de te sagrares campeão europeu?
Se no dia anterior
à competição me tivessem dito que seria o próximo Campeão Europeu, eu era capaz
de me rir, até porque foi a primeira vez que eu competi a nível internacional,
a representar o meu país. Para além disso, quando vi o sorteio reparei que
tinha um dos atletas favoritos à conquista
desta prova, o que me deixou muito nervoso. Ainda assim, com muita
concentração e vontade consegui vencê-lo, ganhando, consequentemente, muita
autoestima e adrenalina ao mesmo tempo, começando a acreditar que o título,
afinal não estava assim tão longe e que eu tinha a possibilidade de lá chegar.
E foi com esta determinação que aos poucos e poucos, eliminatória após
eliminatória me fui mentalizando que podia trazer a medalha de Ouro para
Portugal.
5. O que é fundamental para esta prática
desportiva?
Sem dúvida nenhuma
que o mais importante é ter muita força de vontade, pois não é fácil aguentar
as muitas exigências, tanto a nível físico, como psicológico. É preciso levar
isto muito a sério para termos a capacidade de nos esforçarmos ao máximo, sem
nunca desistir, tentando sempre alcançar os nossos objetivos. Este desporto,
quando encarado como verdadeiramente uma forma de vida, obriga a que os seus
praticantes treinam todos os dias, até em casa, sozinhos; e para isso é
necessária alguma densidade psicológica, para aguentar tudo isto, juntamente
com toda a ansiedade e nervosismo que estão presentes em todas as competições.
Mesmo quando estas correm mal, é preciso haver foco e positivismo para se
seguir em frente, de modo a corrigir os erros e a melhorar. Claro não nos
podemos esquecer que acima de tudo de tudo é essencial gostarmos desta
modalidade, caso contrário, não iremos a lado nenhum.
6. O que é que mais gostas na JSKA?
O que eu mais
admiro nesta associação é a união existente entre todos os atletas, dirigentes
e treinadores. Independentemente dos resultados competitivos, ninguém fica
chateado ou desiludido, e com a experiência vamos conhecendo alguns dos nossos
adversários, criando laços de amizade muito fortes e duradouros, com os quais
vamos melhorando tecnicamente, uma vez que todos temos os mesmos objetivos e como
tal todos cooperam no sentido de nos tornarmos cada vez melhores, e é isso que
eu acho fascinante, e que muitas vezes não acontece nos outros desportos; aqui
ninguém tem inveja de ninguém, mas sim
respeito e carinho e é com isto que vamos crescendo, desenvolvendo o nosso lado
mais afetivo e sempre a pensar não só em nós, mas também nos outros.
7. Certamente há alturas em que tiveste
dúvidas. Quem é que te inspira, nesses momentos, a chegar mais longe?
Claro que houve
momentos em que pus em causa, se todo o meu esforço valeria a pena, pensando em
desistir, mas é nestes momentos que a família e os amigos entram, pois são eles
que nos ‘’empurram’’ para a frente, fazendo-nos acreditar que nada é por acaso
e que tudo vale a pena. O apoio deles foi essencial, porque nunca teria
conseguido nada sem a sua ajuda, sem a sua força, sem o seu tempo desperdiçado
a ‘’aturar-me’’..., e como tal todas as minhas vitórias também são deles, visto
que eles também sofreram e lutaram por mim, algo que eu serei incapaz de me
esquecer, e que me fará andar sempre para a frente, tentando superar passo a
passo cada dificuldade. Obviamente que também tenho de referir os meus senseis,
uma vez que eles são a minha maior fonte de inspiração, devido a todas as suas
conquistas, à sua enorme qualidade técnica, e à sua dedicação ao passarem-me
todo o seu conhecimento... são estas pessoas todas que nunca me deixam sós, pois
estão sempre presentes no meu coração, para onde quer que vá, faça o que fizer.
8. Que metas ainda queres alcançar?
O meu
próximo grande objetivo, para o qual eu ando já a treinar, uma vez que já tenho
o apuramento garantido é o Campeonato do Mundo da JSKA, que se realizará em
setembro de 2018, em São Petersburgo, na Rússia. Seria decerto um sonho ser
Campeão Mundial, mas depois de me sagrar Campeão Europeu, já acredito que nada
é impossível e como tal irei cheio de confiança e super motivado e com muita
vontade, e para que tudo isto fique mais ao meu alcance conto com todo o apoio
daqueles que me são próximos, que sei que nunca me deixarão. Mas, pelo meio,
ainda vou ter certamente muitas outras competições, que vou querer vencer, e
como tal à que viver o dia-a-dia sem nunca pensar muito no que acontecerá daqui
a algum tempo, pois isso ninguém sabe.
9. Como conseguiste conciliar as exigências de
estudar no ensino secundário e preparares-te para esta prova?
Ao início foi um
pouco difícil adaptar-me a este ritmo de casa-escola-treinos, até porque eu era
bastante desorganizado, no que diz respeito ao tempo. Mas eu fui como que
‘’obrigado’’ a conciliar isto tudo da melhor maneira, se queria manter os bons
resultados escolares e ao mesmo tempo treinar ao nível da alta competição. Eu
comecei então a dar valor ao mínimo tempo disponível que tinha e a aproveitá-lo
ao máximo. Mais uma vez, foi precisa muita força de vontade e determinação,
pois havia dias em que eu chegava a casa por volta das 23h30, e ao outro dia
levantava-me às 4h, porque tinha teste e como tal tinha que estudar. Por
incrível que pareça, nunca me sentia cansado, porque fazia aquilo que gostava e
também ia-me agarrando aos MUITO BOM’s que recebia nos testes. Sei que não é
fácil, mas defendo que qualquer um consegue, basta querer e acreditar.
10. Para quem, inspirado em ti, quer
experimentar, o que precisa de fazer?
Acima de tudo precisa de estar consciente de todos os
sacrifícios que vai enfrentar, isto claro, se quiser levar o Karaté a sério.
Tem que ter muita força, vontade e tem de saber muito bem o que quer e depois
lutar por isso, pois se não quiser, sou o primeiro a dizer que desista, porque
é impossível ensinar alguém que não quer aprender. Também é essencial respeitar
e aceitar todas as ajudas, até as dos mais novos, uma vez que isto corresponde
a um ato de humildade que nos ajuda a melhorar. Ao início, aviso já que não vai
ser fácil, mas depois de se adaptarem, tudo decorrerá bem, basta continuar a
trabalhar e os resultados aparecerão.
Eu aconselho
qualquer um a praticar Karaté, visto que este é um excelente desporto para
aliviar o stress, desanuviar a cabeça e ganhar concentração e autoestima,
aspetos essenciais para se viver com uma boa qualidade de vida.
11. O que representam para ti estas medalhas?
Para mim
pouco me importa que as medalhas tenham ouro ou prata. O que na verdade me
importa é o facto de elas representarem todo o meu esforço e dedicação a esta
modalidade e de todos aqueles que me apoiaram. Elas representam todo o meu
orgulho em poder representar o meu país da melhor maneira, e poder mostrar que
nós só somos pequeninos em tamanho, porque no resto... Estes prémios traduzem
todo o meu suor e sacrifícios porque passei (noites mal dormidas, desgaste
físico, cansaço, etc...), mas que no final valeram a pena, pois isto é sinónimo
que independentemente das dificuldades nunca devemos desistir, mas sim
encará-las com toda a nossa força, pois são elas que nos fazem crescer; e
devemos ter sempre presente que quem trabalha sempre alcança, pode é não ser
quando queremos, mas a realidade é que um dia vamos ter aquilo que merecemos e
por o qual tanto trabalhámos.
12. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos
remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu
dia-a-dia?
O meu penso rápido é treinar enquanto os outros dormem,
estudar enquanto eles se divertem, persistir enquanto eles descansam e é então
no final de tudo isto que eu vivo aquilo que eles sonham. É isto que nunca me faz parar quando eu estou
cansado, mas sim quando tiver realizado tudo aquilo que pretendo, coisa que é
impossível para mim, porque eu nunca estou satisfeito com o que alcanço, quero
sempre mais e melhor, porque até quando se ganha existem coisas que correm
menos bem e como tal é preciso melhorá-las.
Devemos saber que
quando uma porta se fecha, há sempre uma janela que se abre, e por isso nunca
podemos desistir porque dias melhores virão certamente!
Acredite em você e
seja forte!