Passei lá dois Verões. Foi lá que descobri que era maior que os meus medos e inseguranças. Tinha,talvez, uns 13 - 14 anos e como companhia uma prima e uns tios para lá de fenomenais. Quando lhes agradeço terem-me salvo desses anos de incertezas, ficam a olhar para mim como se estivesse a falar chinês. São assim. Um coração gigante que nem sabem o bem e o impacto profundo que têm, nas vidas que tocam. A casa, era uma casa de família, cheia de histórias de há muitos anos. Em frente a essa casa havia umas outras, mais pequenas. Casas essas que estão a ser transformadas de forma tão bonita por essa minha prima, que entretanto cresceu muito. Chama-se Isabel. Uma prima de sorriso bom, fácil, com um olhar criativo, que já andou por Berlim, Nova Iorque e Angola (imbeja da boua!) e que viu na arquitectura a sua forma de estar no mundo. Isso e o seu grande gosto estético. Aquelas casas bonitas vão ser transformadas numa só e abrir as portas, já este verão, para quem quiser alugar, através das plataformas habituais e deliciar-se em Alcantarilha, Armação de Pêra. Aos poucos está a compor-se, para seguir aqui e aqui. A Wonderful Nest. Cheiro a ... Férias.
Começou com uma dor, que se foi alastrando com os dias e depois, perdeu-se. Fiquei sem ela. Ainda a procurei entre as almofadas do sofá, da mesa da cozinha, da cama, até por baixo do tapete da entrada. Quente e frio tem destas coisas. Este tempo esquizofrénico. Acontece. A consequência é falar menos, ouvir mais e ir ao que interessa. Não dá para gritar por e com eles. Só dava para lhes explicar o que interessa. Eles falaram mais e curioso, falaram mais baixo porque eu não conseguia elevar a voz. Falamos demais, ouvimos de menos. Ouvir o silêncio, o nosso e o dos outros. Baixar o tom, e ir ao que interessa. Mesmo quando voltar a ter a voz a 100%.
Entre a escrita e preparar as ações, preciso de intervalos. Passam muito por colocar música alta e fingir que estou a fazer esta (ou outra) coreografia. E é mesmo só fingir mentalmente que estou a fazer tal e qual estas senhoras. Não se pode chamar aos movimentos que o meu corpo faz, coreografia. Mas bom, desde que resulte...
Entrei naquela casa abandonada e encontrei este bilhete no chão: "Entre agarrar-me à almofada e chorar, hojeescolho rir; Entre o desespero de não ver uma saída, escolho acreditar; Entre entregar-me às queixas do tudo, escolho a gratidão dos nadas; Entre um sorriso amarelo, escolho sorrir com o olhar; Entre dizer Não às ofertas de cada dia, escolho o Sim ao novo; Entre acomodar-me ao que já conheço, escolho caminhos novos que escondem descobertas. Escolher. Todos os dias muitas escolhas, muitas portas e caminhos em aberto. Basta um passo de cada vez." Peguei no bilhete. Dobrei-o com carinho e quando cheguei a casa, coloquei-o numa moldura. Está pendurado onde todos os dias possa Escolher, entre o que me faz feliz, e o que não.
Por aqui a corrida tem de ser feita de manhã, quando todos ainda dormem. Assim sinto que não lhes roubo tempo. Nesta altura do ano tenho a claridade do dia já a fazer companhia e termina, normalmente com o sol a nascer.
Há países em que é proibido usar música durante as provas de corrida. É considerada um estimulante. Os meus conhecimentos nestas coisas de descarregar música são muito rudimentares e por isso não há playlist escolhida a dedo. Ligo na minha estação de rádio de sempre só para ter companhia e manter a cabeça distraída para não estar sempre a pensar: "Ainda falta muito? E se parasse já aqui? E dói-me o joelho! Blá, blá, blá...! Com a música vou distraída e serve de motivação ouvir alguém a falar do outro lado.
O que sucede é que, ao longo destes meses, com as voltas que os phones deram, na bolsa de cintura é que um belo dia...caput!!
Ora era a desculpa perfeita para me enroscar de novo na cama mas afinal não. A voz militar que há em mim, ainda conseguiu gritar lá das suas profundezas:"LEVANTA-TE SUA LESMA!!" E como aquela hora da manhã o meu poder argumentativo era reduzido a um caracol, lá fui com o pensamento a pensar no que iria pensar durante aqueles 40 minutos. Lembrei-me da minha coache-mai-linda quando da sua entrevista aqui em que lhe perguntava precisamente isso: no que se pensa quando se está em prova.
Calar a voz cá dentro que manda parar e questiona o que se está ali a fazer, para substituir por pensamentos que dizem o contrário e convencem para o caminho, mais do que a meta final.
Sair sem phones, aquela hora da manhã, sozinha, em ruas que ainda dormem, só com a companhia da carrinha do padeiro que passa por mim umas 5 vezes na sua distribuição, foi e é sair da zona de des-conforto. Dá tempo para organizar as ementas semanais, mandar calar a voz que manda parar, olhar para a ribeira e sentir-lhe o cheiro, e mandar calar a voz que manda parar, ouvir muitos, muitos pássaros aquela hora da manhã, e mandar calar a voz que manda parar, rever a lista de trabalho para aquele dia, e mandar calar a voz que manda parar, aproveitar os aspersores ainda a funcionar aquela hora para refrescar e ... já disse, mandar calar a voz que manda parar??
Aproveitar o caminho tanto como a meta. É essa a minha aventura pelas corridas. Passar essa metáfora para o dia-a-dia.
Quando me perguntam o que é que eu faria se ganhasse o Euromilhões (que nunca jogo), entre outras coisas simples, sai-me: construir uma escola como me desse na gana.
Há escolas lindas, onde todos as crianças são bonitas, quer tenham ranho a escorrer, t-shirts rasgadas ou piolhos na cabeça. Onde chorar não faz mal, faz apenas parte do processo. Onde há tempo para aprender, para os professores e para as crianças. Onde a escola teria muito espaço para brincar. A maior parte seria para descobrir, explorar, procurar e fazer muitas, muitas perguntas. Rodeado de muito verde, de animais. De música, de pinturas e faz-de-conta. De ajudar.
Era isto.
Uma das partes do meu trabalho é ajudar a estudar. Chamo-lhe sessões de métodos de estudo. Explico sempre aos pais que não é bem explicações porque não estamos só a falar das matérias. Às vezes (muitas vezes) falamos deles. Às vezes também de mim, porque a modelagem é um processo de aprendizagem, explicado pela Psicologia. Quase tudo tem um objetivo e um prepósito, por isso se calha em conversa falarmos do último episódio de uma qualquer série que andam a ver, isso é aproveitado para refletir sobre eles e nos objetivos que têm para as suas vida e na qual a escola faz parte.
Estudar tem de ser bom. Tem de ser divertido. Tem de saber a doce, mesmo que pareça salgado ou azedo. Eles têm de aprender a rir dos disparates, enquanto vão aprendendo a responsabilizarem-se e assumirem o compromisso que fizeram com eles próprios, sobre as notas que eles querem ter. E também se ralha e se chama a atenção e não é por se estar em ambiente descontraído que se é menos exigente. Ali se aprende a olhar para os livros como aliados, a consultá-los, a fazer esquemas.
Tudo isto só faz sentido se eles gostarem um pouco mais deles, como pessoas e como alunos. Por isso quando estou a estudar com eles, muitas vezes não damos conta que o tempo passa, embora a gestão do tempo também seja acarinhada ao longo daquela hora.
Há dias de maior cansaço. Deles e meu mas na maior parte das vezes sinto que aquilo não é bem trabalho... é uma forma de estar.
Por isso, quando me perguntam o que é que faria se ganhasse o Euromilhões, seria mais ou menos isto, em grande escala e com que partilhasse esta loucura de achar que estudar é sobretudo uma descoberta para o novo.
Ganhou um prémio num festival de cinema internacional. E nós ganhamos tudo aquilo que dali queiramos retirar. Para refletir do dia de hoje, para o amanhã.
A notícia de preparar um casamento em cinco dias, para ler aqui, fez furor. Para quem terá rios de dinheiro não deve ser difícil mas o sucesso da questão foi ser simples, despretensioso e pareceu-me bastante em conta. A ideia foi simplificar. Ora, tendo o assunto casamento já despachado por estas bandas, e com a festa de anos do mais velho para preparar, pensei... e se fosse possível simplificar?
A vontade de passar mais tempo com os miúdos, do que na cozinha, de não ter uma espécie de esgotamento para que a casa esteja apresentável e toda uma logística para focar no que realmente importa. A D. Alzira (a minha empregada fantasma...) continua para parte incerta, por isso, era arregaçar as mangas.
Fomos para um espaço escolhido por ele onde puderam correr à vontade, com sombras, vento bom, onde houve bola, escorregas e baloiços. Ah... e de uso livre. A hora de festa foi a partir das 11h e incluiu piquenique que me pareceu que foi um sucesso: mantas e toalhas no chão. Pizzas acabadas de chegar, empadas, salgados, muita melancia, morangos, batatas fritas, muita água e sumo. E pipocas. As pipocas desaparecem sempre e iam em baldes simples para que fossem eles a partilhar. Salame de chocolate e bolo de anos caseiro. Faz parte da tradição cá de casa.
Uma das meninas disse que nunca tinha feito um piquenique e gostou muito. Não houve chatices, birras e afins? Houve. Há sempre. Só que disfarçaram-se em forma de corrida, com o cheiro bom das árvores, com a ribeira como cenário de fundo. Aprendi a jogar aos zombies e até me consegui sentar um pouco com alguns pais a ... conversar! No caminho para casa disse-me que foi a melhor festa de anos de sempre.
Este mantra a repetir até que entre cá dentro: Simplificar para que sobre tempo para o que é mais importante.
Entre aquele compasso de que tudo está a negro para começar a clarear.
Acreditar para lá do escuro,
da tristeza. Acreditar que há muita coisa para descobrir.
Depois, depois é fácil e basta apenas Viver. É no entretanto entre o que se espera e o que há de vir que é preciso persistir. (ahaha...até rimou. Vai correr bem.)
Normalmente está
de sorriso pronto. Se não está, é porque se passa realmente algo. Bombeiro de
profissão, faz neste serviço aos outros, a sua forma de estar na vida.
Apaixonado pelas motas. Não umas motas quaisquer. Valorizar o mais invulgar e
redescobrir o olhar naquilo que os outros dizem de antiquado e que o David chama de genuíno.
O David meteu-se
à aventura com mais 3 amigos, com igual espírito de descoberta, pela estrada
Nacional 2 e percorreram o país, de uma ponta à outra, em pouco menos de uma
semana. A estrada Nacional Nº 2 começa em Chaves e termina em Faro passados 738,5 km
e atravessando onze dos nossos distritos.
Porquê? Bom…
Vamos cuscar o David Monteiro?
Idade: 36
Naturalidade: França
Comidas preferidas: Bacalhau a Brás,
Bife de Vaca
Um livro a não perder: Entrevistas no
Centro do Mundo de“Henrique
Cymerman”
1.Lembras-te
da tua primeira mota?
Mopped
de 1966, montagem Fundador, motor casal de 4, a minha actual branquinha. Uma
motorizada do meu avó, foi-me dada antes de ele falecer, tinha-a comprado em
1971 nova, restaurei-a em 2010.
2.Quem anda
nisto das motas, tem sempre a tal… mota de sonho. Qual é a tua? Claro uma
Harley Davidson, mas como é barata … LOL
3.Como
surgiu esta ideia? Já há algum tempo eu dizia, se o meu avó ia a Lisboa com
aquela “motorizada”, eu também o vou fazer, mas depois de tantos falarem na Rota
Histórica da Nacional 2, em conversa com uns amigos surgiu a ideia “porquê não
fazer uma semana de férias de motorizada, na Nacional 2 e ver o que elas
aguentam?”.
4.Há sempre
alguma preparação necessária. Como foi a vossa? Quase nenhuma, como se
costuma dizer “foi por Deus”. Marcar a data, ver a rota, arranjar transporte
para levar as motorizadas a Chaves e trazer de Faro. Claro, depois tivemos a
sorte de um grande maluco “João Santos”
mais conhecido por “Malhado” nos
querer acompanhar de carro se alguma coisa corresse mal e lá estava ele, a
tirar fotos e fazer vídeos que de mecânica percebe pouco … LOL.
5.Quais
foram os maiores desafios que encontraram? As dormidas, não marcamos nada e
nunca sabíamos onde íamos parar nesse dia. Tínhamos algumas ideias de pontos de
paragem mas não podíamos contar com isso pois não sabíamos se lá chegávamos.
6.O que é
que não estavas à espera que te acontecesse e aconteceu? Variadas coisas. As
pessoas por onde passávamos e que nos deram tanta coragem para fazer esta
aventura, desejando sorte e disponibilizando, se precisássemos de alguma coisa,
refeições baratas, bem servidas e muito boa comida. O encontro com um
aventureiro “ Miguel Sala” que andava
sozinho a fazer o mesmo e nos acompanhou durante muitos quilómetros, ajudando
sempre a manter a rota certa, partilhando historias das suas aventuras, uma
companhia que ficou marcada, certamente um amigo para encontrar mais tarde.
7.Para quem
ficou com vontade de experimentar, pela primeira vez, esta aventura, que
sugestões deixas? Que tenham tempo e vão sem pressas. Aproveitem as
paisagens bonitas do nosso país, descansem bem todas as noites. Cuidado com o movimento
nesta estrada que é muito e algum com muita pressa. A mesma também não esta
marcada em muitos municípios como Nacional 2, há muitos locais sem placas ou
marcos. Certas zonas estão cortadas ou alteradas. Não precisam de levar muita
coisa para reparações que possam aparecer pois por onde passam há muitas
oficinas.
8.Se fosse
hoje, o dia da partida, o que é que tinhas feito de diferente? Tinha saído
mais cedo para está aventura. No 1º dia saímos tarde de Chaves, eram 19 horas,
só andámos 60 km. Depois também já estava frio para andar mais. Aproveitava
para visitar melhor as cidades e vilas por onde passámos, com tempo.
9.Houve
algum momento em que pensaste Isto não
foi lá assim grande ideia…
Sim,
naquelas rectas sem fim do Alentejo, parece que quanto mais andávamos mais
longe se tornava, pois as máquinas poderosas que nos proporcionam momentos
fantásticos não andam a grandes velocidades … LOL
10.Esta é
uma viagem para repetir? Talvez, um
dia para fazer companhia a algum amigo, mas agora temos novas viagens para
planear. A próxima deve ser deslumbrante pela sua paisagem e curvas
fantásticas. Vamos fazer a estrada mais bonita da Europa, que por ventura é no
nosso país. A seguir talvez os Picos da Europa. O amigo Miguel Sala recomendou,
mas com 15 dias de férias porque com uma semana não passamos de Espanha… LOL
11.Este blog
chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que
Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
“Vive
todos os dias aproveitando o máximo todos os momentos, amanhã não sabes se cá
estas.”
PS.
Aproveito para agradecer em 1º lugar à minha esposa, Marta Monteiro pela preocupação de saber se estávamos bem quase a
toda a hora, pela bucha que organizou para levarmos e os bolos maravilhosos que
mandou. Depois aos meus companheiros de viagem, Rui Farinha, Luís Rosa, João Santos pela paciência em me aturar.
Às vezes não é fácil. Também não esquecendo a todos os que se preocuparam em
ligar para saber se corria bem, dando força para a aventura. Ainda aos que pelo
facebook sempre desejaram boa viagem e claro nos chamaram de grandes loucos. A
ti, Ana Bela pelo blogue e pelo menos
tu, pensaste que alguém ia gostar de saber como foi está aventura.
Obrigado!
P.S.: Para quem quiser conhecer um pouco melhor este percurso, este bonito vídeo ajuda.
Não nos tornamos logo mães. Quando nasceu fiquei a noite inteira a olhar para ele a tentar perceber, o que é que estava a acontecer. A dimensão dele e nossa e como não seria mais a mesma. Um buraco imenso de um amor que desconhecia e do outro lado da moeda, um medo de tudo o que pudesse não correr de feição. Arrependi-me. Devia ter dormido nessa noite porque as seguintes já não deram. Por isso, não nos tornamos logo mães. Vou-me construindo à medida de que puxa por mim, me faz perguntas, muitas, muitas, me questiona nas minhas verdades para descobrirmos uma nova verdade em conjunto. Com ele voltei a olhar para os meus hábitos de livros e de conhecimento. Pelo querer saber sempre mais. A empurrá-lo com gentileza para fora da sua zona de conforto quando sei que vai ficar mais feliz a seguir. A fazer figura de tonta quando o vejo num qualquer palco, numa qualquer peça de palco, para ver que ali estou, por e com ele. Sei a conquista grande que foi para ele chegar ali. Estivemos juntos em cada degrau dado, do meu colo, cheio de choro e incertezas, para ali. Descobri um mundo cheio de galáxias, de extra-terrestres, de Wobi Woo Kenobi, e de Jedis e de Yoda. A olhar para os paus e canas que vamos encontrado pelo caminho, como espadas. Sempre as espadas que se acumulam na parte de trás do carro. "Só mais esta mãe!". A adorar ainda mais chocolate. Fui gulosa por chocolate na gravidez. Deliciava-me com algum do chocolate que ia comendo. Deve-lhe ter passado para o ADN. É um apreciador de chocolate. Às vezes, de manhã, ouço-o a cantar e contenho-me no meio das pressas do relógio que não pára para o ouvir. Distrai-se outras vezes e faz-me ter fúrias de vulcão em erupção quando repito as mesmas coisas, cinco, seis, dez vezes seguidas. Depois aparece e pede um desculpa, que lhe sai de dentro e se vê nos olhos. Nem sempre o meu vulcão se deixa amanssar e digo-lhe que me dê um tempo. Às vezes é ele que me pede um tempo. Por isso, não nos tornamos logo mães. É um processo em construção. Hoje faz uma década desta construção, na certeza de que há muitas incertezas, de que ele está a crescer e a mudar. E eu mudo com ele também. Estou-lhe muito, muito grata por isso. O meu João.
Pelos vistos já se conheciam há 4 anos, namoravam há um. Ele fez o tradicional pedido de casamento e coincidiu com a passagem de ano. E pensaram, ou casavam daí a um ano ou daí a 5 dias. Decidiram-se pelos 5 dias para aproveitar a vida ao máximo.
Na véspera do casamento ela ainda não tinha vestido. Aliás. Tinha meio vestido. Pediu à mãe para lhe fazer a saia a condizer com o top. A recepção foi organizada em pouco mais de uma hora. Sem flores, nem floreados. A senhora do catering ia tendo um ataque de miocárdio. Convidou-se quem se tinha que convidar. Quem não pode vir, não veio. Há sempre alguém que não pode vir, por isso, aceita-se o que a vida dá. E é isto.
A pergunta recorrente ao longo desses cinco dias: "O que é fundamental para que os nossos convidados se sintam amados para presenciarem este nosso momento?"
Não, isto não é inventado, nem alucinação de segunda-feira. É real e aconteceu este ano.
Uma das partilhas mais comuns entre mães e pais é o pequeno caos que se vai instalando pela casa, à medida que os pequenos invasores vão tomando conta das várias divisões. Quando se dá por ela sentamo-nos no sofá, em jeito de final de dia, já com a pequenada aconchegada e no mundo dos sonhos, em cima das patas afiadas de um dinossauro. Ou pisam-se peças de lego, a meio da noite. Perde-se muito tempo a arrumar e a gritar com eles que é para deixar tudo em ordem. Uma ordem possível, é claro. Quem não tem empregada em casa, sabe que isto é tarefa de pôr os cabelos brancos. A tinta para os cabelos, se não comprada em promoção, é cara. No cabeleireiro também não fica muito mais barato, por isso, há que tomar outras medidas. Hoje em dia temos TODOS muitas coisas. A maior parte delas de uso rápido, sem grande utilidade a longo prazo. Nem a médio. E os miúdos não são excepção. Este ano, ando nesta coisa de destralhar o que não interessa, para focar no que realmente é importante. Tipo como a minha amiga Luísa... enchi o copo. E dos copos que está cheio, a transbordar, é este tempo que se gasta a organizar, ciclicamente os quartos deles. Sempre que fica em ordem, adoram ir para lá. Conseguem mantê-lo em condições, as primeiras duas semanas e depois volta tudo ao mesmo e o ciclo retoma. Por isso, será preciso fazer algo mais incisivo e drástico: deixar apenas o que realmente importa e tirar TUDO o resto. Tenho quase a certeza de que não se vão lembrar nem de metade do que for retirado. Na decoração, há uma corrente que se intitula minimalista mas que uma vez lidas algumas coisas sobre esta vaga nos leva a outras áreas que não só as da casa. Focar no que realmente nos importa. Ando a namorar imagens para que se colem cá dentro, até ao ponto que se tornem reais. Se esta família e esta conseguiu, também vou conseguir. Passar mais tempo com eles.
Sentiu-se em construção. Não foi assim uma coisa repentina. E quando estava a estrutura montada nem deu por si, como é que aquilo aconteceu. Foi uma peça daqui, num outro dia foi mais uma. Uma leitura. Uma palavra amiga de incentivo. Um acreditar que foi nascendo. Quando deu por si, tinha tudo montado. Perguntei-lhe como é que fez, qual foi a receita, como é que chegou aquele ponto em que parece que faz tudo sentido, uma segurança que lhe estava inscrita no à vontade com que lidava com o dia-a-dia e no acreditar que, no fim e no princípio, a vida lhe ia correr bem. Encolheu os ombros e fitou-me nos olhos. Explicou-me com um carinho, como só ela sabia, que era assim como... peças de lego. Quando deu por isso, havia algo dentro dela que estava assim mais seguro, mais para a olhar para a frente. Agora já nada te derruba, pois não? Quer dizer, dificilmente voltas atrás. - perguntei-lhe na esperança que me desse a tal receita de como chegar aquele porto seguro em que há mais dias Sin´s, do que Não´s. Sorriu, um sorriso rasgado e abanou a cabeça a dizer-me que não.Fiquei confusa. Ontem, ao final da tarde, as peças caíram quase todas para o chão. Fiquei para ali a olhar para elas, desatei num pranto. Parva. Esqueci-me que as peças caem, desmontam-se. Passados dez minutos, apanhei aquilo tudo e voltei a coloca-las o lugar.- disse-me isto como se fosse a coisa mais natural deste mundo. Pelo menos do dela. Lembravas-te do local exacto de cada uma? - voltei a insistir. Não! Nunca ficamos os mesmos. Estamos em construção. E isso não tem mal.
Nota prévia. Na pesquisa sobre o conceito de minimalismo numa casa, descubro isto. E isto tanto dá para as tralhas que temos... como para tudo o resto.
“The first step in crafting a life you want is
to get rid of everything you don’t.” — Joshua Becker*
Já nos pediu, há que tempos, quando é que a íamos inscrever na equipa de futebol cá da santa-terra e começar a ir aos treinos. Isto com 5 anos. E sei, que por lá já andam muitas miúdas cheias de garra a treinar. Lembro-me quando há dois anos uma querida aluna partilhava a sua paixão pelo futebol e como tantas portas ainda lhe estavam fechadas. Sei que esta aluna, agora quase na reta final de escolaridade, vai seguir o seu sonho porque ele consegue ser ainda maior do que ela própria. E ela é imensa.
Ao consultar a atualidade, deparo-me com a notícia de que, em princípio, a seleção feminina de futebol, espante-se, vai ser transmitida num canal público. Sei também que é bom sinal darem-se os devidos destaques a estas notícias porque se vai caminhando para a igualdade mas fico sempre um pouco a pensar no outro lado, de que isto não devia ser notícia de espanto, o futebol feminino também ter direito a ser transmitido. Ainda há aqui uma pontinha de comiseração que causa alguma comichão. Aos poucos chegamos lá. Aos poucos. Até lá... vamos a isso!!!
Era apenas mais uma sexta. Uma ida ao mercado municipal daquela cidade tão pretenciosa e cheia de idiotices.
Uma bancada cheia de frutas e legumes. A bancada 1. Ao lado uma outra bancada cheia de frutas e legumes. Demasiado cheia para aquela hora do dia. A bancada 2.
Uma senhora, muito despachada, passa pela bancada 1. Habitualmente é ali que se abastece e ao seu filho e netos, com as vitaminas para os mais pequenos. Habitualmente. Ao lado dela, mais umas quantas pessoas se acotovelam para tirar mais e melhor da fruta. Na bancada 2, nada.
Já em direção às escadas, com dois sacos em cada mão, recua. Volta para trás e mesmo tendo muito, muito que fazer, pede, na bancada 2, um quilo de maçãs e um cacho de bananas.Já no carro, o filho interroga-a enquanto põe o carro a trabalhar. "Mas já não tínhamos fruta suficiente?!" pergunta com ar de espanto. "Sim mas viste a expressão daqueles vendedores enquanto a outra bancada se enchia?"
"Na verdade isto dá para todos. Se todos contribuirmos para todos, isto há de dar para todos. E depois os senhores estavam com um ar tão triste... Olha, não nos custa a nós, tanto quanto isso, e a eles nota-se a diferença. E ainda falam naquela história de Eva ter dado uma maçã a Adão. Pecado, pecado é quando não há partilha, comunhão. Por isso, treine-se a virtude de observar e contemplar. Mesmo que seja num mercado barulhento. Umas vezes com mais ou menos apoio.Mas o barco anda para a frente."
História adaptada de um episódio real. É por estas e por (tantas, tantas...) outras, que amo tanto a minha mãe.
"E se eu queria mesmo compreender os rarámuris, devia aqui ter estado quando um homem de 95 anos trepou 60 quilómetros montanha acima. Sabes como é que ele conseguia? Porque ninguém lhe disse que não podia. Ninguém lhe disse que ele devia era ir morrer aos poucos num lar de idosos qualquer. Tens de cumprir as tuas próprias expectativas, pá."
Do livro, da vida real, que ando a ler Nascidos para correr - Uma tribo secreta, superatletas e a Mais Espectacular corrida do Mundo. Christopher McDougall. Lua de papel.
Agarrou-se à árvore. Uma árvore grande, bonita, que foi crescendo à medida que se lembrou, ela própria, também de crescer. Olhou para os ramos e relembrou cada uma das histórias desse crescer em conjunto. Viu um ou outro ramo partido, para logo em seguida olhar para o outro lado e ver flores e frutos maduros, prontos a serem colhidos. Agarrou-se à árvore ainda mais. Deixou-se por ali ficar. Começou por ser uma brisa que lhe ondulou suavemente os cabelos e fechou os olhos. Deixou-se ali estar. Aconchegou-se ao tronco, sentiu-lhe o cheiro de vida a correr lá por dentro. Uma brisa agora mais forte que lhe despenteou os cabelos e a obrigou a tirar uma das mãos, apenas uma das mãos, para pôr os cabelos encaracolados, por detrás das orelhas. Passados uns minutos, repetiu o gesto, para um vento que teimava em insistir e mudar-lhe a direção e a segurança do aconchego dessa árvore. Agora, com as duas mãos a segurar o cabelo, a puxar a saia para baixo, largou a árvore. Foi uma distracção de poucos momentos e quando olhou para traz, a árvore parecia-lhe um pouco mais distante. Talvez fosse só impressão. Havia folhas pelo ar, o céu mais carregado, parecia mesmo que uma tempestade queria aproximar-se. Ainda agora estava tudo tão bem. Um vento que a empurrava na direção contrária. Quando quis olhar de novo, a árvore parecia já um ser muito distante, lá longe. Um ponto que queria, a todo o custo, manter mais perto de si, mas que o vento insistia em afastar. Ainda tentou correr na direção que lhe parecia a correcta, a certa a tomar. Um caminho meio esbatido mas ainda assim um caminho que a levaria de novo à árvore. Andou nisto, pareceu-lhe muito, muito tempo. Até que houve um tempo em que chegou junto à árvore. Parecia-lhe que seria a sua árvore pelos nós dos ramos com que foi crescendo. Mas a árvore já não parecia, de certa forma, a mesma. Deu consigo a chorar. Deu consigo a ter saudades, muitas saudades desse tempo que já não era o agora, mas que foi de um tempo que não iria voltar. Ela estava diferente. Estavam as duas e quanto a isso não haveria muito mais a fazer. Praticar o desapego. Praticar a gratidão pela felicidade do que já foi e não vai voltar a ser. Perceber que tudo tem um tempo de crescimento e evolução. Que umas vezes fica, outras vezes não. Que não tem mal. Que há novos caminhos para fazer. Novas pessoas, novos cheiros, novas cores, tantas histórias para encontrar. E que quando chegar a altura de nova ventania, perceber que está tudo bem. Que com o tempo (e o vento...) se aprende o que há para aprender naquele momento, que quem se cruza nos caminhos deixa e leva algo, para que novos caminhos (e pessoas) se possam descobrir. Olhou para os bolsos do seu casaco. Um peso quase distraído a chamar-lhe a atenção. Meteu-lhe a mão. Uma maçã, (ou seria a história das duas?) meio escondida, meia perdida a fitar-lhe o olhar. Um fruto, não proibido, de certezas do que existiu foi real, foi vivido e teve o seu tempo para viver e existir. Desapego. Não tem mal. S-o-s-s-e-g-a.
Como trabalho com jovens (in)conscientes e a bem da saúde deles (e da minha), tento manter-me a par destas coisas que lhes vão passando pelas mãos. Gosto mesmo deles. Há quem fuja de adolescentes a muitos pés. Gosto de pensar em conjunto com eles. Muitas vezes lhes digo que a sorte é gostar Mesmo deles, quando me contam as suas (des)venturas que os levam a parte nenhuma. Faz parte. Mais de alguns do que de outros é certo. Este viver na fronteira entre o risco, a descoberta do novo e as muitas escolhas que vão fazendo e que os aproxima dos seus sonhos e das vontades que têm lá por dentro. Às vezes tão escondidas que é preciso quase arrancá-las a ferro.
Esta coisa da baleia azul que parece que está muito longe, na verdade não está. É só fazer uma pesquisa num qualquer motor de busca e aparece tudo lá. Com o país, mais ou menos em alerta sobre isso, houve quem resolvesse pegar nesta ideia e transformar naquilo que deveria ser o real uso das redes sociais e do espaço virtual e mudar a cor da baleia e inverter as regras.
Está disponível para ser descarregada como app, para os telemóveis e desafia os jovens a tarefas do outro lado da linha, para se divertirem, descobrirem-se a si e aos outros, num total de 50 tarefas. Aliás, o objetivo da adolescência e dos jovens (quase) adultos, na exploração, com alguma piada, de quem são e de quem são os que os rodeiam.
Divulgar, divulgar e que as palavras do bem sejam mais fortes que as outras.