Isto começou
mais ou menos há dez anos. Com muitas interrupções. Vários partilhadores de conhecimento. Por coincidência, esta é a segunda
vez que tenho uma professora de Yoga, chamada Sara.
A Sara não foi
sempre professora de Yoga mas, neste momento, é este o seu caminho por opção.
Atrevo-me a dizer que também por vocação porque quando saímos das suas aulas,
estamos todos com um ar como se fossemos capaz de levitar. O mérito é da
prática mas muito da energia que a Sara nos transmite e que transcende as
simples posturas. Com imensa entrega e carinho, puxa sempre um pouco mais por
nós, e fá-lo com o respeito e o tempo que cada um de nós precisa. Cada um, na
sua individualidade. Como se ela soubesse dos caminhos que a cada um levou até
ali, e as conquistas que cada um pretende alcançar.
A Sara é assim
muito discreta. Um sorriso tão bom. Assim do nada diz que esteve na Índia a
aprender e a praticar, com os grandes mestres. Do nada também conta que esteve em Londres. Que teve nas
suas aulas, o cantor Chris Martin, dos meus
Coldplay. Que sorte para o Chris. Que sorte nossa também a de conhecermos a
Sara e termos o privilégio de aprender com ela.
Nem todos os
meses consigo ir. Ainda a reajustar horários por causa dos meus
tesouros-príncipes. Mas quando vou, sei que sou mais completa e estou mais
perto de quem quero ser. E um dia sei, que vai ser assim, todos os dias. Vamos
cuscar a Sara?
Idade: 39
Naturalidade: Lisboa
Comidas preferidas: Sou vegetariana.
Adoro sopas!
Um livro a não perder: Tão Te King,
livro do Caminho e do Bom Caminhar, com tradução e comentários do português António
Miguel de Campos, da Relógio de Água.
1. Se pudesses convidar alguém famoso (vivo ou
morto) para jantar, quem escolherias e porquê?
Gostaria
de me encontrar com Krisnamacharia, reconhecido como o Pai do yoga moderno,
guru do Pattabhi Jois. Recuava ao tempo dele, gostava de ver um pouco do yoga
naquele tempo!
2. O teu primeiro contacto com o Yoga começou
como?
O meu primeiro contacto com o yoga foi num
ginásio perto de Lisboa, com o Tarik van Pren. Em 1998, passado uns meses, o
Tarik aconselhou-me a ir praticar com o Mestre dele, pois eu estava
completamente rendida ao yoga. Pratiquei dois anos no centro português de yoga
em Lisboa com o Mestre Carlos Rui. Ainda hoje tenho muita da sua influência nas
minhas aulas. Em 2000 o primeiro contacto com o ashtanga yoga é com o Tomás
Zorzo em Espanha, e depois de conhecer este método tão bonito e eficiente, um
ano depois estava a praticar com Sri K. Pattabhi Jois na Índia.
3. No momento entre escolher este caminho e
deixar para trás outras vivências profissionais, o que te fez seguir em frente?
Eu
era muito nova quando comecei a praticar yoga, tinha 20 anos, frequentava o
curso de gestão de empresas em Lisboa, o qual não completei. Uma viagem à Índia e consequente ida prolongada para Londres e a vida profissional acabou por estar
quase sempre ligada ao yoga. Possivelmente o curso de gestão de empresas não
era de todo para mim!
4. A Índia foi certamente uma experiência
intensa. O que deixaste lá teu, e o que veio contigo?
Fui sozinha com 24 anos na minha primeira
viagem à Ìndia. Não sei o que se deixei lá… mas sei que levava na minha bagagem
uma dedicação e uma fé imensa a esta prática, sentia-me bem e sabia que a minha vida seria melhor com o yoga. De lá
veio a inspiração, o alento para continuar este caminho escolhido. Foi
maravilhoso conhecer Pattabhi Jois, era um homem muito simpático, muito
sensível, com um grande sentido de humor, com uma naturalidade fora do comum.
Era fantástico estar na sua presença todos os fins de tarde, a maior parte das
vezes em silêncio. Recordo sempre esses momentos com carinho.
5. Como foste parar a Londres?
No instituto de ashtanga yoga de Mysore, na Índia, conheci professores de yoga de todo o mundo. Ao conversar com Hamish
Hendri, professor certificado por Pattabhi Jois, disse-lhe que não havia
ashtanga yoga em Portugal e ele desafiou-me a ir praticar em Londres. No ano
de 2002 estava em Londres, a praticar no AshtangayogaLondon, um centro com
centenas de praticantes. Meses mais tarde, o Hamish perguntou-me se queria
aprender a fazer ajustamentos aos alunos. Fiquei muito surpreendida, era um
privilégio. Trabalhei no AshtangayogaLondon durante três anos, uma experiência
incrível, que meu deu bastante confiança para ensinar este método de yoga.
6. Dos muitos alunos que já passaram por ti,
que transformações vês, nas pessoas que praticam?
O contacto com o yoga, leva as pessoas pouco
a pouco a optar por um estilo de vida mais saudável, a fazer escolhas mais conscientes e isso vai influenciar imensos aspectos nas suas vidas.
7. O yoga é mais do que uma mera prática
física. Para além das posturas, o que se aprende com o Yoga?
Depende do que o praticante está
diponsível para aprender com o yoga. Do propósito da sua prática!
Na minha experiência de quase vinte anos de
prática regular de yoga, posso dizer que o yoga me veio dar uma sensação de
espaço interior. A conexão da prática de Asana (posturas) com a respiração
profunda e tranquila, ajuda-me a criar esse espaço dentro de mim. A pessoa
expande-se! O Amor é espaço, a paz é espaço… O yoga no fundo ajuda-me no meu
dia-a-dia e também ajudou em momentos mais difíceis da vida, perante
adversidades, sem perder controle. A prática de yoga dá esse suporte, ajuda a
equilibrar, a não deprimir, a ser mais positivo!
Os yoga sutras de Pattanjali, definem o que
é o yoga no seu segundo sutra, dizem que “O yoga é tranquilização das
flutuações mentais” (yoga-sutra, cap. 1, vers2). Se o praticante sentir que a
sua qualidade e pensamento melhora, já é uma grande conquista!
Mas isto só é possível praticando, pode ler
tudo acerca de yoga, mas se não praticar não vai sentir o que poderá ser o
yoga. Esta é uma filosofia essencialmente prática!
8. Para quem acha que o Yoga é algo muito
complexo, e só para pessoas com força e flexibilidade, o que dirias?
O
yoga é para todos, é maravilhoso ver nas aulas pessoas tão diferentes, na
idade, no corpo e no propósito da prática. Começamos a progressivamente ao
ritmo de cada aluno, à medidas das suas capacidades. A força, a flexibilidade,
a concentração acabam por acontecer. O Pattabhi Jois dizia “Just do your practice, and all is coming.”
9. Todos os dias são bons para se praticar?
Só
há uma má prática… é aquela que não se faz! Apenas 10 minutos de prática já é
bom, deve ser diária. Na tradição de Pattabhi Jois, não se pratica nos dias de
lua cheia e lua nova, como uma paragem semanal e seis dias de prática semanal.
10. Com um caminho tão bonito de prática, como
o teu, o que gostarias ainda de experimentar neste percurso de Yoga?
Gostaria muito de voltar à Índia, mas agora
com a família.
11. Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos
remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu
dia-a-dia?
Não
há nada melhor do que uma boa e vigorosa prática de yoga, se não tiver o tapete
na altura da “comichão”, respirar bem fundo 20 vezes já vai ajudar!