Vamos Cuscar? 11#

Entrevista: Vera Dias
Trabalhar em equipas grandes tem destas coisas: passamos meses a trocar mail´s entre nós, sem associar os endereços às suas caras. Descobri já a formação ia a meio, que a Vera pertence à mesma localidade que eu. A partir de um pedido de troca de informações que lhe fiz, descubro que não só vivemos mais ou menos a poucos quilómetros uma da outra, como temos pessoas, de quem gostamos muito, em comum: uma amiga, afinal irmã dela. O mundo é pequeno e às vezes, diz o acaso, que isso é bom. Acabo também por saber que a Vera é diabética e que embora ainda esteja quase a terminar a sua segunda década de vida, é daqueles jovens que se mexe e leva as causas em que acredita, muito a sério. Sai do sofá e faz qualquer coisa. E ver alguém, com um sorriso rasgado, que começa na boca e termina nos olhos, apesar de alguns contratempos que tem que enfrentar, diariamente, é mais do que motivo para dar vontade de … cuscar. Vamos cuscar?!




Idade: 28 anos
Naturalidade: Coimbra
Comidas preferidas: Caldo Verde, Sopa de feijão-seco com couve portuguesa, Sopa de agrião, Sopa de espinafres. Broa de milho com manteiga. Segundo prato Bucho, Arroz de bucho e pasta!!! I love pasta!  Fruta.
Um livro a não perder: O Senhor dos Anéis, Harry Potter

1.       Se pudesses convidar alguém famoso (vivo ou morto) para jantar, quem escolherias e porquê?
Pergunta difícil... Talvez o Tim Burton. Sou muito fã da sua obra e gostaria muito de compreender como lhe surgem as ideias e como se consegue ser tão criativo.

2.       Em que altura aparece a diabetes na tua vida?

Embora eu tivesse todos os sintomas, a “ignorância” levou-me a justificar os comportamentos com stress e necessidade de estudo. Apenas a perda de 25 quilos me fez ir ao médico de família para tentar perceber se alguma coisa se estava a passar. Na altura comia provavelmente umas 4000 calorias diárias mas a minha perda de peso era  demasiado significativa, para poder ser “aceitável”.

Eu estava no 11.º ano, tinha 17 anos de idade. Confesso que após o diagnóstico, compreendi os meus comportamentos tão acentuados e brutos. Compreendi que não estava mesmo nada bem...

3.       Como é viver com a diabetes actualmente?

Atualmente a diabetes faz parte do meu “EU”. Eu tenho diabetes há 11 anos e não consigo, por exemplo, olhar para a comida sem fazer os cálculos do aporte de glícidos que tem, e da necessidade de insulina que terei, mesmo se não o for consumir.

 Viver com diabetes é viver de uma forma muito mais madura e responsável. É um desafio diário, mas não há dia em que não pense que o diagnóstico “me tornou especial” e me fez conhecer tantas, tantas, tantas pessoas especiais.



Como qualquer outra patologia crónica, tem momentos muito difíceis, como por exemplo, situações de stress em que não consegues de nenhum modo “dominar a fera”. Mas é um desafio, que com as novas tecnologias é bem mais fácil, e vais aprendendo a “orientar a fera”. Já tentei pensar quem seria se não tivesse diabetes, não consegui chegar a nenhuma conclusão. Apenas penso que se não tivesse diabetes teria optado por estudar Matemática, mas não consigo “ir mais além” deste pensamento. Eu tenho diabetes! Faz parte de mim e define o meu EU! =)


4.       Deste a cara, e bem, pela nova tecnologia que existe e que melhora bastante a qualidade de vida de quem tem esta doença. Segundo a Sic Notícias Uma tecnologia digital de controlo da diabetes, sem as habituais picadas diárias.” Existe inclusive uma petição pública para que este aparelho tenha algum tipo de comparticipação. Para quem ainda não está convencido em apoiar esta causa, que não leva mais do que 20 segundos, bastando para tal, clicar aqui, o que tens a lhes dizer?
Este tecnologia faz parte dos meus sonhos desde o meu dignóstico de diabetes. Picar o dedo, pelo menos, 7 vezes por dias para obter valores de glicemias “isolados”, que te fazem tomar decisões no tratamento é muito “pobre”. As “picadinhas” em que por vezes não consegues sangue suficiente (por causa do frio tens menos irrigação sanguínea e é mais difícil obter umas gotas de sangue com volume suficiente para o teste, por exemplo), em que por vezes a punção no dedo te magoa horrores e quando estás a trabalhar (teclar no computador), te provoca dores tremendas...
Finalmente, esta tecnologia chegou a Portugal e à semelhança dos outros países, os resultados têm sido muito bons.

Eu apoio a petição com todas as minhas forças! Curioso falares do assunto porque o mentor, o Sérgio, pediu-me para ajudar a construir a fundamentação da petição.
Relativamente à tecnologia tenho a dizer que o FreeStyle Libre permite à pessoa com diabetes obter, em vez de 7 valores diários, 1440 valores com indicação de tendência da glicemia, se está a descer, a subir, acentuadamente ou não... Esta informação possibilita-nos atuar prevenindo agudizações, como a hipoglicemia ou hiperglicemia que podem provocar o coma. Por exemplo, o tratamento de uma hipoglicemia em meio Hospitalar tem o custo de mais de 3000€. Esta tecnologia reduz o número e gravidade de hipoglicemias, promove a melhoria do controlo glicémico com consequente diminuição das complicações da doença e dos custos associados. Esta tecnologia permite avaliar a glicose em 1 segundo, aumentando a qualidade de vida do doente.

Não posso deixar de dizer que quem usa esta tecnologia, reduz significativamente o uso de tiras de teste de glicemia, que são comparticipadas pelo Estado. Deste modo, faz sentido que quem utilize o FreeStyle Libre (diminui o uso de tiras) tenha alguma comparticipação do Estado Português.





5.       Estudaste nutrição pela pura vontade de comer?
Estudei Nutrição pela importância que tem no controlo da diabetes e para poder ajudar pessoas na mesma situação que eu. Optei por esta área porque é um dos principais determinantes em saúde do nosso tempo. A alimentação desadequada  é a causa da maioria das patologias do “nosso mundo”.

6.       Para quem percebe tanto de alimentos e seus nutrientes, ao que é que tens dificuldades em resistir?
Chocolate com avelãs e filhós.

7.       Na tua opinião, como se come em Portugal?
Portugal é um dos membros da Dieta Mediterrânica. A verdade é que o consumo excessivo de açúcar, calorias e sal é uma das conclusões dos estudos realizados no âmbito dos hábitos alimentares. Juntamente com o baixo consumo de frutas e vegetais, são a causa das doenças crónicas que atingem metade da população portuguesa. Isto é um facto assustador!
Acho que os hábitos alimentares dos portugueses têm melhorado, mas os nutricionistas têm muito trabalho “pela frente”.


8.       Pensando agora nas famílias e escolas, que mensagem gostarias de deixar aos pais e aos gestores das escolas, no que diz respeito às questões alimentares?

Preocupa-me muito! Cada vez que faço uma ação de sensibilização em crianças, inquieta-me a composição das “Marmitas” da maioria: ricos em energia, açúcar e sal. É nesta faixa etária que se definem hábitos alimentares que se manterão para a vida adulta. Por favor, percam 5 minutos do vosso dia a fazer o lanche do vossa(o) pequena(o), pois esses minutos diários definirão a saúde dela(e) no futuro, a médio e longo prazo.




9.       Tens também um blog deverasnutritivo. Escrever ajuda a estarmos mais perto dos outros?
Sim. O DeVerasNutritivo nasceu da necessidade que sentia de estar próxima das pessoas com as mesmas preocupações, sentimentos, frustrações, dúvidas que eu. Nasceu com o objetivo de partilhar as minhas experiências e de me possibilitar uma aprendizagem contínua que a diabetes exige, de modo a que essa aprendizem seja discutida e enriquecida por cada “um de nós que a vivenciamos”. 

10.   A diabetes não define quem tu és, será apenas uma parte da tua vida. Que sonhos existem para lá do horizonte?
A diabetes faz parte do meu “EU”. Sonho aproveitar a vida ao máximo, sentir-me realizada a nível pessoal e profissional, ser útil à sociedade, sorrir e fazer sorrir.

11.   Este blog chama-se Penso Rápido – pequenos remédios para as comichões do dia-a-dia. Que Penso Rápido usas no teu dia-a-dia?
Respirar fundo, música, os “meus” meninos, família e amigos. Natureza e correr.







1 comentário:

  1. Ana Bela Gostei muito de refletir sobre as perguntas que me fizeste. De facto, o mundo é pequeno e eu também tenho percebido que existem pessoas muito interessantes perto de nós, que por vezes, não conhecemos.
    Muitos parabéns pelo teu Blog. Já tinha lido algumas vezes mas não sabia "quem eras".
    Obrigada pela oportunidade e muitas felicidades 😉

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