Parecia o demónio

Um dia inteiro.

Muitas horas. Várias, muitas pessoas e vozes na cabeça. E à volta. Não pára de haver pessoas à volta.

Chego a casa. Muitas coisas, sempre para fazer. Cheiros e sabores na cozinha. Pedidos urgentes, são sempre urgentes os pedidos dos meus gigantes-pequenos, mais uns jeitos ao ninho, às roupas e plumagens.

Mais de 15 horas depois aterro ali. E aterro sem grandes paragens pelo caminho. Apenas aterro, com ares de avião que passou por uma qualquer guerra mundial e só quer poisar o seu nariz. Aterro. Ponto.

Já viram gatos a aninhar-se num cesto felpudo e quentinho? Aninho-me nele. E por lá fico, na esperança que dali ainda consiga sair com vida, lucidez e energia suficiente para só mais um pouco. Há sempre mais um pouco, não é? Às vezes vão agendas, cadernos e canetas atrás, naquela esperança tola e ingénua de quem acredita que ainda vai fazer só mais um pouco. Sim, sim...

Há um silêncio que rodeia. As vozes, as muitas vozes sossegam. As urgências também. E ele, muito sedutor, tanto que parece o demónio. Recosto-me e sinto a respiração a acalmar, numa entrega quase ingrata de quem sabe que já perdeu. Ele ganha quase sempre. É demasiado tentador. Sinto os músculos a ceder. Penso que será desta que irei ver, ou acabar de ver, a série que ontem, (ou foi antes de ontem ?), comecei. Os filmes já quase que desisti. Ele não me deixa.

Quando dou por mim, estou rendida. Caem os cadernos, a agenda, até já o pc desapareceu do raio de ação e visão. Novamente, ele vence.
Maldito sofá, parece o demónio.




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